Escola Secundária Abel Salazar
Textos de divulgação do Acordo Ortográfico (AO)
Uma língua, uma ortografia
Não existe nenhuma razão lógica para que uma
mesma
língua
mantenha
tantas
divergências
ortográficas
(…)São grandes as vantagens da uniformização
ortográfica(…). Primeiro, a nova ortografia aproxima a
língua escrita da língua falada (caso da eliminação das
consoantes mudas no português europeu), o que é bemvindo. Segundo, não existe nenhuma razão lógica para
que uma mesma língua mantenha tantas divergências
ortográficas entre duas normas nacionais, quando elas
não correspondem a uma divergência real na sua
expressão oral. Terceiro, na era da Internet e dos
conteúdos por ela disponibilizados, em que se torna
essencial promover conteúdos em português, a existência de duas normas ortográficas com numerosas
diferenças obriga a duplicações e dificulta a expansão e globalização da nossa língua. Quarto, com o
crescimento do intercâmbio no espaço lusófono, nos planos económico, turístico, académico, das
emissões televisivas, etc., a existência de duas normas ortográficas introduz um "ruído" comunicacional
que perturba a criação de um espaço lusófono sem barreiras linguísticas. Quinto, a convergência
ortográfica numa única norma oficial facilita a aprendizagem do português como língua estrangeira,
independentemente do país onde ela ocorra.
Aliás, se a reforma é criticável (e não existem reformas perfeitas...), sê-lo-á porventura por ser
minimalista e pouco ambiciosa, não faltando aqueles (e entre eles me incluo) que defendem uma
revisão mais abrangente da ortografia oficial, de modo a reduzir a sua enorme dificuldade e falta de
coerência, incluindo a uniformização da correspondência gráfica de certos sons, a eliminação da
versatilidade fonética de certos grafemas, sem esquecer de equacionar a supressão do h inicial, entre
nós sempre mudo (como sucedeu no italiano). É evidente que uma reforma desta envergadura tem
poucas (ou nenhumas...) possibilidades de alguma vez vir a ser concebida. Mas sem ela dificilmente se
deixará de cavar o fosso entre a versão oral da língua e a sua versão escrita.
Não considero procedentes os argumentos que têm sido lançados contra a reforma ortográfica.
Não existe nenhuma ortografia sacralizada pela tradição, tendo havido várias reformas ortográficas nos
últimos cem anos. Não faz sentido acusar a reforma de ser uma cedência do "português" ao "brasileiro":
primeiro, porque o Brasil é de longe o principal "dono" da língua; depois, porque as mudanças são
bilaterais; por último, porque na falta de unificação ortográfica será a norma brasileira a impor-se,
dado o maior peso populacional do país. Não é convincente o argumento sobre a dificuldade de
adaptação das pessoas a uma nova ortografia, pois a experiência entre nós e lá fora mostra que a
transição para uma nova norma ortográfica se faz sem grandes dificuldades para a generalidade dos
utentes da língua. Tampouco tem razão o argumento de que algumas alterações, como a eliminação das
consoantes mudas (de "projecto" para "projeto", por exemplo), cria o risco de provocar uma mudança
na respectiva pronúncia, ensurdecendo a vogal associada, pela simples razão de que a presença dessas
consoantes não tem impedido esse resultado entre nós, como sucede hoje com a pronúncia das palavras
"actual", "actriz", etc., normalmente pronunciadas como "âtual" e "âtriz".
(…)
A ratificação portuguesa é essencial, não somente para que o acordo entre efectivamente em
vigor, mas também porque isso poderá incentivar a ratificação do acordo ortográfico e do protocolo
adicional por parte de outros países ainda em falta. É altura de Portugal assumir as suas
responsabilidades e obrigações em relação à língua, sem tergiversações nem duplicidades.
Vital Moreira
in Público, de 18 de Dezembro de 2007
Actividade Promovida pela biblioteca da ESAS e pelo Departamento de Línguas no âmbito do Plano Nacional de
Leitura (PNL) 2010-11
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