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O PERÍODO DE “QUASE NÃO LITERATURA” EM ANGOLA
Donizeth Aparecido dos Santos∗
RESUMO: Este artigo apresenta uma abordagem da literatura angolana produzida no
período entre 1900 e 1947, fase que ficou conhecida como de “quase não literatura” em
razão de Angola ter ficado 39 anos sem a publicação de uma obra significativa. Este
trabalho também faz uma rápida abordagem do surto de literatura exótica e colonial que
assolou Angola, da década de 20 a de 40.
ABSTRACT:
This
article
presents
a
critical
approach
of
Angolan
literature produced in the period between 1900 and 1947.
This phase was
known as “almost not literature," because Angola had been without any significant
literature
publication for
39
years.
This
work
also
makes
a
brief approach of the boom of exotic and colonial literature that desolated Angola,
between 20th anda 40th decades.
PALAVRAS-CHAVE: literatura angolana; literatura colonial; literatura anti-colonial
KEYWORDS: Angolan literature; colonial literature; anti-colonial literature
INTRODUÇÃO
Aproprio-me da definição de Henrique Guerra para nomear este artigo,
através do qual pretendo abordar a literatura angolana produzida no
período entre 1901 e 1947, véspera do surgimento do Movimento Vamos
Descobrir Angola. Henrique Guerra (1979) denominou esse período “de
quase não literatura” devido ao longo tempo (1890-1929) sem a
publicação de uma obra significativa que entrasse para a história da
literatura angolana. No período anterior, em sua fase inicial, de 1849 a
1890, haviam sido publicadas em Angola três obras importantes:
Espontaneidades da minha alma (1849), de José da Silva Maia Ferreira,
Nga Muturi (1882), de Alfredo Troni e Delírios (1890), de Joaquim Dias
Cordeiro da Matta. Esse vazio literário provocou um atraso significativo no
desenvolvimento da literatura angolana.
No entanto, na Angola do início do século XX, os ares eram promissores
em relação à evolução da consciência do intelectual filho da terra (negro
ou mestiço), que na época tinha a imprensa livre como um meio de
propagação de suas idéias, corroborando a perspectiva de que novas
obras literárias pudessem ser produzidas e publicadas, continuando a
trilha aberta no século anterior.
Em 1901 foi publicado a Voz d’Angola-Clamando no Deserto, um volume
com tiragem de 1.000 exemplares, contendo artigos escritos pelos
principais intelectuais angolanos da época em resposta a um artigo racista
(Contra a lei, pela grei) publicado pela Gazeta de Loanda (sic), em que,
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segundo Rita Chaves (1999, p.40), um colonialista expunha abertamente
toda uma carga de preconceitos em relação aos angolanos, propondo a
criação de uma justiça para os negros e outra para os brancos, sugerindo
a substituição das penas de prisão por castigos corporais aos negros
infratores e protestando contra a condenação de brancos que ofendessem
os nativos.
A publicação dessa obra, formada por oito artigos escritos em resposta ao
articulista colonial e mais alguns textos sobre outros temas, foi a primeira
reação coletiva que se tem notícia nas letras angolanas contra
procedimentos racistas, defendidos por uma parte dos metropolitanos que
viviam na colônia. Na abertura da obra tem-se a seguinte advertência:
Este opúsculo, em que colaboraram naturais de Angola, em
linguagem tanto quanto a cada um permite o diminuíssimo grau de
educação literária, não é resposta à Gazeta de Luanda, único
jornal que se publica na localidade, nem é desafronta, porque as
inexatidões espalhadas ao público por essa folha contra os naturais
desautorizam o seu autor.
Factos repetidos, confirmados, presenciados pelo mundo inteiro,
não podem ser destruídos por um faquin qualquer que as sargetas
de Portugal despejaram para este cantinho do mundo. Os
primeiros oito artigos representam a torrente de opinião contra as
apreciações banais do pirilampo, que corisca no espaço escuro das
multidões.(apud CHAVES,1999, p.41)
Segundo Rita Chaves (Ibid.), “esse episódio longe de ser apenas um
acidente de percurso, dava o tom das tensas relações que o ambiente
social ia gerando” em Angola.
No ano seguinte à publicação da Voz d’ Angola – Clamando no Deserto, foi
publicado o primeiro número da revista Luz e Crença, na qual, segundo
Pires Laranjeira (1995, p.62), foram divulgados poemas e ideais em que
pela primeira vez a política era colocada à frente da estética.
Luz e Crença foi editada por Pedro da Paixão Franco, o principal intelectual
da sua geração, considerado por Mário António (apud. ERVEDOSA,1979,
p.54) como um dos mais bem dotados escritores de Angola. Simpatizante
das lutas libertárias e das classes oprimidas, publicou História de uma
traição e tinha vários projetos de obras para publicação quando faleceu
prematuramente. A revista teve apenas dois números editados. No
primeiro deles, Paixão Franco expunha na primeira página a orientação
editorial do periódico:
Queremos luz, muita luz, porque onde não há luz não há actos,
disse-o um génio colossal e justo.
Queremos luz a jorros.
Luz para admirar a porta principal que abre para a oficina. Luz
para ver os antros onde se acoitam os tigres sociais. Luz para
trilhar a larga estrada que rompe para o Futuro.
[...]
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Se alguém espera graxa, manteiga, bajulação perde o seu tempo –
que rasgue o nosso trabalho. (apud ERVEDOSA,1979, p.50-1)
No segundo número, editado em 1903, segundo Carlos Ervedosa (Ibid.),
há uma produção mais significativa de escritores angolanos, como a
poesia lírica de Jorge Rosa e a poesia social e contestatória de Lourenço
do Carmo Ferreira. Também é nesse número que aparece pela primeira
vez o ideal da independência política, ressaltado sutilmente num texto de
Paixão Franco: “autonomia é a aspiração de todos, é boa e todos a
desejam, até mesmo aqueles que lucram com a actual situação; contudo
os que podem trabalhar, dentro dos limites da lei, para que ela se realize
não se mexem” (Ibid.).
Toda a geração de Luz e Crença, liderada por Paixão Franco, sofreu a
influência do liberalismo vigente em Portugal, sobretudo a dos escritores
realistas, aos quais procurava fazer eco.
Carlos Ervedosa (Ibid.) observa a existência de uma outra publicação
literária na época, de orientação semelhante à Luz e Crença: os Ensaios
Literários, revista semestral dirigida por Francisco Castelbranco, outra
figura de destacada importância no período; e também a fundação da
Associação Literária Angolense por Augusto Ferreira, Francisco Augusto
Taveira, Apolinário Vandúnem e Manuel Augusto dos Santos.
Essa geração, que concebeu dois periódicos literários e uma associação
angolana de literatura, plantou as sementes possíveis que o seu tempo
permitia, deixando uma pequena, mas importante contribuição na história
da literatura angolana.
1 O SEGREDO DA MORTA, DE ANTÓNIO ASSIS JÚNIOR
A principal obra literária do período “de quase não literatura” foi o
romance O Segredo da morta – Romances de costumes angolenses, de
António de Assis Júnior (1878-1960), publicado primeiramente em
folhetins por A Vanguarda em 1929 e em livro em 1935. Essa obra é
considerada por Rita Chaves (1999, p.42-43), como o texto em que se
pode verificar a presença de uma atmosfera de fato angolana, que,
mesmo insuficiente para que se exorcizem os valores portugueses,
permite que a obra seja vista como o ponto inaugural da trajetória do
romance em Angola. Segundo a autora, ela foi escrita cerca de 20 anos
antes da sua publicação em livro.
Para Carlos Ervedosa, essa obra também foi a primeira de vulto da
literatura angolana:
é um dos mais importantes testemunhos da sociedade africana dos
fins do século XIX, numa área onde a influência portuguesa logrou
o estabelecimento de formas socioculturais suceptíves de
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inculcarem a existência de uma cultura de que foram centros
caldeadores Luanda e Dondo e veículo difusor um comércio
excessivamente ramificado. (ERVEDOSA, 1979, p.61)
Quanto a António Assis Júnior, Russell Hamilton (1981) afirma que coube
a ele, um angolano natural do Golungo Alto, levar a consciência política e
cultural entre assimilados e mestiços. Segundo Hamilton, o escritor que
era também advogado e jornalista, sem denunciar por completo o seu
patriotismo lusitano, desempenhou um papel ativo e importante a favor
de reformas sociais, econômicas e políticas durante o governo Norton de
Matos; e ao lado de José Fontes Pereira, ousou protestar contra o trabalho
forçado e outros abusos cometidos pela administração colonial. Essa
postura do escritor e uma suposta participação num motim contra o
regime colonial (Revolta do Catete), levou-o duas vezes à prisão e ao
exílio em Lisboa. Em relação ao O segredo da morta, que considera uma
obra curiosa devido ao seu hibridismo cultural, o crítico literário observa:
Ao tentar efetuar uma dualidade cultural e manter a integridade
das ambivalências – com toda uma série de ambivalências
relacionadas com o “primitivismo do nativo tribal” e as normas
positivistas da “civilização” – Assis Júnior produziu uma verdadeira
miscilânea literária cuja falta de organização espelha a confusão
ideológica do intelectual “assimilado”. (HAMILTON, 1981, p.56)
Hamilton enfatiza que Assis Júnior, ao lado de Cordeiro da Matta, tinha a
certeza da sua angolanidade, e foi um dos primeiros intelectuais
assimilados a formular um conceito da nacionalidade angolana e levar a
reivindicação cultural ao nível da contestação política.
Seguindo uma linha de raciocínio parecida com a de Russell Hamilton,
Pires Laranjeira (1995, p.50) identifica no romance de Assis Júnior a falta
do apuro estrutural e a contenção das obras que marcam uma época, e
também a falta do sentido simbólico e paradigmático que possam tornar a
obra um exemplo nacional ou uma referência internacional; mas por outro
lado, vê como algo positivo a especificidade da representação social e
espacial em vários episódios onde as personagens dominantes são
angolanas e não colonos, e principalmente o enredo romanesco,
atravessado densamente pela religiosidade africana aqui e ali com
afloramentos católicos, que se apóia num enquadramento espacial e
temporal que define a sua inequívoca angolanidade.
2 O IMPÉRIO CONTRA-ATACA
As reações anti-coloniais que se esboçavam nas páginas de periódicos da
colônia no início do século XX e nas atitudes de um intelectual como Assis
Júnior não ficaram sem uma resposta à altura. O contra-ataque colonial
veio sob a forma de apoio à produção de uma literatura de temática
exótica, associada ao fim da imprensa livre em Angola. Carlos Ervedosa
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(1979, p.64) observa que foi em meados da década de 20 que essa
literatura colonial sobre a África começou a se desenvolver em Portugal,
ocupando espaço até a década de 40. Pires Laranjeira também comenta
essa invasão literária colonial:
O Estado português contribuiu, durante quatro décadas, com
prémios e outras distinções, que, no plano literário, sancionavam
como que uma literatura que era a expressão cultural da invasão,
dominação e aniquilamento dos anseios nativistas e protonacionalistas corporizados em personalidades filhos do país ou
mesmo portuguesas. (LARANJEIRA, 1995, p.62)
Para Russell Hamilton (1981, p.59), essa literatura produzida por
expedicionários, administradores e colonos portugueses, controlada e
orientada pelas autoridades coloniais, exprimia atitudes eurocêntricas em
relação à África, e seu objetivo não era outro senão a sustentação da
missão civilizadora portuguesa e das ideologias que disfarçavam os
interesses políticos e econômicos do fascismo português. Carlos Ervedosa
(1979) elenca algumas dessas obras: África portentosa (1926), de Gastão
de Sousa Dias; Pretos e brancos (1926) de Brito Camacho; Ana Kalunga
(1926), de Hipólito Raposo; África misteriosa (1928), Oiro africano
(1929). Terras do sol e febre (1930) e Novela africana (1933), todas as
quatro de Julião Quintinha; Almas negras (1937), de João Lemos; Na pista
do marfim e da morte (1943) e Pedra do feitiço (1944), ambas de Ferreira
Costa. Russell Hamilton (1981) cita outros títulos que acrescentamos à
listagem de Ervedosa: Terras do nu e do batuque (1933), de António de
Aragão Paiva; África selvagem (1935), de Maria Archer; e Princesa negra:
O preço da civilização em África (1932), de Luiz Figueira.
Esse número de obras publicadas no período dá uma amostra de como foi
significativa a produção literária colonial em Angola.
3 TOMAZ VIEIRA DA CRUZ, GERALDO BESSA VICTOR E O LUSOTROPICALISMO
Na década de 30, destaca-se em Angola um poeta português que havia
chegado à colônia em 1924: Tomaz Vieira da Cruz (1900-1960), autor de
Quissange – saudade negra (1932), Tatuagem (1941) e Cazumbi (1950).
Segundo Carlos Ervedosa (1979, p.70), com a publicação de Quissange –
saudade negra, o poeta conquista a admiração dos leitores através de
uma poesia que expressava uma vivência luso-tropicalista.
Russell Hamilton (1981, p.65-8) vê na poesia de Vieira da Cruz a marca
do ultranacionalismo português, através do qual ele procurou poetizar
Angola, e uma excessiva exaltação do colono. Observa também que,
mesmo a sua poesia apresentando sinais inequívocos da literatura do
Ultramar, teve vários de seus poemas publicados pela Casa dos
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Estudantes do Império (CEI), fato que demonstra o seu reconhecimento
por parte dos angolanos que procuravam controlar os meios de produção
duma literatura representativa. Para o autor, a poesia de motivos
africanos de Vieira da Cruz (exótica e sentimentalista), no contexto sóciopolítico-cultural dos anos 30 e 40, quase pode ser considerada uma
abertura na barreira cultural construída pelo colonialismo, e assim “o
príncipe dos poetas portugueses” de 1938 tem o seu lugar no panorama
da literatura angolana.
Já Pires Laranjeira (1995, p.63), observa que é inegável que Tomaz Vieira
da Cruz exerceu certa influência nas gerações seguintes, mas o seu lugar
na história literária angolana é limitado pelo exagero no enaltecimento do
colono, pela ideologia pessimista, pela exacerbada imagem da mulher
exótica, e pelo uso contínuo do lugar comum e da metáfora morta.
Seguindo a mesma trilha de Tomaz Vieira da Cruz, surge na década de 40
o poeta Geraldo Bessa Victor (1917-1990), que pode ser considerado uma
figura de transição entre o surto de literatura colonial referido
anteriormente e a nova literatura angolana que viria a seguir. Natural de
Luanda, iniciou a sua carreira literária em 1941 com a publicação de Ecos
dispersos, mas somente em 1943, quando publicou Ao som das
marimbas, incluiu a temática africana em sua poética. O poeta que foi
considerado por Francisco Soares (apud VICTOR, 2001), enquanto escritor
e enquanto homem como uma figura de transição entre épocas, etnias,
culturas e classes sociais, também publicou Mucanda (1964), Cubata
abandonada (1969), Sanzala sem batuque (1967) e Monandengue
(1973); e ainda os estudos históricos-etnográficos Quinjango no folclore
angolense (1970) e Ensaio crítico sobre a primeira coleção de provérbios
angolenses (1975).
Russell Hamilton (1981) vê o poeta como um exemplo da Negritude lusotropicalista, em razão deste ter procurado sempre o meio-termo,
obliterando as distinções ideológicas entre poeta angolano e poeta
português, para se identificar como um poeta duma macroetnia ilusória.
Sobre a relativa importância dada à obra do poeta pelos africanistas
europeus como Roger Bastide e Janheinz Jahn, acredita ser em razão da
fácil acessibilidade dos livros de Bessa Victor em Portugal, publicados com
a benção do governo fascista português, e também do fato de que a sua
poesia não feria as sensibilidades negritudinistas e nem as lusotropicalistas.
Pires Laranjeira (1995, p.63), mesmo reconhecendo que Bessa Victor
cantasse motivos africanos, negros ou mulatos em sua poesia, critica a
presença da musa lusitana, o uso exagerado do soneto, da rima final e a
medida classicizante, definindo-o como o paradigma do poeta africano
seguidor das poéticas ocidentais que recai com facilidade no registro
lamartiniano. Quanto ao papel do poeta na literatura angolana, afirma que
não se pode negar a sua angolanidade literária, mas observa que as suas
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limitações no que se refere à imitação de modelos extemporâneos e
exauridos, remetem-no a um papel secundário na história da literatura
angolana. Já Russell Hamilton (1981, p.72), acredita que a obra de
Geraldo Bessa Victor merece ser incluída num estudo panorâmico da
literatura de Angola, principalmente porque ressalta aspectos
significativos da problemática da cultura e do seu desenvolvimento numa
época de grandes contradições ideológicas.
4 A PRIMEIRA FASE DA OBRA DE CASTRO SOROMENHO
Também é nesse período de “quase não literatura” que Castro Soromenho
(1910-1968), um moçambicano de nascimento e angolano de coração,
que viria a ser um dos principais nomes da literatura angolana, publica
suas primeiras obras. Nessa primeira fase, que será abordada neste
trabalho, seus escritos denotam uma literatura intermediária, ainda não
compromissada com a angolanidade e a luta anti-colonial.
Sobre essa fase literária de Castro Soromenho, Pires Laranjeira (1995,
p.52) observa que o escritor, seguindo uma linha proveniente de Cordeiro
da Matta e António de Assis Júnior, baseada na experiência etnográfica,
publicou narrativas e pesquisas sobre a vida e as tradições dos negros nas
sociedades tradicionais, de que se destacam os romances Noite de
angústia (1939), e Homens sem caminho (1941), e as recolhas de contos
Nhári (1938), Rajada e outras histórias (1943) e Calenga (1945).
Hamilton (1981), abordando essa fase, ressalta que Soromenho, escreveu
contos, como os reunidos em Nhári, que transmitem a idéia de que o
africano, na sua sociedade tradicional e pré-colonial, vivia precariamente
sob a praga de Cam. Comentando o método com que o escritor observava
os costumes africanos e as razões que certamente fizeram com que sua
obra evoluísse para uma literatura neo-realista e anti-colonial, afirma:
Nas suas andanças pelo interior de Angola, como recrutador para a
companhia de diamantes, Soromenho não apenas observava os
usos e costumes dos africanos, como também testemunhava o
choque de culturas. Evidentemente que as inconstâncias que
presenciou levaram Soromenho a entrar na sua segunda fase de
produção literária. (HAMILTON, 1981, p. 60)
Após a publicação de Terra morta em 1949, um romance abolido pelas
autoridades coloniais portuguesas, Castro Soromenho inaugura uma nova
(e a melhor) fase de sua obra, não abordada aqui por fugir ao escopo
deste trabalho, por se tratar de uma literatura de cunho anti-colonial e
fazer parte de um período em que a literatura angolana começava sua
caminhada com a destino à sua independência literária.
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CONCLUSÃO
Dois fatos caracterizam esse período de “quase não literatura” em Angola:
o enorme hiato que há entre as produções literárias do fim do século XIX
e a publicação das primeiras obras significativas do século XX, e o surto
de literatura exótica e colonial, financiado pelo governo fascista
português, que assolou a ex-colônia lusitana entre as décadas de 20 e 40.
Desse modo, e levando-se em consideração que a literatura colonial não
se enquadra dentro do contexto da literatura angolana, esse vazio literário
do período só vai ser preenchido a partir de 1929, através de O segredo
da morta, de António Assis Júnior, que tardiamente fez a ponte com
Alfredo Troni e Cordeiro da Matta.
A partir da década de 30, com o surgimento de Tomaz Vieira da Cruz,
Geraldo Bessa Victor e Castro Soromenho, mesmo apresentando uma
literatura ainda não comprometida totalmente com a angolanidade, a
literatura angolana recomeça a evoluir, culminando no Movimento Vamos
Descobrir Angola em 1948, que rompe definitivamente com a dependência
dos padrões estéticos portugueses, inaugurando uma nova etapa na
literatura angolana, que a coloca rumo à maioridade literária.
REFERÊNCIAS
CHAVES, Rita. A formação do romance angolano. Coleção Via
Atlântica. São Paulo: Edusp, 1999.
ERVEDOSA, Carlos. Roteiro da literatura angolana. 2. ed. Lisboa:
Edições 70, 1979.
HAMILTON, Russell G. Literatura africana-literatura necessária – I
Angola. Lisboa: Edições 70, 1981.
LARANJEIRA, Pires. Literaturas africanas de expressão portuguesa.
Coimbra: Universidade Aberta, 1995.
VICTOR, Geraldo Bessa. Obra poética. Escritores dos países de língua
portuguesa. Lisboa: INCM, 2001.
∗
Professor de Língua e Literatura Portuguesas e Teoria da Literatura na FATEB (Faculdade de Telêmaco
Borba/PR). Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
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O PERÍODO DE “QUASE NÃO LITERATURA” EM ANGOLA