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Fala de estar
Cristina Valadas
diz que
a literatura e a leitura
são sempre uma viagem
Esta ilustradora nasceu no Porto no ano de 1965. Começou a gostar de desenhar
e de pintar logo em pequena, mas era também muito amiga de brincar com legos
e de andar para cá e para lá sempre na companhia de um gato. Esse gato é ainda hoje
personagem de algumas das suas ilustrações para crianças, em que desenha com a mão
esquerda e pinta e recorta com a direita.
No livro Irmã(o) ilustra algumas brincadeiras entre dois irmãos. Quais eram
as brincadeiras que preferia em criança,
enquanto crescia no Porto, e quem a
acompanhava nelas?
Fui uma criança um pouco solitária; brincava
muito sozinha, mas também tinha amigos.
As brincadeiras de que mais gostava eram
desenhar e construir com legos.
Que profissões sonhava ter nessa altura
e quando começou a gostar tanto de
desenhar e pintar que quis fazer disso a
sua profissão?
As profissões de que gostava eram as das
meninas da minha época, como hospedeira;
também gostava de ser veterinária (e acho
que essa é uma profissão que se mantém
nos gostos dos meninos de agora), porque
sempre fui muito sensível a animais e também tinha um sonho muito especial, que era ser condutora
de elétricos, o que era uma coisa um bocado rara (na altura não havia mulheres a fazê-lo, mas por
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acaso agora já vejo). Em relação ao desenho e à pintura, sempre foram coisas tão enraizadas em mim
que nunca tive nenhuma dúvida daquilo que queria seguir. Acabei por seguir o que tinha muita força em
mim, que era desenhar e pintar.
Um dos primeiros livros para crianças que ilustrou é o Herbário, escrito pelo Jorge Sousa Braga.
Coleciona ou já colecionou coisas especiais, como plantas ou outras?
Sim, sempre tive um fraquinho por fazer coleções. Quando era miúda guardava tudo, fazia coleção
de lápis, de pacotes de açúcar, de tantas coisas… Tudo o que encontrava colecionava: pedras, chaves
antigas e mais uma série de coisas. Sempre gostei de colecionar!
Tem alguma planta ou árvore preferida?
Gosto muito de plantas, de nenhuma em especial mas há muitas de que gosto. Uma das que gosto
mesmo, mesmo muito é a figueira.
Faz ilustração e pintura recorrendo a muitos materiais e papéis diferentes. De entre as técnicas que
usa tem alguma preferida?
Não tenho nenhuma preferida. Gosto mesmo muito de desenhar, acho que é um ponto forte em
mim, mas tenho muita necessidade de fazer experiências novas. Trabalho por fases. Se estou na fase
de desenho, os livros que surgem nessa altura poderão ser ilustrados através de desenho, mas depois
fico um pouco cansada disso e resolvo experimentar, por exemplo, as colagens – e durante esse período,
se acontecer aparecer algum texto para ilustrar é natural que venha a ilustrar através da colagem
e assim sucessivamente… Tenho uma necessidade muito grande de experimentar novos materiais
e de mudar, principalmente.
E técnicas que ainda não tenha usado na ilustração de livros para crianças e gostasse de experimentar?
Haverá muitas, com certeza, e uma das que gostava de experimentar seria, por exemplo, o desenho
no computador. Gostaria talvez de o misturar com desenho à mão e tinta; fazer experiências desse tipo,
mas não tenho formação.
A Rapariga e o Sonho é um livro cheio de magia, de jogos e de natureza que começou com uma série
de desenhos seus sobre os quais a Luísa Dacosta depois escreveu um texto. Enquanto ilustra imagina
logo uma história ou confia essa parte à escritora?
Confio essa parte à escritora. Quando estou a fazer uma série de desenhos não há propriamente uma
história; eles vão surgindo como quando se abre uma torneira e a água vai saindo. Vão surgindo sem
história e depois é engraçado haver alguém que crie uma história para esses desenhos e a forma como
pega num ou noutro, sem manter a ordem que inicialmente lhes dei; é interessante.
Alguma vez teve vontade de fazer um livro sem palavras, só com desenhos seus?
É algo que me puxa o interesse. Ainda não saiu, mas provavelmente ainda acontecerá e se calhar até um
livro escrito por mim; ainda não sei.
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A literatura e a leitura são importantes para si?
São muito importantes e é um pouco como a Luísa Dacosta diz, é a liberdade. Uma pessoa pode estar
presa fisicamente, mas a literatura e a leitura são sempre uma viagem, uma partida para um mundo
desconhecido, de aventura; um mundo em que a gente pode entrar e ser livre. Nesse sentido acho-as
extremamente importantes.
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Cristina Valadas a literatura e a leitura são sempre uma viagem