FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA: ELEMENTOS NA CONSTRUÇÃO DE UMA
DIDÁTICA DIGITAL
Daniela Melaré Vieira Barros
UNESP – Araraquara
[email protected]
Resumo:
O trabalho aqui apresentado refere-se ao relato das primeiras análises da
pesquisa de doutorado que está sendo desenvolvida. Portanto, as discussões
presentes são as que estão oferecendo subsídios na construção da tese central
do trabalho, que permeia: a formação de professores e a aprendizagem em rede
na educação a distância. Essas análises estão inseridas nos estudos que
envolvem a cognição e a didática do processo ensino e aprendizagem, podendose afirmar que alguns elementos surgem nesta perspectiva, dentro das
tecnologias do ciberespaço. Para tanto, o presente texto pontua temáticas
significativas nessas discussões: memória, linguagem, informação e tempo;
inteligência coletiva, virtual, autodidaxia e objetos de aprendizagem
Este estudo, sobre a construção de elementos para a formação de uma
didática digital no trabalho com alunos de formação de professores, estará
subsidiando o desenvolvimento de competências e habilidades para o trabalho
com a educação a distância.
Palavras-chave:
Professores.
Didática
Digital,
Educação
a
Distância,
Formação
de
Introdução
Para a educação, o processo de ensino e aprendizagem é elemento
essencial nas discussões da sociedade das tecnologias da informação e
comunicação sendo eixo central para entender e potencializar o desenvolvimento
do ser humano. Esse processo tornou-se ponto de referência para as diretrizes do
mundo globalizado e do universo do trabalho, exigindo outras configurações para
formação e atualização do homem cidadão.
Dentre essas diretrizes cujo objetivo é elaborar mecanismos institucionais
que possibilitem atualizações educacionais mais dinâmicas e específicas,
destacam-se a aprendizagem contínua e a democratização de acesso para todas
as formas de aprendizagem.
As discussões que se configuraram sobre essa temática trouxeram a
aprendizagem rápida e contínua, o aprender a aprender, a fluência em
pesquisa e a capacidade de assimilar informações e transformá-las em
conhecimentos.
Esses novos enfoques na sociedade trazem o que Lévy (1995) destaca
como mudança qualitativa nos processos de aprendizado. Essa mudança baseiase em três necessidades: a quantidade, a adversidade e a velocidade. A
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quantidade nos reporta à extensão constante de conhecimentos e informações
que ficam disponíveis, mas ao mesmo tempo são infinitamente superáveis a cada
movimento de informações; a adversidade, que é a possibilidade e a diferença
presentes nas fontes diversas de informações; e a velocidade que move isso num
processo contínuo e auto-organizado.
Enfim, as informações e o movimento ágil dessas informações que
proporcionam a diversidade, se tornaram eixos centrais para as mudanças de
aprendizado e principalmente as mudanças na aprendizagem.
A junção de movimento, informação e tecnologias da inteligência digital
construíram hoje o que chamamos hoje de educação a distância, ou que
especificamente aqui se referindo à aprendizagem a distância, que tem por meio
as tecnologias digitais do ciberespaço e da virtualidade.
Tendo como contextualização as mudanças citadas e as diretrizes
colocadas, como proporcionar aos futuros docentes condições de atuar na
educação a distância? Essa dúvida nos orientou no estudo e na construção de
elementos que aqui norteiam a formação de uma didática digital no trabalho com
alunos de formação de professores e poderá experienciar situações que
subsidiem o desenvolvimento de competências e habilidades para o trabalho com
a educação a distância.
Tecendo elementos de construção da didática digital
Quando falamos em inteligência, pensamos nas novas possibilidades do
ser humano na construção dos saberes e na sua assimilação. Essa construção
tem alguns elementos entre os quais destacamos: o desenvolvimento das
linguagens a multiplicação das técnicas e o tempo para o aprendizado, tudo isso
para a meta de ter competência para gerenciar informação e transformá-la em
conhecimento. Os códigos da linguagem são diferentes em vários contextos, a
multiplicação das técnicas torna-se transmissora e assimiladora da inteligência, e
o tempo para o desenvolvimento do processo é diferenciado para cada indivíduo.
Sob as reflexões de Fialho (2002) o fenômeno da inteligência pode ser
explicado primeiramente como uma função biológica, que acontece no interior do
sistema vivo, mantendo sua organização diante das perturbações que sofre como
um processo pedagógico resultante do histórico de inserção que acopla o sistema
ao seu ambiente externo e por último, por uma episteme de observação que
reúne os pressupostos e raciocínios utilizados pelo observador do fenômeno.
Na perspectiva de Jean Piaget, destacamos as idéias que orientam a
teorização sobre estruturas cognitivas para a dimensão lógico-formal, onde se
revelam dois princípios universais da Biologia: a denominada estrutura e a
adaptação. Portanto, nesse processo biológico de equilíbrio e desequilíbrios é que
ocorre a construção e progressão do conhecimento.
Já na perspectiva de Vygosthy a construção das funções complexas do
pensamento é veiculada principalmente pelas trocas sociais, sendo a linguagem,
nesta interação, o fator de maior peso, ou seja, a comunicação entre os homens.
Observa-se, portanto, que a maioria das teorias da inteligência baseia-se
nos instrumentos da linguagem e memória para produzir os conhecimentos. É
pela linguagem que o homem pode não só conhecer e memorizar uma vasta
gama de fenômenos, como agir sobre eles de modo favorável como um
instrumento de propagação das representações. Na realidade a linguagem
estipula uma lógica para o consenso, um sistema de regras, que acaba ignorando
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o sentido amplo dos fatos, para somente caracterizar uma verdade estabelecida
pela memória. A linguagem é composta por estilos e culturas que tornam sua
lógica impregnada de diversidades abstratas, símbolos lógicos que trazem e
levam à memória representações da realidade humana.
Essas técnicas da inteligência, de acordo com Lévy (1995) são elementos
do que chamamos ecologia cognitiva, que é o estudo das dimensões técnicas e
coletivas da cognição, Lévy localiza a forma de inteligência ativa no seio de um
coletivo que é cosmopolita, dinâmico, aberto, percorrido de individualizações, auto
organizadoras, locais, e pontuado por singularidades mutantes. Esses elementos
têm como representações na educação o que Perrenoud (1999) denomina
competências e habilidades.
Os mecanismos que o cérebro utiliza em suas ações e que criam formas
específicas, estão presentes em indivíduos que têm certas habilidades
valorizadas pelas suas características de perfeição, de acordo com o raciocínio
lógico padronizado. A ecologia cognitiva vai além dessas delimitações de
competências e habilidades, é uma dimensão coletiva e ampla da cognição.
Em relação à memória humana, de acordo com Lévy (1993) existem dois
tipos: a memória de curto prazo e a de longo prazo. A memória de curto prazo
mobiliza a atenção; já a de longo prazo é usada cada vez que armazenamos uma
imensa rede associativa, cujos elementos se diferenciam somente quanto ao seu
conteúdo informacional e quanto à força e número das associações que os
conectam.
Essa conexão entre a linguagem, a memória e o processo ensino e
aprendizagem tem um elo de ligação muito intenso e que modifica todo o
processo a que chamamos de tempo. Organizamos essa análise considerando
mais uma variável denominada tecnologias a qual trouxe o virtual em interface
com o tempo, criando outra potencialidade de análise para a produção do
conhecimento.
O tempo modifica as junções e interpretações entre memória e linguagem,
porque atualiza a memória e modifica a linguagem. Mas o que é essa potência
denominada tempo?
As formas de se entender a temporalidade fazem parte do processo da
condição do ser humano e são necessidades para a sua sobrevivência.
Segundo Fialho (2002), o tempo tem dois modos de individualização, dois
modos de temporalidade muito diferentes. Cronos é o tempo do relógio, do
calendário, do compromisso; o outro tempo é o acontecimento puro e do devir, a
linha flutuante que só conhece velocidades.
Temos uma idéia linear dos conceitos tempo e espaço, são modelos da
fenomenologia, mas absolutos e racionais.
Segundo Hawking (2000), o que nos possibilitar pensar diferente desse
processo foi a criação dos novos conceitos de física quântica, que oferecem
outras possibilidades do que chamamos quebra de paradigmas de tempo e
espaço. A idéia da teoria quântica pode ser representada pelos “pacotinhos” que
estão na dimensão do tempo-espaço, comprovando que o pequeno existir
material pode mudar o conjunto. A idéia de que não existe o nada entre o espaço
e o tempo é redirecionada pela física quântica quando propõe que as coisas
podem ser potencializadas.
E a tecnologia para o ser humano? Além de ser chamado progresso é
facilitadora da condição humana. Mas mais do que isso ela proporciona , por
intermédio, dos seus efeitos o que ninguém pode prever: novas formas de agir e
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pensar do ser humano, mexendo com sua cognição e com sua forma de organizar
e conduzir o próprio conhecimento.
Quando falamos de tempo e espaço podemos dizer que o ser humano
tentou potencializá-los no que chamamos de virtual e ciberespaço.
O virtual significa, segundo Lévy (2002, p.15):
.....palavra latina medieval virtualis, derivada por sua vez de vitus, força, potência... O
virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto a concretização efetiva ou
formal. A árvore está virtualmente presente na semente. Em termos rigorosamente
filosóficos, o virtual não se opõe ao real mas ao atual: virtualmente e atualmente são
apenas duas maneiras de ser diferentes.
A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da
atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma “elevação à
potência” da entidade considerada. A virtualização não é uma desrealização (a
transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação
de identidade.
A virtualização como possibilidade do real tem na tecnologia a
potencialidade para suprir por meio do simular. Para o processo de ensino e
aprendizagem, essa relação pode ser a mais nova forma de se pensar o tempo, o
espaço e o conhecimento pela virtualização como processo de reflexão.
Assim sendo, a reflexão é um processo que precisa de vários elementos
para desenvolver dentre eles o conhecimento empírico, científico e o movimento
entre eles, a que se denomina memória. Por fim, sua divulgação se faz através da
linguagem.
A interpretação, isto é, a produção do sentido, doravante não remete mais
exclusivamente à interioridade de uma intenção, nem às hierarquias de
significações esotéricas, mas a apropriação sempre singular de um navegador ou
de um surfista, o sentido emerge dos efeitos.
Na virtualização, a potencialidade desse processo se dá na medida em que
a atualização é constante e as simulações são contínuas. Isso ocorre na
denominada inteligência, mas a máquina coloca isso visualmente numa
complexidade que está entre o que denominamos objetividade.
Para que aconteça essa reflexão, a necessidade do dinamismo coletivo
está presente. Por isso, a inteligência coletiva é um dos elementos primordiais
para o processo ensino e aprendizagem.
Segundo Lévy (1999) inteligência coletiva é uma forma de inteligência
distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real
e que resulta em uma mobilização efetiva das competências. Acrescente-se a
essa definição o complemento indispensável: a base e o objetivo da inteligência
coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuos das pessoas.
O trabalho com a inteligência coletiva organiza-se através da troca de
informações e principalmente, da construção organizada das possibilidades
reflexivas numa rede de pensamentos não linear e nem temática, mas ampla. A
inteligência coletiva é o que hoje proporciona a denominada autodidaxia,ou seja,
o próprio individuo construindo por si só as redes de informações e, por seqüente,
potencializando a construção do conhecimento, isto é, o caminho para pensar o
aprendizado com as tecnologias da inteligência. A autodidaxia, numa perspectiva
ampla é a fluência em Informação, ou seja, a capacidade de realizar uma
interface produtiva entre o atual e o real, na produção do conhecimento.
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Essa interface pode ser organizada mediante o que se denomina objetos
de aprendizagem que, segundo Bettio (2002) são elementos de um novo tipo de
instrução baseada em computador, construída sobre um novo paradigma da
ciência da computação. Também pode ser considerada como qualquer entidade
digital ou não digital que possa ser usada e reutilizada ou referenciada durante o
uso das tecnologias.
A didática digital para a formação de professores
As temáticas conceituadas e apresentadas em teia são essenciais para o
que denominamos didática digital para a formação de professores. A construção
desta didática está em fase de elaboração, é composta de metodologias e
estratégias, baseadas em gestão de competências e habilidades, além dos
objetos de aprendizagem como recursos de ensino.
Aqui expressamos nossas intenções justificando uma didática inovadora
para a formação de professores. Nosso objetivo é proporcionar outras tendências
e concepções de ensino e aprendizagem para os docentes. Na realidade, esses
novos subsídios da didática digital são pilares da gestão do processo ensino, esta
aprendida com as tecnologias da comunicação e informação.
Quando falamos em Memória, Linguagem, Informação e Tempo
Inteligência Coletiva, Virtual, Autodidaxia e Objetos de Aprendizagem, estamos
ressignificando elementos que subsidiem para essa didática, que tem como
características a rapidez, a rede de informações, a reutilização e o trabalho
coletivo que está em construção.
A intenção é fazer desta didática uma inferface de aprendizado para a
criação de uma cultura tecnológica junto aos alunos da formação de professores.
Precisamos iniciar uma cultura de uso das potencialidades das tecnologias, a
partir disso, o preparo de profissionais para a educação a distância, e-learning, e
todas as possibilidades de educação utilizando recursos da web.
Estamos fazendo um exercício de virtualização dos processos para em
suma, buscar as novas potencialidades que a máquina traz ao ser humano na
construção de seu conhecimento, ou melhor, na busca de novos conhecimentos
que caminhem paralelamente às transformações da condição humana.
Entende-se, portanto que a mente humana é “copidesquiada” por um
processo muito complexo mas ainda menos complexo que ela mesma, que
denomina-se virtual e ciberespaço, e que claramente nos fornece novas
perspectivas do trabalho de desenvolvimento da inteligência.
O gerenciamento de competências de informação para o aprendizado é a
meta desses elementos construtores da didática digital, cuja organização terá, em
suas estratégias, objetivos, metodologias e recursos a fundamentação dos
elementos destacados. O exercício realizado nos proporcionou o estabelecimento
de princípios da didática digital para as tecnologias. Feito isso finalizamos nossas
análises iniciais com o esquema a seguir:
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Elementos para a construção da Didática Digital na
Formação de Professores
Tempo
Linguagem
Memória – Teia
de
Informação
Potencialização através das
tecnologias – Inteligência
Coletiva e Virtual
Proporciona uma cultura de autodidaxia e
a possibilidade de construção de objetos
de aprendizagem
Considerações finais
O trabalho aqui apresentado como pesquisa de doutorado destaca
elementos para a construção de uma didática digital, que proporcione a
construção de saberes na formação de professores. Esses saberes serão a
ambiência da prática pedagógica e conseqüentemente o desenvolvimento de
competências e habilidades para o trabalho desenvolvido na educação na
distância.
As temáticas significativas e pontuadas nas discussões como: memória,
linguagem, informação e tempo; inteligência coletiva, virtual, autodidaxia e objetos
de aprendizagem, são os eixos construtores das novas perspectivas para o
trabalho educativo a ser desenvolvido no ciberespaço. Um espaço de educação a
distância que potencializa perspectivas de melhoria qualitativa para o
desenvolvimento de cursos e propostas de ensino e aprendizagem.
Em fase de construção das teorias que subsidiem as afirmações aqui
presentes, temos por análise a importância de se buscar possibilidades de
ressignificação do espaço e tempo de aprendizagens. Talvez este seja um dos
caminhos para a reestruturação do significado de aprender e ensinar.
Referências
BETTIO, R. W.; MARTINS, A objetos de aprendizagem: um novo modelo
direcionado ao ensino a distância. Apostila do RIVED, 2002.
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FIALHO, Francisco Antonio Pereira. Escola do Futuro. Aprender Virtual, nº 7, ano
2, nª 4, julho/agosto 2002, p.32-37.
HAWKING, Stephen Breve História do Tempo. Rio de Janeiro. Rocco, 2000.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro, RJ: Ed. 34, 1993.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo, SP: Ed. 34, 1999.
LÉVY, Pierre. O que é Virtual ? São Paulo, SP: Ed. 34, 2002
PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre.
Artmed, 1999.
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A temática do Trabalho é:
a.) Formação de Profissionais para a Educação a Distância;
A Natureza do trabalho: descrição de projeto em andamento.
Materiais para serem utilizados Datashow.
Termo de compromisso:
Eu, Daniela Melaré Vieira Barros comprometo-me, caso meu trabalho seja
aprovado pela Comissão Científica que coordena o X Congresso Internacional de
Educação a Distância da ABED, a comparecer para sua apresentação, nos dias e
hora previamente comunicados, e autorizo sua imediata publicação no site da
Instituição
Data:14/04/2003
__________________________
Profª Daniela Melaré Vieira Barros
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