CONCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE EM ESPAÇO NÃOESCOLARIZADO: UM ESTUDO NO 28º FIP-CÁCERES/MT
OLIVEIRA, ADY CORREA DA COSTA (PPGCA – UNEMAT, FAPEMAT)
NASCIMENTO, ADEMIL DOMINGOS (PPGCA - UNEMAT, CAPES)
GUARIM NETO, GERMANO (IB - UFMT)
Introdução
Todas as nações têm percebido os efeitos causados pelo uso inadequado dos
recursos naturais. Até porque as questões complexas como a mudança climática,
efeito estufa, o desaparecimento da biodiversidade, a produção de armas nucleares,
as chuvas acidas, o crescimento demográfico, etc. dizem respeito a todos os
habitantes do planeta, não obedecendo aos limites das fronteiras nacionais (Reigota,
2002). Logo, a Educação Ambiental é fundamental para a sensibilização e mudança
de postura em relação ao meio ambiente. Para Cascino (2003), construir uma nova
educação, passando pelas graves e urgentes questões ambientais, é tarefa
inadiável.
Desde a Conferência de Estocolmo em 1972, de Tbilisi em 1977 e muitos
outros que contribuíram de forma significante para as questões ambientais, muitos
organismos nacionais e internacionais, públicos e privados, têm se empenhado para
aumentar a sensibilização sobre a importância da Educação Ambiental. Na
Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992,
resultando no compromisso global com o Meio Ambiente, destacou no capítulo 36 da
Agenda 21 que ainda havia muito pouca consciência da inter-relação existente entre
todas as atividades humanas e o meio ambiente devido à insuficiência ou inexatidão
da informação. Como Sauvé (2005) afirma: “É preciso reconstruir nosso sentimento
de pertencer à natureza, a esse fluxo de vida de que participamos”.
Segundo o artigo 1º da Lei 9795/99, entende-se por Educação Ambiental os
processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação
do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida
e sua sustentabilidade.
Os eventos ecoturísticos podem ter um papel fundamental na Educação
Ambiental, pois abrangem a relação homem-natureza. Monteiro (2002), além de
considerar de fundamental importância a educação e o meio ambiente como
instrumentos para a construção do homem novo, em busca de uma educação que
leve a um comportamento mais equilibrado com o meio ambiente, afirma ainda que
a Educação Ambiental, mais que um processo de sensibilização da sociedade, tem
que ser a linguagem utilizada para aproximar as classes sociais no desenho do
desenvolvimento a ser adotado.
Em Cáceres, cidade mato-grossense bi-centenária localizada no Alto
Pantanal, ocorre anualmente o Festival Internacional de Pesca Esportiva (FIP),
considerada como maior festival de pesca embarcada em água doce do mundo.
Ocorrendo sempre no Rio Paraguai, também é considerado o maior evento turístico
do estado de Mato Grosso (Cáceres, 2007).
O objetivo desta pesquisa, de caráter qualitativo, foi verificar a concepção
ambiental de parte do público presente no 28º FIP, oferecendo subsídios para
projetos em Educação Ambiental que poderiam ser aplicados com os milhares de
visitantes durante o evento.
Metodologia
A pesquisa qualitativa foi realizada através de entrevistas com questões
relacionadas ao FIP e ao meio ambiente, lidas de forma simples e esclarecidas
quando necessário. As entrevistas ocorreram no período noturno, devido a maior
aglomeração de pessoas no evento neste horário. O questionário aberto foi aplicado
de forma que o entrevistado tivesse livre expressão para as respostas, anotadas
conforme foram ditas. Foram feitas quatro perguntas, duas sobre o FIP e duas sobre
Meio Ambiente, além da identificação de cada participante.
Resultados e Discussão
Foram realizadas 40 entrevistas, sendo 10 entrevistados na faixa etária entre
10 a 13 anos, todos, alunos do Ensino Fundamental. Houve 10 participantes na faixa
etária entre 16 a 21 anos, com maioria do Ensino Médio e os 20 restantes, a idade
variou entre 22 a 54 anos, com escolaridade entre Ensino Médio e Superior. Entre
os participantes, 35 voluntários eram residentes em Cáceres, 4 de outras cidades do
Mato Grosso (Cuiabá (2), Barra do Bugres e Sinop) e um voluntário de San Matias,
na Bolívia. Como as respostas eram livres, algumas porcentagens ultrapassaram os
100%, em função das variadas respostas e diferentes categorizações delas.
Questionados sobre o que mais agrada durante o FIP, mais da metade (57%)
dos entrevistados optaram pelas atrações artísticas, representadas principalmente
pelos shows musicais. A confraternização entre as pessoas, tanto locais quanto com
os turistas, foi apontado por 37,5% do público, destacando caráter social do evento e
a busca pelas novas amizades. A competição da pescaria também atrai o público,
seguido da bela decoração temática da praça central da cidade, com 25 e 22%,
respectivamente.
Na segunda pergunta antagônica à primeira, a desorganização do evento teve
mais apontamentos (47%), em função de certos detalhes observados pelo público,
como acumulo de lixo pelas ruas, poucos e precários banheiros, a não manutenção
de algumas melhorias (mais especificamente a bela decoração da praça central),
demonstrado com um sentimento de “desmerecimento”, como exemplificado por
W.S., 30 anos: “As melhorias são só temporárias, o belo chafariz que não funciona
em outra época.”
Quanto à concepção sobre meio ambiente, 72% associou meio ambiente à
natureza e ao meio onde se vive. 20% dos entrevistados ligaram o conceito de meio
ambiente ao fato de não poluir. Entre os 40 entrevistados, apenas 2 não souberam
expressar nenhum tipo de conceito ou opinião sobre Meio Ambiente e 6 deram
outros tipos de conceitos, mas com uma certa relação com a natureza, como
"utilização adequada dos recursos naturais" ou "sobrevivência". No geral,
observamos que o conceito de meio ambiente tem aspecto reducionista e às vezes
equivocado, como também observado no Projeto de Educação Ambiental da
UNEMAT em Sinop/MT, onde Zart (2004) fez perguntas semelhantes e avaliou que
este conhecimento é resultante da estrutura disciplinar e fragmentária próprio da
estrutura escolar e das ciências.
A ultima pergunta era “De onde você obteve ou formou esta opinião sobre o
meio ambiente?”. Para 47%, os conceitos foram adquiridos na escola, demonstrando
seu papel como principal agente na sensibilização ambiental. Alguns tiveram a
concepção ambiental em função do trabalho ou em cursos não ligados diretamente
ao meio ambiente, como L.C.S, de 22 anos, que teve as noções de meio ambiente
durante “a aula de habilitação para tirar a carteira de motorista”, o que reforça a
importância do caráter multidisciplinar da educação ambiental. Os meios de
comunicação (especialmente TV e internet), lembrados por 27% dos entrevistados
são os responsáveis pela formação de opinião sobre o meio ambiente, fato
possivelmente em função dos programas e reportagens com enfoque ecológico, que
passaram a ter mais espaço na mídia após a ECO-92.
Conclusão
É claro que a sensibilização através dos inúmeros trabalhos interdisciplinar e
multidisciplinar da Educação Ambiental tem aumentado, mas pesquisas como esta,
ainda nos mostra que há um longo caminho a ser percorrido para atingirmos os
preceitos da Agenda 21 e da lei 9795/99 e que os esforços devem ser maximizados.
Como afirma uma experiente pesquisadora em Educação Ambiental: “Sabemos que
não mudaremos a sociedade inteira, reconhecemos a limitação da educação.
Entretanto, é na potencialidade da educação que queremos ancorar nossos
pensamentos, abrindo as janelas para um horizonte mais próximo, buscando uma
utopia que teremos a coragem de realizar” (Sato, 2003).
A escola continua sendo o principal elo de sensibilização entre as pessoas e o
meio ambiente. Entretanto, a Educação Ambiental precisa ser reforçada em todos
os setores e devem atingir toda a comunidade, pois os entrevistados da faixa etária
mais avançada e que pararam de estudar a muito tempo, apresentaram um conceito
de meio ambiente vago e impreciso. Certamente essas pessoas têm influência em
suas famílias, filhos e netos e podem ser uma importante ferramenta de
sensibilização familiar, mas para isso, eles precisam primeiro tomar consciência
sobre a importância da relação homem - natureza, formando uma espécie de teia
familiar de sensibilização ambiental. Como enfatiza Reigota (2002): na educação
contemporânea em geral, em particular na Educação Ambiental, é fundamental
considerar que não se aprende de alguém, mas sim com alguém.
Como o principal objetivo deste trabalho foi pesquisar a concepção sobre
meio ambiente, apenas 5% dos entrevistados efetivamente não conseguiram
expressar algum conceito sobre o assunto. Mas a Educação Ambiental não se faz
somente com conceitos, então devem ser feitos projetos que contemplem também a
sensibilização para a prática diária de respeito ao meio ambiente.
Referencia bibliográfica
Agenda
21
Global,
Cap.
36.
Disponível
em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/cap36.pdf> Acesso em: 21
de setembro de 2007.
CÁCERES, Prefeitura Municipal. Disponível em: <http://www.fipcaceres.com.br>
Acesso em 21 de setembro de 2007.
CASCINO, F. Educação Ambiental: princípios, história, formação
professores. 3ª Edição, São Paulo, Editora SENAC São Paulo. 2003. 115p.
de
MONTEIRO, R.S. Educação Ambiental em Mato Grosso. Brasília. Ministério da
Integração Nacional. Coleção Centro Oeste de Estudos e Pesquisas: UFMT, 2002.
231p.
REIGOTA, M. A Floresta e a Escola: por uma educação ambiental pós-moderna. 2ª
Ed. – São Paulo: Cortez, 2002.
SATO, M.; SANTOS, J. E. Tendências nas pesquisas em educação ambiental. In
NOAL, F.; BARCELOS, V. (Orgs.) Educação ambiental e cidadania: cenários
brasileiros. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003, p. 253-283.
SAUVÉ, L. Educação Ambiental: possibilidades e limitações.
Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 317-322, 2005.
Educação e
ZART, L.L. Educação ambiental crítica: o encontro dialético da realidade vivida
e da utopia imaginada. Cáceres – MT: Unemat Editora, 2004.
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