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Avaliar é Preciso: o caso de softwares educacionais para
Matemática no Ensino Médio
Silvia Cristina Freitas Batista1,2, Gilmara Teixeira Barcelos1,2, Clevi Elena
Rapkiewicz2, Henrique da Hora1
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Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos (CEFET- Campos) - Rua Dr
Siqueira, 273 – Pq Tamandaré – Cep: 28030-130 – Campos dos Goytacazes – RJ
Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) – Av. Alberto Lamego, 2000 –
Pq Califórnia – Cep: 28013-600 – Campos dos Goytacazes – RJ
{silviac@, gilmarab@, dahora@es.}cefetcampos.br
[email protected]
Abstract. The following article emphasizes the necessity of promoting the
evaluation on the quality of educational softwares, considering not only
technical aspects but also those related to the educational approach. On this
way, we have analysed the evaluation of some educational softwares on
mathematics in High School and we have briefly described the methodology
used for such evaluation and the extension course in which the referred
evaluation took place as well.
Resumo. Neste artigo enfatizamos a necessidade de promover a avaliação da
qualidade dos softwares educacionais, levando em consideração tanto
aspectos técnicos quanto educacionais. Neste contexto apresentamos a
avaliação de alguns softwares educacionais voltados para Matemática do
Ensino Médio. Estes foram avaliados por professores e licenciandos da área
de domínio, mostrando que é bastante pertinente considerar os usuários de
softwares nas avaliações dos mesmos.
Palavras-chave: qualidade de software, software educacional, Matemática
1. Introdução
Vivemos em uma sociedade tecnológica na qual a qualidade embutida nos bens e
serviços é de uma importância fundamental. Sem esta qualidade estamos sujeitos a
falhas de diversos tipos: interrupções no fornecimento de energia, nas comunicações e
nos transportes, serviços públicos inoperantes [Juran 2002]. Alguns softwares estão
diretamente relacionados à segurança de vidas humanas, finanças, meio ambiente, de
forma que problemas nestes podem levar a conseqüências sérias [ABNT 2001].
Os softwares afetam, atualmente, quase todos os aspectos de nossas vidas,
estando presente nos negócios, na cultura e nas atividades diárias [Pressman 2000].
Produzir software de qualidade torna-se, portanto, imprescindível. A engenharia de
software integra processos, métodos e ferramentas para o desenvolvimento de software
visando a melhoria de sua qualidade [Pressman 2000].
Qualidade de software é a “totalidade das características de um produto de
software, que lhe confere a capacidade de satisfazer às necessidades explícitas e
implícitas” [ABNT 1996]. Promover esta qualidade requer atenção para o processo de
produção e, também, para o produto em si. A qualidade de processo contribui para a
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melhoria da qualidade do produto e a qualidade do produto contribui para a melhoria da
qualidade em uso [ABNT 2003].
Avaliar a qualidade de produto de um software vai muito além da preocupação
com defeitos de funcionamento [Pfleeger 2001; Pressman 2000]. Diversas
características devem ser analisadas, tais como as consideradas na série de normas NBR
ISO/IEC 9126 visando a avaliação da qualidade interna e externa de produtos de
software [ABNT 2003]. Porém, dependendo do tipo de software e de seu grupo de
usuários, diferentes fatores podem ser mais (ou menos) importantes [Kan 2002].
Os softwares educacionais também necessitam de avaliação quanto a sua
qualidade, uma vez que, nem sempre possuem características adequadas, tanto no que
se refere a aspectos técnicos, quanto a aspectos pedagógicos. Diversos softwares
educacionais são colocados à disposição do professor e alunos a cada ano, mas muitos
são de má qualidade ou de uso inadequado [Campos, Rocha e Campos 1999].
As normas ISO constituem um modelo de qualidade de software genérico, sem
levar em consideração as especificidades do setor de aplicação do software a ser
avaliado. Para avaliar um software educacional, é preciso levar em consideração, além
das normas técnicas, os atributos inerentes a este setor. É fundamental, portanto,
envolver atores da área de domínio e potenciais usuários na avaliação dos mesmos.
Neste contexto buscamos envolver professores e licenciandos de uma área de
domínio específica (Matemática - devido à formação e experiência profissional dos
autores deste artigo) na avaliação de softwares voltados para aprendizagem de
Matemática do Ensino Médio. Para tanto, organizamos o curso de extensão “Avaliação
de Softwares Educacionais: Desenvolvendo uma Postura Consciente” para professores e
licenciandos em Matemática, objetivando colaborar para uma prática docente mais
adequada aos dias atuais e incentivar o desenvolvimento de uma postura consciente e
crítica com relação à seleção de softwares educacionais. Nesse curso, foram avaliados
doze softwares, utilizando a metodologia SoftMat [Batista 2004]
Neste artigo, estruturado em três seções além desta introdução, apresentamos
resultados parciais dessa experiência. Na seção 2 abordamos qualidade de software
educacional, destacando que para avaliá-la é preciso levar em consideração além de
normas técnicas, especificidades do setor educacional. Na seção 3, além de
descrevermos brevemente o curso de extensão e a metodologia de avaliação utilizada,
caracterizamos os softwares apresentados neste artigo e analisamos a avaliação dos
mesmos. Na seção 4 apresentamos algumas considerações finais sobre o tema.
2. Qualidade de Software Educacional
A definição de software educacional, em sua concepção mais ampla, é bem genérica.
Giraffa (1999) defende que a visão cada vez mais consensual na comunidade da
Informática Educativa é a de que todo programa que utiliza uma metodologia que o
contextualize no processo ensino e aprendizagem, pode ser considerado educacional.
Nessa visão são softwares educacionais todos aqueles construídos
especificamente para serem usados no âmbito educacional e que, portanto, seguem uma
concepção educacional. Também podem ser considerados softwares educacionais os
projetados para outros fins, mas que podem vir a ser utilizados no processo educacional,
como por exemplo, as planilhas eletrônicas [Ramos; Mendonça 1991].
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Avaliar um software educacional significa analisar não só suas características de
qualidade técnica, mas também, os aspectos educacionais envolvidos. Segundo Campos
e Campos (2001), na avaliação de um software educacional devem ser levados em
consideração os seguintes aspectos:
a) características pedagógicas: atributos que evidenciam a conveniência e a viabilidade
de uso do software em situações educacionais.
b) facilidade de uso: atributos que evidenciam a facilidade de uso do software.
c) características da interface: atributos que evidenciam a presença de recursos e meios
que facilitam a interação do usuário com o software.
d) adaptabilidade: atributos que evidenciam a capacidade do software adaptar-se às
necessidade e preferências do usuário e ao ambiente educacional selecionado.
e) documentação: atributos que evidenciam que a documentação para instalação e
utilização do software está completa, é consistente, legível, e organizada.
f) portabilidade: atributos que evidenciam a adequação do software aos equipamentos
onde serão instalados.
g) retorno do investimento: atributos que evidenciam a adequação do investimento na
aquisição do software.
Além desses aspectos, devem ser considerados critérios como: preço acessível,
disponibilidade no mercado, possibilidade de obtenção de cópias, convênios e análise de
versões demonstrativas [Campos; Campos 2001].
Envolver os usuários no processo de avaliação e utilizar uma metodologia de
avaliação adequada é fundamental como forma de tentar garantir que certos fatores
sejam considerados na avaliação. No Quadro 1 apresentamos quatro metodologias de
avaliação de softwares elaboradas especificamente para o setor educacional.
Quadro 1: Resumo de Metodologias de Avaliação de Softwares Educacionais
METODOLOGIAS
Gamez
(1998)
Gladcheff
(2001)
RESUMO
Este autor propõe uma técnica denominada TICESE: Técnica de Inspeção
de Conformidade Ergonômica de Software Educacional. Esta tem um
enfoque particular sobre a ergonomia de software aplicada a produtos
educacionais informatizados. Visa orientar o avaliador na realização de
inspeção de conformidade ergonômica dos softwares, considerando tanto os
aspectos pedagógicos quanto os aspectos referentes à interface deste tipo de
produto. Utiliza um “Formulário de Inspeção” que consiste em um checklist
para orientar o avaliador. Esta técnica apresenta uma proposta de
tratamento quantitativo dos dados.
Esta autora propõe um instrumento de avaliação de softwares educacionais
voltados para o ensino de Matemática no Ensino Fundamental, na forma de
questionário. O objetivo deste é permitir a avaliação de produto de software
educacional a fim de verificar o quanto o mesmo pode agregar valor ao
ambiente de ensino e aprendizagem de Matemática no Ensino Fundamental.
A metodologia considera aspectos técnicos, aspectos relacionados à
educação em termos gerais e aspectos específicos da Matemática. Nesta
metodologia é sugerida a elaboração de um relatório ao final da avaliação,
sem uma proposta de tratamento quantitativo dos dados.
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Este autor propõe um modelo de avaliação de softwares educacionais em
forma de listas de avaliações (checklist). São analisados critérios julgados
Oliveira (2001) necessários para um software educacional levando em consideração
aspectos técnicos e pedagógicos. Esta metodologia apresenta uma proposta
de tratamento quantitativo dos dados.
Esta autora propõe a metodologia SoftMat para avaliação de softwares
educacionais direcionados à Matemática do Ensino Médio, adaptada de
Batista (2004) Gladcheff (2001) e Gamez (1998). Esta metodologia é composta de um
checklist disposto em 5 blocos que consideram as normas técnicas da ISO,
aspectos educacionais em geral e aspectos particulares referentes à
Matemática do Ensino Médio. Esta técnica apresenta uma proposta de
tratamento quantitativo dos dados.
A próxima seção descreve o curso de extensão no qual as avaliações dos
softwares foram realizadas e apresenta, resumidamente, a metodologia de avaliação
utilizada (SoftMat). Apresentamos também a análise do resultado das avaliações de
quatro softwares educacionais voltados para Matemática do Ensino Médio.
3. Avaliação dos Softwares
As avaliações dos softwares foram realizadas durante o curso de extensão “Avaliação de
Softwares Educacionais: Desenvolvendo uma Postura Consciente”, conforme citado
anteriormente. Este foi desenvolvido com o objetivo de colaborar para uma prática
docente mais adequada aos dias atuais e incentivar o desenvolvimento de uma postura
consciente e crítica com relação à seleção de softwares educacionais.
O referido curso foi realizado no âmbito de um projeto de pesquisa conjunto
entre o CEFET-Campos e a UENF, no período de outubro de 2003 a fevereiro de 2004,
com uma carga horária total de 60 horas e carga horária semanal de 4 horas.
Foram selecionados, através de análise de currículo, 24 participantes
(professores de Matemática do Ensino Médio e alunos de Licenciatura em Matemática),
que possuíam uma boa base de conhecimentos em Informática.
A proposta principal do curso foi a conscientização de professores para a
necessidade de avaliação de um software educacional já disponível para uso. Portanto,
ressaltamos que as avaliações promovidas foram avaliações de produto.
Antecedendo a avaliação de cada software, foram desenvolvidas atividades que
permitiam a análise dos mesmos enquanto recurso pedagógico, o que favoreceu a
realização das avaliações com seriedade e de maneira bastante criteriosa. Após as
primeiras avaliações, os participantes do curso já exploravam os softwares conscientes
dos pontos a serem avaliados, estando familiarizados com a metodologia de avaliação.
Foram avaliados doze softwares, selecionados levando em consideração dois
fatores: disponibilidade de uma versão avaliativa completa (com prioridade para os
softwares gratuitos) e trabalhar (ou possibilitar o trabalho) com conteúdos de
Matemática do Ensino Médio.
Os resultados da avaliação destes softwares estão disponíveis no SoftMat
(http://www.cefetcampos.br/softmat), um repositório virtual de softwares educacionais
voltados para Matemática do Ensino Médio. Neste, os softwares estão acompanhados de
suas avaliações de qualidade - realizadas por potenciais usuários - e de atividades para o
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uso. Neste artigo apresentamos o resultado parcial dessa experiência, relatando a
avaliação de quatro softwares, selecionados por permitirem promover uma boa
caracterização do trabalho realizado.
A metodologia de avaliação utilizada (SoftMat) contém cinco blocos de
questões: A - documentação; B - questões operacionais; C - características pedagógicas
gerais; D - características pedagógicas baseadas nas propostas dos Parâmetros
Curriculares do Ensino Médio (PCNEM) para Matemática; E - características
pedagógicas segundo a proposta educacional do software.
O bloco E da referida metodologia é subdividido em duas partes: E-1, para
softwares cujas características são adequadas a uma proposta de educação mais
construtivista; E-2, para softwares cujas características são adequadas a uma linha mais
tradicional de educação. Esta metodologia apresenta, ainda, uma questão aberta, que
encerra a avaliação solicitando o registro da visão do avaliador a respeito do software
avaliado (pontos considerados positivos e negativos, importância dos softwares
enquanto recurso didático, entre outros).
Nas subseções a seguir apresentamos características dos quatro softwares
selecionados e analisamos a avaliação dos mesmos.
3.1. Avaliação do Régua e Compasso
O Régua e Compasso é um software livre, de autoria de René Grothmann (professor da
Universidade Católica Eichstätt – Alemanha). Seu código fonte está disponível
conforme Licença Pública Geral. O idioma original é o alemão, mas já foi traduzido
para vários outros idiomas, dentre eles o português. O responsável pela versão em
português é Alexandre R. Soares, professor multiplicador do NTE-Gravataí, RS.
Informações sobre o mesmo em http://www.khemis.hpg.ig.com.br/car/index.html.
O programa destina-se à Geometria Dinâmica, isto é, sua função é possibilitar o
trabalho com construções geométricas que podem ser alteradas movendo um dos pontos
básicos, permitindo a preservação das propriedades originais. Permite, então, explorar
diversos aspectos relativos à Geometria Plana Euclidiana e à Geometria Analítica.
A versão avaliada foi a 2.41, em português, e os percentuais de adequação do
software aos critérios analisados em cada bloco de questões da metodologia de
avaliação estão apresentados no Gráfico 1.
Gráfico 1. Percentuais de adequação do Régua e Compasso (versão 2.41) aos
critérios analisados
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Este software obteve um alto percentual de adequação aos aspectos referentes a
sua documentação (bloco A), o que atribuímos ao cuidado do autor (e do responsável
pela versão em português) em prestar informações sobre seus propósitos, características
e ferramentas diversas.
A instalação do software não foi considerada simples, devido à necessidade de
instalação de ambiente Java, o que influenciou, de certa forma, a avaliação do bloco B.
Ressaltamos que considerar algo simples, ou não, depende também da familiaridade
dos envolvidos com o tipo de atividade avaliada. E, no caso do curso, os avaliadores
eram professores e licenciandos da área de domínio, que não necessariamente estão
cotidianamente envolvidos em instalação de software.
O programa foi considerado pelos avaliadores como sendo bastante adequado às
propostas dos PCNEM (bloco D), contribuindo para a construção de abstrações
matemáticas, evitando meras memorizações.
A partir das respostas dadas pelos avaliadores, na questão aberta da metodologia
de avaliação, foi possível elaborar o Quadro 2, que apresenta os pontos positivos e
negativos da versão avaliada. Da mesma forma foram elaborados os Quadros 3, 4 e 5.
Quadro 2. Pontos Positivos e Negativos do Régua e Compasso (versão 2.41)
PONTOS POSITIVOS
O software:
• fácil de usar;
• interface agradável, bem didática;
• permite desde a realização de construções
geométricas bem simples até construções
bastante complexas, dependendo da capacidade
do usuário e de sua necessidade;
• favorece a construção do conhecimento;
• estimula a criatividade e o questionamento;
• oferece grandes possibilidades de interação
com o usuário;
• orienta as ações a serem tomadas através de
uma caixa de diálogo, apresentando mensagens
claras e objetivas;
• possui recurso que permite facilmente que o
usuário tenha certeza de que determinado ponto
pertence a uma determinada construção.
PONTOS NEGATIVOS
O software:
• requer a instalação de ambiente Java, o
que faz com que sua instalação não
seja das mais simples;
• apresenta uma ferramenta nomeada
inadequadamente: “Usar Ângulos
Obtusos” (não se trata de ângulos
obtusos e sim ângulos maiores que
180º);
• apresenta “ajuda” em inglês;
• não alerta o usuário sobre a
impossibilidade
de
determinadas
ações. Por exemplo, ao solicitar a
marcação dos pontos de interseção
entre duas retas paralelas (ou
segmentos paralelos).
3.2. Avaliação do OpenOffice.org Calc
O OpenOffice.org é o projeto de software livre, através do qual a Sun Microsystems
liberou a tecnologia de sua suíte de produtividade StarOffice. A proposta deste projeto é
desenvolver um conjunto de aplicativos multiplataforma, incluindo: i) processador de
texto; ii) planilha eletrônica; iii) gerador de apresentações; iv) programa de desenhos.
A Sun participa como um membro da comunidade do OpenOffice.org .
Segundo sua documentação, o alcance de suas funcionalidades pode ser
comparado com as conhecidas (e não livres) ferramentas compatíveis existentes no
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mercado. Os aplicativos estão disponíveis em diversos idiomas, inclusive o português.
O
fundador
e
coordenador
do
OpenOffice.org
Projeto
Brasil
(http://www.openoffice.org.br) é Claudio Ferreira Filho.
O OpenOffice.org Calc é uma planilha de cálculo eletrônica que possibilita a
formação de tabelas dinâmicas e de gráficos. Permite, entre diversas outras coisas,
aplicar fórmulas e funções a dados numéricos e efetuar cálculos. Não se trata de um
software desenvolvido especificamente para fins educacionais mas, como possui
recursos que podem ser explorados para tais propósitos, o mesmo pode ser considerado
um software educacional (o que está coerente com a definição de software dada por
Giraffa (1999) e apresentada anteriormente neste artigo).
A versão avaliada foi a 1.1.1a, em português, e o Gráfico 2 apresenta os
percentuais de adequação do software aos critérios analisados em cada bloco de
questões da metodologia de avaliação.
Gráfico 2. Percentuais de adequação do OpenOficce.org Calc (versão 1.1.1a)
aos critérios analisados
O OpenOficce.org Calc obteve um alto percentual no bloco A decorrente das
diversas
informações
disponíveis,
em
português,
no
endereço
http://www.openoffice.org.br , orientando instalação, descrevendo características, etc.
O software obteve, também, um alto percentual no bloco C, o qual atribuímos,
principalmente, ao fato de: i) possibilitar a exploração de conceitos que podem ser
relacionados com outros conceitos matemáticos e com outras disciplinas; ii) permitir
uma utilização diferenciada, dependendo da experiência e/ou da necessidade do usuário.
Atribuímos o percentual abaixo de 70 %, obtido no bloco E, ao fato do software
não ter sido elaborado especificamente para fins educacionais.
Quadro 3. Pontos Positivos e Negativos do OpenOficce.org Calc (versão 1.1.1a)
PONTOS POSITIVOS
PONTOS NEGATIVOS
O software:
O software:
• é ótimo para a elaboração de planilhas e gráficos, que • apresentou problemas com a
podem ser explorados em diversas disciplinas;
formatação
condicional
de
células,
durante
a
avaliação.
• é de fácil utilização;
• contribui para a construção do conhecimento;
• estimula o senso crítico;
• permite aplicação de lógica matemática.
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3.3. Avaliação do Winplot
O Winplot é um freeware, de autoria de Richard Parris (professor da Philips Exeter
Academy). O idioma original é o inglês, mas já foi traduzido para vários outros idiomas,
dentre eles o português. O responsável pela versão em português é o professor Adelmo
Ribeiro de Jesus, da Universidade Federal da Bahia.
Trata-se de um programa gráfico de propósito geral, permitindo o traçado e
animação de gráficos em 2D e em 3D, através de diversos tipos de equações (explícitas,
implícitas, paramétricas, e outras). O Winplot faz parte da Peanut Softwares, uma
coleção de softwares matemáticos, todos freewares, criados pelo Richard Parris. Na
homepage da Peanut Softwares (http://math.exeter.edu/rparris/), há um link para a
página do Winplot (http://math.exeter.edu/rparris/winplot.html).
A versão avaliada foi a compilada em 23/09/2003, em português. O Gráfico 3
apresenta os percentuais de adequação do software aos critérios analisados em cada
bloco de questões da metodologia de avaliação.
Gráfico 3. Percentuais de adequação do Winplot
critérios analisados
(versão 23/09/2003) aos
O percentual obtido por este software no bloco A foi decorrente da pouca
quantidade de informação disponível na sua documentação. Este fato é justificado pelo
tradutor do programa, como conseqüência da simplicidade e clareza da interface do
software (informação obtida durante a avaliação do mesmo através de e-mail enviado
por um dos avaliadores).
O software é pequeno e de fácil instalação, podendo ser facilmente copiado em
um disquete e utilizado em instituições educacionais, sem exigir grande infra-estrutura
tecnológica. Tais características justificam o alto percentual obtido no bloco B.
O Winplot foi considerado pelos avaliadores como sendo bastante coerente com
as propostas dos PCNEM (bloco D), contribuindo para a construção do conhecimento,
permitindo estabelecer conjecturas a partir da visualização da movimentação de
gráficos.
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Quadro 4. Pontos Positivos e Negativos do Winplot (versão 23/09/2003)
PONTOS POSITIVOS
PONTOS NEGATIVOS
O software:
O software:
• contribui para o desenvolvimento da capacidade de observação • não possui a função
e do senso crítico;
“desfazer” para casos
• possibilita a associação de idéias e contribui para evitar simples em que gráficos são
apagados por engano.
memorizações;
• desperta o interesse do usuário, permitindo melhor
aprendizagem, favorecendo a construção do conhecimento;
• permite promover “animação” de gráficos a partir de parâmetros
adotados e traça, simultaneamente, gráficos de uma família de
equações, considerando determinados parâmetros;
• traça gráficos em 2D e em 3D (duas e três dimensões).
3.4. Avaliação do Winmat
O Winmat é um freeware, de autoria de Richard Parris, fazendo parte, portanto, da linha
Peanut Softwares. O software só apresenta versão em inglês e o endereço de sua página
na Internet é http://math.exeter.edu/rparris/winmat.html .
O programa permite construir matrizes e operar com elas. É possível trabalhar
com números inteiros, reais e complexos. Determina, entre outras coisas, matriz
inversa, matriz transposta, determinante, traço da matriz e polinômio característico.
O software sofreu uma atualização recente, tendo sido esta compilada em
08/02/04, porém, a versão avaliada foi a anterior a esta, a compilada em 20/10/2001,
devido ao período da realização da avaliação. O Gráfico 4 apresenta os percentuais de
adequação do software aos critérios analisados em cada bloco de questões da
metodologia de avaliação.
Gráfico 4. Percentuais de adequação do Winmat (versão 20/10/2001) aos
critérios analisados
Assim como o Winplot, o Winmat apresenta pouca documentação, o que
justifica o percentual do bloco A. Porém, possui uma interface simples e de fácil
utilização.
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O software é pequeno e de fácil instalação, assim como o Winplot, o que
justifica o percentual obtido no bloco B.
Atribuímos o baixo percentual do Winmat no bloco D ao fato do mesmo
funcionar de maneira semelhante a uma calculadora, não estimulando a criatividade do
usuário. Requerendo, portanto, muito cuidado na preparação e/ou seleção de atividades
para que o mesmo possa colaborar para a construção de conhecimentos.
Quadro 5. Pontos Positivos e Negativos do Winmat (versão 20/10/2001)
PONTOS POSITIVOS
O software:
• possibilita, de maneira rápida, a realização de
cálculos envolvendo matrizes;
• alerta sobre a impossibilidade de realização de
determinadas operações entre certas matrizes;
• apresenta diversas opções de matrizes (de zeros,
randômicas, determinadas por fórmulas, entre
outras).
PONTOS NEGATIVOS
O software:
• não apresenta versão em português;
• apresenta tudo pronto ao aluno, não
permitindo que ele desenvolva o
raciocínio;
• oferece pouco estímulo à criatividade
do usuário.
3.5. Percentuais Gerais de Adequação
O Gráfico 5 apresenta, simultaneamente, os percentuais obtidos pelos quatro
softwares em cada um dos blocos da metodologia de avaliação, no intuito de
possibilitar uma visão geral das avaliações dos mesmos.
Gráfico 5. Percentuais de cada software por bloco
No bloco A, os dois softwares melhor avaliados foram o Régua e Compasso e o
OpenOficce.org Calc, dois softwares livres muito bem documentados.
No bloco B, todos obtiveram percentuais acima de 75%, o que indica tratar-se de
quatro bons softwares quanto a questões operacionais. O destaque deste bloco foi o
Winplot (88%) que é um software de instalação simples, dotado de recursos bastante
adequados aos seus propósitos.
Nos blocos C e D, o Régua e Compasso, o OpenOficce.org Calc e o Winplot
obtiveram percentuais acima de 80%, o que indica que estes são bastante adequados aos
critérios pedagógicos gerais e também aqueles relativos aos PCNEM. O destaque do
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bloco C foi OpenOficce.org Calc, que, embora não desenvolvido especificamente para
fins educacionais, obteve um percentual de 89% de adequação aos critérios
pedagógicos.
No bloco E, o Winplot foi o melhor avaliado (83%), seguido do Régua e
Compasso (78%), ambos direcionadas a uma linha construtivista de educação e
considerados pelos avaliadores como bem adequados a esta.
A partir da média ponderada dos percentuais dos blocos de cada software,
obtivemos um percentual geral para cada um deles (Gráfico 6). Para este cálculo foram
atribuídos, pelos avaliadores, os seguintes pesos para os blocos de questões: i) bloco A:
1; ii) bloco B: 2; iii) bloco C: 3; bloco D: 3; iv) bloco E: 3.
Gráfico 6. Percentuais gerais de adequação dos softwares avaliados
Atribuímos o percentual geral do Winplot (84%), do Régua e Compasso (83%),
e do OpenOficce.org Calc (79%), entre outros fatores, as suas propostas que favorecem
a construção de conhecimentos matemáticos, possibilitando a exploração de diversos
conteúdos do Ensino Médio.
5. Considerações finais
Qualidade é fundamental para qualquer produto ou serviço, particularmente no que diz
respeito à Informática. Desenvolver e selecionar softwares de qualidade têm adquirido
uma importância primordial.
Os softwares educacionais podem ser ferramentas importantes para a construção
do conhecimento. No entanto, requerem avaliação de sua qualidade no que diz respeito
a aspectos técnicos e a aspectos inerentes ao setor educativo.
A experiência de avaliar software educativo com professores e licenciandos da
área de domínio mostrou-se bastante pertinente, permitindo apresentar, para
profissionais da mesma área, a visão de outros sobre um potencial recurso educacional.
Além disso, o processo de avaliação realizado evidenciou a importância de envolver
potenciais usuários e utilizar uma metodologia adequada, como forma de tentar garantir
que critérios importantes para o setor em questão sejam considerados. Também ficou
evidente a importância de que o processo de avaliação seja bem orientado e estruturado.
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6. Referências Bibliográficas
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Características de qualidade e diretrizes para o seu uso: NBR 13596:1996.
ABNT (2001) Tecnologia de informação – Avaliação de produto de software – parte 1:
Visão geral: NBR ISO/IEC 14598-1:2001.
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Avaliar é Preciso: o caso de softwares educacionais para