ORACY NOGUEIRA E O ESTUDO SOCIOLÓGICO DA TUBERCULOSE PULMONAR
Danilo Mariano Pereira – IFCS / UFRJ (FAPERJ)
INTRODUÇÃO
→ Esse trabalho consiste numa apresentação, contextualização histórico-epistemológica e
recuperação, para a contemporaneidade, da obra “Vozes de Campos do Jordão” de Oracy Nogueira.
O CONTEXTO DO SURGIMENTO DE UMA SOCIOLOGIA DA TUBERCULOSE
→ Oracy Nogueira surge num momento de crítica ao chamado Ensaísmo da década de 30 e à pouca
importância teórica que a sociologia brasileira vinha atribuindo às situações micro-históricas e às ações
individuais.
→ Essa crítica encontrava seu lugar na ELSP, instituição que trouxe para o Brasil a tradição da
sociologia empírica da Escola de Chicago, e onde se produziram importantes obras marcadas pela
pesquisa de campo qualificada e pelo estudo em pequenas cidades ou grupos sociais.
→ Influenciado por essa formação e tendo sido tuberculoso tratado em Campos do Jordão, Oracy
Nogueira se interessa pela análise do comportamento do tuberculoso e do efeito que a doença provoca na
vida social e psíquica do indivíduo; com efeito, publica em 1950 “Vozes de Campos do Jordão –
experiências sociais e psíquicas do tuberculoso pulmonar no Estado de São Paulo”.
AS IDÉIAS DE ORACY EM “VOZES DE CAMPOS DO JORDÃO”
→ O “Ostracismo” do tuberculoso o obriga a se transferir para Campos do Jordão, onde entra em
sociabilidade com outros tuberculosos. Alguns mecanismos de acomodação psíquica produzem sua
incorporação ao “ambiente tuberculoso”, onde adota o ponto de vista dos doentes.
→ Os sanatórios são como as instituições totais que Erving Goffman conceituaria mais tarde onde
se visa a cura biológica do corpo pela transformação subjetiva da alma.
→ A “Impressão de Intocabilidade” dos tuberculosos levanta a discussão sobre a noção de tabu:
Oracy se afasta das formulações de Fraser e Freud para se aproximar das do professor RadCliffe-Brown.
→ As relações entre os médicos e doentes são marcadas por uma ambigüidade que só pode ser
explicada pelo conceito de relações jocosas, que, de acordo com RadCliffe-Brown, se definem por um
misto de amizade e antagonismo que marca tanto conjunção quanto disjunção social.
CONCLUSÃO: POR QUE LER HOJE “VOZES DE CAMPOS DO JORDÃO”?
→ A “Experiência da Tuberculose” pode ser analisada como um “Estigma” e a identidade do
tuberculoso como “identidade deteriorada”, antecipando as formulações de Erving Goffman.
→ A análise da dimensão institucional da experiência da tuberculose e dos processos de
subjetivação nos sanatórios e pensões podem movimentar conceitos importantes na contemporaneidade
em antropologia da saúde e da doença.
BIBLIOGRAFIA NOGUEIRA, Oracy. Vozes de Campos do Jordão. São Paulo: Revista
Sociologia, 1950
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