Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – João Pessoa - PB – 15 a 17/05/2014
SEDICA: A Voz do Povo do Vale do São Francisco1
Adailma Barbosa GOMES2
Fabíola MOURA3
Universidade do Estado da Bahia,Juazeiro, BA
RESUMO
Este artigo apresenta o percurso teórico utilizado e os processos de elaboração para
compor o Trabalho de Conclusão de Curso, na modalidade de série reportagem
radiofônica, intitulada SEDICA: A Voz do Povo do Vale do São Francisco, trajetória
histórica, política e social do Setor de Comunicação Popular da Diocese de JuazeiroBA. A série é composta de depoimentos colhidos com ex-integrantes do projeto, excorrespondentes populares e com pessoas ligadas direta e indiretamente ao setor. A
partir das declarações dos entrevistados e do uso de arquivos, são levantadas questões
relacionadas à comunicação popular no Semiárido e à relação entre a Igreja Católica e a
comunicação.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação Popular; Comunicação Radiofônica; Sedica;
Pascom.
INTRODUÇÃO
O artigo apresenta as etapas de análise teórica e de produção da série de
reportagem radiofônica Sedica: A Voz do Povo do Vale de São Francisco. Trata-se de
uma pesquisa firmada na trajetória histórica, política e social do antigo setor de
comunicação popular da Diocese de Juazeiro, na Bahia. O estudo buscou transmitir
através de depoimentos de pessoas ligadas ao projeto, a ideia do que foi o projeto e sua
importância como instrumento de comunicação para o Vale do São Francisco.
No ano de 1989, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou sua
26ª Campanha da Fraternidade, com o tema “A Fraternidade e a Comunicação” e o lema
“Comunicação para a verdade e a paz”. O objetivo geral daquele ano era despertar a
consciência crítica do receptor no uso da mídia, bem como, conscientizá-lo sobre seu
papel de agente de influência na orientação de programas nos meios de comunicação. A
1
Trabalho apresentado no DT 1 – Jornalismo do XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste
realizado de 15 a 17 de maio de 2014.
2
Aluna líder e recém graduada do Curso de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia, email:
[email protected]
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Orientadora do trabalho e Professora do Curso Comunicação Social- Jornalismo em Multimeios da Universidade
do Estado da Bahia, email:[email protected].
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campanha foi um dos marcos iniciais para a idealização do projeto do Setor Diocesano
de Comunicação e Audiovisual (SEDICA).
Nessa época, a Diocese de Juazeiro era coordenada pelo bispo Dom José
Rodrigues, conhecido no sertão da Bahia por seus pensamentos progressistas e pela luta
pelos mais pobres. Seu bispado durou 28 anos. Desde sua chegada, em 1975, até sua
partida, em 2003, o “bispo dos excluídos “como também era conhecido, sempre buscou
ficar ao lado das pessoas que mais precisavam de ajuda. Durante seu episcopado
motivou a parcela excluída da população do sertão baiano a se organizar e lutar por seus
direitos e ensinou seus companheiros e fiéis a batalhar por uma sociedade mais justa.
Com os ensinamentos da campanha da CNBB e inspirados pela comunicação
popular feita pela Associação Latino Americana de Educação Radiofônica (ALER),
Dom José Rodrigues e o padre da paróquia de Santo Afonso no bairro Castelo Branco José Carlos - perceberam que faltava na Diocese de Juazeiro um espaço de comunicação
onde as camadas mais pobres da sociedade pudessem ter voz e vez.
O Sedica surgiu na região com a proposta de defender e projetar o que pensavam
e diziam as camadas mais pobres da sociedade. Nesse período, o território da Igreja
Católica de Juazeiro era marcado por incompatibilidade de classes, disputas de poder e
lutas por terra. Em meio a esse cenário de conflitos de interesses, o Setor optou por
produzir uma comunicação de caráter popular na qual o povo seria protagonista.
De acordo com Peruzzo (2006), esse tipo de comunicação se caracteriza como
uma forma de expressão das lutas populares por melhores condições de vida:
A comunicação popular foi também denominada de alternativa, participativa,
horizontal, comunitária e dialógica, dependendo do lugar social e do tipo de
prática em questão. Porém, o sentido político é o mesmo, ou seja, o fato de
tratar-se de uma forma de expressão de segmentos excluídos da população,
mas em processo de mobilização visando atingir seus interesses e suprir
necessidades de sobrevivência e de participação política. (PERUZZO, 2006,
p. 2).
A proposta central desse projeto experimental foi investigar a influência que o
Sedica teve para o desenvolvimento da comunicação popular durante mais de duas
décadas em que ele atuou no território da Igreja Católica em Juazeiro-BA. Pesquisas
radiofônicas, videográficas e leituras relacionadas aos temas: comunicação popular,
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memória oral e radiojornalismo, foram utilizadas como ferramentas de auxílio para o
desenvolvimento do trabalho.
A identificação com a linguagem radiofônica e o conhecimento adquirido ao
longo da academia, provocaram na autora o interesse de produzir um experimento
voltado para os estudos da comunicação popular através do radiojornalismo. A partir de
então, foi elaborada uma série de reportagens construídas através de depoimentos de exintegrantes do projeto, pessoas que foram capacitadas pelo setor, agentes pastorais e
membros do clero, com o intuito de dar visibilidade ao trabalho do Sedica.
OBJETIVO
Esse trabalho busca através de pesquisas na área da comunicação, produzir
respostas sobre as indagações em relação à contribuição do Sedica para o
desenvolvimento da comunicação audiovisual da região Sanfranciscana. A série ganhou
o nome “SEDICA: A Voz do Povo do Vale do São Francisco” em alusão aos títulos dos
dois programas de rádio que eram coordenados pelo Setor: “A Voz do Velho Chico” e
“A voz do Sertão”. A ideia é englobar toda a história do SEDICA em uma única
produção.
Toda essa trajetória do setor de comunicação acabou construindo uma relação
muito próxima com a comunidade. Nos locais onde atuou, o projeto levou
conhecimento e encurtou a distância entre a informação e as comunidades. Nos cursos e
oficinas oferecidos pelo Setor, os alunos aprendiam a produzir textos para o rádio,
técnicas de narração, como realizar uma entrevista, como identificar o que era ou não
notícia para o rádio e assuntos ligados a comunicação contextualizada.
Depois de capacitados, eles passavam a produzir matérias que propagavam a
realidade desses moradores que sequer tinham acesso a muitos dos meios de
comunicação de massa em suas localidades, garantindo-lhes o direito de expor suas
reivindicações e anseios.
Para fazer um trabalho que se aproximasse da comunidade, os correspondestes
populares da diocese de Juazeiro se inspiraram nas atividades da Associação LatinoAmericana de Educação Radiofônica, sediada em Quito no Equador. Eles atuavam de
forma voluntária produzindo material sobre os acontecimentos de cada localidade.
De acordo com o ex-coordenador do Sedica, Josenaldo Rodrigues, a proposta do
Setor foi sempre fazer uma comunicação popular, ocupando espaço em todos os meios
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de comunicação da região como alto-falantes, murais, rádios, jornais impressos e outros.
Durante o período em que funcionou, o Sedica sempre manteve contato com os ouvintes
dos programas “A Voz do Velho Chico” e “A Voz do Sertão” (esse último apenas de
conteúdo jornalístico), principalmente através de cartas (até a popularização da
internet). O ex-integrante da equipe lembra que boa parte do conteúdo das
correspondências era de pedidos de canções, versos, recados e algumas sugestões de
pauta.
O Sedica usou de meios de comunicação de massa como o rádio para levar, não
apenas aos ribeirinhos, uma realidade da região Sanfranciscana até então desconhecida
de muitos. Por possuir características que garantem grande difusão entre o público, o
rádio, diferente do jornal impresso, que utiliza a linguagem escrita, depende
exclusivamente da audição do seu ouvinte. Ou seja, para receber a mensagem
radiofônica é necessário apenas ouvir: o ouvinte não precisa ser alfabetizado,
propiciando um maior alcance entre as camadas populares.
JUSTIFICATIVA
O Sedica insere-se na cidade de Juazeiro-BA como um instrumento de
comunicação popular promotor da cidadania, alcançando, através do diálogo, mais oito
cidades do interior baiano ligadas à Diocese de Juazeiro: Curaçá, Uauá, Remanso, Pilão
Arcado, Campo Alegre de Lurdes, Casa Nova, Sento Sé e Sobradinho.
Durante os vinte e três anos em que permaneceu funcionando, o setor empregou
vários comunicadores locais e ofereceu capacitação para dezenas de moradores, além da
divulgação das ideias, valores e ideologias das pastorais sociais, a exemplo da Pastoral
da Mulher Marginalizada e da Comissão Pastoral da Terra. O Sedica também
desenvolveu o trabalho de capacitação e formação de uma rede de correspondentes
populares. Depois de participarem de cursos, esses colaboradores produziam matérias
sobre a realidade vivida pelos moradores, que sequer tinham acesso a muitos dos meios
de comunicação em suas localidades.
A proposta do Setor sempre foi fazer uma comunicação popular, utilizando
vários instrumentos que ajudassem as pessoas a ficarem informadas, como alto-falantes,
emissoras de rádio, jornais impressos e até os murais das igrejas. O trabalho do Sedica
na verdade foi uma continuação do que já era feito antes por integrantes das pastorais e
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padres da Diocese, a exemplo do jornal impresso “Participação e Comunhão” e das
produções radiofônicas.
Entre as atividades realizadas, estavam os programas radiofônicos produzidos
pela equipe com o apoio dos correspondentes populares. O conteúdo desses produtos
era, em sua maioria, de interesse das organizações sindicais, de associações e das
pastorais. O setor não cobrava dinheiro dessas pessoas, apenas pedia que eles
contribuíssem com as despesas da produção (alimentação, combustível, hospedagem).
Outro tipo de produção feita pela equipe era a filmagem de casamentos, aniversários e
eventos encomendados por terceiros. Os documentários também era solicitado por
pessoas que não pertenciam a grupos organizados ou ligados ao setor. De acordo com
ex-integrantes da equipe, grande parte do que era arrecadado com essas produções era
revertido para o trabalho das pessoas que precisavam de vídeos e documentários e não
podiam pagar.
O público dos programas produzidos pelo setor era variado e mudava de acordo
com o horário de veiculação nas rádios. Trabalhadores rurais, estudantes, pescadores,
religiosos, comunicadores, comerciantes, educadores e outros, podiam acompanhar as
produções do setor por meio da Rádio Juazeiro, na Bahia, da voz do São Francisco Emissora Rural e da Grande Rio AM, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco e da
Rádio Serra da Capivara no Piauí. Em uma delas, o tempo era cedido (Rádio Juazeiro) e
nas outras rádios a Diocese ficava responsável por comprar o horário nas emissoras.
Através das ondas do rádio, os ouvintes ficavam informados sobre o que
acontecia de relevante nas nove cidades da jurisdição da Diocese de Juazeiro,
aprendiam sobre política e cultura e ainda tinham lições sobre cidadania.
A relação do Sedica com as comunidades beneficiou não apenas os moradores
que receberam informação, conhecimento e ganharam espaço nos meios de
comunicação. Os integrantes da equipe também cresceram depois de aprender a fazer
uma comunicação popular comprometida com a verdade e com a luta pelos diretos dos
mais pobres. Mas, depois de vinte e três anos de atuação, o trabalho do Setor chegou ao
fim por decisão da Diocese de Juazeiro.
Em primeiro de Janeiro de 2011 o atual bispo da diocese, Dom José Geraldo da
Cruz, tornou oficial através da página da Igreja na internet, o fim das atividades do
Sedica e o início das atividades da Pastoral da Comunicação, a Pascom. Um dos
principais fatores que levaram ao encerramento das atividades do Setor foi a falta de
recursos financeiros e humanos.
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A Pascom surgiu depois do Sedica com o objetivo de fortalecer a comunhão
entre as estruturas que compõem a Diocese, como paróquias, pastorais e movimentos
sociais, além de reforçar a evangelização no território da igreja católica no município.
Hoje a comunicação na Diocese de Juazeiro é coordenada pelo padre da Paróquia do
Cosminho, Filipe Pulpayil, com ajuda de membros de todas as paróquias das nove
cidades da jurisdição da Igreja Católica de Juazeiro.
A temática da série de reportagem radiofônica “Sedica: A Voz do Povo do Vale
do São Francisco” partiu de conversas informais com colegas de estágio sobre a história
do Setor. Conheci o Sedica ainda na infância, quando meu pai trabalhava no mesmo
prédio onde o projeto funcionava. Hoje, cerca de quinze anos depois, descobri por meio
de muitas outras conversas e de pesquisas que aquele setor, o qual normalmente só
ouvia falar, foi um instrumento difusor da voz do povo do Vale do São Francisco.
A escolha pelo formato radiofônico se deu levando em consideração a afinidade
que a autora tem com o meio e o grande alcance desse tipo de mídia pelo país. Graças a
sua capacidade de alcançar públicos variados, o rádio é um dos meios de comunicação
mais importantes na difusão de conteúdos culturais e educativos e, nessa região, a
aceitação do veículo como fonte de informação é grande, prova disso é o diverso
número de emissoras em funcionamento nas cidades de Juazeiro e Petrolina. Meditsch
(2007) afirma que o rádio produz um conhecimento particular sobre os fatos do mundo
e reproduz os conhecimentos gerados por outros atores sociais.
Por sua linguagem simples, o rádio permite o jogo entre a palavra e a música, o recurso
ao texto literário, mistura de sons, sobreposições e o realce de determinadas ideias. Mesmo a
linguagem do rádio sendo a fala, o uso da escrita também é muito importante. Segundo Parada
(2000), o rádio por ser dinâmico, rápido e ágil, exige de quem escreve, a objetividade, a
economia de palavras e o encadeamento simples de ideias, para que o ouvinte possa
compreender facilmente a informação no momento exato em que escuta.
Diferente do impresso, o rádio chega aos analfabetos que, de acordo com dados
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012, são
mais de 14 milhões em todo o país, cerca de 7 % da população brasileira. No entanto,
para que esse ouvinte compreenda a mensagem radiofônica é necessário que ele tenha
capacidade de dar significado ao conteúdo que ele absorve através do rádio. Se
comparado a televisão, a vantagem do rádio é a mobilidade. As pessoas podem ouvi-lo
enquanto dirigem, caminham ou trabalham. A televisão, apesar de já poder ser assistida
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em alguns aparelhos de celular, de modo geral, ainda se restringe aos momentos em que
o telespectador está em casa ou em um fila de espera.
MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
A Pré-produção da série de reportagem começou durante o oitavo período do
curso de Jornalismo, na disciplina Seminários Avançados II, quando iniciei uma
pesquisa superficial sobre o tema. Ainda nessa etapa percebi que não existiam tantos
recursos bibliográficos sobre o objeto de pesquisa. Contudo, não hesitei em continuar
com o estudo.
Durante a construção do pré-projeto ainda no oitavo período do curso, já tinha
formulado uma lista com alguns depoentes para o produto final. No processo de
construção do TCC, novos nomes foram surgindo e ao final, doze personagens foram
selecionados para compor o produto. Alguns nomes importantes para o Sedica
infelizmente não estão presentes na série. Não por falta de interesse, mas por
incompatibilidade de tempo ou de disponibilidade da fonte, como é o caso do excoordenador do projeto Juvenal Lemos e da jornalista Juliana Amorim, que atualmente
reside em outro estado.
A escolha dos entrevistados foi feita a partir da ligação que eles tiveram com o
projeto do Setor: ex-integrantes da equipe, ex-correspondentes populares, agentes
pastorais e o atual responsável pela Igreja na cidade. A pretensão inicial era de reunir o
maior número de depoentes possível, mas no desenrolar das atividades, percebi que
seria difícil descartar algumas sonoras. Então optei por fechar o trabalho com aqueles
doze depoentes.
Depois da seleção dos entrevistados que fariam parte da série de reportagem e a
elaboração do roteiro de perguntas, era chegado o momento das gravações. Considero
essa uma das principais etapas do processo de produção do trabalho. Se as coisas não
dessem certo ali, provavelmente o produto final seria bem diferente do apresentado
hoje.
O gravador de voz digital utilizado para a captação das entrevistas foi um
Olympus VN-702PC.
A captação das entrevistas aconteceu entre os dias 17 de setembro e 15 de
outubro de 2013 e resultaram num total bruto de duas horas e trinta minutos de
gravação. No planejamento inicial, essas entrevistas deveriam ter acontecido apenas em
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duas semanas, no entanto a incompatibilidade de tempo entre os entrevistados e a autora
da série atrasou o andamento do cronograma.
Todas as respostas ajudaram a responder questões não apenas sobre a história do
Sedica, mas também sobre a influência desse projeto para o fortalecimento da
comunicação popular em nossa região e sobre a transformação promovida por ele na
vida das pessoas que direta ou indiretamente foram assistidas pelo Setor Diocesano de
Comunicação e Audiovisual.
Barbeiro e Lima (2003) defendem que a edição é a forma de se construir de
maneira mais organizada uma reportagem ou uma sequência de sonoras capazes de
relatar um fato jornalístico. É necessário que essa edição seja enxuta, rica em conteúdo e
didática para que o ouvinte compreenda do que se está falando. Com base em
orientações como essa é que a busquei na edição de meu produto apresentar o Sedica do
modo mais claro e informativo possível, começando pela escolha do que merecia entrar
nas reportagens.
Depois das gravações, chegou o momento da decupagem, da escolha do
backgraund (BG), da trilha, dos efeitos e dos arquivos de áudio que seriam incluídos nas
reportagens. Era hora de pensar na estrutura do produto e na edição. O primeiro passo
foi o da decupagem. Esse processo começou bem antes da estruturação. Na verdade, a
seleção dos trechos que seriam utilizados no produto final foi feita na sequência de cada
gravação.
A etapa de seleção dos arquivos, do BG, da trilha, dos efeitos, foi realizada
durante a construção do script. Falando em script, esse certamente foi um dos momentos
mais atrativos da produção. O trabalho durou cerca de duas semanas, entre produção,
primeira e segunda correção. No início demonstrei bastante dificuldade para planejar de
forma criativa e encadeada a abertura de cada reportagem. Em uma das orientações o
problema foi apresentado e com a ajuda da orientadora, conseguimos superar o
obstáculo.
A experiência adquirida ao logo da academia foi de extrema importância na hora
de estruturar todas aquelas informações, sonoras e efeitos.
Depois de planejar a estrutura da série, é chegada a hora de lapidar todo aquele
produto bruto. Foi utilizado o programa de edição Sony SoundForge9. A profissional
escolhida para realizar o trabalho de edição foi a jornalista e técnica em rádio,
Emanuelle Leite.
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Seguindo com a edição, começamos a limpar as sonoras, retirando ruídos,
pausas não contextualizadas com a fala dos entrevistados e enxugar um pouquinho mais
o tempo das sonoras. Feito isso, encaixamos os trechos na locução e também o restante
dos elementos que compõem o produto.
Vale ressaltar aqui os critérios de seleção do background ou BG e da trilha.
Desde o inicio do projeto eu já vinha analisando algumas canções que poderiam fazer
parte do produto. Eu sabia que, em se tratando do tema do TCC, os BG’s que melhor se
adaptariam eram os regionais. As músicas escolhidas foram: “Repente” do grupo
pernambucano Quinteto Armorial e a canção “Sobradinho” de Sá e Guarabyra,
interpretada pela banda Biquini Cavadão, que narra como se deu o processo de
instalação desta barragem na região do Vale do São Francisco.
Depois de encaixar cada elemento em seu devido lugar finalmente, no dia 25 de
novembro, foram feitos os últimos ajustes e a série Sedica: A Voz do Povo do Vale do
São Francisco ficou pronta.
CONSIDERAÇÕES
Com a produção da série de reportagem radiofônica Sedica: A Voz do Povo do
Vale do São Francisco é possível afirmar que o aprendizado adquirido foi muito além
do que se qualifica como saber acadêmico. Todo esse estudo possibilitou conhecer de
perto o papel transformador da comunicação.
Durante os meses de pesquisa, entrevistas e produção da série radiofônica pude
perceber que minha maneira de analisar a comunicação comunitária dentro da academia
foi totalmente ampliada depois da aproximação com a história do setor e com as pessoas
que fizeram parte direta ou indiretamente dessa trajetória.
É importante lembrar também o fortalecimento do aprendizado acadêmico em
relação aos conteúdos do radiojornalismo e da comunicação de modo geral. O Trabalho
de Conclusão de Curso certamente serviu para aprimorar e apresentar novas
possibilidades de como fazer uma comunicação justa, comprometida com aqueles que
necessitam de um espaço para denunciar sua realidade e que por fatores econômicos,
sociais e políticos, são levados e se calarem.
Essa não é a primeira vez que o tema é pesquisado, no entanto esse é o primeiro
produto radiofônico lançado sobre a trajetória histórica, política e social do Setor
Diocesano de Comunicação Audiovisual da Igreja Católica de Juazeiro- BA. Sendo
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assim, é possível afirmar que a contribuição social alcançada com a produção da série se
dá no sentido do resgate histórico desse instrumento de comunicação popular atuante
durante cerca de duas décadas na região do Vale do São Francisco.
REFERÊNCIAS
BARBEIRO, Heródoto, LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual do radiojornalismo:
produção, ética e Internet. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003 – 5 ª reimpressão.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estatísticas
2012. Disponível em <www.ibge.gov.br/home/>. Acessado em 14 de novembro de
2013.
MEDITSCH, Eduardo Barreto Vianna. O Rádio na Era da Informação: Teoria e
Técnica do Novo Radiojornalismo. Florianópolis: Insular/Edufsc, 2ª. Ed., 2007.
OLIVEIRA, Joselino de. Do Alto-Falante à TV – A trajetória da radiofonia de
Juazeiro. Juazeiro: ADEC, 2007.
PARADA, Marcelo. Rádio: 24 horas de Jornalismo. 1 ed. São Paulo: Panda, 2000.
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Revisitando os Conceitos de Comunicação Popular,
Alternativa e Comunitária. In: XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação,
Brasília,
2006.
Disponível
em:
<http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/19806/1/Cicilia+Peruzzo+.p
df>. Acesso em 16 novembro de 2013.
PUNTEL, Joana T. A Igreja e a Democratização da Comunicação. São Paulo:
Paulinas, 1994.
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