Anais do 5º Encontro do Celsul, Curitiba-PR, 2003 (1322-1325)
APRENDER OU NÃO ESPANHOL NAS SÉRIES INICIAIS?
Sandro CALVETTI (Universidade Católica de Pelotas)
Orientadora: Tania Beatriz Trindade NATEL
ABSTRACT: This study aims to investigate teachers and students opinions about teaching and learning
Spanish at early stages. To do so, all the students from early stages, teachers, municipal and state
institutions, urban and rural institutions from Jaguarão were questioned. The results obtained were
suprisingly full of important suggestions and what´s more, it seems reasonable to think about the setting
up of Spanish teaching at early stages in Jaguarão, Rio Grande Do Sul.
KEYWORDS: child/teacher; spanish language; learning
Conforme a literatura em aquisição da linguagem, na fase infantil, a criança apresenta maior prédisposição para a aquisição de línguas.
A esse respeito argumenta Blanco Santos(2000), que a melhor idade para aprender uma língua
estrangeira começa a partir dos 5 anos, pois, nessa fase a criança pode realizar um longo discurso e contar
contos ou coisas que se sucedeu nos mínimos detalhes.
Também Chomsky(1968) afirma ser a linguagem uma faculdade especial inata que permite a
aquisição pela criança, em um período de poucos anos, de uma ou mais línguas.
Da mesma forma Schütz(2002), relata que não há dúvida de que existe uma idade crítica, a partir
da qual o aprendizado começa a ficar mais difícil. Este período parece situar-se entre os 12 e os 14 anos,
podendo, entretanto, variar muito conforme a pessoa e, principalmente, conforme as características do
ambiente lingüístico em que o aprendizado ocorre.
Apesar dos pesquisadores mencionados anteriormente assinalarem que a criança apresenta
facilidade para aprender idiomas, as autoridades educacionais não têm levado em consideração o melhor
período de aquisição do aprendizado de uma criança, uma vez que são poucas, se não raras as escolas que
tem no seu currículo línguas estrangeiras nas séries iniciais.
Este trabalho tem como objetivo verificar o que opinam alunos, professores e direções de escolas a
respeito de implantar o espanhol nas séries iniciais no município de Jaguarão, Rio Grande do Sul. E
também solicitar junto as autoridades competentes a inclusão do espanhol gratuito nas séries iniciais com
educadores devidamente qualificados.
Este estudo se justifica pela proximidade geográfica de Jaguarão com a cidade de Rio Branco,
Uruguai e por ser o espanhol o idioma principal utilizado pela população nas relações comerciais e
sociais. Igualmente, se justifica pelo desejo de aproveitar a melhor fase da criança para aquisição de
idiomas.
Para a coleta dos dados, o professor pesquisador aplicou um instrumento aos professores que
continha a seguinte pergunta e sua respectiva justificativa.
É importante o aprendizado da língua espanhola nas séries iniciais?
Igualmente os aprendizes foram indagados sobre se gostariam ou não de aprender espanhol,
justificando a sua resposta. Também as direções das escolas foram questionados a respeito da existência
de dificuldades para a implantação do espanhol nas séries iniciais.
A seguir veremos o resultado da opinião de professores das Escolas Municipais e Estaduais da
cidade de Jaguarão, a respeito da pergunta chave deste trabalho que se refere ao desejo de aprender ou
não espanhol nas séries iniciais. Os dados são apresentados no Quadro 1 e Quadro 2.
Quadro 1
Escolas Estaduais
Sim
92,3 %
Não
7,7 %
Total de Professores
52
Sandro CALVETTI & Tania Beatriz Trindade NATEL
1323
Quadro 2
Escolas Municipais
Sim
91,3 %
Não
8,7 %
Total de Professores
46
Os resultados no Quadro 1 e 2 são muito importantes pelo fato de os professores terem se
manifestado, na sua grande maioria, 92,3 % das Escolas Estaduais e 91,3 % das Escolas Municipais, a
favor da implantação da Língua Espanhola nas séries iniciais no município de Jaguarão.
A esse respeito, faz-se relevante mencionar algumas das principais opiniões favoráveis de
determinados professores que disseram sim a adoção do Espanhol nas séries iniciais, bem como suas
respectivas justificativas:
Profª. A: É importante porque facilita a comunicação, até porque as nossas escolas recebem alunos
vindos das escolas do Uruguai.
Profª. B: É uma língua muito influente no nosso município.
Profª. C: É relevante para manter um convívio de igualdade com o país vizinho.
Profª. D: É importante, pois as crianças convivem com uruguaios desde o nascimento.
Profª. E: Devido a região de fronteira e o comércio, usarão a Língua Estrangeira futuramente no
mercado de trabalho.
Profª. F: Nesta cidade a criança tem mais facilidade para aprender, uma vez que vivemos na fronteira,
há a necessidade de melhor comunicação e entrosamento com as crianças do país vizinho.
Profª. G: Sim, é importante desde que as crianças sejam bem orientadas.
Profª. H: É relevante porque afirma a língua materna e amplia conhecimentos, proporcionando às
crianças adquirir outros costumes.
Profª. I: Acredito que esta é a melhor época para que aprendam, e no futuro fará uma grande diferença.
Percebemos nas respostas dos professores que é indubitavelmente relevante a inclusão da Língua
Espanhola na grade curricular das séries iniciais. Além disso, a profª. I diz que é a melhor época para a
aprendizagem, e no futuro, segundo ela, fará uma grande diferença.
A esse respeito, é relevante retomar as teorias que explicam como se processa a aquisição da
linguagem pela criança e comprovam ser a idade infantil, a mais apropriada para a aquisição de idiomas.
Conforme Chomsky(1968) afirma ser a linguagem uma faculdade especial inata que permite a aquisição
pela criança, em um período de poucos anos, de uma ou mais línguas.
Também Lunnenberg(1967), afirma parece haver, entre a infância e a adolescência, um período
crítico para o desenvolvimento da linguagem. Segundo o autor, as crianças antes da puberdade podem
aprender a falar fluentemente e com relativa facilidade mais de uma língua. Por outro lado, adolescentes e
adultos podem estudar uma língua e aprendê-la, mas raramente adquirem a fluência de um falante nativo.
As demais opiniões dos professores de escolas estaduais e municipais encontram sustentação na
teoria de Piaget(1971), que diz que a principal função da linguagem é de intercâmbio social: é para se
comunicar com o seu semelhante que o indivíduo cria e utiliza os sistemas de linguagem. É a necessidade
de comunicação que impulsiona, inicialmente, o desenvolvimento da linguagem, isto é, a linguagem tem
função social.
A continuação observa-se a opinião de alunos da 1ª e 2ª séries do ensino fundamental sobre o
desejo de ter ou não aulas de espanhol:
Quadro 3
Escolas Estaduais
Sim
86,8 %
Não
13,2 %
Total de alunos
393
Quadro 4
Escolas Municipais
Sim
87,2 %
Não
12,8 %
Total de Alunos
469
1324
APRENDER OU NÃO ESPANHOL NAS SÉRIES INICIAIS?
Nos Quadros 3 e 4 pode-se observar que a maioria dos sujeitos investigados, 86,8% das Escolas
Estaduais e 87,2 % das Escolas Municipais, mostraram o desejo de aprender espanhol na 1ª e 2ª séries. É
interessante mencionar alguns dos principais comentários das crianças, justificando as razões pelas quais
querem aprender espanhol nessa etapa. Alguns deles são citadas abaixo:
Aluno A: Quero aprender espanhol para ensinar os meus pais.
Aluno B: Aprendi inglês, quero aprender o espanhol.
Nas opiniões mencionadas pode-se perceber a valorização dada pelos alunos à Língua Espanhola.
Como pode-se observar, a maioria quer aprendê-la e, além disso, são convincentes no momento de
justificar as razões pelas quais o querem.
São poucos os aprendizes que disseram não querer aprender espanhol e justificam sua resposta da
seguinte forma:
Aluno X: Participo de um cursinho particular.
Aluno Y: Eu já sou uruguaio.
No comentário do aprendiz X, parece evidente a crença de que na escola não se aprende uma
língua estrangeira. Já no comentário do Y, o fato de ser uruguaio dispensaria a aprendizagem do espanhol
no Brasil.
A Continuação serão mostrados os Quadros 5 e 6 com opiniões dos alunos de 3ª e 4ª séries das
Escolas Estaduais e Municipais, a respeito de querer aprender ou não Espanhol nas séries iniciais. Os
resultados são apresentados a seguir:
Quadro 5
Escolas Estaduais
Sim
87,2 %
Não
12,8 %
Total de Alunos
478
Quadro 6
Escolas Municipais
Sim
87,7 %
Não
12,3 %
Total de Alunos
325
Com base nos resultados, observa-se que, tanto na Escola Estadual quanto na Municipal, a maioria
dos alunos, na primeira 87,2 % e na Segunda 87,7 %, manifestaram o desejo de aprender Espanhol.
Algumas das principais justificativas dos aprendizes são mostradas na continuação:
Aluno A: Sim, porque tenho parentes uruguaios e gostaria de entendê-los.
Aluno B: Gosto de assistir teatro e não entendo o que eles falam.
Aluno C: Vou estudar na escola do Uruguai.
Aluno D: Quero ensinar os meus irmãos e os meus primos.
Aluno E: A minha mãe fala e eu não entendo.
Aluno F: Quero entender os uruguaios principalmente em caso de emergência.
Aluno G: Sim, porque é o meu sonho.
Aluno H: Para ler um livro em espanhol
Aluno I: Para fazer um concurso
Percebe-se, de maneira muito forte, nas opiniões dos alunos o desejo de aprender o idioma
espanhol por distintas razões, sendo algumas delas, e as mais valorizadas, o desejo de integração com os
falantes do país vizinho ou porque tem na sua família alguém que fala o espanhol.
Os resultados gerais mostram os aprendizes muito motivados para aprender Espanhol, os
professores também manifestam opiniões bastante favoráveis a respeito da implantação desse idioma nas
séries iniciais, porém os diretores e diretoras das Instituições de Ensino pesquisadas mostraram algumas
preocupações quanto à adoção do Espanhol nas etapas iniciais da aprendizagem das crianças. Faz -se
relevante citar alguns dos principais comentários realizados por eles:
Sandro CALVETTI & Tania Beatriz Trindade NATEL
-
1325
Não temos professores disponíveis e habilitados.
Faltaria professor para lecionar em todas as turmas.
Não consta nos planos de estudos.
Falta recursos, humanos, material didático e pedagógico.
Não há autorização da 5ª CRE.
É relevante observar a opinião de diretores e diretoras públicas, uma vez que mostram através dos
seus comentários que o empecilho maior para implantar Espanhol nas primeiras etapas de ensino se deve
ao fato de não haver professores preparados, bem como a problemas de ordem institucional. Por exemplo:
“Não há autorização da 5ª CRE”.
Foi notório que existe uma crença de que não se aprende língua estrangeira na escola regular, pois,
as crianças perguntavam quanto tinham que pagar. Sendo assim, existe este pensamento de que aprender
uma língua estrangeira só é possível nos cursinhos livres de idiomas que cobram por isso, tornando-se um
privilégio de uma parcela mínima da população.
Considera-se de grande importância os resultados desta pesquisa, isto é, considerando as
dificuldades levantadas pelas direções das escolas, sugere-se a qualificação de profissionais através do
Curso de Formação de Professores para Trabalhar a Língua Estrangeira nas Séries Iniciais, desenvolvido
pela professora Tania Beatriz Trindade Natel, em parceria com a rede municipal de Pelotas/RS, que
atendeu a reivindicação das escolas que mostraram interesse em implantar línguas estrangeiras nas séries
iniciais. Acreditamos que depois desta participação neste 5º Encontro do Celsul, tendo a oportunidade de
mostrar este trabalho, as autoridades do município de Jaguarão/RS, levarão mais em conta esta propostas
que não é só nossa, mas também de alunos e professores.
Para concluir lançamos as seguintes perguntas: Até quando teremos que esperar pela boa vontade
das autoridades para incluir o idioma Espanhol nas séries iniciais? Não será a hora de reivindicar junto as
autoridades por esta causa mais do que justa, almejada pelas crianças e reconhecida como importante
pelos professores pesquisados?
RESUMO: Este estudo tem a finalidade de investigar a opinião de alunos e professores a respeito de
ensinar/aprender Espanhol nas séries iniciais. Para isso, foram questionados todos os alunos das séries
iniciais, seus professores, instituições municipais, estaduais, do meio rural e urbano, do município de
Jaguarão. Os resultados são surpreendentes, trazendo sugestões relevantes, inclusive podendo ajudar a
pensar em implantar o ensino de Espanhol nas séries iniciais no município de Jaguarão, Rio Grande Do
Sul.
PALAVRA-CHAVE: criança/professor; língua espanhola; aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BLANCO SANTOS, Maria Cristina. “Comunicación no verbal en Educación Infantil”, Pulso, nº 23, págs.
93-100. Madrid, 2000.
CHOMSKY, N. & HALLE, M. The sound pattern of English. New York, Harper and Row, 1968.
GARDNER, H. Frames of Mind. New York: Basic Books, 1983.
LUNNENBERG, E. Biological Fundations os Language. New York, Wiley, 1967
MONFORT, M. Y A. Juarez Sanches. El niño que habla. Madrid CEPE, 1989
SEBER, Maria da Glória. Construção da Inteligência pela criança. São Paulo: editora Scipione, 1995
SCHUTZ, Ricardo. “A idade e o aprendizado de línguas”. English made in Brazil.
http://www.sk.com.br/sk-apre2.html. Online. 23 de março de 2002.
PIAGET, J. A construção do real na criança. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
VYGOTSKY, L. S. Thought and Language. Cambridge: MIT Press, 1962.
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