Empresários e educação:
reflexões sobre o projeto
educacional da federação
das indústrias de minas
gerais1
André Silva Martins2
Adriane Silva Tomaz3
Leonardo Docena Pina4
Resumo
O presente trabalho é resultado de uma investigação que
visa apreender os fundamentos do projeto educacional
da Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg.
Trata-se da maior entidade de representação de interesses
empresariais de Minas Gerais e uma das mais importantes do
Brasil com atuação significativa na educação. Considerando
a sua importância no cenário mineiro e brasileiro, o presente
trabalho investigou os fundamentos das proposições da
Fiemg para a educação escolar e não escolar, procurando
apreender as possíveis implicações para a formação
humana. A partir da perspectiva analítica gramsciana, a
1
O presente trabalho teve contribuições dos seguintes licenciados e graduandos:
Carlos Eduardo de Souza, Thalita Lopes da Silva, Camila de Azevedo Souza,
Poliana Stopa Moreira e Lúcia Aparecida Ávila.
2
Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense; Professor da
Faculdade de Educação na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF;
Pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Trabalho da FACED-UFJF; É
integrante do corpo docente do PPGE/UFJF. [email protected]
3
Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense; Pesquisadora
associada ao Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação da UFJF, pesquisadora
do Colégio de Aplicação João XXIII da Universidade Federal de Juiz de Fora –
UFJF. [email protected]
4
Mestre em Educação pela UFJF; Pesquisador associado ao Núcleo de Estudos
sobre Trabalho e Educação da UFJF, doutorando em Educação na UFJF,
professor da rede municipal de Juiz de Fora. [email protected]
análise baseou-se em fontes documentais produzidas pela
entidade. O estudo revela que o projeto educativo da Fiemg
não se restringe ao treinamento profissional; ao contrário,
tem uma perspectiva ampla, pois procura abordar questões
relativas à formação moral e intelectual dos trabalhadores
dentro e fora do espaço escolar. A fundamentação do
projeto educativo da Fiemg está vinculada à teoria do
capital humano e à pedagogia das competências. O estudo
concluiu que a Fiemg apresenta um projeto educativo
fundamentado numa lógica instrumental, algo que restringe
as possibilidades da condição humana.
Palavras-chave: Formação humana. Empresariado.
Hegemonia.
André Silva Martins
Adriane Silva Tomaz
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Apresentação
Educ. foco,
Juiz de Fora,
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O entendimento de que a educação é uma prática social
complexa e abrangente que se desenvolve a partir de concepções
e práticas de diferentes sujeitos sociais, não se restringindo
exclusivamente à dinâmica da instituição escolar, abre uma
série de possibilidades de investigação sobre a problemática
da formação humana. Diante desse vasto universo de
possibilidades, interessa-nos tratar do fenômeno educativo
no âmbito das formulações e práticas de empresários do setor
industrial por considerarmos que as experiências produzidas
por esse importante grupo social podem repercutir de algum
modo sobre a formação escolar e profissional de uma parcela
significativa da sociedade brasileira.
Nossa perspectiva de análise, portanto, concentra-se nas
formulações e práticas empresariais para a educação com a
finalidade de apreender o conteúdo das demandas desse grupo
social para a formação humana no Brasil no início do século
XXI.
O presente trabalho apresenta um recorte específico
ao tema geral anteriormente delineado, pois se concentra
na análise das formulações da Federação das Indústrias de
Minas Gerais (Fiemg) para educação. A escolha da Fiemg
não é arbitrária. Essa entidade fundada em 1942 tem um
papel político de destaque no estado de Minas Gerais, sendo
uma das mais importantes organizações empresarias do país,
com inserção ativa no interior da Confederação Nacional
das Indústrias (CNI)5. A capacidade de propor e de realizar
projetos educativos faz da Fiemg um importante sujeito
coletivo no delineamento da educação. Nesse sentido, o
objetivo do presente trabalho é apresentar elementos que
explicitem a perspectiva de educação da Fiemg nos anos 2000
e sua importância na elaboração de projetos educativos.
A metodologia da investigação foi baseada nas referências
sobre pesquisa documental (MARCONI; LAKATOS, 1990)
articulada a partir da perspectiva gramsciana de análise. A
constituição do corpus documental envolveu os seguintes
procedimentos: identificação dos documentos produzidos
pela FIEMG relacionados à questão educacional; organização
dos documentos identificados pelas temáticas “educação
escolar” e “educação não escolar”; seleção de documentos
mais significativos em termos de dados dentro de cada
temática. Fizeram parte do corpus documental as seguintes
produções da FIEMG sobre educação: relatórios, folders,
projetos, revistas, textos eletrônicos e impressos em geral.
Depois de delimitado o corpus documental, as produções da
FIEMG foram examinadas a partir de categorias analíticas
estruturadas com base nos fundamentos da Pedagogia
Histórico-Crítica (SAVIANI, 1987; 2005). Entre elas,
destacamos: finalidade da educação; perspectiva pedagógica;
concepção de ser humano.
As reflexões sistematizadas no presente artigo sobre o
papel político e pedagógico da FIEMG visam contribuir com
o debate mais amplo sobre as perspectivas dos projetos de
educação e formação humana na atualidade.
5
Criada em 1938, a CNI é uma organização da sociedade civil que representa os
interesses do empresariado da indústria em âmbito federal. É constituída por 27
federações estaduais da indústria, entre elas, a Fiemg. Sua função central consiste
em formular diretrizes e defender posições que fortaleçam o setor industrial no
país. Para saber mais, acessar: <http://www.cni.org.br>
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e educação:
reflexões sobre
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Empresários e Educação: estudos sobre o tema
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Diferentes estudos demonstram que o empresariado
brasileiro vem atuando historicamente de maneira sistemática
na definição de projetos e estratégias para assegurar seus
interesses na sociedade brasileira (DINIZ, 1978; DINIZ e
BOSCHI, 1978; DREIFUSS, 1981; FERNANDES, 1981;
LEOPOLDI, 2000; BIANCHI, 2001; GROS, 2003).
Em relação à posição do empresariado frente à temática
educacional, os estudos de Neves (1994 e 1997) comprovam
que, entre os anos de 1980 e o período inicial da década de
1990, os empresários industriais no Brasil se reestruturaram
politicamente para alcançar maior capacidade de intervenção
na agenda pública brasileira, tanto para influenciar a definição
de um projeto de desenvolvimento para o país quanto para
intervir na definição da política educacional, tendo como
parâmetros as exigências internacionais da concorrência,
eficiência e competitividade industrial e as pressões
populares por um projeto alternativo de desenvolvimento e
de educação.
Na mesma linha, a pesquisa de Rodrigues (1998)
analisou o esforço do empresariado do setor industrial para
fortalecer a CNI como sujeito político coletivo capaz de
interferir nos processos de hegemonia, sobretudo naqueles
ligados às disputas no campo educacional. Segundo esse
autor, ao longo do século XX, o empresariado industrial
aprimorou sua concepção pedagógica. Nos anos finais do
século, essa elaboração ganhou novos contornos frente à
intensificação da concorrência intercapitalista em nível
mundial. Segundo o autor, o empresariado concebia que a
educação dos trabalhadores no final do século XX precisaria
tornar a força de trabalho mais eficiente, permitindo ao país
se inserir na nova economia globalizada. Isso significou defesa
ampla e irrestrita da pedagogia das competências, uma das
mais importantes construções pedagógicas que penetrou os
currículos da Educação Básica e da Educação Superior no
país para ordenar os processos formativos nos anos de 1990
(FERRETI, 1997; RAMOS, 2001).
Já nos anos iniciais do século XXI, as preocupações
dos empresários com a educação tornaram-se ainda mais
intensas. Martins (2009a) argumenta que o projeto educativo
empresarial renovado, além de atualizar aspectos da pedagogia
das competências no âmbito da educação escolar, procurou
difundir a necessidade de renovação da concepção de
democracia e de práticas de cidadania e participação para toda
a sociedade no âmbito da educação política, principalmente
nos centros industrializados do país. Esse estudo afirma que
a educação se manteve como um tema importante da agenda
política empresarial no país neste início de século.
Os estudos de Tomaz (2003) e de Graciolli (2006)
confirmam de modo particular esse movimento na realidade
de Minas Gerais. Seus estudos oferecem elementos que
comprovam que empresariado vem se dedicando ao tema
educação no estado.
Partindo de Neves (2005), é possível verificar que as
ações empresariais na educação na atualidade se materializam
como expressão política de um amplo movimento com
a finalidade de afirmar no país algumas referências que
atualizem o padrão cultural de sociabilidade frente às
exigências da chamada “sociedade do conhecimento”. Assim
sendo, é necessário analisar as ações empresariais na educação
no âmbito das relações de hegemonia, tal como concebeu
Gramsci (2000).
Cabe ressaltar que compreendemos que as mudanças
que ocorrem no padrão de sociabilidade em uma formação
social em um dado tempo histórico são de natureza complexa.
Elas implicam em alterações significativas na forma de sentir,
pensar e agir do ser social, efetuadas por meio de complexos
processos educativos escolares e não escolares, justamente
porque “a ‘natureza’ do homem é o conjunto das relações
sociais” e são essas relações que decisivamente determinam a
consciência humana (GRAMSCI, 1999, p.51). Considerando
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que o ser social é “[...] constituído por elementos puramente
subjetivos e individuais e de elementos de massa e objetivos
ou materiais, com os quais o indivíduo está em relação
ativa” (GRAMSCI, 1999, p. 406), fica evidenciado que a
mudança no padrão de sociabilidade como requerido pelo
empresariado não se desenvolve por meio da espontaneidade,
mas sim através de projetos que buscam orientar a formação
humana.
Compreendemos que os projetos educacionais
(também os artísticos, ambientais, etc.) são resultantes de uma
intencionalidade inscrita nas práticas sociais concretas, sendo
que sua forma e conteúdo sempre expressam uma interpretação
da realidade e uma intencionalidade formativa. Portanto, os
projetos educativos podem ser interpretados como respostas a
uma dada realidade.
Com esta perspectiva analítica gramsciana e
considerando os aspectos gerais da intervenção empresarial
na educação no Brasil é que buscamos apreender o conteúdo
dos projetos educativos da Fiemg para a formação escolar e
profissional em Minas Gerais.
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Uma breve caracterização da Fiemg
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A Fiemg é um sistema de representação de interesses
bastante complexo composto por instâncias deliberativas
internas, organismos de representação regional dentro de
Minas Gerais e por seções de órgãos de caráter nacional
presentes dentro do estado. Nele incluem-se: a seção estadual
do Instituto Euvaldo Lodi- IEL-MG; sessenta unidades do
Sistema Social da Indústria- Sesi-MG; cento e trinta unidades
do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial- Senai-MG.
Além de defender os interesses específicos do setor perante a
aparelhagem estatal, o sistema Fiemg se posiciona também
frente às frações dos trabalhadores da indústria em temas
como saúde, artes, lazer e educação a partir de sua visão de
mundo.
O estudo de Santos e Lucena (2008) demonstra que a
Fiemg vem se dedicando à elaboração e à proposição de ações
educativas para adequação da força de trabalho de acordo
com as demandas da indústria mineira desde os anos de
1940. Nos anos de 1990, o organismo alargou o seu espectro
de intervenção, interferindo de maneira direta na definição
da política educacional no estado movida pelo binômio
“educação e competitividade”.
Identificando a força de trabalho humana como
recurso necessário ao aumento da produtividade industrial,
em 1996, a Federação propôs ao governo Eduardo Azeredo
(1995-1998) uma parceria intitulada Programa Adote
uma Escola. Em 16 de abril de 1997, o referido governo
sancionou a Lei 12.490, que estabeleceu bases legais para a
ação das empresas na adoção de escolas públicas no estado de
Minas de acordo com os interesses da Federação. A referida
lei instituiu a possibilidade concreta de disseminação de
preceitos empresariais no espaço escolar, envolvendo medidas
de caráter administrativo, infraestrutural e pedagógico nas
escolas públicas de Minas Gerais (FIEMG, 1996). Segundo
Baquim (2003), essa iniciativa serviu para que a Fiemg
difundisse a ferramenta empresarial intitulada de “qualidade
total” nas escolas mineiras.
Nos anos 2000, inspirada sob os preceitos da
“responsabilidade social”6, a Federação ampliou suas
formulações, passando a defender que qualquer empresa,
além de cumprir sua função econômica, deveria assumir
também um papel social mais efetivo, principalmente no
âmbito educativo, promovendo ações de fortalecimento de
laços necessários à coesão cívica, criando um ambiente de
colaboração entre capital e trabalho (FIEMG, 2010a). A
posição da Fiemg é de que na “sociedade do conhecimento” as
empresas devem buscar diferenciais e, nesse processo, devem
contribuir para a afirmação da nova cidadania.
6
Para uma compreensão crítica sobre a noção de responsabilidade social, ver
Martins (2009).
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Interpretamos que essa nova orientação procura trazer
respostas inovadoras às implicações sociais e políticas do atual
processo de mundialização da economia, tal como analisado
por Chesnais (2005).
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O diálogo entre Fiemg e CNI sobre educação
O projeto educativo da Fiemg, executado pelas unidades
do Senai-MG e do Sesi-MG, está alicerçado na compreensão de
que “investir em educação e qualidade de vida do trabalhador
são requisitos indispensáveis (sic!) para assegurar o aumento
da produtividade de uma empresa” (FIEMG, 2007, s/p.).
Nessa linha, a Fiemg afirma que seu projeto:
[...] visa à formação de cidadãos qualificados para atuar
de maneira autônoma, crítica, consciente e participativa,
tanto no trabalho quanto na vida cotidiana. Seus cursos
possibilitam ao aluno a construção personalizada de
seu projeto educativo. Para isso, estrutura currículos
com base em perfis profissionais que retratam as
competências requeridas pelo mundo do trabalho
e necessárias à eficácia dos processos produtivos na
indústria (FIEMG, 2008, p.1).
Essa definição vai ao encontro da formulação da CNI
sobre educação:
A educação é uma das vertentes fundamentais para o
crescimento da economia, seja pelo efeito direto sobre
a melhoria da produtividade do trabalho – formação de
trabalhadores mais eficientes, capital humano – seja pelo
aumento da capacidade do país de absorção e geração de
novas tecnologias (CNI, 2007, p.9).
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A partir desses enunciados evidencia-se que a educação
em ambas as organizações se constitui em fator direto de
aumento da competitividade industrial e de desenvolvimento
de cidadania. A Confederação acredita que a educação torna
o cidadão-trabalhador melhor preparado para produzir mais
e melhor, contribuindo para que o ambiente organizacional
e social seja marcado pela estabilidade, colaboração e
produtividade, fortalecendo os laços sociais entre empresários
e trabalhadores.
A formação de capital humano é indubitavelmente uma
das principais referências do projeto educativo da Fiemg. A
capacidade política e operacional e a experiência acumulada
durante décadas pela Federação se tornaram importantes
diferenciais para traduzir o enunciado geral em prática
concreta.
Se a década de 1990 foi um período da reestruturação
produtiva com efeitos importantes sobre a condição de vida
do trabalhador (FRIGOTTO, 1995; ANTUNES, 1999;
ALVES, 2005), a década de 2000 pode ser identificada como
consolidação desse processo e aprofundamento de referências
políticas, ampliando o télos empresarial da “competitividade”
(RODRIGUES, 1998) para um novo télos: a “competitividade
com responsabilidade social” (MARTINS, 2009). Isso
significa relacionar num mesmo projeto de desenvolvimento
o econômico com o social.
No âmbito da CNI, isso pode ser traduzido em alguns
números que envolvem a aplicação das ações educativas para
alavancar o crescimento econômico. A Confederação definiu
como meta obter 16,2 milhões de matrículas no período 20072010 em todo o país, das quais: 7,1 milhões de matrículas
em educação básica e continuada nas unidades do Sesi e 9,1
milhões de matrículas em educação profissional nas unidades
do Senai (CNI, 2007).
Na edição nº 1 da revista Nossa Escola editada pela Fiemg7
existem vários matérias que explicitam o comprometimento da
Federação com os postulados e metas traçadas pela CNI. Como
exemplo, podemos citar as formulações do superintendente
7
Trata-se de uma revista bimestral, sob a coordenação da Fiemg, que explicita as
ações educativas do Sesi e Senai no estado de Minas Gerais.
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do Sesi-MG e do superintende do Senai-MG veiculadas em
entrevistas concedidas na referida publicação. Para o primeiro,
a educação escolar deve ir além dos aspectos tradicionais da
formação para abranger elementos contemporâneos, tais como:
responsabilidade social, empreendedorismo e criatividade.
Nessa linha, defende que:
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O nosso maior desafio é melhorar, a cada dia, a qualidade
da educação, conforme estabelece o Programa Educação
para a Nova Indústria [da CNI]. Isso envolve ações
de expansão e de diversificação da oferta de educação
básica continuada; a modernização da infraestrutura das
escolas; o aperfeiçoamento constante da equipe técnica;
a atualização contínua do material didático e a inclusão
digital de alunos e educadores (SPERLING, 2008, p. 8).
Para o superintende do Senai-MG, o sistema educacional
brasileiro precisa se diversificar para atender às novas demandas
geradas pela inovação tecnológica. Ele defende que o SenaiMG vem cumprindo sua missão. Nessa linha, defende que a
diretriz da CNI para a educação
[...] é uma resposta [...] à demanda da sociedade
industrial. A meta do Senai/MG até 2010 é investir R$
700 milhões em modernização de equipamentos, em
novas unidades operacionais, em tecnologias de educação,
em treinamento e capacitação dos instrutores e em um
programa de inclusão digital (LEÃO, 2008, p. 10).
Considerando esses elementos, cabe ressaltar que:
Em um trabalho conjunto, Sesi e Senai/MG já formaram
milhões de pessoas, da educação básica à profissional.
Para ambas, a educação é um dos meios mais seguros
para garantir o crescimento da economia, a melhoria da
qualidade de vida do trabalhador e o desenvolvimento
sustentável do país (FIEMG, 2008b, p.14).
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O esforço da Fiemg ao longo dos anos 2000 foi
primordialmente atualizar o projeto educativo empresarial no
contexto de crescimento da economia nacional para oferecer
à sociedade em geral e aos trabalhadores da indústria e seus
familiares, de forma específica, referências morais, intelectuais
e comportamentais compatíveis com a dinâmica social e
econômica da chamada “sociedade do conhecimento”.
Verificamos que as relações entre Fiemg e CNI
ultrapassam o campo da obediência legal e da formalidade. O
télos da competitividade com responsabilidade social unificou
e deu organicidade às ações, fortalecendo o projeto educativo
da Fiemg.
Considerando que a Fiemg consolidou o complexo
SESI/SENAI como a maior rede de educação privada em
Minas Gerais, é possível inferir que o projeto educativo da
Federação tem um alcance considerável na formação humana
no estado.
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e educação:
reflexões sobre
o projeto
educacional da
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Propostas de educação não escolar da Fiemg
As ações educativas não escolares da Fiemg visam
promover a qualidade de vida do trabalhador da indústria e de
seus familiares por meio de programas variados para consolidar
a competitividade da indústria mineira no cenário nacional e
internacional.
O primeiro programa a ser destacado abrange o tema
“saúde”. As iniciativas vinculadas ao programa visam promover
a melhoria da condição de vida do trabalhador por meio da
difusão de hábitos saudáveis de vida. Para a Fiemg (2009c),
saúde não é apenas ausência de doença, mas sim um estado de
bem-estar físico, mental e social que interfere na produtividade
do trabalho. Assim, educar para a saúde é, antes, de tudo,
educar comportamentos e hábitos que podem colaborar no
plano imediato para a redução de afastamentos por problemas
médicos e de acidentes de trabalho, repercutindo positivamente
no padrão de sociabilidade ao qual o trabalhador deve se
submeter. A saúde do trabalhador é pensada nos seguintes
termos: “educar para prevenir é o caminho mais econômico
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para garantir uma equipe saudável, motivada e produtiva”
(FIEMG, 2010b).
O interesse da Fiemg pela vida privada dos trabalhadores
é um fato social de significativa importância para revelar
aspectos do projeto educativo da entidade. Considerando o
conceito de hegemonia de Antonio Gramsci, é possível verificar
que o acompanhamento e o aconselhamento contidos nos
programas citados se constituem como táticas para assegurar a
formação de um perfil humano compatível com a perspectiva
de sociabilidade do empresariado.
Na perspectiva empresarial, todo o processo de
complexificação da produção e busca pelo aumento da
produtividade na dinâmica capitalista exige a racionalização
da vida como um todo, pois a disciplina do trabalho é de
modo mais amplo também uma disciplina social (GRAMSCI,
2001). Os hábitos, os costumes e as referências morais
precisam ser ordenados a partir de referências compatíveis
com a idealização do que seja o novo trabalhador e cidadão.
Esse aspecto do projeto educativo da Fiemg procura
reduzir as experiências da classe trabalhadora ao universo do
“mundo empresarial” de tal modo que a consciência gerada por
essa realidade produza um conformismo social desvinculado
da condição de classe. Trata-se de um processo de assimilação
moral e comportamental para tornar o trabalhador-cidadão
eficiente e produtivo.
Em que pesem as particularidades históricas da análise
de Gramsci sobre o fenômeno do industrialismo, o conteúdo
da formulação nos parece significativo para a compreensão
crítica do projeto educativo da Fiemg. Para o autor,
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[...] a racionalização do trabalho e o proibicionismo
estão indubitavelmente ligados: as investigações
dos industriais sobre a vida intima dos operários, os
serviços de inspeção criados por algumas empresas para
controlar a “moralidade” dos operários são necessidades
do novo método de trabalho. Quem ironizasse estas
iniciativas (mesmo fracassadas) e visse nelas apenas
uma manifestação hipócrita de “puritanismo” estaria
se negando qualquer possibilidade de compreender
a importância, o significado e o alcance objetivo do
fenômeno americano, que é também o maior esforço
coletivo até agora realizado para criar, com rapidez
inaudita e com uma consciência do objetivo jamais vista
na história, um tipo novo de trabalhador e de homem
(GRAMSCI, 2001, p.266).
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e educação:
reflexões sobre
o projeto
educacional da
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Minas Gerais
O segundo programa se relaciona ao tema “cultura”.
As iniciativas vinculadas ao tema visam a coordenar, apoiar,
estimular e produzir atividades artísticas (música, teatro,
artes plásticas, folclore), contribuindo para socializar o
acesso da população a essas manifestações. Cabe destacar
que nesse programa, a Fiemg busca atender não somente os
trabalhadores da indústria e seus familiares, mas também
outros segmentos populacionais, principalmente, aqueles que
vivem em condições de risco social.
O terceiro programa aborda o tema “lazer e esportes”.
Afirma-se que:
Construir uma vida saudável implica em adotar
certos hábitos também no convívio social e familiar,
os programas de Lazer e Esportes do SESI são
oportunidades oferecidas para ampliar esta concepção
de vida saudável e consolidar para o trabalhador e seus
dependentes uma gestão responsável do estilo de vida
(FIEMG, 2009c, s/p).
A Fiemg oferece no âmbito desse programa uma série
de atividades abertas ao público de todas as faixas etárias. O
esporte/lazer não é concebido como direito social, mas sim
como um meio de promoção da vida saudável para melhoria
da produtividade. Esse entendimento limita as potencialidades
educativas a uma dimensão educativa muito restrita. Trata-se
de uma visão funcionalista de esporte/lazer (MARCELLINO,
1987).
A noção de vida saudável relacionada aos dois últimos
eixos temáticos vincula-se a uma estratégia de agregação de
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valor ao capital humano. Na visão da Fiemg, o que está em
jogo não é a defesa da vida por princípio humanista, mas
sim uma questão estratégica relacionada à valorização do
capital.
Mais uma vez recorremos às reflexões de Gramsci
para analisar os programas reunidos nos temas “saúde” e
“lazer e esporte”. Referindo-se também ao fenômeno do
industrialismo e considerando a realidade da indústria Ford, o
pensador italiano verificou que
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As iniciativas “puritanas” [dos empresários] têm apenas
o objetivo de conservar, fora do trabalho, um certo
equilíbrio psicofísico, capaz de impedir o colapso
fisiológico, do trabalhador, coagido pelo novo método
de produção. Este equilíbrio só pode ser puramente
externo e mecânico, mas poderá se tornar interno se
for proposto pelo próprio trabalhador e não imposto
de fora, por uma nova forma de sociedade, com meios
apropriados e originais (GRAMSCI, 2001, p.267).
De fato, é importante que o trabalhador tenha hábitos
saudáveis de vida. No entanto, para a Fiemg, não está em
questão o quanto a exploração do capital sobre o trabalho
deteriora a saúde do trabalhador, mas sim o que o trabalhador
pode fazer para minimizar os impactos dos processos de
trabalho sobre sua saúde. Na lógica da Fiemg, ao incorporar os
preceitos do “padrão de vida saudável”, o trabalhador mantém
sua capacidade produtiva e ainda internaliza as referências da
sociabilidade contemporânea.
Concepção de educação escolar da Fiemg
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Sobre as preocupações da Fiemg acerca da educação
escolar também são significativas. A entidade reconhece
que diante do aprofundamento da ciência e da tecnologia
aplicada diretamente na produção e das mudanças efetivas no
modo de convivência social, a formação da futura geração de
trabalhadores precisa ser atualizada para entrar em sintonia com
as novas demandas empresariais de produção. Considerando
que na indústria do século XXI o esforço muscular tende a ser
secundarizado frente ao esforço intelectual, a Fiemg considera
que é necessário formar um novo perfil humano para o
trabalho e cidadania.
Assim, a Fiemg define claramente as bases dos processos
formativos no âmbito das unidades do Sesi-MG e do SenaiMG para os níveis e modalidades da educação escolar como
referência de organização geral do sistema escolar.
Empresários
e educação:
reflexões sobre
o projeto
educacional da
federação das
indústrias de
Minas Gerais
O Ensino Fundamental estimula o potencial de
aprendizado do aluno, por meio do pleno domínio
da leitura, da escrita e do cálculo; a interação social e
tecnológica, a aquisição de competências e habilidades
e a formação de valores e atitudes adequadas à nossa
realidade e cultura. Objetiva formar cidadãos com
consciência crítica para que possam atuar de forma
representativa na sociedade e no futuro mercado de
trabalho (FIEMG, 2005a, p.1).
Mesmo sem estabelecer um vínculo direto entre educação
escolar e produção, esse enunciado termina por aproximar a
escolarização às demandas do mercado. A mesma perspectiva
também se reproduz nas formulações para o Ensino Médio.
Para a Fiemg (2005b), esse nível de ensino deve desenvolver
competências básicas necessárias ao mundo do trabalho. Isso
significa que a escolarização deve assegurar uma vinculação
mais próxima com o mundo da produção.
Sobre a Educação Profissional, a Fiemg entende que esta
[...] ultrapassa os limites da escola. [...] É a maneira
de emancipar o indivíduo pelo trabalho. Seu projeto
educacional visa a formação de cidadãos capazes de atuar
de maneira autônoma, crítica, consciente e participativa,
tanto no trabalho quanto na vida cotidiana.
Os cursos oferecidos pelo SENAI possibilitam ao aluno
a construção personalizada de seu projeto educativo.
Para isso, estrutura seus currículos com base em perfis
193
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profissionais que retratam as competências requeridas
pelo mundo do trabalho (FIEMG, 2005b, s/p).
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Adriane Silva Tomaz
Leonardo Docena Pina
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Para a Fiemg, a Educação Profissional tem como
centralidade a dimensão específica da formação de competências
do cidadão-trabalhador. Isso significa que essa modalidade não
deve se limitar a treinar habilidades técnicas, deve também
desenvolver competências que fortaleçam a identidade do
futuro trabalhador em consonância com as transformações dos
processos produtivos. A partir dessas referências, a expansão dos
cursos de Educação Profissional no interior de Minas Gerais
estaria “contribuindo para a construção de uma sociedade justa
e solidária” (FIEMG, 2007b, p.16).
As orientações para a Educação Básica e Educação
Profissional apresentadas pela Federação procuram ordenar a
formação humana com as demandas reais da classe empresarial
em seu conjunto. Nesse processo, identificamos que a referência
fundamental é a pedagogia das competências, cujo foco é
defender a valorização da dimensão experimental do saber em
favor do enfraquecimento das dimensões sócio-históricas do
conhecimento (RAMOS, 2001). Nessa perspectiva pedagógica,
os fundamentos científicos se limitam à aplicabilidade imediata
daquilo que é concebido como necessário ou útil.
A ênfase na pedagogia das competências é reforçada
em várias edições da revista Nossa Escola (FIEMG, 2008b;
2008c; 2008d; 2009a; 2009b; 2010b). Cabe destacar que a
publicação reiteradamente fortalece a compreensão de que a
preparação contemporânea para o mundo do trabalho deve ser
balizada por algumas capacidades, entre elas: responsabilidade
social, autonomia, criatividade, iniciativa e comunicação. A
linha editorial propõe que a indústria competitiva do século
XXI precisa de trabalhadores mais inteligentes, pessoas capazes
de inovar sempre.
Tais formulações estão fundamentas no relatório
produzido pela Comissão Internacional sobre Educação para
o Século XXI da Unesco, sob coordenação de Jacques Delors
(DELORS, 1998) . Isso significa que Fiemg conseguiu traduzir
à visão pragmática da educação dominante no mundo em seu
projeto de formação das futuras gerações de trabalhadores, o
que pode significar sérios obstáculos à formação omnilateral.
Outro aspecto que merece destaque são os conteúdos
das expressões “crítica” e “autonomia” recorrente nas
formulações da Fiemg em relação à promoção do pensamento
dos alunos formados em suas unidades educativas. Para tratar
dessa problemática, resgatamos o programa denominado de
“Escola Ecossustentável”. Para a Federação, o programa visa
a desenvolver comportamentos ambientalmente corretos
de modo que os alunos passem a assumir posturas novas na
escola e em suas residências, influenciando colegas, familiares
e a comunidade na qual estão inseridos (FIEMG, 2007).
No âmbito do programa, são considerados comportamentos
socialmente corretos: uso racional da água e da energia elétrica;
coleta seletiva de lixo; reciclagem e plantio de mudas.
Várias ações específicas envolvendo a noção de
sustentabilidade são desenvolvidas ao longo de um ano escolar
de forma interdisciplinar. O objetivo é que os alunos assimilem
que a “sustentabilidade é a condição do que é sustentável. E,
para se manter nessa condição, uma empresa, uma cidade,
instituição ou mesmo um país precisam cultivar valores como
ética, respeito ao meio ambiente, consumo responsável”
(FIEMG, 2008c, p. 17).
Constatamos que as palavras-chave do programa são:
conscientização e atitude. Isso fica evidenciado na seguinte
afirmação:
8
Empresários
e educação:
reflexões sobre
o projeto
educacional da
federação das
indústrias de
Minas Gerais
[...] É necessário reeducar a forma de ver o mundo e
agir. É preciso pensar o conceito como algo próximo ao
cotidiano das pessoas, que não tem a ver apenas com
o meio ambiente e desenvolvimento sustentável, mas
também com o cuidado consigo mesmo e com o outro
(FIEMG, 2008c, p. 18).
8
Um estudo crítico sobre o Relatório Jacques Delors pode ser encontrado em
Duarte (2001).
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Afirma-se que as mudanças na forma de conceber o
mundo e agir nele
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Adriane Silva Tomaz
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são atitudes que demonstram que educar para
sustentabilidade é lutar por um mundo diferente.
Onde haja cidadania, paz, liberdade, alegria, educação,
emprego, comida. Para uma vida melhor no presente e
no futuro (FIEMG, 2008c, p. 19).
O programa Escola Ecossuntentável abriga um concurso
coordenado pelo Sesi-MG para certificar as melhores
experiências ambientais como forma de incentivar por meio
da concorrência a aquisição de novas atitudes.
Para captarmos o sentido da formação crítica e autônoma
dos alunos nas escolas do SESI-MG no âmbito do programa
acima citado cabe uma indagação: se simples atitudes podem
contribuir para melhorar o planeta, por que somente algumas
atitudes devem ser premiadas?
A lógica da competição que orienta o programa
está fundamentada na doutrina liberal. A afirmação de um
importante pensador liberal ilustra nossa afirmação:
a doutrina liberal é a favor do emprego mais efetivo
das forças da concorrência como um meio e coordenar
os esforços humanos, e não de deixar as coisas como
estão. Baseia-se na convicção de que, onde exista a
concorrência efetiva, ela sempre se revelará a melhor
maneira de orientar os esforços individuais. [...].
Considera a concorrência um método superior, não
somente por constituir, na maioria das circunstâncias,
o melhor método que se reconhece, mas, sobretudo por
ser o único pelo qual nossas atividades podem ajustar-se
umas às outras sem a intervenção coercitiva ou arbitrária
da autoridade (HAYEK, 1987, p. 58).
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De fato, é pedagogicamente significativo estimular
mudanças nos padrões de comportamento para preservação do
planeta. No entanto, é necessário questionar o processo histórico
de degradação ambiental e o papel que o desenvolvimento
industrial vem causando nesse processo. É importante que
ao longo da escolarização as crianças e adolescentes reflitam
criticamente sobre os limites do capitalismo para a preservação
ambiental. Queremos afirmar com essas considerações que os
reais problemas da sustentabilidade não serão resolvidos com
pequenas mudanças de atitudes de cada pessoa, ainda que isso
seja necessário, pois as pequenas atitudes não compensam a
degradação ambiental em larga escala provocada por empresas
do setor industrial.
O pensamento crítico e autônomo que se pretende
desenvolver nos alunos das escolas do Sesi-MG certamente não
alcançará esses elementos caso eles se mantenham mediados
pelas noções acima descritas veiculadas pela pedagogia das
competências.
Destacamos também para a análise o programa
denominado de Responsabilidade Social e Voluntariado. Seu
objetivo consiste em “criar oportunidade e espaço de atuação
voluntária para alunos do SESI, trazendo para o ambiente
escolar uma proposta de formação ética e cidadã”.9
O programa visa difundir ao longo do processo de
escolarização a noção de que as ações socialmente responsáveis
das empresas e as práticas de voluntariado dos cidadãos são
mecanismos contemporâneos de estímulo ao “bem-comum” e
de fortalecimento social. Para a Federação, o voluntário é aquele
que dedica seu tempo, sem remuneração, às causas sociais,
motivado pelo interesse pessoal e espírito cívico (FIEMG,
2006a).
O programa em questão se relaciona às formulações da
Organização das Nações Unidas sobre o tema, especialmente ao
programa intitulado Objetivos do Milênio. A intencionalidade
da Fiemg com ações educativas em torno do voluntariado é
consolidar a cultura da paz por meio do preceito da colaboração
social em nome de um mundo melhor (FIEMG, 2008d).
O ponto crítico desse programa é que faltam elementos
que problematizem o fenômeno do voluntariado numa
9
Disponível em: < http://www.fiemg.org.br/Default.aspx?tabid=5402> . Acesso
em mai/2010.
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e educação:
reflexões sobre
o projeto
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perspectiva histórica. Partindo das formulações de Thompson
(2001) sobre experiência e consciência de classe, verificamos que
o fenômeno do voluntariado representa um amplo movimento
que visa diluir as construções simbólicas produzidas pelos
diferentes grupos sociais a partir das condições objetivas de vida
nas noções de colaboração e parceria entre indivíduos. Nessa
concepção, as mudanças sociais seriam resultantes de ações
individuais, independentemente das relações sociais concretas.
Julgamos que tal proposição se alinha à noção
do individualismo como valor moral radical defendido
por Giddens (2001a) – algo que constitui como base da
sociabilidade neoliberal (MARTINS, 2009b). Esse preceito
visa orientar as pessoas a não se isolarem, buscando vínculos,
independentemente da condição de classe, para tornar viável a
“sociedade de bem-estar” (GIDDENS, 2001b)10. A proposta
é substituir a solidariedade de classe pela noção de colaboração
social entre indivíduos.
De forma reiterada, a Fiemg defende o voluntariado
como um fenômeno mundial da atualidade que não comporta
questionamentos críticos. Isso fica evidente em Fiemg (2006a;
2006b; 2006c).
O sentido de construção do bem comum por meio
da educação é uma premissa cujas bases não consideram as
características, os fundamentos e a dinâmica das relações sociais
na sociedade em que vivemos. A perspectiva societária da Fiemg
se relaciona à noção de “sociedade do bem-estar” difundida
pelo neoliberalismo da terceira via (GIDDENS, 2001a). O
que predominar é uma visão naturalizada da dinâmica social:
André Silva Martins
Adriane Silva Tomaz
Leonardo Docena Pina
As sociedades modernas passam por transformações,
renovações. Por todo o planeta a consciência parece
demonstrar um novo tempo para a humanidade. Um
movimento global em prol da vida e da cidadania emerge
de inúmeros lugares, despertando os indivíduos para a
necessidade de agir, mudar o que está errado, semear
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198
10
Em Martins et al (2010) são apresentados outros autores que defendem a ideia
de “sociedade do bem-estar”.
uma nova cultura, baseada na ética, na solidariedade, na
eqüidade e no respeito, garantindo, assim, a colheita de
equilíbrio e paz (FIEMG, 2006d, p. 07).
Empresários
e educação:
reflexões sobre
o projeto
educacional da
federação das
indústrias de
Minas Gerais
Os elementos até aqui analisados demonstram que
a Fiemg tem por objetivo formar o cidadão-trabalhador
identificado com a visão de mundo do empresariado. Nessa
linha, predomina o entendimento de que “os empresários
sociais podem ser inovadores muito eficazes no domínio da
sociedade civil, ao mesmo tempo em que contribuem para o
desenvolvimento econômico (GIDDENS, 2001b:86-87).
As “renovações”, o “movimento global em prol da vida”,
a “nova cultura” o “equilíbrio e paz” presentes nas formulações
da Fiemg são apresentados como fenômenos naturais gerados
por uma tomada espontânea de consciência do novo “homem
planetário”. O problema dessa formulação é que as sociedades
e os homens são abstraídos da história, deslocados das relações
sociais concretas e das especificidades de cada formação social,
dos antagonismos e dramas reais que permeiam a vida. O grau
de generalização dessas formulações em nome de uma “ética
planetária” (MORIN, 2000) reduz a vida a um plano que não
existe no mundo real em que vivemos.
Considerações Finais
Diante do exposto, é possível apresentar alguns
elementos de síntese. O primeiro deles se refere à posição da
Fiemg em relação à CNI. Verificamos que a Federação optou
por assimilar e reproduzir em suas instâncias à concepção de
educação da CNI. Nesse processo, a Fiemg apresenta uma
construção mais refinada na relação entre competitividade
e responsabilidade social. O segundo diz respeito à relação
entre o projeto de educação da Fiemg frente às formulações
internacionais sobre formação humana. As definições contidas
no Relatório Jacques Delors e no programa Metas do Milênio,
ambas vinculadas à Organização das Nações Unidas, foram
199
Educ. foco,
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incorporadas como referências no projeto da Fiemg. Com isso,
a Federação traduz as diretrizes internacionais para a educação
das massas no território do estado de Minas Gerais. O terceiro
elemento importante é que Fiemg demonstra querer superar a
visão chapliniana do trabalhador realizador de tarefas mecânicas
retratada de forma célebre, em 1936, no filme “Tempos
Modernos”. No entanto, essa tentativa fica comprometida
pela opção pedagógica que fundamenta seu projeto: a
pedagogia das competências. Esta corrente pedagógica,
como revela Duarte (2003), entre outros aspectos, baseiase na afirmação da racionalidade instrumental distanciada
da educação omnilateral. O último elemento vincula-se
ao alcance do projeto educativo. Embora a preocupação da
Fiemg esteja ainda concentrada na educação dos trabalhadores
industriais (e seus familiares), a Federação demonstra ter
iniciado um movimento de assimilação de outros segmentos
da sociedade mineira. Provavelmente, juventude pobre do
estado não vinculada às experiências laborativas da indústria
poderá ser também educada a partir das novas referências de
vida/trabalho. Certamente, essa iniciativa ganha projeção na
medida em que a Fiemg relacionar o desenvolvimento do
capital humano11 em articulação com a capital social12, em
nome da valorização da cidadania.
Nesse sentido, concluímos que a Fiemg apresenta
um projeto educativo coerente com a visão de mundo que
defende. No entanto, verificamos que os fundamentos desse
projeto impõem restrições à formação do ser social por
estar inspirada numa lógica instrumental da vida, algo que
pode comprometer o alcance da formação e da cidadania de
gerações.
André Silva Martins
Adriane Silva Tomaz
Leonardo Docena Pina
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200
11
Para uma compreensão crítica do conceito de capital humano, ver: Frigotto
(2009).
12
Para uma compreensão crítica do conceito de capital social: ver: NEVES,
PRONKO e MENDONÇA (2009).
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AND
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Abstract
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Juiz de Fora,
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mar. / jun. 2013
206
This work results of the one investigation that aims to
grasp the fundaments of the educacional project of the
Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg. It is one
of the biggest entity of representation of business interest
of Minas Gerais and one of the most important of Brazil,
with significant performance in education. Considering its
importance in the brazilian and miner scenery, this work
investigated the fundaments of propositions of Fiemg to
scholar education and non scholar, intending to grasp the
possible implications to the human formation. From the
referential gramscian, the analysis is based on date sources
made by the entity. The study reveals that the educative
project of Fiemg isn’t restricted for professional training;
unlike, has one wide perspective, tries to board questions
about worker’s moral and intellectual formation inside or
outside of the scholar space. The fundament of the educative
project of Fiemg is linked to human capital theory and the
pedagogy of the competences. The study concludes that
Fiemg shows one educative project based in instrumental
logic, that restricts the possibilities of human condition.
Keywords: Human formation. Hegemony.
Empresários
e educação:
reflexões sobre
o projeto
educacional da
federação das
indústrias de
Minas Gerais
Data de recebimento: março 2012
Data de aceite: junho 2012
207
Educ. foco,
Juiz de Fora,
v. 18, n. 1, p. 179-207,
mar. / jun. 2012
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EmprEsários E Educação rEFlExõEs sobrE o projEto Educacional