ESTUDO
Oportunidades de Valorização da Produção
Os cereais em que vale
a pena investir
A Associação Nacional de Produtores de Cereais encomendou um estudo para identificar as
oportunidades de maximização do valor da atividade dos seus produtores. A ideia era identificar
estratégias de aumento de valor das produções, de subida na cadeia de valor e de aumento da
eficiência na gestão/organização da atividade produtiva.
Trigos melhoradores e btp são alguns dos cereais onde vale a pena investir mas há muito mais
potencial para criar valor. Uma ‘radiografia’ ao setor da autoria das empresas de consultoria
Consulai e Return on Ideas.
Texto . Isabel Martins
3550 milhões de euros é o valor gerado pelas fileiras onde são incorporadas as matérias primas fornecidas pelos produtores de
cereais (inclui proteaginosas, trigo duro,
girassol, cevada, trigo mole e cereais forrageiros). Estas fileiras, responsáveis pela
produção de pão, farinha, baby food, massas, cerveja, óleo alimentar, legumes enlatados e rações totalizam cerca de 31% do total
da indústria agroalimentar.
90% do volume de negócios da produção final destas fileiras é realizado no mercado
nacional, mas a matéria-prima incorporada
é maioritariamente importada. O peso dos
cereais nacionais é de apenas 12% na procura destas seis fileiras. Apesar disso, a
produção nacional de cereais tem vindo a
decrescer cerca de 16% ao ano, em média,
um decréscimo homogéneo em todas as culturas analisadas.
Onde está o valor?
Para perceber onde está o potencial de valorização das culturas, foi feita uma análise swot às características de cada matéria-prima (trigo mole e duro, cereais forrageiros, cevada, triticale, centeio, oleaginosas
e proteaginosas), tendo em consideração
quatro tipos de usos distintos: sementes,
consumo humano, consumo animal e bioenergia. Numa segunda fase analisaram-se as cadeias de valor com o objetivo de
identificar espaços de oportunidade para
maximizar o valor da produção para os
produtores. Foram assim identificadas 7 + 1
fileiras ( baby food ; fileira do pão/farinhas
melhoradoras; fileira das massas alimentícias; fileira da cerveja; fileira do óleo
alimentar; fileira dos vegetais enlatados
e multiplicação de sementes + alimentação animal) para dois tipos de utilização
principais (sementes e consumo humano)
e cinco matérias-primas preferenciais: trigo mole, trigo duro, cevada, oleaginosas e
proteaginosas.
A análise conclui que o potencial de valorização das matérias-primas para uso humano é o mais elevado, existindo procura por
satisfazer e espaço para acrescentar valor à
atual produção. A bioenergia fica excluída
como prioridade.
Em relação às sementes, foram identifi-
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cadas três vertentes com potencial: como
matéria-prima a integrar na própria produção de cereais (reduzindo custos); como semente certificada para o mercado nacional
e como potencial de exportação de algumas
variedades. Quanto à fileira da alimentação animal, deve ser considerada recurso
potencial para produtores que também se
dediquem à pecuária (pode ser mais barato
produzir os cereais forrageiros do que comprar no mercado) e explorações cujas con-
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ESTUDO
BTP são boa opção
Os chamados cereais btp (baixo teor de pesticidas) têm como finalidade a produção de baby food. O nosso país tem condições climatéricas e de solos que permitem a produção em condições competitivas deste tipo de cereal, que tem um valor de mercado superior ao
do trigo panificável corrente. A produção nacional representa 25%
das necessidades do mercado interno.
A cadeia de valor tem dois clientes principais, a Nestlé e a Danone,
e a procura tem aumentado. Trigo e cevada são os principais ce­
reais btp, com um prémio associado de +30 € /t, mas a certificação é
obrigatória para comercializar junto da indústria. O estudo aponta
como oportunidades de valorização o potencial de procura interna
por satisfazer, uma vez que os players industriais pretendem incorporar uma maior percentagem de matéria-prima portuguesa nas
farinhas produzidas em Portugal e existe capacidade para fornecer
100% da procura nacional. Para além disso, existe contratualização
trianual, com fixação de quantidades e preços.
Como áreas de otimização, de referir a utilização de semente certificada, a formação técnica de produtores e a organização da produção (destaque para o planeamento da produção, de forma a garantir
concentração em lotes homogéneos).
Trigo melhorador é a ‘estrela da companhia’
O trigo melhorador, utilizado pela indústria do pão, pastelaria e
farinhas, tem um valor superior no mercado em comparação com
trigo panificável. Portugal tem boas condições para a sua produção,
embora a cadeia de valor deste cereal seja bastante fragmentada ao
nível dos clientes finais. A produção nacional representa aproximadamente 10% das necessidades do mercado interno.
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dições edafoclimáticas não permitam produção de qualidade para
consumo humano.
ESTUDO
nacional e Portugal é competitivo neste ce­
real, embora a produção nacional represente perto de 30% das necessidades do mercado interno. Existe contratualização pluri­
anual da produção e uma lista de variedades
definida em colaboração.
Como oportunidades de valorização é apontada a possibilidade de colocar o selo ‘100%
português’ na cerveja e desenvolver a cevada dística como cultura complementar para
rotação com outros cereais, oleaginosas e
proteaginosas.
O trigo melhorado tem um valor superior no
mercado em comparação com o panificável.
A produção nacional representa 10% das
necessidades do mercado interno
A produção destes cereais requer, para além
da sementeira correta, a capacidade de análise do grão à entrada da Organização de
Produtores para que sejam devidamente catalogados, assim como um circuito de armazenagem e transporte em separado.
Trigo duro com muito potencial
Matéria-prima para as massas alimentícias,
o trigo duro tem um valor médio no mercado superior à sua principal alternativa, o
trigo forrageiro. A cadeia de valor é muito
concentrada, praticamente monopolista, e
existe muito potencial de incorporação de
matéria-prima, uma vez que a produção
nacional representa uns modestíssimos 5%
das necessidades do mercado interno.
O estudo revela que existe uma fraca colaboração entre a produção e o principal
player da indústria (grupo Cerealis). Também pesa o facto de a indústria estar sediada no norte do país, longe dos principais
núcleos de produção, no sul. Existe assim a
possibilidade de instalação de uma semolaria no sul, gerida pelos produtores, mas só
depois de organizada a produção e como
forma de aproximação à indústria. Refira-se
ainda que o trigo nacional tem a vantagem,
face ao importado, de ter uma menor percentagem de água.
Cevada dística é o exemplo a seguir
Matéria base para a produção de cerveja,
a cevada dística tem uma cadeia de valor
bem organizada, onde a produção, transformação e indústria trabalham de forma colaborativa. A indústria privilegia a cevada
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Girassol alto oleico com procura
Para produção de óleos alimentares, existe
interesse por parte dos players industriais
em girassol alto oleico, devido às melhores
características do óleo e com um valor superior em 30  € /t em comparação com o girassol
corrente. A cadeia de valor está bem organizada, muito concentrada num player, a Sovena, mas onde a colaboração com a produção
nacional é muito reduzida. Esta empresa já
anunciou a intenção de adquirir mais matéria-prima nacional como forma de reduzir
o risco associado ao aumento da humidade
nas sementes importadas do Mar Negro e às
colheitas tardias noutros países, com muitos
problemas logísticos associados.
A produção nacional representa 7% das necessidades do mercado.
Proteaginosas distantes da indústria
Grão, feijão, fava e ervilha são os produtos
base para a produção de vegetais enlatados. Esta é uma área onde existe por parte
da produção um reduzido conhecimento
sobre a organização da cadeia de valor e é
muito provável que exista um potencial para aumento de incorporação da produção
nacional nos produtos finais, mas para isso
terá de haver uma aproximação ao principal
ESTUDO
A produção nacional de semente certificada representa cerca de 18% das
necessidades do mercado interno.
player nacional, a Compal.
Apesar disso, são culturas que podem ser relevantes para a rotação
dos cereais, aumentando a rentabilidade em cada hectare. A produção
nacional representa 14% das necessidades do mercado interno.
Produção de sementes aumenta
A semente certificada tem uma utilização tendencialmente crescente
em Portugal devido à aposta de outras fileiras em produtos de maior
qualidade e que respondam aos requisitos das respetivas indústrias.
Um exemplo identificado: a produção de semente de girassol aumentou bastante nos últimos 2 anos
devido ao investimento dos players
mundiais, Syngenta e Pioneer. A
percentagem de semente certificada na produção de trigo em PortuProduto que se irá utilizar paracomparação de oportunidades para acrescentar valor
gal é de 20%, enquanto em França
este número é de 35/40%. Nesta cadeia de valor os produtores assumem o pa- Existe ainda o potencial de aumento das
pel de multiplicadores de sementes, sendo exportações de certos perfis de sementes,
essencial o papel dos produtores na concen- aquelas em que, pelas suas condições climáticas, Portugal é distintivo.
tração e comercialização.
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Como valorizar a produção?
O estudo apresenta 6 pilares para a
valorização da produção: o aumento da produção; a rentabilização
das áreas cultivadas (com substituição de culturas de baixo valor
por culturas de maior valor acrescentado e introdução de culturas
de rotação que tragam rentabilidade adicional); o aumento da colaboração nas cadeias de valor, com
mais proximidade entre produção
e indústria; melhor organização,
gestão e planeamento da produção
(com maior profissionalização do
planeamento e gestão) e finalmente partilha de conhecimento, informação e boas práticas.
Nas oportunidades de aumento de
valor, o estudo avança 3 tipos de
estratégias recomendadas: explorar novas
áreas semeadas, substituir culturas de menor valor acrescentado e apostar em rotação
com culturas de maior rentabilidade.
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