A iluminação artificial e a
transição epidemiológica
Alessandro Barghini
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A transição epidemiológica
No último século a melhora nas condições de
higiene e de alimentação, unidos aos avanços da
medicina, levaram a um aumento da vida média,
ao controle de importantes doenças e ao
aumento de doenças degenerativas originárias do
aumento da vida média, permitindo vislumbrar
uma importante transição epidemiológica.
Se, em um primeiro momento, a ênfase foi dada
no aumento das doenças degenerativas,
originárias principalmente do aumento da vida
útil, logo foi possível perceber que, na realidade,
essa transição envolve também novas doenças
emergentes e o retorno de doenças
aparentemente controladas.
As novas doenças
Nesse novo contexto a poluição do ar, da água e
dos alimentos entraram como componentes
fundamentais na origem de novas doenças.
No mesmo tempo foi possível perceber que a
globalização, com o incremento dos transporte de
pessoas e de mercadorias, está facilitando a
difusão de doenças infecciosas antes
aparentemente controladas, que inclusive se
manifestam com outros padrões epidemiológicos.
Dentro deste quadro complexo, pouco foi até
agora comentado sobre o impacto do aumento da
iluminação artificial na transição epidemiológica.
Impacto da iluminação artificial
Depois da descoberta da melanopsina, que
recebe o sinal da regulagem dos ciclos
circadianos no homem, o impacto do uso
crescente da iluminação artificial sobre o homem,
com distúrbios neurovegetativos e até com
doenças degenerativas entrou no estudo das
doenças modernas.
Apenas recentemente foi aventada a hipótese de
que o uso crescente da iluminação artificial
(especialmente em regiões rurais), possa ter uma
efeito sobre a difusão de doenças transmitidas
por artrópodes.
Iluminação e doenças transmitida
por artrópodes
De fato a iluminação artificial exerce um efeito de longo
alcance.
Em primeiro lugar atrai insetos, aumentando a
concentração de inseto no ambiente antrópico, favorecendo
o contágio de doenças transmitidas por artrópodes.
Em segundo lugar altera o comportamento humano,
aumentando o tempo de vigia e a vida no ambiente
externo.
Em terceiro lugar pode afetar o comportamento dos
insetos, com uma quebra dos ritmos circadianos,
aumentando a o período de foragi amento.
Em um artigo publicado no Environmental Health
Perspectives realizei uma ampla resenha, baseada em
estudos epidemiológicos, mostrando que pelo menos três
doenças: o mal de Chagas, a leishmaniose e a malária
podem ter sua difusão aumentada a causa do incremento
da iluminação artificial.
Controle dos impactos da
iluminação artificial
Três linhas de pesquisa se tornam necessárias
para isto:
Em primeiro lugar é necessário considerar a
variável iluminação artificial sobre a difusão de
doenças.
Em segundo lugar, precisamos alertar a
população sobre os impactos da iluminação sobre
a difusão das doenças, recomendando um uso
discreto da iluminação externa, e o uso de
lâmpadas a baixa atração.
Em terceiro lugar, precisamos estudar melhor o
mecanismo de atração dos insetos pela
iluminação artificial, e os meios de controle.
Mal de chagas em Santa Catarina
Em fevreiro março de 2005 o
departamento de Saúde de Santa
Catarina identificou uma epidemia de
mal de Chagas. Após uma ampla
pesquisa foi possível verificar que
todos os casos (12 foram confirmados)
eram originários de pessoas que
tomaram caldo de cana em uma venda
ao longo de uma rodovia.O vetor do
mal de Chagas não freqüenta
canaviais e não existia razão de se
encontrar no depósito de cana de
açúcar. A única indicação positiva era
uma lâmpada de descarga a alta
intensidade (vapor de mercúrio)
instalada próxima à venda. Os
besouros (Triatoma tibiamaculata)
foram atraídos até o ponto de venda
por uma fonte de iluminação forte,
dirigida na direção do ambiente
silvestre, e se esconderam no depósito
de cana. As fezes e os próprios
besouros foram triturados, junto com
a cana, e originaram o surto.
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