Newsletter Best Writing nº 1, 2015. GL Volpato. Título do trabalho.
TÍTULO DO TRABALHO
Por Gilson L. Volpato
1 – Seu artigo pode ser usado por cientistas mesmo fora de sua especialidade.
Você não consegue dimensionar precisamente quem usará o conhecimento que você apresenta em
seu trabalho. As conexões possíveis com outras especialidades ou áreas mais amplas podem ser
muitas. Assim, não escreva o título pensando no especialista de sua área. Tente contornar isso com
os revisores e editores caso a revista não seja muito avançada.
2 – O título é a primeira parte do artigo a ser vista.
Hoje o excesso de publicações é evidente. Coloque duas ou três palavras-chave na base de dados e
geralmente terá muitos artigos à disposição. O acesso primário é ao título do trabalho. É comum
que muitos leitores nem leiam integralmente todos os títulos, abandonando vários na metade da
leitura. Evite que façam isso com o título do seu trabalho.
Do título é comum que os leitores examinem rapidamente a revista de publicação e os autores;
posteriormente, ou até antes, vão ao Resumo. Então, o título é como o letreiro de uma loja. Deve
ser visto e atrair os leitores. Mas quando eles entrarem na loja não podem se decepcionar.
3 – A partir do título o leitor pode ignorar seu trabalho, ou se interessar por ele.
Atualmente, devido ao excesso de trabalhos publicados, a tarefa desses leitores mudou. Eles
precisam fazer uma boa triagem entre os diversos artigos disponíveis para não perderem tempo
lendo coisas que se revelam, posteriormente, equivocadas. Assim, mostre logo de início qual é o
grande diferencial e novidade do seu estudo. Na atualidade, se você ficar escondendo sua grande
novidade, possivelmente pouca gente terá teimosia para chegar ao final para descobrir qual é essa
novidade.
A essência de um artigo científico são as conclusões sólidas que apresenta. É nelas que o leitor
geralmente está interessado. Assim, nada mais óbvio que mostra-las rapidamente ao leitor, já no
título. Para isso, é necessário que o próprio autor saiba muito bem qual é a novidade de seu artigo
no cenário da ciência.
A máxima de hoje é que: o leitor não lê o artigo para saber o que ele trouxe de novidade; mas por
saber qual é a novidade e para verificar como os autores chegaram a ela e poderem aceita-la ou
não.
4 – Seu título precisa ser lido; portanto, deixe-o curto.
Título curto é lido. Como deixa-lo curto?
Mire nas suas variáveis teóricas. Elas encurtam a informação. Por exemplo, você pode ter medido
ou qualificado 4 variáveis que, se presentes no título, o deixarão longo. Mas é possível que algumas
dessas variáveis sejam apenas indicadores de uma variável mais ampla. Se investigou renda familiar,
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nível escolar, classe social e otimismo, é possível que possa considerar as três primeiras variáveis
como sendo uma única variável (nível socioeconômico). Com isso, usará apenas “nível
socioeconômico” e “otimismo” para o seu título. Podemos, então imaginar que seu título pode ter
sofrido a seguinte modificação:
LONGO: Maior renda familiar, nível escolar e classe social promovem maior otimismo em idosos.
CURTO: Melhora no nível socioeconômico promove otimismo em idosos.
Retire palavras vazias, como: “Estudo sobre”, “Um relato de”, “Contribuição ao” etc.
Seja objetivo: “aumenta” ao invés de “promove aumento”; “inibe” ao invés de “causa uma inibição”
etc.
Cuidado com nome de lugar: “... em Botucatu, SP, Brasil”. Só coloque indicação de lugar no título
caso tenha certeza de que faria a mesma pesquisa, no mesmo lugar, se estivesse residindo numa
região distante dessa. Do contrário, o lugar fica apenas no Material e Métodos.
5 – Seu título deve ser honesto: portanto, fiel aos seus achados.
Foque na principal conclusão do seu estudo. Se sua conclusão estiver correta, ele será honesto, fiel
aos seus achados. Lembre-se que conclusão é escrita no tempo presente. Portanto, escreva no
tempo presente. O título pode perfeitamente incluir verbos.
Se seu estudo é descritivo, ou seja, descreveu alguma variável, deixe claro no título que o leitor
encontrará no trabalho essa descrição. Se após fazer a descrição notar que há algum diferencial
muito interessante nela, enfatize isso também no título.
Não há desonestidade alguma em fazer um título atraente, exceto se seu estudo é enganoso; mas
aí o problema não é do título.
Se descreveu, diga que é descrição: Descrição de...; Caracterização de...; Composição de... Etc.
Se há relação, seja explícito sobre a relação: X é um indicador de W; Presença de Y está associada a
X... Etc.
Se a relação é de interferência, explicite-a: X reduz Y; AB interagindo com XY bloqueia W; A controla
B... Etc.
6 – Seu título deve ser compreensível: use palavras de fácil entendimento.
Abra o seu texto. Muitas vezes uma palavra que só é entendida por quem estuda diretamente
aquele assunto pode eliminar leitores. Às vezes é preferível que o título fique com uma ou duas
palavras a mais, mas que aumente muito o entendimento. Veja alguns exemplos que tornam seu
título mais fácil de ser entendido, sem perder em profundidade.
Se usou Senciência, use “consciência de sofrimento”
Se usou “estimulação do eixo HPA”, use “estresse” ou equivalente
Se usou “sono REM”, use “sonho”
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Se usou “tesoura”, “cunhal”, “clinquer” ou similares, imagine que poderá ser lido por um “não
engenheiro”.
Os jargões técnicos são usados para reduzirem palavras no texto. Mas, eles pressupõem que você
está se dirigindo apenas para pessoas da sua especialidade, com os mesmos vieses de linguagem.
Veja quantos termos técnicos são usados normalmente por cada especialista (e.g., médicos,
advogados, economistas, geneticistas, engenheiros). Os termos estão corretos, mas apenas os
engajados na especialidade se entendem. Mas a ciência é, por definição, multidisciplinar, de forma
que “abrir o texto” é necessário. Um termo não entendido no título pode ser motivo para que o
leitor desista do artigo, em meio a tantos outros.
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