Trabalho 225
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
VIOLENCIA DOMÉSTICA NA GESTAÇÃO: A VISAO DE QUEM A VIVENCIA
Autores: Cícero Ivan Alcântara Costa1
Juliana Eccard Cardoso2
Tatyane Costa Simões Antunes3
Orientadora: Profª.Drª.Lucia Helena Garcia Penna4
1
Enfermeiro Graduado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ/FENF) em agosto de 2010.
Enfermeira Graduada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ/FENF) em agosto de 2010.
3
Enfermeira Graduada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ/FENF) em agosto de 2010.
Atualmente Residente de Enf. Obstétrica da Prefeitura do Rio (SMSDC/UERJ) 2011/2013.
4
Doutora em Enfermagem. Prof. Adjunto do Departamento Materno-Infantil da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro.
2
2245
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2
RESUMO
Trata-se de estudo de natureza qualitativa que tem como objetivos : descrever o perfil da
gestante que vivencia a violência doméstica; identificar os tipos de violência doméstica
vivenciada pela gestante; descrever o significado que a gestante atribui a violência por ela
vivenciada no período gestacional e discutir as repercussões da violência doméstica para a
saúde da gestante a partir do que ela vivenciou. Participaram 8 gestantes que aguardavam
atendimento no pré-natal de um Centro Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Os dados
coletados através de entrevista semi – estruturada e foram analisados pela analise conteúdo de
Bardin. Como resultados, verificamos no que diz respeito ao perfil sócio-econômico, são
mulheres jovens entre 18 a 33 anos, que estão entre o segundo e terceiro trimestre da
gestação. A maioria se autodeclarou como pardas e negras, tem baixa escolaridade e são
dependentes economicamente. Tal fato nos mostra que estamos diante de um grupo sócioeconomicamente desfavorecido, o que é um fator agravante, contribuindo para a violência
doméstica na gestação, apesar da violência acontecer em todas as classes sócio-econômicas.
Referem não terem planejado a gravidez. O tipo de violência prevalente foi a
verbal/psicológica e o agente agressor mais citado são seus parceiros. Apesar de reconhecer
vivenciar a violência, permanecem na relação, buscando justificativas para atribuir a violência
vivenciada. Os significados que as gestantes atribuem à violência vivenciada são variados.
Algumas referem que é algo normal, pertencente ao sexo masculino, outras culpam a si
mesma, pela sensibilidade da gravidez, outras referem ser culpa de terceiros por induzir o
agente agressor a praticar a violência e do álcool. As repercussões da violência doméstica
sobre a perspectiva da gestante, elas referem preocupação com o estado de saúde do bebê e
receio de possíveis complicações durante o trabalho de parto. Outras referem que a violência
repercutiu de forma significativa em sua saúde mental e também houve mulheres que afirmam
não considerar que a violência repercutiu em sua saúde. É necessário despertar nos
profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, a identificação precoce de mulheres que
vivenciam a violência no período gestacional e na formulação de estratégias de assistência
para essas mulheres, prevenindo agravos na saúde materno-fetal.
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3
SUMÁRIO
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
04
2
REVISÃO DE LITERATURA
06
Saúde da Mulher e Saúde Reprodutiva
06
Violência contra a Mulher
07
Violência na Gestação
10
Papel do Enfermeiro na Assistência a Mulher que Vivencia a Violência na 12
Gestação
3
METODOLOGIA
16
4
ANALISE PARCIAL DOS DADOS
20
Categoria 1 - Perfil sócio-econômico das depoentes;
21
Categoria 2- A gravidez não planejada e não desejada: a realidade das mulheres 23
que vivenciam a violência na gestação;
Categoria 3 - A violência doméstica vivida na gestação;
26
Categoria 4 – Repercussões da violência vivenciada sobre a saúde do binômio 29
mãe-feto
31
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
33
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
36
APÊNDICE A – Solicitação de Campo
37
APÊNDICE B – Carta ao Comitê de Ética
38
APÊNDICE C – Instrumento de Coleta de Dados
39
APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
40
APÊNDICE E – Quadro demonstrativo de Analise de Conteúdo
41
ANEXO
ANEXO A – Autorização do Comitê de Ética
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4
1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Esta pesquisa tem como objeto de estudo as repercussões da violência doméstica sobre
a saúde da gestante segundo sua perspectiva.
A violência contra a mulher é conceituada como todo ato baseado no gênero que cause
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública,
como na privada (CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ, 1994).
Segundo Taquette (2009) pesquisa da Fundação Perseu Abramo evidenciou que 43%
das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de agressão por parte de seus companheiros, a
cada 7 segundos uma mulher é agredida com tapas e empurrões, e a cada 20 segundos uma
tem sua integridade física ameaçada por armas de fogo.
Tendo em vista que o tipo de violência mais freqüente contra a mulher é a doméstica e
que esta é praticada por pessoas próximas como parentes e, principalmente pelo marido, então
a mulher está exposta a viver a violência também no período gestacional (DINIZ et. al, 2003).
A violência doméstica corresponde a atos agressivos e de coação, por meio de
agressão física, sexual e/ou psicológica, bem como coação financeira entre companheiros
íntimos, praticados principalmente por maridos, companheiros, pais e padrastos (ANDRADE;
FONSECA, 2008).
As diferentes formas de violência que acometem as mulheres grávidas ou não, no seu
dia-a-dia repercutem de maneira significativa na sua saúde física e mental. Assim, cabe aos
profissionais de saúde fazer a identificação precoce a fim de evitar agravos gerados pela
situação da violência. Entretanto, essa não é uma tarefa fácil de ser realizada, uma vez que as
mulheres que vivenciam a violência se sentem coibidas em declarar as agressões cometidas
por parceiros ou familiares e há, até mesmo, alguns atos de violência que não são
reconhecidos por elas.
Ressalta-se a importância dos profissionais de saúde para o cuidado humanizado, o
estabelecimento de vínculo, a atenção multiprofissional, avaliação do contexto sócio-cultural,
familiar e doméstico para que seja possível a identificação e intervenção dos fatores de riscos
(relacionamento entre a gestante e o pai do bebê, da gestante com seus familiares e
expectativas sobre a gravidez entre outros).
Durante nosso período de acadêmicos passamos por muitos campos de estágio e nos
deparamos com vários casos de violência contra a mulher, o que nos despertou o interesse
pela temática. Ao procurar saber mais sobre a mesma, tomamos conhecimento de que a
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5
violência não ocorre só com mulheres fora do período gestacional, ela está presente em
qualquer fase da vida da mulher, incluindo gestação. Sabendo que o período gestacional é um
momento em que a mulher está mais sensível e vulnerável, pois agora é responsável por mais
uma vida.
Diante dessa problemática delimitamos as seguintes questões norteadoras:
Qual o perfil da gestante que vivencia a violência doméstica?
Quais os tipos de violência doméstica vivenciada pelas gestantes?
Qual o significado que a gestante atribui à violência doméstica vivenciada?
Qual a repercussão da violência doméstica para a saúde da gestante na perspectiva
dela?
A violência durante o período gestacional pode trazer consequências graves para a
saúde da mulher e do feto. A gestante pode apresentar depressão durante e após a gestação,
fazer uso de substâncias lícitas e ilícitas, anemia, sangramento no primeiro e segundo
trimestre, interrupção da gravidez, baixo ganho de peso, o feto pode apresentar baixo peso ao
nascer, prematuridade e morte perinatal (DURAND; SCHRAIBER, 2007).
Para dar conta das questões que nos inquietam, delimitamos os seguintes objetivos:
Descrever o perfil da gestante que vivencia a violência doméstica;
Identificar os tipos de violência vivenciada pelas gestantes;
Descrever o significado que a gestante atribui à violência por ela vivenciada no
período gestacional;
Discutir as repercussões da violência doméstica para a saúde das gestantes a partir
do que elas vivenciaram.
O presente estudo trará como benefícios:
Para a Assistência: Aprimoramento da assistência de enfermagem no pré-natal,
identificando os fatores de risco que a mulher pode estar submetida a fim de
prevenir agravos.
Para o Ensino: Este estudo é importante para uma melhor formação acadêmica,
promovendo reflexões e mudanças na forma do acadêmico projetar o olhar sobre
essa questão e, assim, modificar a forma tradicional de assistência.
Para a Pesquisa: O trabalho contribuirá com o fornecimento de informações que
auxiliarão os profissionais de saúde a promoverem uma assistência qualificada de
forma holística.
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6
2 – REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Saúde da Mulher e Saúde Reprodutiva
A mulher sempre foi vista pela sociedade como dona do lar e mãe. Sua principal
função era parir e cuidar da prole. Nessa perspectiva, se a mulher adoecesse ou falecesse
quem cuidaria dos filhos e do lar? Demarcava-se a necessidade de elaboração de políticas
públicas de saúde que atendesse a mulher em sua fase primordial, na época, que era a
gravídico-puerperal.
As primeiras políticas públicas de saúde da mulher surgiram, no Brasil, no início do
século XX e eram limitadas as demandas relativas à gravidez e ao parto. Os programas
materno-infantis elaborados nas décadas de 30, 50 e 70 traduziam a visão restrita da mulher,
focada apenas no caráter biológico e no seu papel social de mãe e doméstica, uma vez que a
mulher, fora desse período, não tinha nenhum tipo de assistência à saúde. Esses programas
eram elaborados de forma centralizada e sem nenhuma integração com outros programas do
governo (BRASIL, 2004a).
Diante da insatisfação das mulheres com o descaso dado ao seu papel na sociedade
como a subordinação ao marido, a ausência de programas de saúde que atendesse a mulher
fora do período gravídico-puerperal e, principalmente a falta de autonomia e de direitos civis
imposta pelo regime militar, levaram as mulheres, no início da década de 1970, a se unirem
formando o Movimento Feminista, que lutaria contra o regime militar e por condições mais
dignas de vida para as mulheres (SARTI, 2004).
O Movimento Feminista argumentava que as desigualdades sociais entre homens e
mulheres se traduziam também em problemas de saúde que afetavam principalmente a
população feminina. Logo era necessário criticá-los, buscando identificar e propor processos
políticos que promovessem mudanças na sociedade e consequentemente na qualidade de vida
da população. Com base nesses argumentos, propuseram que a perspectiva de mudança das
relações sociais entre homens e mulheres prestasse suporte à elaboração, execução e avaliação
das políticas de saúde da mulher (BRASIL, 2004a).
Nesse contexto, em 1984 o Ministério da Saúde divulgou o Programa de Atenção
Integral a saúde da Mulher (PAISM), focando os principais problemas de saúde que
acometiam as mulheres naquela época. Ele tinha como objetivos: Aumentar a cobertura e
concentração do atendimento pré-natal; Melhorar a qualidade da assistência ao parto;
Aumentar os índices de aleitamento materno; Implementar ou ampliar as atividades de
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7
identificação e controle do câncer de colo uterino e das doenças sexualmente transmissíveis;
Desenvolver atividades de regulação da fertilidade humana, implementando métodos e
técnicas de planejamento familiar, diagnosticando e corrigindo estados de infertilidade; Evitar
o aborto provocado, prevenindo a gravidez indesejada. Este programa foi um grande marco na
área de saúde da mulher, pois serviu de base para todos os outros programas posteriores a ele
(BRASIL, 1984).
Passados 25 anos da publicação do primeiro programa de saúde que atendia a mulher
de forma integral, hoje existem vários programas que assistem à mulher em todas as etapas da
vida, porém com maior ênfase no período gravídico-puerperal.
Dentre outros programas na área da mulher surgidos com base no PAISM, destacamos
o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento subsidiado nas necessidades de
atenção específica à gestante, ao recém-nascido e à mãe no período pós-parto, tendo como
objetivo assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento,
acolhendo-os na perspectiva de direito e cidadania.
A Humanização compreende pelo menos dois aspectos fundamentais: entender que é
dever das unidades de saúde receber com dignidade a mulher, seus familiares e o recémnascido e adotar medidas e procedimentos sabidamente benéfico para o acompanhamento do
parto e do nascimento, evitando práticas intervencionistas desnecessárias (BRASIL, 2002a).
Ainda diz respeito à humanização da assistência, atender a mulher valorizando seu
contexto social, sua cultura e todo o processo histórico que circunda a saúde da população
feminina, como as questões de gênero.
A inserção da mulher na sociedade, o papel social esperado que esta desempenhe é
fator determinante na qualidade de vida da população feminina. Tal fato pode ser verificado
nos indicadores de saúde (BRASIL, 2007), onde se constata que dentre os principais agravos
á saúde da mulher (morbimortalidade) estão as causas externas e a mortalidade materna.
No Brasil, em 2006, mais de 2 milhões de mulheres em idade reprodutiva foram
internadas nos hospitais do SUS. Destas, 233 mil em decorrência de abortos e 120 mil por
causas violentas. Quanto à mortalidade materna as principais causas são: transtornos
hipertensivos, transtornos hemorrágicos, infecção puerperal, abortos e distúrbios da contração
uterina, respectivamente (BRASIL, 2007).
2.2. Violência Contra a Mulher
Através dos séculos a mulher se manteve em uma posição de inferioridade social e
política em relação ao homem. Reinava o modelo patriarcal e puritano, onde a família era
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8
sagrada e inviolável. No período colonial a sociedade era patriarcal, as mulheres viviam
restritas ao lar ou à igreja, eram estereotipadas como assexuadas, fracas, passivas, submissas e
sem poder político, criadas para cuidar da casa, dos filhos e servir ao marido. A estes lhes
eram dados o direito de punir suas esposas por meio da chibata. As agressões físicas e
emocionais faziam parte da cultura da sociedade desta época (CABRAL, 1999).
No século XIX e início do século XX a mulher era vista como a rainha do lar,
responsável pelo cuidado e educação dos filhos e, era tida como propriedade do marido,
perdendo assim, a liberdade, autonomia e controle do seu próprio corpo. Seu papel era sempre
o da mãe e esposa submissa. Teles e De Melo (2002 apud PENNA, 2005) afirmam que foram
realizados esforços em todos os níveis para acabar com a capacidade física, emocional e
intelectual da mulher, nem que para isso fosse necessário o uso da violência.
Durante toda a vida as pessoas sofrem influência da família, escola e igreja. Eles
transmitem normas e valores, ditam as meninas e os meninos, o que é próprio do sexo
feminino ou do masculino, estes desde cedo aprendem o seu papel na sociedade. Assim,
assumem condutas, realizam atos, exercem funções e tem comportamento próprio relacionado
ao gênero. Então, as mulheres se ajustam a esses papéis ligada a “feminilidade”, se tornado
subordinadas, obedientes e passivas, cabendo a estas os fazeres ligado à casa e ao marido,
ficando limitada ao âmbito doméstico. Enquanto que ao homem é esperado, pela sociedade,
que seja viril, corajoso, destemido, não demonstre fraquezas e emoções, e que seja provedor
do lar. Formando assim, dois pólos opostos, onde a mulher é o lado mais fraco.
essa construção cultural de gênero determina as diferenças entre os sexos, e a partir
destas legitima tanto a inferioridade feminina quanto à dominação e hierarquia
sexual e social do homem. Neste sentido, a desigualdade permite que relações
violentas entre homens e mulheres sejam consideradas naturais (FREIRE; GOMES,
2005, p. 177).
A partir da década de 70, a violência contra a mulher começou a ganhar visibilidade
social através de movimentos feministas que começaram a questionar, denunciar e combater a
essa violência. Por se tratar de violação dos direitos humano, as feministas reivindicavam uma
maior atenção jurídico-policial, criticando tais crimes e o discurso de legítima defesa da
honra, usado por maridos agressores para justificar seus atos e assim sair impune. Brandão
(1999 apud PENNA,2005).
Em 1984 foi criado o Centro de Orientação Jurídica e Encaminhamento à mulher
(COJE), que contava com vários profissionais como assistentes sociais, advogados e
psicólogos. Em virtude do alto número de casos de violência contra a mulher, ficou claro que
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9
havia necessidade da criação da primeira delegacia de defesa da mulher (1985). No ano de
1996, no município do Rio de Janeiro foi criada a primeira Delegacia Especializada ao
Atendimento à Mulher (DEAM) com finalidade de atendimento e orientação à mulher que
vivencia a violência Pereira et al (1999 apud PENNA, 2005).
Outra conquista dos movimentos feministas é a lei 11.340/ 2006 sancionada em 2006
pelo governo brasileiro, a lei Maria de Penha. Esta veio para reprimir a violência familiar e
doméstica contra a mulher, propiciando apoio, suporte e incentivo para o enfrentamento da
violência pela mulher (BRASIL, 2006b).
Mas apesar de ganhar espaço na sociedade no âmbito econômico, político e jurídico, a
mulher ainda vem vivenciando violência de diversos tipos. Segundo Diniz et al (2003) no
Brasil 70% da violência contra a mulher acontece principalmente dentro seu do próprio lar,
sendo seu companheiro o agressor e 40% da violência resulta em lesões graves.
A Convenção de Belém do Pará (1994) definiu violência contra a mulher como:
“qualquer ato ou conduta, baseado no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico,
sexual ou psicológico contra a mulher, tanto no âmbito público como privado”.
A violência doméstica corresponde a atos agressivos e de coação, por meio de
agressão física, sexual e psicológica, bem como coação financeira entre companheiros
íntimos, praticados principalmente por maridos, companheiros, pais e padrastos (ANDRADE;
FONSECA, 2008).
Violência física é uma forma de violência doméstica, podendo ser definida como a
que:
[...] ocorre quando uma pessoa, que está em relação de poder a outra, causa ou tenta
causar dano não acidental, por meio de força física ou de algum tipo de arma que
pode provocar ou não lesão externa, interna ou ambas (BRASIL, 2002b, p.17).
Violência física pode ser caracterizada por socos, chutes; empurrões; mordidas;
estrangulamento; lesões por armas ou objetos; obrigar a tomar medicamentos inadequados ou
desnecessários, álcool, drogas ou outras substâncias; amarrar; arrastar; tirar de casa à força;
abandonar em lugares desconhecidos e donos à integridade corporal por negligência
(BRASIL, 2002b).
A violência psicológica, na maioria das vezes, não é visível, não deixa marcas, e
muitas vezes nem é percebido pela mulher como um tipo de violência. O ministério da saúde
define como: “Toda ação ou omissão que causa dano à auto-estima, à identidade ou ao
desenvolvimento da pessoa” (BRASIL, 2002b, p. 20). É caracterizada por insultos,
2253
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10
humilhações, chantagens, desvalorização, manipulação afetiva, negligência, isolamento de
amigos e familiares, ameaças entre outros (BRASIL, 2002b).
Já a violência sexual consiste em:
[...] toda ação na qual uma pessoa em relação de poder e por meio de força física,
coerção ou intimidação psicológica, obriga outra ao ato sexual contra a sua vontade,
ou que a exponha em interações sexuais que propiciem sua vitimização, da qual o
agressor tenta obter gratificação (BRASIL, 2002b, p.17).
Pode-se caracterizar a violência sexual em uma variedade de situações como estupro,
assédio sexual, carícias não desejadas, sexo forçado no casamento, penetração oral, anal ou
genital com pênis ou objetos de forma forçada, negação por parte do parceiro em utilizar
preservativo ou impedimento ao uso de qualquer método contraceptivo (BRASIL, 2002b).
Por se tratar de violência de gênero, a violência cometida por homens é vista como
impulso biológico instintivo, se tornando práticas naturais, não sendo responsabilizado por
seus atos. Sendo a mulher sempre responsabilizada pelos atos de violência do parceiro por
não fazer o que este acha certo.
A violência doméstica deixa marcas profundas, na maioria das vezes invisível, que
interferem na vida da mulher agredida, podendo repercutir na sua saúde. A violência está
associada à depressão, ao suicídio, ao abuso de drogas e álcool, cefaléia, distúrbios
gastrointestinais e sofrimento psíquico em geral. Porém não é identificada pelos serviços de
saúde como resultado de violência, somente a violência física, passando despercebida à
problemática. Logo os serviços e profissionais de saúde devem estar capacitados para
identificar e atender a essa clientela de maneira diferenciada e integral.
2.3. Violência Doméstica na Gestação
A gestação é um período de transição na vida da mulher e dos familiares, que se
encontram envolvidos neste processo. Para a mulher principalmente, acontecem diversas
modificações, entre elas: modificações em seu organismo, o qual é preparado
fisiologicamente e fisicamente para o desenvolvimento da gravidez bem como o parto,
mudanças no seu papel social onde deixa de ser filha para ser mãe, sentimentos e expectativas
diante do seu futuro e de seu filho, dúvidas, ansiedade e inseguranças. Assim como na
gestante, seus familiares, sejam de laços consanguíneos ou afetivos, também tem uma
necessidade de mudança na reestruturação dos seus papéis e funções. Todas essas
modificações ditas acima de acordo com as características psicológicas, culturais, sociais e
econômicas dos envolvidos podem ser geradores de conflitos.
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11
De forma geral, a maternidade é considerada o ápice da vida reprodutiva de uma
mulher, sinônimo de felicidade, alegria e realização. Entretanto não é raro que a
responsabilidade recaia única e exclusivamente sobre a progenitora, eximindo assim a função
reprodutora e social do homem.
A gravidez, em alguns homens, abala sua virilidade desprovendo de seu poder. Isso é
reflexo do processo de gerar acontecer no corpo da mulher, o que dar, a ela, certeza de saber
quem é o pai, desencadeando no homem a insegurança sobre a paternidade da criança. Há
também estudos que mostram desinteresse por parte dos homens em relação ao corpo da
mulher grávida, seja por aversão ou por se sentirem intimidados (OLIVEIRA; VIANNA,
1993).
Para algumas mulheres a gravidez é vista como um momento de vulnerabilidade
devido à perda de autonomia financeira e emocional. Esse tipo de comportamento poderá
contribuir para o início ou agravamento da violência. Por vezes o parceiro adotará atitudes
abusivas e de controle sobre a mulher diante de sua percepção sobre a fragilidade da mesma
(LAURIANO, 2009).
Infelizmente a condição gravídica não isenta a mulher de vivenciar situações de
violência é o que mostra os dados abaixo sobre a incidência de violência no período
gestacional.
Cerca de 13% das mulheres relatam aumento da frequência ou severidade da violência
durante o período gestacional. Em relação à violência física e sexual, durante o período
gestacional a prevalência é de 1% a 20%, no período de pós-parto (principalmente nos seis
primeiros meses) os índices permanecem altos, acometendo cerca de 25% das mulheres
(BRASIL, 2006a).
Moraes e Reichenheim (2004) referem que entrevistas com 526 mulheres no pósparto, revelam prevalência de 61,7% de violência psicológica por parceiros íntimos na
gestação e 18,2% de violência física.
Um estudo na grande São Paulo, revela que dentre 1922 usuárias de 14 serviços
públicos de saúde, 20% das mulheres referiram algum episódio de violência por parceiro
íntimo durante o período da gestação (DURAND; SCHARAIBER, 2007).
No que diz respeito aos locais de agressão no corpo da gestante que os agressores
preferem são os seios, o abdômen e a genitália. Fora do período gestacional os locais de
escolha é a cabeça da vítima. As justificativas de seus atos violentos são situações financeiras
instáveis e sendo agravada pela gravidez, por receber menos atenção e por perceber a mulher
num período de vulnerabilidade e fragilidade, Pena e Egan (2005 apud LAURIANO, 2009).
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A violência contra a gestante acarreta graves consequências tanto para saúde da
mulher como para a saúde da criança. Segundo o Ministério da Saúde, as principais
consequências da violência física e sexual são traumatismos abdominais, que pode provocar
dor pélvica, aborto, prematuridade e baixo peso ao nascer, e as doenças sexualmente
transmissíveis, que podem provocar sérias complicações para a saúde da mulher e da criança
(BRASIL, 2006a).
Além das consequências físicas, que são mais fácies de serem identificadas, existem
aquelas que não deixam marcas no corpo e não é possível diagnosticar com uma inspeção de
exame físico, que são aquelas que afetam diretamente a saúde mental da gestante, abalando
sua autoestima e sua autoconfiança gerando a perda da sua identidade, um grave desequilíbrio
psicológico que também refletirá diretamente na saúde dessa mulher e indiretamente na saúde
dessa criança.
A gestante pode apresentar depressão durante e após a gestação, fazer uso de
substâncias lícitas e ilícitas, anemia, sangramento no primeiro e segundo trimestre e
interrupção da gravidez (DURAND; SCHRAIBER, 2007).
2.4. Papel do Enfermeiro na Assistência à Mulher que Vivencia a Violência na Gestação
O pré-natal é um momento especial na vida da mulher, onde além das transformações
fisiológicas, também há uma alteração psicoafetiva que propicia um estado de vulnerabilidade
e sensibilidade, desencadeando a necessidade de um envolvimento da família e dos
profissionais de saúde (MEDINA, 2007).
Segundo o Ministério da Saúde há indicadores demonstrando que mulheres grávidas
que vivenciam a violência sexual não realizam o pré-natal ou postergam o seu início. Esse
fato dificulta a ação do profissional de saúde, em especial o enfermeiro, uma vez que esse
seria um momento privilegiado para a identificação de gestantes vítimas de violência e talvez
a única oportunidade de ruptura do seu ciclo (BRASIL, 2006a).
Estudos demonstram que a grande parte dos profissionais de saúde tem pouco
conhecimento sobre o que fazer em casos de violência contra a mulher, no desenvolvimento
de prática profissional há uma tendência ao reducionismo biologicista e fragmentação na
atenção a saúde da mulher. Tal conduta é justificada pela falta de formação profissional, já
que nos currículos acadêmicos raramente inclui os conhecimentos acerca deste tema, como
também a falta de suporte institucional e de uma equipe multiprofissional no quadro funcional
(LETTICRE; NAKANO; RODRIGUES, 2008).
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Com o objetivo de capacitar os profissionais de saúde para uma assistência de
qualidade, aprimoramento da valorização da vida humana e implementação de iniciativas de
humanização, o Ministério da Saúde, em 2001 criou o programa de humanização da
assistência hospitalar (BRASIL, 2001).
É fundamental que o enfermeiro, principalmente o que possui especialidade obstétrica
estabeleça uma prática assistencial humanizada, com uma visão livre de pré-conceitos e préjulgamentos, com pensamento que cada mulher é um ser único e logo merece ser atendida de
acordo com suas necessidades individuais, de maneira integral e respeitosa, onde seja possível
a criação de uma relação de confiança entre a mulher e o profissional, de forma que se a
mulher gestante estiver vivenciando alguma forma de violência se sinta à vontade para revelar
ao profissional de saúde, ou até mesmo a partir dessa relação que se formou o profissional
consiga identificar que há algo de diferente com aquela mulher que merece ser aprofundado
na consulta.
Quando o enfermeiro identifica a diferença existente entre as mais variadas formas de
ver o mundo propiciará no cuidado à diversidade necessária para atender de maneira
individual cada mulher, valorizando sua necessidade de apoio e de escuta, implementando
ações fundamentais de proteção que geram estímulos ao aumento do potencial de superação
do trauma em cada gestante (MEDINA, 2007).
Para abordagem da temática violência contra gestante nos serviços de saúde, é
necessário contar com um espaço onde a gestante possa expressar suas angústias, que não se
resuma à aproximação restrita a busca de patologias. Determinados profissionais de saúde,
como o enfermeiro tem grande experiência com a escuta de problemas que não são
exclusivamente biomédicos. Isto não significa que o profissional deve abandonar a vocação
específica do serviço, mas sim em nome de uma melhor assistência integral, escutar a usuária
em toda a sua complexidade e demanda. Ouvir a demanda relacionada à violência significa
ouvir o usuário e isso é bastante complexo, é também preciso estar consciente da existência
do problema e poder perguntar sobre ele no momento adequado de forma que não cause
constrangimento. Uma situação que afeta consideravelmente as gestantes não deve ser objeto
de estigmatizacão. De acordo com cada serviço de saúde e cada situação assistencial, o
enfermeiro deve avaliar qual será a melhor forma de criar canais de expressões, grupais ou
individuais, mais apropriado para possibilitar a emergência da questão. O serviço de saúde
tem o dever de constituir-se como um local de acolhimento e elaboração de projetos de apoio,
ao invés de ser mais um obstáculo na tentativa empreendida pelas mulheres de transformação
de sua situação (SCHRAIBER; D’OLIVEIRA, 1999).
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A resolução do problema, quando possível, não ocorrera no ambiente específico da
saúde. Portanto, é necessário que o Enfermeiro ao abordar o problema, estabeleça com a
gestante uma escuta responsável, expondo as alternativas disponíveis em termos de
acolhimento e intervenção (DDM, Apoio Jurídico, Apoio Psicológico, Casa de Abrigo, ONGs
etc) e decidam com ela qual a melhor alternativa para o caso, sempre colocando a consciente
de sua própria responsabilidade pelo destino de sua vida (SCHRAIBER; D’OLIVEIRA,
1999).
Seguem abaixo, as principais medidas técnicas que o profissional enfermeiro deve
adotar no atendimento as gestantes em situação de violência (BRASIL, 2006a):
Controle laboratorial: Realizar coleta de sangue e do conteúdo vaginal realizando
imediatamente após detecção da gestante vítima de violência sexual com o seu consentimento
verbal, para detecção de HIV e DST;
Nos casos de DST (Violência Sexual): Uso de medicamentos de reconhecida eficácia
profilática de acordo com o microorganismo;
Nos casos de hepatite B (Violência Sexual): Utilização da imunoprofilaxia para hepatite B.
Gestante com esquema vacinal de hepatite B completo não precisam fazer reforço, aquelas
não imunizadas ou com esquema vacinal incompleto devem receber uma dose da vacina e
completar o esquema;
Infecção pelo HIV: Profilaxia anti-retroviral para HIV (não há estudos definitivos que
assegure a proteção). Os medicamentos devem ser introduzidos no menor prazo possível, com
limite de 72horas da violência, e mantidos, sem interrupção por 28 dias consecutivos;
Traumatismo físico, genital ou extragenital (Violência Física e/ou Sexual): Avaliar
cuidadosamente as medidas clínicas e cirúrgicas que atendam a necessidade da mulher, o que
pode resultar em necessidade de atenção de outras especialidades.
- Nos casos de lesões vulvoperineais superficiais sem sangue ->Assepsia local. Havendo
sangue realização de suturas com fios finos e absorvíveis e profilaxia para o tétano.
- Nos caos de hematomas -> Bolsa de gelo no local
Coleta de material para identificação do agressor: Material de conteúdo vaginal, anal ou oral
deve ser coletado por meio de swab e ser acondicionado em papel filtro estéril em envelope
lacrado preferencialmente em ambiente climatizado (os achados constituem provas médicolegais);
Interrupção legal da gravidez (Violência Sexual): A mulher deve ser orientada sobre seus
direitos e suas opções. De acordo com o art.128, inciso II do código penal o abortamento é
2258
Trabalho 225
15
permitido quando a gravidez resulta de estupro. Constitui direito da mulher pela Constituição
Federal e pelas Normas e Tratados Internacionais de Direitos Humanos;
Aspectos Éticos e Legais:
- Notificação compulsória, no Território Nacional, dos casos de violência contra a mulher que
for atendida no serviço de saúde (Lei nº 10.778/03 de 24 de novembro de 2003).
- Avaliar a veracidade do relato de violência contra a gestante.
- A exigência de apresentação de documento como Boletim de Ocorrência (BO) ou laudo do
Instituto Médico-Legal é incorreta e ilegal. Não há impedimento legal ou ético para que o
profissional de saúde preste a assistência que avaliar como necessária.
2259
Trabalho 225
16
3. METODOLOGIA
O presente estudo de caráter exploratório, descritivo com uma abordagem qualitativa
tem como principal finalidade conhecer as repercussões da violência doméstica sobre a saúde
da gestante segundo sua perspectiva.
A pesquisa qualitativa enfoca compreender a experiência humana vivida, coletando e
analisando materiais narrativos, subjetivos (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
O pesquisador que conduz a investigação descritiva, conta, descreve e classifica...
como a pesquisa descritiva, a pesquisa exploratória começa com algum fenômeno de
interesse; no entanto, mais do que simplesmente observar e descrever o fenômeno, a
pesquisa exploratória investiga, sua natureza complexa e os outros fatores com os
quais ele está relacionado (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004, p.34).
O estudo foi realizado no Centro Municipal de Saúde Milton Fontes Magarão situado
no município do Rio de Janeiro que atende as gestantes no pré-natal de baixo risco. A
permissão se deu mediante uma carta de solicitação de campo (APÊNDICE A). Escolhemos
essa unidade por ela ser campo de estágio prático da Faculdade de Enfermagem da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Portanto, onde se realizam as atividades junto às
gestantes. Entendemos que conhecer a realidade deste grupo contribuirá para proposição de
estratégias de cuidados às gestantes e ao serviço.
Participaram do estudo, gestantes que vivenciaram a violência doméstica durante a
gravidez atual, a fim de obtermos informações relacionadas à sua vivência. Excluímos da
pesquisa, gestantes menores de 18 anos e com idade gestacional inferior a 20 semanas. Este
critério de exclusão tem por base não selecionar adolescentes nem mulheres que se encontram
no início da gestação, as quais teriam menor possibilidade de verbalizar sobre ter vivenciado
ou não a violência. O critério da 20ª semana visa não trabalhar com mulheres com a
possibilidade biológica de ocorrer alguma interrupção da gestação antes da viabilidade
extrauterina do feto (aborto).
Respeitando os princípios éticos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(BRASIL, 1998), encaminhamos a solicitação para realização desta ao Comitê de Ética em
Pesquisa do município do Rio de Janeiro para apreciação (APÊNDICE B). Após a autorização
do Comitê, cujo parecer de aprovação é número 11A/2010 (ANEXO A), entrevistamos as
gestantes.
Não houve nenhum tipo de benefício econômico para os sujeitos ou para instituição
que sediou o estudo.
2260
Trabalho 225
17
A estratégia para coleta de dados: inicialmente fizemos uma abordagem com as
gestantes no salão de espera do Centro Municipal de Saúde. Apresentamo-nos e explicamos
os objetivos da pesquisa e as convidamos a participar através de uma entrevista sobre a
temática da violência na gestação.
O instrumento de coleta de dados (APÊNDICE C) contém oito perguntas sobre o
perfil sócio-econômico das gestantes, cinco perguntas abertas e uma fechada relacionadas ao
objeto de estudo. Com isso identificamos as gestantes que vivenciaram violência na gestação
e como esse fenômeno interfere em suas vidas. As que aceitaram participar, apresentamos o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE D). Explicamos que sua
identidade seria preservada e se, em algum momento, sentissem constrangidas poderiam
deixar a pesquisa sem qualquer risco ao seu atendimento e a qualquer momento poderia entrar
em contato com os pesquisadores para esclarecer as dúvidas.
Para a realização da entrevista semi-estruturada usamos uma sala reservada a fim
preservar a intimidade das gestantes. A coleta de dados ocorreu de acordo com a opção da
gestante (antes ou após a consulta de pré-natal), sendo realizada com o auxílio de um MP3 de
uso exclusivo. Após o término das entrevistas, estas foram digitadas e transferidas para um
CD Rom e ficarão armazenadas durante cinco anos.
A entrevista semi-estruturada é usada quando o pesquisador tem uma lista de tópicos
que serão abordados. Nela o entrevistador utiliza um guia de tópicos descritos que garante a
cobertura de todas as áreas em questão. Cabe ao entrevistador encorajar os participantes a
falarem livremente sobre todos os tópicos do guia (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
Nossa entrada no campo foi relativamente fácil. Fomos bem recebidos pelos
funcionários da unidade. No entanto, os contratempos se deram no momento da coleta de
dados.
A primeira estratégia de abordagem com as gestantes no salão de espera do Centro
Municipal de Saúde não foi muito fácil, visto a dificuldade de encontrar gestantes que se
dispusessem a participar do estudo. Falar sobre a violência vivida ainda é uma dificuldade
para a maioria das mulheres.
Optamos por adotar uma nova estratégia. Com o auxílio da enfermeira responsável
pelo atendimento ao pré-natal conseguimos um espaço e tivemos a idéia de organizar um café
da manhã com a realização de um grupo de discussão com as gestantes abordando temas
como parto, amamentação e cuidados com o recém-nascido. Agendamos pelo telefone com
aproximadamente vinte gestantes (acima de dezoito anos de idade e de vinte semanas
gestacional). Ao final do encontro, realizamos um contato mais próximo com essas mulheres
2261
Trabalho 225
18
e explicamos a nossa pesquisa convidando-as a participarem. Assim, as que desejaram
participar foram encaminhadas à sala reservada para este fim.
Todas as gestantes que manifestaram a vontade de participar foram entrevistadas,
porém selecionamos apenas as que vivenciaram alguma forma de violência doméstica na
gestação atual. Apesar da dinâmica, não atingimos um número suficiente de mulheres para
saturação dos dados nesse primeiro momento.
Retornamos ao Centro Municipal de Saúde durante todo o mês de março a fim de
conseguir um número maior de sujeitos. Não foi possível realizar a mesma estratégia anterior
por indisponibilidade de espaço físico. Abordamos as gestantes que aguardavam atendimento
de pré-natal da unidade, no salão de espera. Apresentamos os objetivos da pesquisa e as
convidamos a participar do estudo. As que aceitaram, foram encaminhadas para a entrevista
em uma sala previamente reservada.
Convidamos em torno de sessenta gestantes, porém muitas se recusaram a participar.
Somente quarenta e uma aceitaram e desse quantitativo apenas oito gestantes vivenciaram
alguma forma de violência doméstica.
Ao analisarmos estas oito entrevistas, observamos que as falas começaram a se repetir,
caracterizando a saturação dos dados.
A coleta de dados ocorreu nos meses de fevereiro e março de 2010.
O número total de depoentes foi limitado a partir do componente de saturação das
respostas, ou seja, à medida que as entrevistas apareceram falas repetidas consideramos ter
atingido a saturação das respostas (MINAYO, 2002).
Finalizada a coleta de dados transcrevemos as entrevistas para análise, segundo a
técnica de análise de conteúdo de Bardin (2000), que prevê um conjunto de instrumentos
metodológicos diversificados que se aplicam aos "discursos", com a finalidade de extrair
conteúdos e expressão destas mensagens, para evidenciar os indicadores que permitam inferir
sobre outra realidade que não a da mensagem.
Dentre as diferentes modalidades existentes de análise de conteúdo, aplicamos a
técnica de análise temática. A abordagem na análise temática tem como princípio o estudo
valores, crença, opiniões e atitudes (BARDIN, 2000).
“Fazer uma análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentidos que compõe
a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição pode significar alguma coisa para o
objetivo analítico escolhido” (BARDIN, 2000, p.105).
Esta é dividida em três fases:
- Pré-análise: ocorre a preparação dos dados colhidos, transcrevendo as gravações;
2262
Trabalho 225
19
- Exploração de materiais: corresponde à análise dos dados, é a fase mais longa devido
ao detalhamento dos mesmos;
- Tratamento dos dados, inferência e a interpretação.
Os dados obtidos através das falas das entrevistadas foram agrupados em categorias de
acordo com os objetivos do estudo.
Não houve custo estimado no processo de realização desta pesquisa e não houve
financiamento por nenhum órgão. Os custos foram arcados pelos autores da pesquisa.
2263
Trabalho 225
20
4 - RESULTADOS
4.1 Análise dos Dados
O corpus de análise é composto por uma entrevista semi-estruturada. Ela foi aplicada
em quarenta e uma (41) gestantes, que se dispuseram a participar da pesquisa, porém somente
oito(08) se enquadraram ao perfil da mesma.
Após a análise, os dados foram categorizados com base no referencial teórico, ao final
da análise emergiram as seguintes categorias e subcategorias em ordem decrescente em
relação ao número de Unidades de Registro, a saber:
- Categoria 1- Perfil sócio-econômico das depoentes;
-Categoria 2- A gravidez não planejada e não desejada: a realidade das mulheres que
vivenciam a violência na gestação;
Subcategoria 2.1- Percepção da gestante sobre a reação dos entes diante da notícia da gravidez
(familiares e parceiro);
Subcategoria 2.2- Sentimentos diante da gravidez não planejada.
- Categoria 3 - A violência doméstica vivida na gestação;
Subcategoria 3.1- Tipos de violência vivenciada;
Subcategoria 3.2- O familiar como agente agressor;
Subcategoria 3.3- Causas e justificativas da vivencia da violência;
Subcategoria 3.4- Vivência da violência na gestação atual.
- Categoria 4 – Repercussões da violência vivenciada sobre a saúde do binômio mãe-feto
Para melhor discussão e compreensão dos resultados encontrados junto às mulheres
estudas, elaboramos um quadro demonstrativo que apresenta as principais características
sócio-econômicas das depoentes.
2264
Trabalho 225
21
Categoria 1- Perfil sócio-econômico das depoentes
QUADRO
1-
DEMONSTRATIVO
DAS
CARACTERÍSTICAS
SÓCIO-ECONÔMICAS
DAS
DEPOENTES
Ent
Ida
de
Idade
Gestacional
Cor/Raça
Escolaridade
Ocupação
profissional
Estado
civil
Renda
Familiar
1
19
24 sg
Negra
Fundamental
completo
Do lar
Solteira
1 sm
2
29
36 sg
Negra
Fundamental
incompleto
Do lar
Casada
1 sm
3
30
24 sg
Negra
Superior
incompleto
Do lar
Casada
3 sm
4
18
21 sg
Branca
Fundamental
completo
Do lar
Solteira
Não sabe
5
18
32sg
Parda
Fundamental
incompleto
Estudante
Solteira
1 sm
6
25
28 sg
Parda
Fundamental
completo
Do Lar
Solteira
Não sabe
7
33
21 sg
Parda
Fundamental
Incompleto
Do Lar
Casada
2,5 sm
8
20
30sg
Branca
Médio
Completo
Atendente
Solteira
2 sm
Ao observarmos o perfil sócio-econômico das gestantes entrevistadas que informaram
ter vivenciado algum tipo de violência durante o período gestacional constatamos que, das
oito mulheres entrevistadas três (03) apresentavam-se com idade entre 18 a 19 anos; três (03)
entre 20 e 29 anos e duas (02) entre 30 e 33 anos. Basicamente, todas as entrevistadas
encontravam-se com mais de 21 semanas gestacional, variando de 21 a 36 semanas.
Tal dado nos revela que são mulheres jovens no segundo ou terceiro trimestre
gestacional, ou seja, já com as alterações do organismo materno externamente visíveis, tais
como: aumento do abdômen, das mamas, aumento do quadril, que podem ter vivido
dificuldades de adaptação do organismo às novas alterações como: sonolência, aumento do
apetite, mudança do libido; poliúria e outras sintomatologias comuns ao período gestacional.
A gestação para muitas mulheres é considerada como um momento de
vulnerabilidade, tanto emocional quanto financeiramente. As alterações no organismo
materno podem ser vistas pelo parceiro como negativas, alterando a relação interpessoal com
a parceira e levando-o a agir de forma abusiva e controladora, dando início a violência ou seu
agravamento (LAURIANO, 2009).
Geralmente, a gravidez influencia no comportamento do homem. Com a possibilidade
de um novo ser que divida a atenção de sua companheira, ele sente-se com menor valor,
2265
Trabalho 225
22
menos poder. Isso podo se dar também pela condição de valorização que a mulher passa a
sentir ao ser mãe, por ter a capacidade de gerar. Esse fato oferece a ela, a certeza de saber
quem é a mãe, mas desencadeia no homem insegurança sobre a paternidade da criança
(OLIVEIRA; VIANNA, 1993).
Verificamos também que duas (02) depoentes declararam-se brancas, três (03) pardas
e três (03) negras. Destas, três (03) eram oficialmente casadas e cinco (05) solteiras.
Constatamos também que três (03) possuiam o ensino fundamental incompleto; três (03) o
fundamental completo; uma (01) o médio completo e outra o ensino superior incompleto.
Associado a estes dados encontramos como perfil econômico que três (03) declararam renda
familiar igual a 1 salário mínimo; três (03) entre 2 e 3 salários mínimos; e duas (02) não
sabiam informar. Das oito (08) entrevistadas, seis (06) informaram ser do lar, uma (01)
informou ainda ser estudante e uma (1) atendente.
Estes dados demonstram estarmos diante de um grupo desfavorecido sócioeconomicamente, o que é comum em mulheres que vivenciam violência doméstica.
Baixo nível sócio-econômico e de suporte social, relacionado à raça/etnia negra, ser
jovem e ter presenciado ou sofrido violência quando jovem representam fatores presentes na
vida da mulher que podem torná-la mais vulnerável à violência doméstica (AUDI et.al, 2008).
Muitas vezes, em função de sua dependência financeira, instabilidade emocional,
baixa autoestima e por falta de perspectiva, a mulher se submete à violência, tornando-se
refém, não denuncia o parceiro com medo de mais represálias (LAURIANO, 2009).
Algumas gestantes que participaram deste estudo sentiram necessidade de comentar
durante a entrevista sobre outros assuntos que não se referiam aos nossos objetivos. Diante de
tal fato percebemos ser válido acrescentá-los, pois determinados temas podem ser
considerados fatores predisponentes para vivência da violência doméstica na gestação atual.
Emergiram temas como vivência da violência fora da gestação, experiência familiar de
violência na gestação, violência em gestações anteriores, período de violência durante a
gravidez, visão da gestante sobre a responsabilidade da gravidez, características do agressor e
impacto da violência em gestações anteriores.
A respeito da vivência da violência fora da gestação, duas (02) entrevistadas relataram
já ter vivenciado violência de forma física e duas (02) relataram ter vivenciado violência tanto
física quanto verbal. Já com relação ao período de violência durante a gravidez, apenas três
(03) entrevistadas delimitaram o período que vivenciaram a violência, as (03) ocorreram no
primeiro trimestre da atual gestação.
2266
Trabalho 225
23
Ao apontarem as características do agente agressor, as depoentes revelaram somente
características do parceiro. Das oito (08) entrevistadas, uma (01) relacionou as características
positivas, três (03) relacionaram as características negativas e quatro (04) entrevistadas não
fizeram qualquer comentário. Cabe ressaltar que uma das entrevistadas ressaltou diversas
vezes características negativas do parceiro.
Observou-se que das oito (08) entrevistadas, três (03) comentaram ter vivenciado
violência em gestações anteriores tanto violência física como psicológica e as demais (05) não
comentaram sobre o assunto. Apenas uma (01) relatou que a violência acontecida na gestação
anterior acarretou impacto tanto em sua saúde como na dos seus filhos.
Também encontramos uma (01) entrevistada que falou diversas vezes sobre a
responsabilidade da gravidez, primeiramente afirmou que a gestação é de responsabilidade do
casal e posteriormente culpou a mulher.
Quanto a experiência familiar da gestante em ter vivenciado violência, observamos
que uma (01) relatou ter vivenciado violência psicológica durante a infância (briga entre os
pais), uma (01) relatou ausência de diálogos com a avó e ausência dos pais na criação.
Em termos quantitativos, observamos que uma ou duas comentaram sobre a violência
anterior e suas consequências, entretanto, não podemos afirmar que o fato das demais
gestantes não comentar signifique que não houve repercussões. Sabemos das dificuldades de
falar sobre o assunto, possivelmente, para algumas mulheres, relembrar que na gestação
anterior houve violência, pode fazê-la questionar sobre o fato de estar novamente grávida. O
que é reforçado pelos discursos que culpam a mulher pela gravidez não planejada ou mesmo
pela ocorrência da violência.
Categoria 2 - A gravidez não planejada e não desejada: a realidade das mulheres que
vivenciam a violência na gestação
Esta categoria expressa às falas das depoentes sobre o momento em que a gestação
surge e se esta foi desejada. Também expressa a reação tanto das gestantes quanto dos que as
cercam ao saberem da gestação. Apresentamos as características que compõem esta categoria
a partir do desenvolvimento das subcategorias que a constituem.
2.1 Percepção das gestantes sobre a reação dos entes quanto à notícia da gestação
(familiares e parceiro)
2267
Trabalho 225
24
Observamos que na percepção das gestantes há dois aspectos a ser considerados, o
primeiro relacionando a reação dos familiares. A maioria das gestantes refere que seus
familiares não receberam a noticia da gravidez de forma positiva. Elas afirmam que, nesse
primeiro momento, ocorreram agressões verbais, psicológicas (como imposição de aborto),
coação financeira, entre outros. Entretanto, no decorrer da gestação, a maioria afirma que os
entes modificaram sua forma de pensar e agir oferecendo apoio emocional e estrutural.
“Ficaram felizes [Familiares]”. (E 3)
“Eles [pai e avó] falaram pra caramba. Me deram esporro”. (E 5)
A descoberta da gestação pode desencadear o processo de violência intra-familiar, por
questões sociais, culturais e/ou econômicas, onde os familiares acabam por impor um aborto a
mulher e ao perceber que a mesma se nega, surge a tentativa de provocá-lo através de atos de
violência (MEDINA, 2007).
Sabemos que a gravidez é um período de transição na vida da mulher, do parceiro e de
seus familiares, onde há a necessidade de reestruturação dos papeis. A mulher que
anteriormente era vista como filha, passa a ser olhada de forma diferente mais do que filha
agora ela também é mãe. Esse processo de transição, inicialmente promove desarranjos
emocionais no sistema familiar como um todo. Há modificações nas relações e no contexto de
vida. A grande maioria das mulheres nesse período encontra-se vulneráveis emocionalmente,
com necessidade de afeto, atenção e aceitação.
É perceptível que mulheres que possuam apoio de seus familiares e de seu
companheiro se sentem mais seguras e confiantes durante o período gestacional, apresentando
fatores de prevenção e proteção para a sua saúde e do bebê, o que diminui a probabilidade da
gestante vivenciar qualquer forma de violência (MEDINA, 2007).
O segundo aspecto está relacionado à reação do parceiro com a descoberta da
gravidez. Para muitas, o parceiro teve reações positivas, aceitaram a gravidez de forma
tranquila e apresentaram sentimentos de felicidade e expectativas quanto ao futuro, mas
também há as que relatam que o parceiro teve reações negativas, como de recusa a gravidez e
negação da paternidade. No entanto, existe contradição em algumas falas, pois afirmaram que
o parceiro teve reações positivas e negativas ao mesmo tempo.
2268
Trabalho 225
25
“[parceiro reagiu] também normal.” (E 1)
“Muito mal. O pai da minha filha(gravidez atual) não ficou, me largou(saiu de
casa)” ( E 8)
Alguns homens, diante a noticia da gestação, se sentem inseguros e com sua virilidade
abalada. Isso se deve ao fato do processo de gerar acontecer no corpo da mulher, dando a
mesma a certeza sobre saber quem é o pai e desencadeando no parceiro a insegurança sobre a
paternidade da criança (OLIVEIRA; VIANNA, 1993).
O fato de seus companheiros não receberem a noticia da gestação de forma positiva
associado à ausência de apoio estrutural e emocional, tende a desencadear nas gestantes
sentimentos de culpa, raiva, tristeza, retraimento social e depressão, o que contribui para que
mulher tenha atitude que coloquem em risco a sua saúde e a do feto, como por exemplo, fazer
uso de substancias ilícitas e tentar o suicídio.
Na gestação, algumas mulheres se encontram mais vulneráveis, isso ocorre devido a
perda de autonomia financeira e emocional. Por vezes o parceiro ao perceber esse tipo de
comportamento de fragilidade da mulher poderá adotar atitudes abusivas e de controle sobre a
mesma (LAURIANO, 2009).
2.2 Sentimentos diante da gravidez não planejada
No que diz respeito ao tema planejamento da gestação, observamos que todas as
entrevistadas, exceto uma, não planejaram a gestação e com isso revelaram sentimentos
negativos em relação à gravidez. O que nos mostra que a gestação não planejada/ não
desejada também pode ser considerada uma forma de violência para essas mulheres caso
tenha ocorrido devido ao parceiro recusar o uso de preservativo ou por ela ter dificuldades de
acesso ao serviço de planejamento familiar, entre outros e, por conseguinte, acabar tornando
essas mulheres mais propensas a outros tipos de violência.
Portanto, este fato mostra que é de fundamental importância a mulher ter acesso ao
planejamento familiar, podendo decidir qual é o melhor momento de ter um filho e possuir
controle sobre o seu corpo (BRASIL, 2004b).
“Não, não foi, nem a primeira gravidez também. Quando engravidei fiquei chateada
a beça porque eu não queria... Poxa eu me sentia assim como se eu estivesse num
2269
Trabalho 225
26
lugar sem saída... Eu sei que abortar não é legal e eu não vou fazer isso, entendeu?
Eu poderia até fazer, eu sei o meio de fazer, mas ia resolver uma parte e outra não
porque eu vou me sentir culpada...” (E 2)
“Eu fiquei chateada.”(E 5)
A maioria das depoentes é dependente economicamente e possui baixa escolaridade.
Isso mostra que estas mulheres possuem fatores que contribuem para a gravidez não planejada
como falta de informações corretas e predisposição social.
“Não [a gravidez não foi planejada].” (E 4 ).
“[Minha gravidez] não foi planejada. [Ela] aconteceu.” (E 6)
A gestação pode ser vista na vida de um casal, como um momento de renovação,
felicidade e expectativas, contudo, quando a gravidez não é planejada, dependendo da
estabilidade do casal, pode desestruturar a relação e ser geradora de conflitos conjugais.
A maternidade é geralmente considerada como ápice da feminilidade, a mesma é
socialmente valorizada, porém muitas vezes é considerada como única e exclusivamente
responsabilidade da mulher, seja a gravidez planejada ou não. Eximindo a figura masculina de
suas responsabilidades reprodutivas e sociais. O homem permanece à margem das questões
reprodutivas, muitas vezes por sua própria opção em não se inserir nesse contexto,
provavelmente devido à construção histórica do seu papel em uma sociedade com
características patriarcais, restando a mulher toda a responsabilidade da gestação
(LAURIANO, 2009)
Categoria 3 - A violência doméstica vivida na gestação
Esta apresenta o segundo maior quantitativo de Unidades de Registro (87). Ela
expressa a compreensão da violência pelas gestantes, os tipos de violência vividos; e o
reconhecimento ou não da violência. Para melhor entendimento ela foi dividida em algumas
subcategorias: Tipos e manifestações de violência vivenciada; O familiar como agente
agressor; Causas da vivencia da violência/Justificativa atribuída à violência vivenciada;
Vivência da violência na gestação atual/ Reconhecimento da violência vivenciada pela
gestante.
2270
Trabalho 225
27
3.1 Tipos de violência vivenciada
Nesta subcategoria observou-se que a forma mais predominante de violência é a forma
verbal/psicológica, vivenciada por todas as gestantes. Ela aparece na maior parte das vezes
acompanhada de outros tipos de violência como física, violação de direitos, coação financeira
e sexual, respectivamente. No entanto, quando questionadas sobre o seu conceito de violência,
muitas citaram apenas a violência física, não dando ênfase a violência verbal/psicológica,
justamente a mais citada ao revelarem suas vivências, sugerindo desvalorização desta forma
de violência tão presente em suas vidas. As falas a seguir revelam as diferentes formas de
violência.
“aí ele [namorado] pegou a vassoura, o cabo de vassoura, e deu com o cabo de
vassoura na minha perna. Aí depois ele foi e deu um chute na minha barriga.” (E 1)
“[ parceiro] me ameaçou falando que ia me bater de novo e que se me visse na rua
ia me pegar.” (E 4).
Verificamos nos estudos de Moraes e Reichenheim (2004) sobre violência no período
gestacional, que ao entrevistarem 526 mulheres no pós-parto estimaram a prevalência de 61,7%
de violência psicológica por parceiro íntimo na gestação e 18,2% de violência física.
Observa- se que é bastante comum, ao serem questionadas sobre o tema violência, as
pessoas atribuírem características de agressão física, embora existam outras formas. Há uma
generalização do conceito que a sociedade possui em relação à violência levando a um
descaso sobre os demais tipos (HIRIGOYEN, 2006).
3.2 O familiar como agente agressor
Nesta subcategoria observou-se que em geral o Marido/parceiro é o agente agressor,
porém, também surgiram outros familiares. Isso nos leva a supor que há uma relação de
dependência financeira da gestante em relação ao agente agressor (ocupação do lar e renda
familiar baixa) e isto aumenta a vulnerabilidade para violência. Pois, muitas das vezes, elas se
submetem a uma situação de violência porque não têm para onde ir, não têm como sustentar
os filhos sozinhas e, assim, preferem acreditar na possibilidade do agressor mudar seu estilo
agressivo de ser.
2271
Trabalho 225
28
Ainda não é muito claro porque a pobreza aumenta a violência, mas esta pode ser
fonte de briga entre parceiros, pois para alguns homens a pobreza pode gerar estresse e
frustração por não conseguirem assumir o papel de provedor ao qual é esperado pela
sociedade (OMS, 2002).
Relato das depoentes, se referindo quem é o agente agressor:
“o meu marido, o encosto do meu marido.” (E 6)
“Do pai da minha filha.” (E 8)
Diniz et al (2003) afirmam que no Brasil a maioria dos casos de violência contra a
mulher, cerca de 70%, acontece no ambiente doméstico, sendo tão ou mais séria do que
praticada por desconhecidos e que seu companheiro é o agente agressor mais frequentemente
e dessas violências 40% têm consequências graves.
Estudos mostram a ocorrência de mais de 205 mil agressões no período de um ano e
que em 70% dos casos, os agentes agressores são os próprios maridos/parceiros, segundo
demonstra o Grupo Parlamentar Interamericano sobre População e Desenvolvimento, World
Health Organization (1998, apud MEDINA, 2007).
3.3 Causas e justificativas da vivencia da violência
Nesta subcategoria as gestantes relatam diferentes motivos para justificar a violência
vivenciada, como: culpa da mulher; algo que pertence ao masculino; culpa do álcool; culpa de
terceiros, como mostram os depoimentos a seguir:
Algumas depoentes afirmam que a mulher é sentimental e com a gravidez fica ainda
mais sensível e, assim, culpa o marido por qualquer briga. Outras dizem que ser agressivo
pertence ao gênero masculino.
“A mulher também por ela ser sentimental, às vezes, ela joga muito a culpa no
marido.” (E 2)
“Mas ele [pai] só faz isso quando bebe.” (E 5)
Este tipo de pensamento sempre justificou o autoritarismo masculino, interpretando a
violência do homem contra a mulher como algo natural. Isso impregnou de tal forma nossa
2272
Trabalho 225
29
cultura que, assim como muitos homens não assumem que estão sendo violentos, muitas
mulheres também não reconhecem a violência que estão sofrendo. E quando reconhecem,
justificam como sendo algo do sexo masculino, algo normal e acabam por fim culpando a si
própria pela violência do parceiro. É uma questão de gênero, onde a sociedade faz uma
construção social do que é característico do sexo masculino e do feminino. Para tornar-se
homem ou mulher, é preciso que se enquadre nas normas que são impostas, submetendo-se a
um processo chamado socialização de gênero, atendendo as expectativas que a cultura tem em
relação a cada sexo. Dessa forma, a identidade sexual é algo construído, que transcende o
biológico (BRASIL, 2002b).
Observamos nesta categoria que a mulher não é só vítima, mas sim co-dependente da
violência, pois reconhece vivenciar e busca justificativas para permanecer na relação.
3.4 Vivência da violência na gestação atual
Nesta subcategoria verificamos que, em geral, as entrevistadas reconhecem que
vivenciaram alguma forma de violência, embora existam situações em que por acharem a
agressão natural, não têm certeza de terem vivenciado violência como se constata nos
fragmentos das falas seguintes:
Quando questionadas sobre o conceito de violência doméstica, a maioria fala somente
na violência física, esquecendo os outros tipos de violência, certamente porque já estão tão
presentes na vida delas que não os consideram violência.
“Eu acredito que sim, já.” (E 3)
“Não.” (E 7)
Mas apesar de reconhecer que vivenciam violência, na maioria das vezes cometida
pelo parceiro, se mostram passivas a este fato por achar que é natural do relacionamento entre
cônjuges e/ou dependerem financeiramente do parceiro (OMS, 2002).
Categoria 4- Repercussões da violência vivenciada sobre a saúde do binômio mãe-feto
Esta categoria retrata, na concepção das gestantes, se a violência repercutiu de alguma
forma sobre a sua situação atual de saúde (gestante), na saúde do feto e os sentimentos delas
frente à violência vivenciada.
2273
Trabalho 225
30
Verificamos que quando perguntadas se a violência interferiu de alguma forma na sua
situação atual de saúde (como gestante), a maioria das gestantes referiu que sim, seja de forma
diretamente relacionada à saúde: Relatando ter ficado mais sensíveis, com sentimento de
medo, desrespeito e receio de serem agredidas novamente. De forma indireta relacionado com
a saúde do feto: não ter certeza de como está o bebê dentro do útero e receio do bebê nascer
com problemas. Outras, apesar de afirmar que consideram que a violência interferiu de
alguma forma na saúde delas, não a especificaram. Entretanto, houve mulheres que
consideraram a violência como algo normal, e com isso não apontou interferências em sua
saúde. Observamos que há uma contradição na fala de algumas mulheres, pois apesar de
afirmar que a violência não interfere em sua saúde, relata sentimentos negativos (citados
acima).
Assim, constatamos que há uma desvalorização, pela própria mulher, da saúde mental.
Apesar de haver repercussões psíquicas, algumas não reconhecem essa interferência em sua
saúde.
“Não [interferiu] nem um pouco [nem na saúde do bebe nem da sua]”(E 3).
“Eu já era sensível agora eu fico mais (após ter vivenciado violência física).
Qualquer coisa eu choro, qualquer coisa eu tenho medo... medo dele fazer de
novo.[........] Agora que eu to fazendo pré-natal, mas eu não sei como é que tá o bebe
la dentro. Se tem alguma coisa, mas eu acho que não, porque como ele era
pequenininho (quando vivenciou a violência), ainda estava se formando, eu acho
que não pode ter afetado nada”. (E 1 )
A violência durante a gravidez, na saúde da gestante pode desencadear uma depressão
durante e após a gestação, fazer uso de substâncias lícitas e ilícitas, anemia, sangramento no
primeiro e segundo trimestre (DURAND; SCHRAIBER, 2007).
A violência durante a gravidez pode apresentar repercussões significativas tanto na saúde
do bebê quanto na saúde da gestante. Podemos apontar algumas, como: parto prematuro, baixo
peso ao nascer, mortalidade materna e neonatal, abortamento espontâneo e inicio tardio da
atenção ao pré-natal (OMS, 2002).
2274
Trabalho 225
31
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste trabalho permitiu a reflexão sobre a temática violência,
especificamente, no período gestacional, que em geral é considerado pela sociedade um
período de felicidade familiar.
Ao iniciarmos o trabalho, encontramos grandes dificuldades em conseguir gestantes
que se dispusesse a falar sobre sua vivencia, reconhecer para si mesmo e para o outro que
vivencia alguma forma de violência não é uma tarefa fácil.
Observamos no que diz respeito ao perfil sócio-econômico, que são mulheres jovens
entre 18 a 33 anos, que estão entre o segundo e terceiro trimestre da gestação. A maioria se
autodeclarau como pardas e negras, tem baixa escolaridade e são dependentes
economicamente. Tal fato nos mostra que estamos diante de um grupo sócio-economicamente
desfavorecido, o que é um fator agravante, contribuindo para a violência doméstica na
gestação, apesar da violência acontecer em todas as classes sócio-econômicas.
A maioria das mulheres reconhece que vivencia alguma forma de violência.
Verificamos que todas vivenciam a violência verbal/psicológica, entretanto esta ocorre
associada a outras formas de violência como: física, violação de direitos e coação financeira.
No entanto, quando são questionadas sobre o conceito de violência doméstica, afirmam ser
atos característicos de agressão física, desvalorizando o que vivenciam. O agente agressor
mais citado pelas gestantes são os próprios maridos/parceiros.
Os significados que as gestantes atribuem à violência vivenciada são variados.
Algumas referem que é algo normal, pertencente ao sexo masculino, outras culpam a si
mesma, pela sensibilidade da gravidez, outras referem ser culpa de terceiros por induzir o
agente agressor a praticar a violência e do álcool. Essas mulheres buscam justificativas para
atribuir a violência vivenciada e permanecerem num relacionamento conflituoso.
No que tange as repercussões da violência doméstica sobre a perspectiva da gestante,
observamos que algumas referem preocupação com o estado de saúde do bebê e receio de
possíveis complicações durante o trabalho de parto. Outras referem que a violência repercutiu
de forma significativa em sua saúde mental e também houve mulheres que afirmam não
considerar que a violência repercutiu em sua saúde.
Conhecer a realidade das gestantes que vivenciam violência doméstica durante o
período gestacional nos revelou aspectos importantes que podem contribuir para uma prática
assistencial no atendimento pré-natal. E, despertou a necessidade de valorização das
condições sociais interferindo sobre a saúde da gestante e do bebê. É necessário despertar nos
2275
Trabalho 225
32
profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, a identificação precoce de mulheres que
vivenciam a violência no período gestacional e na formulação de estratégias de assistência
para essas mulheres, prevenindo agravos na saúde materno-fetal.
Consideramos enfatizar a necessidade de novas pesquisas que discutam a relação da
ocorrência de violência e as situações de risco e agravo da saúde da gestante e, que
consequentemente possa influenciar nos índices de morbimortalidade materna. Cabe aos
enfermeiros e enfermeiras obstétricas despertar, sensibilizar-se e capacitar-se para essas
problemáticas.
2276
Trabalho 225
33
REFERENCIAS
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e o trabalho das equipes de saúde da família. Rev. Esc. Enferm. USP. v.42, n.3 p.591-595,
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AUDI, C.A.F. et al. Violência doméstica Na gravidez: prevalência e fatores associados. Rev.
Saúde Publica. v.42, n.5, 2008.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Edições 70, 2000.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa/CONEP. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos. Resolução n.º 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Rio de Janeiro:
MS/FIOCRUZ, 1998. 44p.
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diretrizes. Brasília (DF), 2004a. 82p
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dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. altera o Código de Processo
Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal e dá outras providências. Diário Oficial
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Trabalho 225
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2278
Trabalho 225
35
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de Janeiro, v.6, n.2, p.6-12, 2009.
2279
Trabalho 225
36
APÊNDICES
APÊNDICE A: SOLICITAÇÃO DE CAMPO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
Prezado Diretor (a)
Gostaríamos de pedir autorização para realização de uma pesquisa intitulada “Violência
Doméstica na Gestação: Visão de quem a vivencia”. Consiste em um projeto de pesquisa vinculada
ao Curso de Graduação da Faculdade de Enfermagem da UERJ, dos graduandos Cícero Ivan Alcantara
Costa, Juliana Eccard Cardoso e Tatyane Costa Simões Antunes, orientados por Lucia Helena Garcia
Penna. Os objetivos deste estudo são:
Descrever o significado que a gestante atribui à violência doméstica por ela vivenciada no
período gestacional;
Identificar os tipos de violência doméstica vivenciada pelas gestantes.
Descrever o perfil da gestante que vivencia a violência domestica;
Discutir as repercussões da violência domestica para a saúde da gestante.
Com esta pesquisa esperamos compreender as repercussões da violência na vida das gestantes.
Além disso, a pesquisa pretende fornecer informações aos profissionais que os auxilie na formação de
um conhecimento sobre os tipos de violência que prevalece nas gestantes e como abordá-las,
contribuindo para uma assistência mais eficiente para as mulheres que vivenciaram violência.
Agradecemos a sua colaboração e estaremos sempre à disposição para esclarecimentos quanto
ao andamento da pesquisa na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
localizado em Boulevard, 28 de setembro 157 – Vila Isabel. Tel.: (21) 2587-6335 R. 4.
Abaixo estaremos dando informações sobre a mesma e caso ocorra consentimento pedimos
que, ao final da leitura, assine este documento que se encontra em duas vias (uma é para a Instituição e
a outra ficará conosco).
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2009.
Pesquisadores
____________________________
Cícero Ivan Alcantara Costa
_____________________________
Juliana Eccard Cardoso
_____________________________
Tatyane Costa Simões Antunes
Orientadora
____________________________
Drª Lucia Helena Garcia Penna
Assinado este documento, autorizo a realização da pesquisa nesta Instituição.
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2009.
__________________________________
(Assinatura do Diretor (a))
2280
Trabalho 225
37
APÊNDICE B: CARTA AO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA DA SECRETARIA
MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO (SMS – RJ)
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2009.
Da Prof. Dra. Lucia Helena Garcia Penna
Para Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro – SMS/RJ
Venho por meio desta, solicitar a autorização no Comitê de Ética da Secretaria Municipal
de Saúde para a realização da pesquisa intitulada: “Violência Doméstica na gestação: Visão de
quem vivencia”, sob a responsabilidade da Prof. Dra. Lucia Helena Garcia Penna.
Este projeto possui como objeto de estudo: as repercussões da violência doméstica sobre a
saúde da gestante segundo a sua perspectiva.
Tendo como objetivos:
Descrever o significado que a gestante atribui à violência doméstica por ela vivenciada no
período gestacional;
Identificar os tipos de violência doméstica vivenciada pelas gestantes;
Descrever o perfil da mulher gestante que vivencia a violência domestica;
Discutir as repercussões da violência doméstica para a saúde da gestante
O desenvolvimento do mesmo será de responsabilidade da orientadora e dos graduandos
Cícero Ivan Alcantara Costa, Juliana Eccard Cardoso e Tatyane Costa Simões Antunes, matriculados
no Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (FACENF/UERJ).
O projeto de pesquisa está cadastrado no Departamento de Pesquisa da UERJ e assim que
obtivermos a autorização para a coleta de dados iniciaremos a nossa atividade no campo.
Certos de contar com sua colaboração agradecemos a atenção e o apoio a esta solicitação
institucional e colocamo-nos a disposição para quaisquer esclarecimentos, quanto ao andamento da
pesquisa na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro localizado em
Boulevard, 28 de setembro 157 – Vila Isabel. Tel.: (21) 2587-6335 R. 4.
Cordialmente,
___________________________________
Prof. Drª. Lucia Helena Garcia Penna
2281
Trabalho 225
38
APÊNDICE C: ROTEIRO ESTRUTURADO PARA ENTREVISTAS
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
ROTEIRO ESTRUTURADO PARA ENTREVISTAS.
1) Perfil Sócio – Econômico:
Idade Gestacional:
Idade da Mulher:
Constituição Familiar:
Estado Civil:
Escolaridade:
Ocupação:
Renda Familiar em salários mínimos:
Cor/Raça:
2) Questões relacionada ao objeto de estudo:
2.1- Sua gravidez foi planejada?
2.2- Como seu parceiro e seus familiares reagiram com a noticia de sua gravidez?
2.3- O que você entende por violência doméstica?
2.4- Você já vivenciou alguma forma de violência doméstica emocional (foi maltratada
emocionalmente através de xingamentos, ameaças e outra) pelo seu parceiro ou alguém
próximo para você durante a sua gravidez atual? Como ocorreu? Por quem foi praticado?
2.5- Desde que você engravidou, alguém lhe bateu, esbofeteou, chutou ou a machucou
fisicamente?
( ) sim ( ) não
Se sim. Quem?___________________________ Como ocorreu? _____________
2.6) Você considera que esse fato interferiu de alguma forma na sua situação de saúde atual
(gestante)? Como?
2282
Trabalho 225
39
APÊNDICE D: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
Prezada senhora,
Você está sendo convidada a participar de uma pesquisa que tem por título Violência Doméstica na
gestação: Visão de quem vivencia, tendo como autores os graduandos em enfermagem Cícero Ivan Alcantara
Costa, Juliana Eccard Cardoso e Tatyane Costa Simões Antunes, orientados pela professora Lucia Helena Garcia
Penna, vinculada ao Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ, que tem por
objetivos: Descrever o significado que a gestante atribui à violência doméstica por ela vivenciada no período
gestacional; Identificar os tipos de violência doméstica vivenciada pelas gestantes; Descrever o perfil da gestante
que vivencia a violência domestica; Discutir as repercussões da violência domestica para a saúde da gestante.
Com esta pesquisa esperamos compreender as repercussões da violência na vida das gestantes,
possibilitando com isso um aperfeiçoamento na assistência às mulheres. Além disso, a pesquisa pretende
fornecer informações aos profissionais que os auxilie na formação e contribua para uma assistência mais
eficiente e humanizada para as mulheres que vivenciaram violência.
Solicitamos sua autorização para realização de uma entrevista que será gravada e posteriormente
transcrita e publicada no trabalho. Solicitamos, também, sua permissão para que os dados coletados possam ser
utilizados nesse e em outros estudos por nós realizados.
Garantimos o sigilo assegurando sua privacidade, sua identidade não será revelada em nenhum
momento, pois utilizaremos pseudônimos na divulgação dos resultados. Esta pesquisa não acarretará riscos e
você pode recusar-se em participar ou solicitar seu desligamento em qualquer fase da pesquisa livre de qualquer
penalidade.
Agradecemos a sua colaboração e estaremos sempre a disposição para esclarecimentos quanto ao andamento da
pesquisa na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro localizado em Boulevard,
28 de setembro 157, 7º andar – Vila Isabel, Tel.: (21) 2587-6335 R. 4 e também no Comitê de Ética e
Pesquisa/SMS - RJ, localizado na Afonso Cavalcanti, 455 sala 701- Cidade Nova. Tel.: (21)2503-2024 ou
(21)2503-2026, no horário de 09h às 13h de segunda a sexta-feira. Deixo também disponível meu contato por
telefone e por email para qualquer esclarecimento: Tel.: (21)3760-5831; 9136-6961; 2482-1115; 8209-7570;
9201-5982; Email: [email protected]; [email protected] e [email protected].
Este trabalho é orientado pela Profa. Dra. Lucia Helena Garcia Penna – [email protected].
De acordo, após os esclarecimentos de todas as minhas dúvidas, autorizo a utilização dos dados de minha
entrevista nesta e em outros estudos.
Rio de Janeiro, _____ de __________________ de 2010.
_________________________________
(nome da entrevistada)
___________________________
(assinatura da entrevistada)
____________________________
Cícero Ivan Alcantara Costa
Juliana Eccard Cardoso
Tatyane Costa Simões Antunes
_____________________________
________________________
_________________________
2283
Trabalho 225
40
APÊNDICE E: QUADRO DEMONSTRATIVO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
Categoria
Subcategoria
2. A gravidez
não planejada
e não
desejada : a
realidade das
mulheres que
vivenciam a
violência na
gestação
(88 UR s)
3. A
violência
doméstica
vivida na
gestação (87
URs)
Percepção da gestante
sobre a reação dos
entes diante a notícia
da gravidez (46 URs)
Sentimentos diante
da gravidez não
planejada (42 URs)
Tipos de violência
vivenciada (46 URs)
Unidade de
significação
Familiares Positivos
Negativos
Parceiro
Positivos
Negativos
Gestação planejada e
sentimentos positivos
E1
E2
1
1
E3
E4
E5
E6
1
1
2
4
1
2
1
9
2
2
1
3
E7
E8
T
Ent.
05
T
UR
09
2
3
4
2
3
04
06
04
01
16
09
12
02
4
07
40
6
08
33
03
08
2
03
04
1
01
01
1
01
01
2
06
09
3
03
11
03
07
01
01
01
01
02
03
1
07
07
8
02
06
02
24
02
01
03
01
04
08
Gestação não planejada
e sentimentos negativos
Verbal/psicológica
1
20
1
2
3
9
2
2
2
4
5
1
Física
3
4
Violação de direitos
1
1
Coação financeira
11
1
Violência Sexual
O familiar como
agente agressor
(20URs)
Marido/parceiro
2
2
Causas e justificativas
da vivencia da
violência (12 URs)
Culpa da mulher
4
A violência pertence ao
masculino/homem
1
1
1
Familiares
1
culpa de terceiros
4.Repercussõe
s da violência
vivenciada
sobre a saúde
do binômio
mãe-feto (36
URs)
Reconhece
Não reconhece
Na saúde da gestante/
Interferência na saúde
mental da mulher
Na saúde do bebê
Interferência não
especificada pela
gestante [mãe ou bebê]
Não
interferência/Violência
vista como algo normal
5
1
culpa do álcool
Vivência da violência
na gestação atual (9
URs)
1
3
2
3
1
1
1
1
2
1
1
1
1
6
3
1
5
2
1
1
1
1
1
2
1
3
2
2284
Trabalho 225
41
ANEXOS
ANEXO A: PARECER AUTORIZAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA DA PREFEITURA
MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
2285
Download

Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e