www.pwc.com/br
Que venham os jogos
Oportunidades de
infraestrutura para
megaeventos
As Olimpíadas de Pequim, em agosto de 2008,
foram as mais caras da história de todos os
jogos. O evento consumiu bilhões de dólares.
Em contrapartida, mobilizou o interesse de mais
de quatro bilhões de telespectadores, tornandose o evento esportivo de maior audiência no
mundo.
Enquanto todos assistiam ao espetáculo, a
anfitriã China desempenhava o papel principal.
Em vários cantos do mundo, pessoas ligavam
seus televisores para ver os atletas competir.
Ao mesmo tempo em que se dedicavam a
acompanhar os resultados, consumiam a China
contemporânea sob um novo ângulo. Essa
oportunidade de atrair a atenção do mundo
inteiro por algumas semanas e, mais à frente,
usufruir de um duradouro legado, representa
a essência tangível e intangível do que os
megaeventos proporcionam.
De fato, o legado gerado por um megaevento
é bastante tangível. Relatório elaborado em
outubro de 2009 pelos economistas Mark
Spiegel (Federal Reserve Bank, de São
Francisco) e Andrew Rose (Universidade da
Califórnia), ambos dos Estados Unidos, mostra
que as exportações cresceram cerca de 30%
em países que sediaram as Olimpíadas. Ao
analisar, entre 1950 e 2006, o desempenho
econômico de 196 países, o estudo concluiu que
o “efeito Olímpico” é maior em países-sede com
tendência a uma política comercial mais aberta.1
1
Andrew K. Rose e Mark M. Spiegel, The Olympic Effect [O Efeito Olímpico]. National Bureau of Economic
Research [Agência Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos], outubro de 2009.
Planejamento: um aliado
na reputação
Atualmente, os países eleitos para
sediar megaeventos devem se planejar
com grande antecedência, talvez
uma década ou mais, e ter clara a
importância da infraestrutura para
atletas e espectadores. Isso porque
planejamentos ou execuções de
infraestrutura inadequados podem
prejudicar a imagem de realização
grandiosa do evento. Há casos, por
exemplo, em que informações sobre
possíveis falhas de infraestrutura
dominaram as notícias durante
períodos que antecederam ao
megaevento. São informações que
podem comprometer a imagem
positiva que uma cidade ou um país
deseja construir. Nesse sentido, o
planejamento prévio é essencial.
Igualmente importante é demonstrar
os benefícios duradouros resultantes
dos investimentos em infraestrutura,
um verdadeiro legado para a
comunidade.
Foco no longo prazo
Inúmeras ideias e visões surgem em
meio à euforia que se segue à escolha
de uma cidade como sede de um
megaevento. No entanto, concretizar
essas ideias e visões não é simples.
Para manter a clareza do projeto,
recomenda-se que os administradores
municipais testem a viabilidade a
longo prazo de cada investimento
previsto e questionem se o plano
de investimentos corresponde às
necessidades e aos objetivos de longo
prazo de uma região. Eles devem
se perguntar quais são os modelos
financeiros mais adequados para cada
caso e como considerar os critérios
de sustentabilidade nesse cenário. Há
ainda outras indagações a fazer, como,
por exemplo, os custos de manutenção
projetados, o sistema de aquisição e o
tipo de supervisão do processo.
A PwC conhece cada um dos fatores de
sucesso e as barreiras para a realização
de grandes projetos. Neste documento,
analisaremos os investimentos em
infraestrutura realizados por algumas
cidades-sede. Também analisaremos
as implicações de longo prazo para
cada região onde esses investimentos
foram feitos. Nossa experiência na
prestação de serviços de consultoria a
comitês organizadores, empreiteiros
e países-sede nos permite identificar,
do ponto de vista de um investimento
em infraestrutura, quais são os fatores
responsáveis por gerar um legado
duradouro para uma cidade ou
país-sede.
O efeito transformador
da infraestrutura
Fornecer transporte,
telecomunicações, energia,
saneamento e outros serviços de
utilidade pública para milhares de
atletas e milhões de espectadores
em megaeventos representa um
grande desafio. Mas qual é o destino
de toda essa infraestrutura após o
encerramento dos jogos? O mundo
permanece atento aos eventos
durante apenas algumas semanas,
mas o efeito transformador de
obras de apoio bem realizadas
gera implicações econômicas,
demográficas e sociais duradouras
para a região inteira. A forma como
um governo nacional, regional
ou municipal planeja o legado
da infraestrutura de apoio pode
repercutir no desenvolvimento de
uma região por décadas.
PwC
1
Barcelona, 1992: alavanca
para a revitalização
Barcelona, na Espanha, utilizou as Olimpíadas de
1992 como um catalisador para acelerar objetivos de
reurbanização previamente estabelecidos. A cidade
construiu anéis viários que descongestionaram o trânsito,
modernizou seu aeroporto, reestruturou o transporte
público, desenvolveu parques públicos, atualizou seu
sistema de telecomunicações e modernizou o sistema de
saneamento. Para beneficiar os moradores e as empresas
a longo prazo, planejadores urbanos empregaram grandes
esforços para transformar a cidade.2
Mas as Olimpíadas não foram o único fator responsável
por esse desenvolvimento, de acordo com Stephen Essex,
professor adjunto da Universidade de Plymouth (Reino
Unido) que pesquisa as implicações das Olimpíadas na
infraestrutura. Segundo ele, os Jogos “simplesmente
aceleraram o processo de renovação que já estava
planejado para ocorrer em 50 anos”, conforme o
Planejamento Metropolitano Geral de Barcelona de
1976. O professor acrescenta que os organizadores já
haviam “mobilizado o apoio público por meio de projetos
urbanos que conseguiram estabelecer um consenso de
mudança”. Simultaneamente, instalações existentes com
modernizações planejadas serviram como arenas olímpicas.
O apoio do setor público também foi significativo, segundo
Essex, impulsionado pelo fim da era Franco e pela rápida
valorização da identidade regional.3
2
Barcelona gastou seis vezes mais em infraestrutura (tanto
para as Olimpíadas como em obras de apoio) do que na
organização do evento. Quatro áreas urbanas até então
negligenciadas fizeram parte do plano de instalações
olímpicas da cidade, permitindo que os gestores
alocassem recursos para uma ampla reurbanização.4
Como resultado, as Olimpíadas de 1992 conduziram
Barcelona à condição de um dos principais destinos
turísticos e comerciais da Europa. Segundo o prefeito
da cidade, o que se viu foi uma metamorfose em cinco
anos que, em qualquer outra circunstância, levaria três
décadas.5 Diz o político que, devido ao investimento em
infraestrutura e à valorização gerada pelas Olimpíadas, as
receitas provenientes do turismo na capital da Catalunha
mais que dobraram.
No entanto, apoio público e recursos nem sempre
são suficientes. Muitas vezes financiamento privado,
experiência e supervisão são necessários para preencher
a lacuna existente entre o que o setor público é capaz
de realizar e as necessidades de um megaevento. Além
de quase US$ 5 bilhões investidos pelo setor público, as
Olimpíadas de Barcelona atraíram aproximadamente US$
7 bilhões em financiamentos privados.6 Nesse contexto,
é importante observar que, atualmente, os municípios
que sediam as Olimpíadas e outros megaeventos, como
a Copa do Mundo, recorrem cada vez mais a opções
do setor privado como forma de administrar melhor
os recursos financeiros direcionados à infraestrutura
de apoio. Algumas cidades e regiões, por exemplo,
estabeleceram parcerias público-privadas (PPPs) como
solução viável. Por serem mais adequadas para grandes
empreendimentos, que requerem constante manutenção,
as PPPs ganham espaço como meio de garantir
financiamento adicional, melhor gerenciamento de riscos
e maior transparência e responsabilidade.
2
Peter Kindel, Scott Watkins, e Andrew Hasdal, Land Use and Infrastructure Investments by Olympic Host Cities: Legacy Projects for Long-Term Economic Benefits
[Uso de Terras e Investimentos em Infraestrutura por Cidades Sede das Olimpíadas: Projetos de Legado para Benefícios Econômicos de Longo Prazo], Topografis &
Anderson Economic Group, LLC, 1 de outubro de 2009.
3
Comunicação por email com Stephen Essex, professor adjunto da Universidade de Plymouth, 10 de dezembro de 2010.
4
Greg Clark, Local Development Benefits from Staging Global Events [Benefícios de Desenvolvimento Locais de Sediar Eventos Mundiais], Organization for Economic
Cooperation and Development [Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico], 2008.
5
Michael Payne, “A Gold-Medal Partnership,” [“Uma Parceria Medalha de Ouro”] Estratégia+Negócios, primavera de 2007.
6
Greg Clark. Local Development Benefits from Staging Global Events [Benefícios de Desenvolvimento Locais de Sediar Eventos Mundiais]. Organization for Economic
Cooperation and Development [Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico], 2008.
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
Pequim, 2008: múltiplos retornos
Apesar de a quantia total investida em um megaevento
sempre ser alta, ela também é bastante variável, de
acordo com a situação existente. Entre 2002 e 2006, a
China investiu aproximadamente US$ 40 bilhões só em
empreendimentos de base para as Olimpíadas de 2008,
em Pequim. Entre as ações, foi incluída a construção de
40 novos estádios, instalações de atletismo, um novo
aeroporto e várias estradas (entre novas e reformadas).
O projeto contemplou ainda a duplicação da capacidade do
sistema metroviário de Pequim e a conclusão do sistema de
veículo leve sobre trilhos.7 Os investimentos relacionados
às Olimpíadas representaram 15% do investimento total
entre 2002 e 2008.8 Atendendo a uma antiga e crítica
necessidade, a cidade recebeu significativo investimento
de acordo com William Kirby, diretor do Centro Fairbank
para Estudos Chineses da Universidade de Harvard. Kirby
descreve o novo aeroporto como “impressionante, maior
que o de Heathrow e, talvez, o mais belo aeroporto do
mundo”.9 O aeroporto também representou um benefício
econômico de longo prazo, diminuindo atrasos de voos e,
consequentemente, descongestionando o tráfego aéreo.10
Depois das Olimpíadas, Pequim se tornou uma das cidades
de melhor desempenho na categoria “infraestrutura”,
conforme o relatório de cidades mundiais de 2010
da PwC. Mesmo com desafios urbanos de mobilidade
ainda por superar, a cidade conta com o menor custo de
transporte público para usuários, de um total de 21 cidades
avaliadas.11
7
Lee M. Sands, “The 2008 Olympics’ Impact on China” [O Impacto das Olimpíadas de 2008 na China], The China Business Review, julho-agosto de 2008.
8
Sunil Jagtiani, “Track Record: Temporary Hurdle [Histórico de Desempenho: Obstáculo Temporário],” Fund Strategy [Estratégia de Fundo], 1 de setembro de 2008.
9
William C. Kirby, “Do Olympic Host Cities Ever Win? A Huge Improvement for Beijing” [As Cidades Sede de Olimpíadas Têm Benefícios? Uma Incrível Melhoria para
Pequim]. The New York Times, 2 de outubro de 2009.
10
Parceria para a Cidade de New York, Grounded: The High Cost of Air Traffic Congestion [No Chão: O Alto Custo do Congestionamento do Tráfego Aéreo], fevereiro
de 2009.
11
PwC, Cities of Opportunity [Cidades de Oportunidades], 2010.
PwC
3
4
África do Sul 2010: a esperança do
país multicolorido
Londres 2012: projetos de
sustentabilidade
O governo sul-africano solicitou de forma ativa
a participação privada em investimentos de
infraestrutura, mais especificamente investimentos
estrangeiros diretos. O governo ofereceu incentivos
para que companhias estrangeiras estabelecessem
parcerias com empresas locais. Obras de infraestrutura
mais grandiosas sempre foram um dos objetivos do
governo sul-africano, e a Copa do Mundo de 2010 –
primeiro megaevento esportivo em continente africano
– serviu para acelerar grande parte do planejamento
e do desenvolvimento. Na verdade, o governo iniciou
um projeto ambicioso de melhoria de infraestrutura
em 2008, injetando inicialmente US$ 22 bilhões na
geração e distribuição de energia, em transporte
urbano, rodovias e telecomunicações. Durante a
preparação para a Copa, mais de US$ 2,2 bilhões foram
aplicados na revitalização de aeroportos. Um exemplo é
a ampliação do Aeroporto Internacional Oliver Tambo,
situado no distrito de Gauteng, em Johannesburgo. O
aeroporto teve a capacidade dos terminais aumentada
para 28 milhões de passageiros/ano, e a extensão das
pistas foi ampliada para receber aeronaves maiores,
como o novo Airbus A380.
Sede dos próximos Jogos de 2012, Londres prevê gastos
de aproximadamente US$ 15 bilhões na construção
do Olympic Park, em East London, e na restauração
da região inteira, incluindo transportes, pontes,
serviços públicos e passarelas. A Vila Olímpica, que
hospedará os atletas, servirá de moradia após os Jogos.
A aquisição dessas habitações poderá ser feita inclusive
com financiamento do governo. Relatório da Agência
de Auditoria Nacional do Reino Unido informa que o
“Olympic Park será um projeto de vida sustentável e
ajudará a transformar o coração de East London”, região
da cidade notadamente menos desenvolvida.12 Enquanto
isso, diversos projetos de transporte de longo prazo,
estimados em aproximadamente US$ 8 bilhões, mesmo
não sendo especificamente direcionados às Olimpíadas,
são essenciais para os Jogos, de acordo com o relatório
da mesma agência. Entre os projetos está a ampliação da
estrada M25, ao redor de Londres, e o desenvolvimento
de ferrovias até os locais-sede, como a linha principal de
West Coast e a Channel Tunnel Rail Link. Segundo maior
anel viário da Europa, com 188 km, o M25 foi contratado
como PPP e financiado integralmente por recursos
privados.13, 14
12
Agência de Auditoria Nacional (Reino Unido), Preparations for the London 2012 Olympic and Paralympic Games: Progress Report February 2010 [Preparação para os
Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2012 em Londres: Relatório de Progresso Fevereiro de 2010], 26 de fevereiro de 2010.
13
Ibid.
14
PwC, Gridlines , junho de 2010.
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
PwC
5
Um cenário de novas
oportunidades
Investimentos em infraestrutura
oferecem diversos benefícios
econômicos e sociais para uma
região. Também geram múltiplas
oportunidades para investidores
em busca de novos mercados. O
Brasil, por exemplo, deve investir
aproximadamente US$ 83 bilhões
em infraestrutura de 2009 a 2016,
visando à Copa do Mundo, em 2014,
e as Olimpíadas, em 2016, no Rio de
Janeiro.
6
Mais de 1,2 mil projetos já foram
estabelecidos para a Copa, que deve
atrair três milhões de brasileiros e 600
mil estrangeiros.15, 16 Os novos projetos
de infraestrutura previstos são nas
áreas de mobilidade urbana, energia,
segurança, portos, aeroportos,
telecomunicações, rede hoteleira,
entre outros. Embora com prazo ainda
indefinido, também há estudos para
a construção de uma linha ferroviária
de alta velocidade (trem-bala), cujo
investimento sugere as PPPs como
uma das melhores opções para
financiamento. Em energia, destacase a construção da usina hidrelétrica
de Belo Monte, no estado do Pará.
Sua potência instalada será de 11.233
MW, o que fará dela a maior usina
hidrelétrica inteiramente brasileira,
visto que a usina hidrelétrica de Itaipu
é também do Paraguai. Na Amazônia,
mais especificamente no rio Madeira,
estão em construção outras duas
usinas hidrelétricas igualmente
importantes: a de Santo Antônio e
a de Jirau. Ambas são consideradas
fundamentais pelo governo federal
para o suprimento de energia elétrica
do país. Esses projetos têm atraído a
atenção de investidores privados do
Oriente Médio, da Europa, dos Estados
Unidos e da Ásia.
15
Entrevista com Mauricio Girardello, sócio, PwC Brasil, 26 de maio de 2010.
16
Mimi Whitefield, “For Next World Cup, Brazil Gets the Ball Rolling” [Brasil dá o Chute Inicial para a Próxima Copa do Mundo], The Miami Herald, 27 de julho de 2010.
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
Outra necessidade urgente é o
desenvolvimento dos aeroportos
brasileiros. O aumento da capacidade
de tráfego aéreo é indispensável
para comportar o volume de turistas
esperado para ambos os megaeventos.
Novamente, as parcerias públicoprivadas surgem como melhores
opções para o desenvolvimento dos
aeroportos. Recentemente, o governo
federal colocou em consulta pública os
editais de concessão para ampliação,
manutenção e exploração dos
aeroportos internacionais Governador
André Franco Montoro, em Guarulhos
(SP), Viracopos, em Campinas (SP), e
Presidente Juscelino Kubitschek, em
Brasília (DF).
Ao mesmo tempo, em Sochi, na Rússia,
sede das Olimpíadas de Inverno de
2014, o governo federal está solicitando
ativamente a participação de PPPs.
Atualmente não há quase infraestrutura
de apoio na cidade. Os gestores
regionais e municipais esperam que
os Jogos transformem Sochi e a região
de Krasnodar, no sul da Rússia, 1.600
km ao sul de Moscou, em um resort
moderno, com mais de 370 km de
estradas e pontes, 201 km de ferrovias,
22 túneis, sistema de telecomunicações
moderno, 386 km de tubulação de gás e
um aeroporto internacional avançado.17
17
O investimento na região de Sochi
abrange, ao todo, cerca 50 projetos de
infraestrutura. A nova ferrovia de alta
velocidade será capaz de transportar
8,5 mil passageiros por hora, levandoos da costa às montanhas em menos
de 40 minutos. Diversas usinas a
serem construídas deverão aumentar
a capacidade energética atual de Sochi
em até 2,5 vezes. As usinas serão
inauguradas progressivamente, como
preparação para o futuro aumento
do consumo de energia. Projeta-se,
ainda, investimento de US$ 500
milhões em novos equipamentos de
telecomunicação para transmissões
digitais e comunicação celular.
Portanto, os dirigentes regionais e
municipais desenvolveram planos de
infraestrutura de transporte, energia
e telecomunicações que beneficiarão
moradores e negócios locais mesmo
após as Olimpíadas de Inverno de
2014.18 Considerada atualmente
destino turístico regional, Sochi
deve se tornar um polo turístico
internacional após os Jogos.
De olho na Copa do Mundo de 2018,
a Rússia também planeja construir
16 estádios em 13 cidades. Grande
parte do investimento necessário
em modernização – 7.700 km de
rodovias e 1.900 km de ferrovias –
será realizado fora das principais
cidades (Moscou e São Petersburgo),
que atualmente apresentam uma
infraestrutura muito modesta. Como
ocorre em qualquer megaevento,
os desafios estão na obtenção
de financiamento, na atração de
investidores privados, na conclusão
de obras no prazo e na garantia de
planejamento adequado para o uso
do legado.
Comitê Organizacional de Sochi, Declarações de Posicionamento.
18
Sochi 2014 Bid, http://sochi2014.com/en/legacy/.
PwC
7
Investimentos e vantagens
competitivas
Em termos de infraestrutura, o legado duradouro
deixado por um megaevento representa a base social
e econômica para o desenvolvimento de uma região.
Trabalhadores, por exemplo, economizam tempo
em seus deslocamentos, e a logística de transportes
de produtos e suprimentos flui mais rapidamente,
reduzindo custos. Nessa direção, em relatório de 2010,
a PwC apontou que a infraestrutura está diretamente
vinculada ao custo e à qualidade de vida da população
de uma região e indica seu potencial de desenvolvimento
futuro. No contexto de um megaevento, os comitês de
seleção analisam os investimentos de forma cuidadosa
e numa perspectiva pragmática. Querem ter certeza de
que a cidade é capaz de acomodar atletas e espectadores
durante os jogos (hospedagem e transporte) e promover
o megaevento sem complicações.
Enxergar além do evento se torna uma responsabilidade
da cidade, região ou país-sede. Planejar o legado é um
dos principais desafios para quem pretende sediar um
megaevento devido à vantagem competitiva de longo
prazo oferecida pelo investimento. A demanda global por
infraestrutura continuará a crescer consideravelmente
nas próximas décadas, de acordo com a Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), impulsionada pelo desenvolvimento econômico
mundial, por mudanças climáticas, pela urbanização e
pelo aumento da concentração populacional.19
8
Compromisso com o futuro
O planejamento do legado certamente foi considerado
nas Olimpíadas de Sydney, conforme demonstrado pela
análise da Secretaria de Administração Financeira do
Tesouro de Nova Gales do Sul. O estudo identificou o
desenvolvimento de grandes instalações e infraestrutura
como fator promotor de benefícios comerciais, muito antes
da realização das Olimpíadas de Sydney, em 2000.20 Essa
ação antecipada é fator importante na escolha do país-sede.
Em sua avaliação pós-Olimpíadas, a PwC informou
que os setores público e privado de Sydney investiram
aproximadamente US$ 2 bilhões em empreendimentos
direcionados exclusivamente aos Jogos. Além disso,
empreendimentos regionais construídos a tempo para as
Olimpíadas, mas não especificamente relacionados ao
evento, totalizaram mais US$ 2 bilhões. As obras incluíram
a reforma do aeroporto de Sydney, a construção de novas
vias expressas, além da modernização de diversas estações
ferroviárias e do sistema de saneamento.
Com custo aproximado de US$ 1,5 bilhão, a reforma do
aeroporto de Sydney quase dobrou sua capacidade para
passageiros internacionais, além de adicionar uma nova
ligação ferroviária. A capacidade da operadora local de
telecomunicações foi ampliada após o investimento de
bilhões de dólares, permitindo mais de 500 mil ligações de
celulares no Olympic Park durante a cerimônia de abertura
(número recorde de ligações em um único evento).21
Atualmente, Sydney é uma das cidades mais bem colocadas
no ranking de cidades mundiais de 2010 publicado pela
PwC. A cidade lidera nos quesitos comercial, político e de
qualidade de vida, considerando critérios como habitação,
áreas verdes, qualidade do ar, administração de trânsito e
impacto ambiental.22
19
Organization for Economic Cooperation and Development [Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico], Policy Brief: Infrastructure to 2030
[Instruções de Política: Infraestrutura para 2030], janeiro de 2008.
20
Tesouraria do Novo País de Gales: Secretaria de Administração Financeira, The Economic Impact of the Sydney Olympic Games [O Impacto Econômico dos Jogos
Olímpicos de Sydney], novembro de 1997.
21
PwC, Business and Economic Benefits of the Sydney 2000 Games: A Collation of Evidence [Benefícios Comerciais e Econômicos dos Jogos de 2000 em Sydney:
Uma Comparação Crítica de Provas], 2001.
22
PwC, Cities of Opportunity [Cidades de Oportunidades], 2010.
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
Custos menores e mais qualidade de vida
Uma nova percepção mundial
O rápido desenvolvimento dos projetos de infraestrutura
e transporte de Munique durante a preparação para as
Olimpíadas de 1972 permitiu que a cidade antecipasse seu
desenvolvimento urbano em uma década.23 Em Atlanta,
os dormitórios construídos para hospedar os atletas das
Olimpíadas de 1996 abrigam hoje dez mil estudantes
universitários. Simultaneamente, a conversão de espaços
comerciais em espaços residenciais atraiu mais de cem
mil novos residentes ao centro da cidade desde 2000. A
chegada desses novos moradores representa a reversão
de uma tendência populacional dos anos 70 e 80, quando
aproximadamente cem mil habitantes deixaram o centro
em direção ao subúrbio.24, 25 Além disso, uma região
de 85 mil metros quadrados nas margens do centro de
Atlanta, que anteriormente abrigava um distrito industrial
abandonado, hoje é uma das maiores áreas verdes urbanas
nos Estados Unidos.26
As descobertas das pesquisas da PwC indicam que uma
cidade ou região deve obter sucesso em quatro dimensões
essenciais para capturar a atenção do mundo: serviços de
qualidade para residentes e empresas, desenvolvimento
sustentável, liderança visionária e imagem coerente. As
cidades e regiões que já estão prontas para implementar
transformações em tais dimensões são as mais aptas a
utilizar um megaevento com o propósito de acelerar essas
transformações, como é o caso de Barcelona durante as
Olimpíadas de 1992. De forma semelhante, o sucesso de
Alemanha e África do Sul durante a realização da Copa do
Mundo de 2006 e 2010, respectivamente, também alterou
a percepção mundial sobre esses países. A Alemanha
alcançou seus objetivos, apresentando ao mundo um país
dinâmico, receptivo e caloroso e assim revertendo a visão
antiga que se tinha dos alemães. O evento na África do
Sul foi um marco para o continente; até então percebido
notadamente pela pobreza e por diferenças raciais e
sociais. Esse é um dos fatores que explicam a competição
acirrada entre concorrentes a megaeventos. Pequim,
por exemplo, venceu dez cidades durante a escolha da
sede das Olimpíadas de 2008 e, a partir de então, iniciou
investimentos acelerados em infraestrutura.
23
Holger Preuss, The Economics of Staging the Olympics: A Comparison of the Games 1972-2008 [A Economia de Sediar Olimpíadas: Uma Comparação dos Jogos
1972-2008], Edward Elgar Publishing Limited, 2004.
24
Câmara de Comércio de Atlanta, “Atlanta’s Olympic Legacy” [“O Legado Olímpico de Atlanta”], http://www.metroatlantachamber.com/files/file/communications/oly/
finalolympiclegacy.pdf, acessado em 10 fevereiro de 2010.
25
Dahshi Marshall, “Do Olympic Host Cities Ever Win? A Renaissance for Atlanta” [As Cidades Sede de Olimpíadas Têm Benefícios? Uma Renascença para Atlanta]
The New York Times, 2 de outubro de 2009.
26
Câmara de Comércio de Atlanta, “Atlanta’s Olympic Legacy” [“O Legado Olímpico de Atlanta”], http://www.metroatlantachamber.com/files/file/communications/oly/
finalolympiclegacy.pdf, acessado em 10 fevereiro de 2010.
PwC
9
Brasil: o maior desafio
O Brasil muito provavelmente
terá diante de si o maior desafio
em termos de preparação para
megaeventos. A Copa do Mundo
e as Olimpíadas ocorrerão com
diferença de dois anos, mas ainda
há uma enorme defasagem em
termos de serviços públicos e
infraestrutura de base que precisa
ser solucionada. As dimensões
de nosso país requerem um
planejamento integrado de todos
os gestores públicos envolvidos.
Os montantes requeridos,
excluindo as maiores obras, tais
como o trem-bala, são de longe
os maiores já imaginados em
qualquer megaevento esportivo.
Em razão dos altos investimentos
exigidos, a construção de
novas arenas e as reformas
significativas nas já existentes
merecem atenção especial.
Por se basearem em projetos
de alta qualidade, esses
equipamentos poderão se
transformar em referência para
10
o desenvolvimento do esporte,
com impactos positivos também
em termos de inclusão social.
Entretanto, é necessário pensar
na operação desses estádios
a longo prazo, já que nem
sempre sua exploração para a
realização de eventos esportivos
e culturais é suficiente para
assegurar o retorno dos vultosos
investimentos realizados.
Os aeroportos são a segunda
prioridade para a realização
desses eventos no Brasil. As
dimensões continentais do país,
a descentralização dos jogos da
Copa e a enorme carência dos
terminais brasileiros configuram
um desafio gigante para as três
instâncias do governo, para
a iniciativa privada e para as
entidades organizadoras. Isso
demanda um planejamento
consistente, com base na análise
profunda das necessidades de
cada uma das instalações e na
articulação entre todos os agentes
do setor.
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
Afinal, apresentar uma
infraestrutura de transporte aéreo
eficaz durante a Copa do Mundo
é essencial para o país confirmar
que seu crescimento econômico se
traduz em desenvolvimento e que
o talento dos brasileiros vai muito
além dos campos esportivos. Isso
requer ação assertiva e célere: um
verdadeiro drible no tempo.
As cidades-sede montaram
estruturas de gestão para conduzir
e monitorar todas as fases dos
projetos relacionados direta e
indiretamente ao evento.
O estado da Bahia desponta
como um exemplo a ser seguido.
Tão logo Salvador foi anunciada
como cidade-sede para os jogos,
o governo do estado estruturou
a Secretaria da Copa e elaborou
um Plano Diretor com todas as
diretrizes estratégicas, ferramentas
de controle e ações necessárias
para garantir o sucesso do evento
no estado e na cidade de Salvador.
Esse processo permitiu uma
articulação de todas as esferas
políticas e a mobilização positiva
da sociedade. O trabalho bem
coordenado cria meios para
aproveitar os benefícios e ampliar
o legado social do evento para a
capital baiana.
Demonstrando que um
megaevento não se restringe aos
grandes centros urbanos, Natal,
capital do Rio Grande do Norte,
apresentou um dos projetos de
estádio mais atraentes, mesmo
não dispondo de todos os recursos
necessários, e foi uma das cidades
brasileiras mais elogiadas pela
missão da Fifa que percorreu as
principais sedes do futuro evento.
A diversidade cultural das cidades
escolhidas, com suas festas,
comidas e características típicas,
será um espetáculo à parte durante
os 30 dias do Mundial da Fifa.
Principal cartão-postal brasileiro,
o Rio de Janeiro enfrentará o
maior desafio de todas as sedes:
ao mesmo tempo em que receberá
a Copa do Mundo de 2014, sendo
palco da final dos jogos e sede para
o centro de mídia, estará em plena
execução dos preparativos exigidos
para as Olimpíadas de 2016.
Os dois megaeventos passarão, mas
é preciso aproveitar para que eles
deixem um legado duradouro, que
proporcione o salto de qualidade
de vida e prosperidade econômica
que todos os brasileiros e amantes
do esporte esperam.
PwC 11
Qatar: uma visão
ambiciosa
O Qatar, nação
peninsular que está
emergindo como centro
cultural do Oriente
Médio a partir de
políticas nos campos da
economia, da educação,
da saúde e do esporte,
também está pronto
para a transformação.
Escolhido como sede para a Copa
do Mundo de 2022, o Qatar espera
investir aproximadamente US$ 70
bilhões em infraestrutura. O país se
comprometeu a construir um novo
aeroporto, um novo sistema ferroviário
de alta velocidade, uma nova rede
rodoviária e uma ponte de ligação
com seu vizinho, Bahrain. Grande
parte dessas construções no Qatar faz
parte da visão de transformação de
longo prazo para o país até 2030. A
construção e a reforma de estádios,
com base em instalações modulares,
devem custar outros US$ 4 bilhões.
Todos os estádios serão equipados
com tecnologia de ponta, sistemas
de ar-condicionado externo para
amenizar as temperaturas de verão
acima de 38 graus que são comuns
no Oriente Médio. Para favorecer o
planejamento do legado, autoridades
do governo anunciaram que as
arquibancadas de diversos estádios
serão desmontadas e enviadas para
países que não têm infraestrutura
adequada para sediar jogos de futebol.
As fileiras inferiores serão mantidas
como instalações menores, para sediar
eventos desportivos locais.27, 28 Assim
como em outros megaeventos de
sucesso, será necessária a colaboração
do setor privado para concretizar esse
ambicioso empreendimento.
27
As Olimpíadas de maior sucesso
resultam da colaboração entre os
setores público e privado, de acordo
com Michael Payne, que trabalhou
no Comitê Olímpico Internacional
por 21 anos.29 Os Jogos representam
uma oportunidade não só para a
cidade-sede, mas também para que
os participantes privados divulguem
suas marcas – ou consolidem suas
posições – no palco mundial. As
Olimpíadas de 1984, em Los Angeles,
representam um notável exemplo
de participação privada. Depois de
sérios contratempos financeiros
registrados décadas atrás – como foi
o caso dos Jogos de Montreal (1976),
originalmente estimados em US$ 310
milhões, mas que alcançaram
US$ 2 bilhões e levaram quase 30
anos para serem pagos – muitas
cidades preferem não concorrer a
sede olímpica. Los Angeles, inclusive,
foi a única cidade concorrente
em 1984. Praticamente sem
financiamento público, as Olimpíadas
daquele ano dependeram de recursos
privados. Primeiros Jogos a se
pagarem totalmente, as Olimpíadas
de Los Angeles produziram lucro de
US$ 223 milhões para o seu comitê
organizador.30
Qatar 2022 Bid, http://www.qatar2022bid.com/qatars-bid/legacy.
28
12
PPPs: menos riscos
Matthew Futterman e Jonathan Clegg, “World Cup Headed to Russia and Qatar” [Copa do Mundo vai à
Rússia e Qatar] The Wall Street Journal, 3 de dezembro de 2010.
29
Michael Payne, Olympic Turnaround: How the Olympic Games Stepped Back from the Brink of Extinction
to Become the World’s Best Known Brand [Reviravolta Olímpica: Como as Olimpíadas Saíram do Risco de
Extinção e se Tornaram a Marca Mais Conhecida no Mundo], Praeger, 2006.
30
Michael Payne, “A Gold-Medal Partnership,” [“Uma Parceria Medalha de Ouro”] Estratégia+Negócios,
primavera de 2007.
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
Projetos que superam expectativas
O sucesso de Los Angeles foi replicado e aprimorado nos
eventos seguintes. Parcerias privadas complementaram
o know-how do setor público com financiamento,
experiência e supervisão adicionais. Um bom exemplo é
a Canada Line, linha regional de metrô de superfície com
19 km que conecta o centro de Vancouver, o Aeroporto
Internacional de Vancouver e o centro de Richmond, na
Colúmbia Britânica. Embora esse novo sistema de veículo
leve sobre trilhos não esteja voltado especificamente para
as Olimpíadas de Inverno de 2010, os Jogos serviram
como catalisador para o projeto, concluído como PPP
com diversos meses de antecedência. A obra fazia parte
do planejamento de longo prazo da região desde o fim
dos anos 60. Projetos inovadores de túneis e um plano de
serviços para gerar maior receita, com base no aumento da
utilização diária, resultaram na proposta de economia de
custos de construção de US$ 85 milhões em valor presente
líquido. A utilização superou os níveis esperados quase
imediatamente após a inauguração da Canada Line, em
agosto de 2009.31,32
De forma semelhante, o projeto de rodovia Sea to
Sky Highway de Vancouver, também desenvolvido
como PPP, foi concluído a tempo para as Olimpíadas
de Inverno de 2010. Essa reforma, que também fazia
parte do planejamento de longo prazo da região, muito
provavelmente também retornará 100% dos investimentos,
de acordo com Norm O’Reilly, que trabalhou no Comitê
Olímpico Canadense (COC), de 1998 a 2002, e em ações
com o COC para as Olimpíadas de Inverno de 2010
em Vancouver. Professor de Administração Desportiva
na Universidade de Ottawa, O’Reilly explica que a
modernização da estrada reduz o tempo de acesso a um dos
mais famosos destinos de esqui da América do Norte, além
de aumentar a segurança para os motoristas. Embora as
Olimpíadas tenham acelerado o término da obra, O’Reilly
afirma que a construção em si foi “simples e óbvia”.33
Na realidade, diversos níveis de PPPs foram desenvolvidos
no decorrer de muitas décadas de colaborações para
as Olimpíadas. Amplamente utilizadas em países como
o Reino Unido e a Austrália, as PPPs agora oferecem
oportunidades para Brasil, Rússia e Qatar atraírem
participação do setor privado em infraestrutura. Os custos
e benefícios associados a megaeventos representam
oportunidades ideais de parcerias de investimento
público-privado para atender a objetivos mais amplos
de desenvolvimento urbano. Negócios estruturados para
serem benéficos tanto para parceiros públicos como
privados apresentam maiores chances de serem bemsucedidos, visto que cada parceiro se torna um investidor
ativo. Dependendo do acordo ou do tipo de investimento
em infraestrutura, parceiros privados podem se tornar
investidores de longo prazo. Ao incentivarem maior
participação do setor privado, as cidades podem obter o
benefício duplo de melhorar o acesso ao capital e elevar
a segurança orçamentária. Contratos bem estruturados
podem alocar riscos relacionados a excedentes de custo,
atraso e qualidade para o setor privado.
31
Simon Kent, “Passing the Torch” [Passando a Tocha], PM Network, dezembro de 2008.
32
PwC, Public-Private Partnerships: The US Perspective [Parcerias Público-Privadas: A Perspectiva dos EUA], junho de 2010.
33
Entrevista com Norm O’Reilly, professor de administração desportiva da Universidade de Ottawa, 25 de setembro de 2010.
PwC 13
Desenvolvimento com prosperidade
O impacto de sediar grandes eventos esportivos varia
de acordo com o nível de desenvolvimento da cidade
e do país-sede, segundo Andrew Zimbalist, professor
de Economia no Smith College, em Massachusetts
(EUA), e autor de diversos livros sobre os aspectos
econômicos do esporte. Zimbalist diz que, com um
planejamento adequado, sediar um grande evento
pode acelerar o desenvolvimento da infraestrutura,
com maiores benefícios para áreas menos
desenvolvidas do que para aquelas que já apresentam
infraestruturas implantadas.34
Na Europa e na Ásia, por exemplo, sediar eventos
como as Olimpíadas, os Jogos da Commonwealth e
a Copa do Mundo representa parte do processo de
desenvolvimento local e regional de longo prazo.35
Em última instância, moradores e empresas locais de
cidades-sede de megaeventos se beneficiam a longo
prazo quando os gestores e os líderes regionais criam
e desenvolvem uma infraestrutura de apoio de acordo
com o planejamento de longo prazo já estabelecido
para a região. O megaevento serve como agente
agregador para um desenvolvimento socioeconômico
acelerado, o que inclui, algumas vezes, assegurar
financiamentos difíceis. “O legado olímpico é
mais eficiente e evidente quando relacionado a
desenvolvimentos e políticas urbanas mais amplas”,
diz Essex, professor adjunto da Universidade de
Plymouth.36
O relatório de 2010 do Fórum Econômico
Mundial estabeleceu que a falta de investimentos
em infraestrutura é um dos dez maiores riscos
econômicos para o cenário mundial, visto que
a infraestrutura é a base da prosperidade e da
resiliência de uma região.37
34
Andrew Zimbalist, “Is it Worth It?” [Vale a Pena?] Finance & Development ,
março de 2010.
35
Greg Clark, Local Development Benefits from Staging Global Events [Benefícios
de Desenvolvimento Locais de Sediar Eventos Mundiais]. Organization for
Economic Cooperation and Development [Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico], 2008.
36
Comunicação por email com Stephen Essex, professor adjunto da Universidade
de Plymouth, 10 de dezembro de 2010.
37
Fórum Econômico Mundial, Global Risks 2020: A Global Risk Network Report
[Riscos Globais: Um Relatório de Rede de Riscos Globais], janeiro de 2010.
14
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
Paralelo
Investimento em infraestrutura:
o que é melhor?
Algumas cidades-sede de megaeventos
fizeram investimentos mais adequados
em infraestrutura do que outras. Estas
são algumas prioridades que ajudam a
assegurar um legado duradouro:
1. A infraestrutura de apoio é mais
eficiente quando relacionada ao plano
de desenvolvimento de longo prazo da
região. Barcelona já tinha um plano de
desenvolvimento de 50 anos em vigor;
o projeto de transporte de Vancouver, a
Canada Line, já fazia parte do plano de
longo prazo da região há décadas.
2. Projetos de reurbanização oferecem
compensações a longo prazo. O
Wentworth Point, antigamente
conhecido como Homebush Bay,
em Sydney, era uma área pantanosa
de quase 8 km2 com instalações de
empacotamento de carnes, algumas
instalações industriais e um depósito
de munição. As Olimpíadas de 2000
transformaram a região em um
próspero bairro residencial.38
3. Uma abordagem ampla é capaz de traduzir a visão
em realidade: objetivos do projeto bem definidos,
responsabilidade e controle transparente, supervisão
estruturada do projeto, cronograma bem definido e
extensiva comunicação e relatórios ajudam a garantir a
conclusão bem-sucedida desses projetos de infraestrutura
em grande escala.
4. O planejamento de legado para estádios, principalmente
em locais grandes, é indispensável. O Qatar, por exemplo,
planeja construir estádios modulares para a Copa de 2022,
desmontá-los após o evento e enviá-los para nações em
desenvolvimento.
5. As parcerias público-privadas oferecem opções adicionais de
financiamento, conhecimento especializado e transferência
de riscos, como no caso do sistema de transporte rápido
Canada Line, em Vancouver.
Por fim...
A preparação para os megaeventos
não depende apenas de planejamento
e disciplina na execução dos projetos.
É necessário enxergar os benefícios
qualitativos de longo prazo, mas
também de curto prazo.
Em vários eventos não se consegue
fazer a tempo tudo o que foi planejado.
Muitas vezes se faz o melhor possível
considerando uma visão de longo
prazo e a realidade e as restrições
existentes. Além disso, nem tudo que
é feito resulta em sucesso ou atinge
as metas preestabelecidas. Nesse
momento, entra em campo a vontade
de fazer e de mostrar ao mundo algo
de valor diferenciado. Portanto, que
venham os jogos!
6. O comprometimento do setor público com parcerias de
longo prazo é essencial. No caso da expansão da M25,
por exemplo, quando o financiamento privado se tornou
uma incerteza, o Departamento de Transportes do Reino
Unido investiu US$ 790 milhões para salvar o projeto.
No fim das contas, fundos privados financiaram o projeto
inteiro. Porém, o comprometimento do setor público foi
fundamental para o sucesso.39
7. A colaboração entre diferentes níveis do governo — federal,
estadual e municipal — é essencial para o investimento
e o planejamento da infraestrutura para megaeventos. O
Rio de Janeiro foi selecionado para sediar as Olimpíadas
de 2016 somente após três esferas governamentais se
comprometerem, coletivamente, a fornecer os recursos
necessários. Após aprenderem com duas tentativas
fracassadas, eles trabalharam juntos para cumprir com
os requisitos de infraestrutura do Comitê Olímpico
Internacional e serem selecionados.
38
PwC, Business and Economic Benefits of the Sydney 2000 Games: A Collation of Evidence [Benefícios
Comerciais e Econômicos dos Jogos de 2000 em Sydney: Uma Comparação Crítica de Provas], 2001.
39
PwC, Gridlines , junho de 2010.
PwC 15
Referências bibliográficas
1. Andrew K. Rose and Mark M. Spiegel, The Olympic Effect. National Bureau of
Economic Research, October 2009.
2. Peter Kindel, Scott Watkins, and Andrew Hasdal, Land Use and Infrastructure
Investments by Olympic Host Cities: Legacy Projects for Long-Term Economic Benefits,
Topografis & Anderson Economic Group, LLC, October 1, 2009.
3. E-mail communication with Stephen Essex, associate professor at the University of
Plymouth, December 10, 2010.
4. Greg Clark, Local Development Benefits from Staging Global Events, Organization for
Economic Cooperation and Development, 2008.
5. Michael Payne, “A Gold-Medal Partnership,” Strategy+Business, Spring 2007.
6. Greg Clark, Local Development Benefits from Staging Global Events. Organization for
Economic Cooperation and Development, 2008.
7.
Lee M. Sands, “The 2008 Olympics’ Impact on China,” The China Business Review,
July-August 2008.
8. Sunil Jagtiani, “Track Record: Temporary Hurdle,” Fund Strategy, September 1,
2008.
9. William C. Kirby, “Do Olympic Host Cities Ever Win? A Huge Improvement for
Beijing.” The New York Times, October 2, 2009.
10. Partnership for New York City, Grounded: The High Cost of Air Traffic Congestion,
February 2009.
11. PwC, Cities of Opportunity, 2010.
12. National Audit Offi ce (UK), Preparations for the London 2012 Olympic and
Paralympic Games: Progress Report February 2010, February 26, 2010.
13. Ibid.
14. PwC, Gridlines, June 2010.
15. Interview with Mauricio Girardello, partner, PwC Brazil, May 26, 2010.
16. Mimi Whitefi eld, “For Next World Cup, Brazil Gets the Ball Rolling” The Miami
Herald, July 27, 2010.
17. “Do Brazil’s Infrastructure Plans Have a Sporting Chance?” Project Finance,
December 2009.
18. Sochi Organizing Committee, Position Statements, accessed April 1, 2011.
19. Sochi 2014 Bid, http://Sochi2014.com/en/legacy/.
20. Department of Transport, Republic of South Africa, Transport Action Plan for 2010,
2006.
21. PwC, Cities of Opportunity, 2010.
22. Organization for Economic Cooperation and Development, Policy Brief:
Infrastructure to 2030, January 2008.
23. New South Wales Treasury: Offi ce of Financial Management, The Economic Impact of
the Sydney Olympic Games, November 1997.
16
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
24. PwC, Business and Economic Benefits of the Sydney 2000 Games: A Collation of
Evidence, 2001.
25. PwC, Cities of Opportunity, 2010.
26. Holger Preuss, The Economics of Staging the Olympics: A Comparison of the Games
1972-2008, Edward Elgar Publishing Limited, 2004.
27. Metro Atlanta Chamber of Commerce, “Atlanta’s Olympic Legacy,” http://www.
metroatlantachamber.com/files/file/communications/oly/finalolympiclegacy.pdf,
accessed February 10, 2010.
28. Dahshi Marshall, “Do Olympic Host Cities Ever Win? A Renaissance for Atlanta,” The
New York Times, October, 2, 2009.
29. Metro Atlanta Chamber of Commerce, “Atlanta’s Olympic Legacy,” http://www.
metroatlantachamber.com/files/file/communications/oly/finalolympiclegacy.pdf,
accessed February 10, 2010.
30. Organization for Economic Cooperation and Development, Policy Brief:
Infrastructure to 2030, January 2008.
31. Paul Kelso, “Hourglass Starts Running for Qatar to Vindicate FIFA’s 2022 Gamble,”
The Daily Telegraph, January 10, 2011.
32. Qatar 2022 Bid, http://www.qatar2022bid.com/qatars-bid/legacy.
33. Matthew Futterman and Jonathan Clegg, “World Cup Headed to Russia and Qatar,”
The Wall Street Journal, December 3, 2010.
34. Michael Payne, Olympic Turnaround: How the Olympic Games Stepped Back from the
Brink of Extinction to Become the World’s Best Known Brand, Praeger, 2006.
35. Michael Payne, “A Gold-Medal Partnership,” Strategy+Business, Spring 2007.
36. Simon Kent, “Passing the Torch,” PM Network, December 2008.
37. PwC, Public-Private Partnerships: The US Perspective, June 2010.
38. Interview with Norm O’Reilly, professor of sport management at the University of
Ottawa, September 25, 2010.
39. Andrew Zimbalist, “Is it Worth It?” Finance & Development, March 2010.
40. Greg Clark, Local Development Benefi ts from Staging Global Events. Organization for
Economic Cooperation and Development, 2008.
41. E-mail communication with Stephen Essex, associate professor at the University of
Plymouth, December 10, 2010.
42. PwC, Cities of Opportunity, 2010.
43. World Economic Forum, Global Risks 2020: A Global Risk Network Report, January
2010.
Infrastructure investment: What works best?
a PwC, Business and Economic Benefi ts of the Sydney 2000 Games: A Collation of
Evidence, 2001.
b PwC, Gridlines, June 2010.
PwC 17
Para discutir as questões
Para uma discussão mais aprofundada
sobre a infraestrutura de megaeventos,
favor contatar nossos parceiros
consultores de eventos esportivos
mundiais, tais como:
• Copa do Mundo 2006, Alemanha
• Copa do Mundo 2010, África do Sul
• Copa do Mundo 2014, Brasil
• Copa do Mundo 2018, Rússia
• Copa do Mundo 2022, Qatar
• Olimpíadas 2000, Sydney
• Olimpíadas 2008, Pequim
• Olimpíadas 2010, Vancouver
• Olimpíadas 2012, Londres
• Olimpíadas 2014, Sochi
• Olimpíadas 2016, Rio de Janeiro
18
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
Infraestrutura
e megaeventos
América Latina
Mauricio Girardello
+55 11 3674 2688
[email protected]
João Lins
+55 11 3674 3941
[email protected]
Richard Dubois
+55 11 3674 2616
[email protected]
Hazem Galal
+55 11 3232 6015
[email protected]
PwC 19
20
Oportunidades de infraestrutura para megaeventos
© 2011 PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda. Todos os direitos reservados. Neste documento, “PwC” refere-se à PricewaterhouseCoopers Brasil
Ltda., a qual é uma firma membro do network da PricewaterhouseCoopers International Limited, sendo que cada firma membro constitui-se em
uma pessoa jurídica totalmente separada e independente.
O termo “PwC” refere-se à rede (network) de firmas membro da PricewaterhouseCoopers International Limited (PwCIL) ou, conforme o contexto
determina, a cada uma das firmas membro participantes da rede da PwC. Cada firma membro da rede constitui uma pessoa jurídica separada e
independente e que não atua como agente da PwCIL nem de qualquer outra firma membro. A PwCIL não presta serviços a clientes. A PwCIL não
é responsável ou se obriga pelos atos ou omissões de qualquer de suas firmas membro, tampouco controla o julgamento profissional das referidas
firmas ou pode obrigá-las de qualquer forma. Nenhuma firma membro é responsável pelos atos ou omissões de outra firma membro, nem controla
o julgamento profissional de outra firma membro ou da PwCIL, nem pode obrigá-las de qualquer forma.
Download

Que venham os jogos Oportunidades de infraestrutura para