Uso de barreira física no monitoramento e controle de cochonilhas farinhentas...
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Uso de barreira física no
monitoramento e controle
de cochonilhas farinhentas
(Hemiptera: Pseudococcidae)
em videira
Use of the physical barrier for
monitoring and control of mealybugs
(Hemiptera: Pseudococcidae) in
vineyards
Andréa Costa Oliveira1; Ingride Dayane
de Souza2; Maria Herlândia de Araújo
Fernandes1; Geisa Mayana Miranda de
Souza2; Jocélia Gonçalves da Silva3,
Kandice de Alencar Andrade2; José
Eudes de Morais Oliveira4
Resumo
O Vale do São Francisco se destaca como importante região
produtora e exportadora de uvas de mesa. Uma das barreiras
impostas pelos importadores é a presença de pragas, sendo as
cochonilhas, uma das que inviabiliza a comercialização. Com o
objetivo de monitorar, controlar e evitar a migração das cochonilhas
(associadas ou não a formigas doceiras) para a parte aérea das
plantas, foram testados o uso e a eficiência de barreira física (cola
entomológica). Foram utilizadas duas formulações da cola, aplicadas
em torno dos troncos e suporte de sustentação dos parreirais.
Testaram-se cinco tratamentos: uma barreira no meio do tronco
com cola transparente; uma barreira no meio do tronco com cola
azul; duas barreiras também no tronco com cola transparente; duas
barreiras com cola azul e sem aplicação de barreira física. Foram
1
Estagiária/Embrapa Semiárido, Petrolina, PE.
Bolsista CNPq/Embrapa Semiárido, Petrolina, PE.
³Bolsista FACEPE/Embrapa Semiárido, Petrolina, PE.
4
Engenheiro-agrônomo, Pesquisador - Embrapa Semiárido, Petrolina - PE.
[email protected]
2
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capturadas cochonilhas e formigas nos dois tipos de cola. A de
coloração azul capturou um maior número de indivíduos. Não houve
diferença quando se utilizou uma ou duas barreiras. Na primeira
avaliação, foram capturados 120 indivíduos. Na segunda avaliação,
praticamente não houve captura. Isso indica que a barreira física
elaborada com cola entomológica pode ser considerada um eficiente
método para monitoramento e controle de cochonilhas nos parreirais.
Palavras-chave: Controle físico, cola entomológica, pragas, uva de
mesa.
Introdução
O Vale do São Francisco se destaca como importante região
produtora de uvas para consumo in natura que são comercializadas
em diversas regiões do Brasil e, também, parte da produção é
destinada à exportação para diversos locais do mundo como
Estado Unidos e União Europeia. Uma das barreiras impostas
para a exportação pode ser a presença de pragas, sendo as
cochonilhas farinhentas, umas das pragas que podem inviabilizar
a comercialização das frutas no destino final ou até, em casos
extremos, impossibilitar as exportações.
Originariamente, as cochonilhas farinhentas se localizam no solo,
fixados às raízes da videira. No entanto, eventualmente estes insetos
podem migrar -- sozinhos ou com auxílio de formigas doceiras -- para
a parte aérea da planta alojando-se nos cachos, sendo esse o maior
prejuízo, pois a presença das cochonilhas nessa parte da planta pode
comprometer a comercialização.
O controle das cochonilhas farinhentas tem sido uma prática pouco
realizada pelos viticultores na região do Vale do São Francisco.
Situação que pode ser atribuída ao hábito das cochonilhas de se
localizarem nas raízes e/ou sob a casca das plantas, o que dificulta
a visualização da praga e o contato com inseticidas (FU et al.,
2002). Quando a infestação é observada nos cachos, geralmente
os produtores aplicam inseticidas fosforados, os quais, além de
apresentarem elevada toxicidade, são pouco seletivos aos inimigos
naturais e apresentam grande período de carência (BOTTON et al.,
2003). Além disso, as pulverizações, dependendo da fase em que são
realizadas, apresentam reduzida eficácia por causa da localização da
praga no solo, sob o ritidoma e/ou no interior dos cachos, limitando o
contato com os ingredientes ativos (MORANDI FILHO, 2010).
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Dessa forma, esse experimento teve por objetivo avaliar a eficiência
de barreira física para fins de monitoramento, bem como, impedir a
disseminação das cochonilhas das raízes e/ou do caule até a parte
aérea das plantas. Nesse sentido, foi utilizado cola entomológica, a
partir de duas formulações do produto Isca Pega.
Material e Métodos
Os experimentos foram conduzidos durante o período de abril a maio
de 2010, na Fazenda Terra do Sol, em Petrolina, PE.
Foram utilizadas duas formulações da cola, uma transparente (Isca
Pega Jui) e outra azul (Isca Pega Vera). As aplicações foram feitas
com uso de espátulas de metal com largura de 2 cm, sendo a barreira
feita em torno dos troncos e suportes de sustentação dos parreirais.
Para cada formulação da cola, formam testadas uma ou duas
barreiras, não deixando nenhum ponto da superfície sem o produto.
Os tratamentos consistiram de aplicação de uma barreira no meio
do tronco com Isca Pega Jui - Tratamento I; uma barreira no meio
do tronco com Isca Pega Vera - Tratamento II; duas barreiras com
Isca Pega Jui sendo uma no terço médio e outra no terço superior
do tronco - Tratamento III; duas barreiras com Isca Pega Vera, uma
no terço médio e outra no terço superior do tronco - Tratamento IV
(Figuras 1a e 1b) e testemunha, sem aplicação de barreira física Tratamento V.
Os cinco tratamentos foram dispostos em quatro fileiras do
parreiral, de modo que em todas as fileiras apresentassem todos os
tratamentos, distribuídos aleatoriamente (Figura 2) compreendendo
15 plantas por tratamento. Foram feitas duas avaliações, a
primeira com 15 dias após a aplicação e a segunda com 30 dias.
Nas avaliações; foram quantificadas as cochonilhas presentes em
cada barreira, caule e latada e o número de formigas (agentes de
disseminação das cochonilhas) fixadas nas barreiras.
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a
b
Figura 1. Disposição das barreiras físicas nas plantas de videira e suporte de sustentação.
a) uma barreira no tronco e b) - duas barreiras.
Figura 2. Croqui da área experimental com definições dos tratamentos.
Resultados e Discussão
A eficácia da aplicação da barreira física foi superior no tratamento
II (Isca Pega Vera) utilizando-se apenas uma barreira adesivada
(Figura 3). Observou-se um elevado número de insetos capturados
(120 insetos) na barreira apenas na primeira avaliação. No entanto,
na avaliação seguinte, aos 15 dias, o número de insetos capturados
foi bastante inferior. Tal situação pode ser justificada, uma vez que,
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na primeira avaliação, independente do tratamento (formulação da
cola) e posição da barreira, foi capturada grande parte da população
de insetos presentes na planta (Figura 3). Outra condição ainda
observada em condições de campo foi que, a cola azul (Isca Pega
Vera) apresenta maior viscosidade quando comparada à transparente
(Isca Pega Jui) podendo, assim, ser um fator relevante na captura e
aderência das cochonilhas na barreira.
A utilização de armadilhas com esta finalidade constitui uma
ferramenta importante para o manejo integrado de pragas e manejo
de ecossistemas (GALLI, 2010). Para o caso específico de plantios de
videira, podemos afirmar que o tratamento utilizado é ecologicamente
limpo, não deixando contaminantes ou resíduos no meio ambiente,
além de permitirem que os cachos fiquem mais protegidos, já que
os insetos são capturados antes de atingirem a parte aérea da
planta. Outro fator que deve ser considerado é que comprovada sua
eficiência, a durabilidade da cola, permite que o produto permaneça
por mais tempo na planta protegendo a parte aérea
Figura 3. Número de insetos capturados mediante uso e posição da barreira adesiva nas plantas
de videira.
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Conclusões
A utilização da barreira física utilizando cola adesiva, é um método
eficaz de monitoramento e redução populacional de cochonilhas em
parreirais.
Independente da cor e posicionamento da barreira houve a captura
dos insetos.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco (FACEPE) pelo suporte financeiro e a ISCA Tecnologias
pelo fornecimento de materiais para a realização do trabalho.
Referências
BOTTON, M.; HICKEL, E. R.; SORIA, S. J. Pragas. In: FAJARDO, T. V. M. (Ed). Uva
para processamento: fitossanidade. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, Brasília:
Embrapa Informação Tecnológica, 2003. p. 82-105. (Frutas do Brasil, 35).
FU, C. A. A.; OSORIO, G. A.; MÁRQUEZ, C. A.; MIRANDA, B. J. L.; GRAGEDA, J.;
MARTÍNEZ, D. G. Manejo integrado del piojo harinoso de la vid. Hermosillo: Instituto
Nacional de Investigaciones Forestales, Agrícolas y Pecuarias: Centro de Investigación
Regional del Noroeste, 2002. 16 p. (Folheto Técnico, 25).
GALLI, J. C. Utilização de isca atrativa para moscas-das-frutas em pomar de goiaba.
2010. Disponível em: <http://www.webartigos.com>. Acesso em: 7 maio 2011.
MORANDI FILHO, W. J. Cochonilhas-farinhentas associadas à videira na Serra Gaúcha,
bioecologia e controle de Planococcus citri (Risso, 1813) (Hemiptera: Pseudococcidae).
2008. 138 f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Universidade Federal de Pelotas,
Pelotas.
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