COMUNICADO DE IMPRENSA
Mini-hídrica a construir no Rio Mondego invalida investimento
de 3,5 milhões em passagem para peixes migradores
Foi este ano adjudicada a obra para a construção de uma escada para a passagem de
peixes migradores no Açude-ponte em Coimbra, que representará um investimento de
cerca de 3,5 milhões de euros. Atendendo a que o objectivo desta obra é garantir o
acesso de espécies como a lampreia-marinha, o sável e a savelha às suas áreas de
reprodução, foi com grande surpresa que a LPN constatou o lançamento recente de um
concurso público, para a construção de uma mini-hídrica a cerca de 15 km a montante
deste açude.
A construção de barragens e açudes ao longo de todas as bacias hidrográficas nacionais tem
vindo a constituir uma ameaça à conservação de diversas espécies de peixes, em particular as
espécies que efectuam migrações entre o mar e os rios para completarem o seu ciclo de vida.
É o caso da lampreia-marinha, do sável e da savelha, que se reproduzem nos rios, mas
migram para o mar, onde desenvolvem grande parte da sua vida adulta. Ao contrário destas, a
enguia reproduz-se no mar e os juvenis sobem os rios, onde se vão desenvolver até à fase de
migração para reprodução. As barragens e açudes são obstáculos físicos à migração destas
espécies, uma vez que muito raramente conseguem ultrapassar estas barreiras, representando
por isso uma ameaça à conservação das mesmas.
Uma das medidas mais eficientes para a preservação destas espécies é evitar a
implementação destas estruturas a jusante das áreas de reprodução daquelas espécies e,
quando as mesmas já existem, a construção de dispositivos que permitam a sua transposição,
como as escadas e elevadores para peixes, de que é exemplo a passagem para peixes que
está a ser construída no Açude-Ponte em Coimbra. Este investimento no açude justificou-se
devido à importância do Rio Mondego para a reprodução das espécies migradoras, que não
conseguiam ultrapassar aquela infra-estrutura localizada a apenas 35 km da foz do troço
principal do Mondego e que, com passagem assegurada, passarão a dispor de mais cerca de
40 km nesta bacia hidrográfica, que incluirão, para além do troço principal do Mondego, os rios
Ceira e Alva.
Foi com grande surpresa que a LPN teve conhecimento do lançamento de um concurso público
para construção de uma mini-hídrica a cerca de 15 km a montante do Açude-Ponte (D.R. II
Série, 201/2010 de 15 de Outubro) com a finalidade de produção de energia hidroeléctrica e
captação de água. O lançamento desta obra pela Administração de Região Hidrográfica do
Centro é uma perfeita contradição pois anula quase por completo os efeitos conservacionistas
positivos da construção da passagem para peixes no Açude-Ponte em Coimbra, promovida
pelo Instituto da Água.
A LPN acredita que esta iniciativa possa ter resultado de alguma falha de comunicação entre
as várias entidades do Ministério do Ambiente, pelo que espera que o concurso público para
construção da mini-hídrica venha a ser anulado em breve.
Lisboa, 24 de Novembro de 2010
A Direcção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza
Para mais informações: 217 780 097 - 217 740 155 - 217740 176
Sobre a LPN: A LPN é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA), fundada em 1948, sendo a associação de defesa
do ambiente mais antiga da Península Ibérica. É uma Associação sem fins lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. Tem como
objectivo principal contribuir para a conservação do património natural, da diversidade das espécies e dos ecossistemas (ver
www.lpn.pt).
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