A VIDA PARTILHADA LADO A LADO COM UMA
MÁQUINA
Dia Mundial do Rim a 14 de março
Reações emocionais e comportamentais não dialisáveis...
A Hemodiálise é um tratamento
utilizado para remover as substâncias
tóxicas (produtos metabólicos
normalmente excretados pelo rim) e o
excesso de água acumulado no
sangue, em doentes com insuficiência
renal crónica. Este tratamento
consiste na “purificação” do sangue
com recurso a uma máquina a qual
através de uma bomba impulsiona
para dentro de um dialisador (rim
artificial) o sangue do doente,
devolvendo ao mesmo o sangue já
“limpo”. Estas sessões de diálise são realizadas em média 3 vezes por semana e durante cerca
de 3 a 4h. O “rim artificial” não substitui na totalidade as funções do rim, havendo necessidade
de compensar a função hormonal do mesmo com recurso a medicação, em simultâneo com
uma dieta alimentar cuidadosa.
A insuficiência renal crónica pode ser causada por diversas patologias que afetam os rins,
quer seja de maneira rápida, ou por outro lado, de forma lenta e gradual, na qual o rim fica
incapacitado de realizar as suas funções. Este agravamento crucial na função renal pode ser
acelerado por diversos fatores, ou por outras doenças subjacentes, nomeadamente a
hipertensão e a diabetes.
Todas as doenças crónicas (em especial) têm as suas fases de adaptação, e esta não é
excepção. As pessoas sujeitas a este tipo de tratamento vêem-se confrontadas com alterações
nas suas atividades de vida, com limitações a nível pessoal, familiar e social, o que poderá
desencadear numa fase inicial, sentimentos de revolta, frustração, angústia e medo, uma vez
que dependem agora de uma máquina para sobreviver. Todos eles têm reações emocionais e
comportamentais que se alteram com o decurso dos tratamentos. Claro que estes sentimentos
são variáveis de pessoa para pessoa, e são influenciados pelas suas crenças e valores. Cada
doente é único e vivencia o seu estado de doença crónica de forma muito pessoal.
Particularmente, nos casos em que esta doença surge de forma silenciosa, ou seja, sem a
pessoa se aperceber que algo está acontecendo, e vê-se confrontada com um tratamento
(hemodiálise) que desconhecia por completo, a fase de adaptação é mais longa e difícil por
vezes. Custa-lhes muito aceitar e enfrentar este tipo de tratamento, uma vez que como não
tinham ou não se apercebiam dos sintomas, achavam que estavam bem de saúde e de repente
são confrontados com uma doença e um tratamento regular com dependência de uma
máquina. Os doentes passam assim, a depender do atendimento constante e permanente de
um serviço de saúde composto por uma equipa multidisciplinar, e de uma máquina de diálise.
Felizmente, à medida que os tratamentos ocorrem, os doentes vão gradualmente aceitando e
se adaptando às suas novas rotinas e alterações de vida, por melhorarem significativamente o
seu estado de saúde, quer a nível físico quer mental. Nas sessões de diálise existem pessoas
que estão iniciado os tratamentos, enquanto outros já têm meses e até anos, o que vai permitir
a partilha de experiências em ambos.
Os enfermeiros por acompanharem os doentes durante toda a sessão de hemodiálise, e pelo
fato de conhecerem o impacto que esta lhes provoca, têm assim um papel importante e
fundamental no acompanhamento destes, o que, em simultâneo com o suporte familiar, vai
ajudá-los ao complementar a adaptação a este novo processo de tratamento.
Os enfermeiros (de um modo transversal em todas as áreas da saúde) são ainda, os
elementos de saúde em quem os doentes primeiro relatam as suas angústias, medos, enfim os
seus desabafos; as suas experiências de vida , os seus problemas ,e é claro que revelam
algumas vezes em segredo o que é ser insuficiente renal e como se sentem ao fazer estes
tratamentos. Cria-se assim, uma importante e fundamental relação de confiança utente –
enfermeiro, em que este serve muitas vezes como ponte entre o doente e a restante equipa de
saúde. Concretamente no decurso destes tratamentos, há necessáriamente que haver esta
relação, uma vez que os doentes passam cerca de 12 horas por semana em tratamentos,
durante vários meses, anos e muitos deles, uma vida inteira. Sonham e têm uma esperança
constante em serem tranplantados, pois é a única alternativa que os vai libertar da máquina.
Apesar de não ser a cura (que de fato, não existe), é o meio pelo qual os doentes irão poder
usufruir de maior qualidade de vida.
Enfª Carla Aveiro
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrica
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