CAMINHOS DE GEOGRAFIA - REVISTA ON LINE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA UFU PLANEJAMENTO ESTRATÉTICO E CITY MARKETING: A NOVA FACE DAS CIDADES NO FINAL DO SÉCULO XX Georges José Pinto Mestrando em Geografia pela UFU [email protected] ABSTRACT - The objectives of the world big cities directors and owners of business entreprises at the end of the XX Century are: to produce the city’s image, to foment its products and services, to project it in a globalizated world, to attract resources. The are the aims that have to be obtained in the beginning of the XXI Century. And how to get them? Using two ways: the strategic planning and the city marketing. KEY WORDS: city, planning, marketing, globalization A CIDADE: TRANSIÇÃO DO SÉCULO se a necessidade de tratar dos problemas sociais XX PARA O SÉCULO XXI como emprego, moradia, desigualdade social, em um nível local, visto A última década do século XX, os anos que cada cidade ou região apresenta estes noventa, marcou a valorização da dimensão problemas com características próprias e local, com um maior reconhecimento da requerendo, assim, soluções específicas a importância das instâncias local e regional cada cidade ou região. Uma proposta global no de não soluciona o problema de moradia em a todas as partes do mundo. São necessárias Organização das Nações Unidas (ONU) e a propostas adequadas à realidade de cada União Européia. local. contexto organismos mundial, por internacionais partes como As situações vivenciadas pelas grandes cidades do mundo, avanços tecnológicos, instalação de pólos industriais, O século XXI já pode ser considerado um catástrofes ambientais, problemas urbanos, século urbano, visto serem as cidades os são amplamente cobertos e divulgados pela grandes palcos imprensa. A ONU promoveu uma série de roteiros, tais eventos a problemas sobre Social destinados a urbanos, como População (Cairo, (Copenhague, discussão a Conferência 1994), 1994), dos Cúpula Conferência sobre o Habitat (Istambul, 1996). Em um mundo cada vez mais globalizado percebeuCaminhos de Geografia 2(3)17-22, mar/ 2001 onde serão encenados como o progresso econômico; integração das diferentes culturas presentes neste espaço; as questões inerentes ao bem-estar social ambientais como aquecimento global, e os por a problemas exemplo o poluição, as enchentes, os terremotos, entre outros. página 18 Planejamento estratético e city marketing: a nova face das cidades no final do século XX GEORGES JOSÉ PINTO Assistimos a consolidação das chamadas Partindo cidades termo estratégia, que é a “arte de aplicar os globais, representam negócios ou os e funcionam seja, centros transações atualmente cidades que mundiais de bancárias, disponíveis favoráveis ou com etimológico explorar vistas do condições a objetivos específicos” (FERREIRA, 1988:219), dá-se economia início a uma análise acerca do planejamento concentram estratégico que, como se pode perceber, vastos recursos financeiros e as indústrias de utiliza determinados meios para atingir as liderança, grandes empresas transnacionais, metas por ele traçadas. global. na organização Estas postos significado de comando como que meios do da aglomerações exercem influência na ordem econômica e social mundial. Acabam por possibilidade de um novo urbanização, que passa a perícia e o conhecimento criar tipo de concentrar em a a serviços ligados à globalização e, quanto mais a economia for globalizada, maior será a convergência de funções centrais nessas cidades globais. Exercem a função de cidade global as seguintes aglomerações: Nova York, Tóquio, Londres, Paris, Los Angeles, Segundo BORJA (1996:98), “plano estratégico é a definição de um projeto de cidade que unifique diagnósticos, concretize atrações públicas e privadas e estabeleça um quadro coerente de mobilização e de cooperação dos atores sociais urbanos”. É um discurso que apresenta uma grande força ao imprimir novas diretrizes à gestão urbana, uma vez que, de acordo com SÁNCHEZ (1999:115): Frankfurt, Hong Kong, Roterdã, Milão e, em inserirem em redes regionais e mundiais. “os planos estratégicos propõem atuações integradas a longo prazo, dirigidas à execução de grandes projetos que combinam objetivos de crescimento econômico e desenvolvimento urbano, com um sistema de tomada de decisões que comporta riscos, com a identificação de cursos de ação específica, formulação de indicadores de seguimento e envolvimento de agentes sociais e econômicos ao longo do processo”. Para conseguir tal feito, um dos meios Não se trata, pois de um processo de utilizados é o planejamento estratégico. execução escala um pouco menor e regionalizada: Toronto, Chicago, São Paulo, Zurique, Sidney, Madri, Moscou, Cingapura, Seul, Xangai, Cidade do México. Hoje, torna-se fundamental a adaptação das cidades aos mercados internacionais, seja pela flexibilidade produtivas, seja de pela suas capacidade estruturas de O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO se e imediatos. Um planejamento estratégico requer para a sua concretização Caminhos de Geografia 2(3)17-22, mar/ 2001 resultados três fatores que, segundo página 19 Planejamento estratético e city marketing: a nova face das cidades no final do século XX GEORGES JOSÉ PINTO BORJA (1996:98), são a “sensação de crise, resultados satisfatórios para suas cidades, a vontade conjunta e o acordo entre atores como sendo este o “único meio eficaz para urbanos”, que podem ser assim explicados: fazer frente às novas condições impostas pela globalização às cidades e aos poderes a) Sensação de crise - a partir do momento locais” (VAINER, 2000:78). em que o governo local, a população e os agentes econômicos visualizam uma Torna-se essencial ainda, a presença de uma crise trânsito, forte liderança (especialmente do prefeito) segurança, poluição, falta de emprego, para conduzir as ações do plano estratégico. de Afinal, (esteja ela moradias, ligada de ao serviços básicos), o “governo local deve propor provoca-se uma reação conjunta que cria funções destinadas a uma população e a um condições para a busca de respostas e território que pretendem ir além daquilo que soluções. lhes correspondem histórica e legalmente” (BORJA, 1996:88). Compete ao poder local b) Vontade conjunta - para que essas soluções sejam alcançadas é necessário que a sociedade civil deseje e colabore para que a cidade dê um salto, cresça e supere os problemas. viabilizar meios para que haja uma articulação com as outras esferas do poder (estadual/regional e federal/central), uma promoção interna da cidade (visando atingir os habitantes da cidade, dotando-os de um c) Acordo entre atores urbanos - a solução sentimento de patriotismo pela cidade) e destes problemas não requer apenas a uma promoção externa da cidade (visando intervenção atrair os investidores). pública, é preciso uma articulação entre os agentes públicos e privados em torno de um objetivo único e comum. Para atingir estes objetivos muitas cidades souberam utilizar um grande internacional e Em um mundo que necessita adaptar-se de projeto transformação modo cada vez mais rápido e intenso, tendo sucesso, em vista o dinamismo e a instabilidade da (utilizando os Jogos Olímpicos de 1992) e economia, Lisboa (utilizando a Exposição Universal de as ininterruptas inovações de como o caso urbana de um com Barcelona 1998). captação de investimentos e negócios a planejamento necessidade de criação de empregos, muitos reformas completas nestas cidades, inclusive dirigentes e gestores municipais utilizam o no que diz respeito ao remodelamento dos Plano desenhos urbanos. para a obtenção Caminhos de Geografia 2(3)17-22, mar/ 2001 de casos, realizar tecnológicas, a aberta competitividade na Estratégico Nestes conseguiram evento estratégico, através do realizaram-se página 20 Planejamento estratético e city marketing: a nova face das cidades no final do século XX GEORGES JOSÉ PINTO Contudo, nada impede que uma correlação Contudo, existem embutidas nesse processo de forças e que os interesses em jogo articulações de poder dos grandes grupos determinem que certa econômicos e seus interesses, uma vez que considerada mais estratégica proposta que seja outra, as modificações realizadas nas cidades refutando assim a idéia de vontade conjunta visam concretizar os interesses de grupos em ligados ao turismo, aos transportes, ao setor prol de interesses particulares em comum acordo com o poder local. imobiliário, as grandes empresas prestadoras de serviços, entre outros. Outro meio utilizado pelos gestores locais para promover suas cidades é o marketing Quando se atinge um nível de marketing da cidade. como o de Curitiba realça-se o crescente domínio da mídia sobre a vida coletiva, a MARKETING DA CIDADE Segundo marketing SÁNCHEZ vida das pessoas da cidade. Os meios de (1999:115) constitui-se na o “city orientação da comunicação transformam-se construtores da cidade em e veículos de sua política urbana à criação ou ao atendimento representação junto à população. Cria-se um das necessidades do consumidor, seja este sentimento de orgulho com relação à cidade empresário, turista ou o próprio cidadão”. e venda-se os olhos para não se perceber o que existe em seu entorno. Em outras palavras, é uma promoção da cidade que objetiva atingir os seus próprios A cidade deixa então de ser o lugar do habitantes bem eventuais investidores, possíveis e cidadão (o que tem direito à cidade) para ser busca a o local do citadino (o que mora na cidade). construção de uma nova imagem da cidade, A cidade acaba por se transformar em uma dotada de um forte impacto social. mercadoria, em um objeto de luxo a ser como os que vendido num mercado competitivo, com um A cidade passa a ser vista como um público espetáculo. No Brasil, Curitiba é a cidade internacional. alvo específico: o capital que melhor retrata esse processo: “Curitiba: a cidade que não pára de inovar”, que nos A cidade acaba por adquirir o caráter de anos 70 era a “Cidade Modelo”, nos anos 80 uma empresa, um agente econômico que a “Capital da Qualidade de Vida”, nos anos atua de acordo com as regras impostas pelo 90 a “Capital Ecológica” e hoje a “Capital mercado. Assim, a cidade deixa de ser Tecnológica” (SÁNCHEZ, 1999:125). pensada sob um plano político, não sendo mais Caminhos de Geografia 2(3)17-22, mar/ 2001 construído como um território de página 21 Planejamento estratético e city marketing: a nova face das cidades no final do século XX GEORGES JOSÉ PINTO exercício da democracia local (VAINER, FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. 2000:90). Minidicionário da Lingua Portuguesa. 2 ed. rev. ampl. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira, CONCLUSÃO O 1988. Planejamento Marketing Estratégico são e instrumentos resultados otimizados, competição entre o City que visam utilizados cidades que, na segundo FISCHER, Tânia (org.) Gestão contemporânea: cidades, estratégias e organizações locais. Rio de Janeiro. Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1996. VAINER (2000:99) “autoriza a transposição do modelo estratégico do mundo das SÁNCHEZ, Fernanda. Políticas urbanas em empresas para o universo urbano, como é renovação: ela que autoriza a venda das cidades, o emergentes. Revista Brasileira de Estudos emprego do marketing urbano”. Mas, faz-se Urbanos e Regionais, Campinas, n.1, p.115- necessário uma outra análise, pois não se 132, 1999. uma leitura dos modelos tratar de uma competição entre países, regiões ou cidades e sim de uma competição entre os grupos empresariais, cada um buscando uma localização que lhe seja mais vantajosa no que disponibilização de diz respeito serviços e à incentivos fiscais. A cidade, enfim, não deve permitir que o “espaço objeto e sujeito de negócios” se imponha sobre o “espaço do encontro e do confronto de cidadãos” (VAINER, 2000:101), afinal, esta é a finalidade única de ser e de existir da cidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANTES, Otília, MARICATO, Ermínia. pensamento único: VAINER, A Carlos, cidade do desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2000. 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