XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO
Educar para a Sensibilidade:
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BLOG: GÊNERO TEXTUAL OU SUPORTE PARA GÊNEROS?
Daiane Eloísa dos Santos (G-CLCA-UENP/CJ)
Geovana Lourenço de Carvalho (G-CLCA-UENP/CJ)
Vera Maria Ramos Pinto (Orientadora-CLCA-UENP/CJ)
Resumo: Com base nos estudos de Marcuschi (2004; 2008), Rojo, Barbosa e Collins (2005),
Dionisio (2005), Bonini (2003), apresentamos, neste artigo, estudo oriundo de reflexões do GP
Leitura e Ensino, onde efetivamos trabalho de pesquisa que investiga se o blog, que é muito
utilizado como objeto de ensino nas aulas de Língua Portuguesa, é mesmo um gênero, como é
apresentado em muitos livros didáticos, ou se é somente um suporte para gêneros.
Palavras-chave: Blog. Gênero textual. Suporte.
Introdução
A proliferação de gêneros textuais e a transmutação que antigos gêneros sofrem com
o advento da grande rede de informações, a internet, faz com que suscitem dúvidas com
relação à natureza dos gêneros textuais e seu modo de veiculação (suporte).
Neste artigo, objetivamos apresentar estudo que investiga se o blog, que é muito
utilizado como objeto de ensino, é mesmo um gênero, como é apresentado em
muitos livros
didáticos, ou se é somente um suporte para gêneros, por abrigarem tanto declarações de
cunho pessoal, que formariam o gênero “diário pessoal”, quanto piadas, músicas e outros
gêneros que demonstram o gosto pessoal do “dono” do blog.
Fundamentação teórica
A respeito do conceito de gêneros, a revista Nova Escola, de agosto/2009, introduz
seu artigo com o seguinte comentário:
Todo dia você acorda de manhã e pega o jornal para saber as últimas novidades
enquanto toma café. Em seguida, vai até a caixa do correio e descobre que
recebeu folhetos de propaganda e (surpresa)! depara-se com uma carta de um
amigo que está morando em um outro país...
Não é de hoje que a nossa relação com os textos escritos é assim: eles têm formato
próprio, suporte específico, possíveis propósitos de leitura; têm o que os especialistas chamam
de ‘características sociocomunicativas’, definidas pelo conteúdo, a função, o estilo e a
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composição do material a ser lido. E é essa soma de características que define os diferentes
gêneros. Ou seja, se ele é um texto com função comunicativa, tem um gênero.
Para Bakhtin (1997, p. 280)
Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o
caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas
da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A
utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos),
concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da
atividade humana.
E, ainda, segundo o autor, cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos
relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que ele denominou de gêneros do discurso
( BAKHTIN, 1997, p.280).
Tipos relativamente estáveis de enunciados (orais e escritos) advindos de uma ou outra
esfera de atividade humana.
No que diz respeito à esfera da internet:
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Assim, temos muitos exemplos de esferas da atividade humana, campos (situações)
de circulação de discursos: familiar, escolar, jornalística, religiosa, política, científica, artística,
internet, dentre outras.
E cada esfera elabora diferentes gêneros. Na esfera familiar, podemos citar como
exemplos: diálogo de instrução (pais e filhos), diálogo amoroso, bilhetes, lista de compras
etc.; na esfera da internet o blog, o e-mail, as redes sociais, as notícias, a enciclopédia virtual,
os vídeos, fotos, os anúncios publicitários, dentre outros.
Desse modo, vemos que os gêneros são inúmeros e “assim como a língua, também
variam, adaptam-se, renovam-se e multiplicam-se” (BRONCKART, 2003) e podem circular nos
mais variados suportes e de diversas maneiras.
Mesmo com essas variações, as pessoas tendem a identificar determinado gênero
primeiramente em função de características sinalizadoras especiais, como o formato, o suporte
e a estrutura visual que apresenta, só depois identificam as características textuais presentes
no mesmo (BAZERMAN, 2006).
Como exemplo, podemos mostrar o cartão postal, que é reconhecido logo por seu
formato e suporte (PINTO, 2011).
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Com isso, surge a importância do conceito de suporte, já que este, na maioria das
vezes, não só funciona como meio de circulação de um gênero na sociedade como auxilia na
identificação do mesmo. Pode-se dizer, então, que “o suporte não é neutro e o gênero não fica
indiferente a ele” (MARCUSCHI, 2008, p. 174).
Porém, ainda, segundo o autor, deve-se ter em mente que não é o suporte que vai
determinar o gênero, mas sim, o gênero é que vai determinar ou exigir o suporte mais
adequado ao seu propósito comunicativo.
Conceito de suporte
De acordo com Marcuschi (2008) o suporte é um locus físico ou virtual com formato
específico que fixa o gênero materializado em texto.
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O autor acrescenta, ainda, que se pode dizer que suporte de um gênero é uma
superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto. Apesar de o
suporte ser específico, não significa que foi comunicativamente produzido para portar textos,
podendo agir como portadores eventuais, tornando-se acessíveis para fins comunicativos.
Em função deste fator, Marcuschi (2008) afirma que existem dois tipos de suporte: o
convencional e o incidental.
(a)
a categoria dos suportes convencionais, típicos ou característicos,
produzidos para portar textos;
(b)
a categoria dos suportes incidentais que podem trazer textos, mas não
são destinados a esse fim de modo sistemático nem na atividade comunicativa
regular.
São exemplos de suportes convencionais: livro, livro didático, jornal diário, revista
(semanal/mensal), revista científica (boletins e anais), rádio, televisão, faixas, internet.
Exemplos de suportes acidentais: embalagem, para-choques e para-lamas de
caminhão, roupas, corpo humano, paredes, muros, janelas de ônibus, dentre outros.
Sendo assim, o blog deixa de ser somente um gênero passando a ser um caso
ambíguo, podendo ser visto como suporte, um locus virtual, com suas características
específicas, que suporta vários gêneros, as notícias, propagandas , convites entre outros.
O blog também como suporte
Hewitt (2007) define blog como sendo um website extremamente flexibilizado com
mensagens organizadas em ordem cronológica reversa e com uma interface de edição
simplificada, através da qual seu autor pode inserir novos posts. Podemos dizer então que
blogs são baseados em mecanismos (Ferramentas Blog) que facilitam a criação, edição e
manutenção de uma página na web.
Já Marcuschi (2008, p. 202) define blog como
os diários pessoais na rede; uma
escrita autobiográfica com observações diárias ou não, agendas anotações, em geral muito
praticados pelos adolescentes na forma de diários participativos .
Análise dos Blogs
Blog I: Blog do comediante Danilo Gentili
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Imagem 1
Fonte: http://danilogentili.zip.net/
Imagem 2
Fonte: http://danilogentili.zip.net/
Imagem 3
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Fonte: http://danilogentili.zip.n
Imagem 4
Fonte: http://danilogentili.zip.net/
No blog do comediante Danilo Gentili, usado por ele para divulgar seu trabalho, logo
na página inicial, percebemos diversos gêneros, como:
•
Anúncio publicitário – “No final das contas o show foi adaptado e
lançado em DVD , LIVRO e AUDIOLIVRO. Você pode comprá-los agora mesmo
clicando no item desejado” (imagem 4)
•
Piadas – na imagem 1 e 2 temos o texto intitulado “Cristoy”,
“Depois dizem que com Religião não se brinca. O bom desse brinquedo é que se
o seu filho o quebrar, em 3 dias ele se conserta sozinho.(...)” que é uma piada
pronta publicada por Danilo em seu blog. Na imagem 3 temos outra piada desse
tipo, intitulada “Uma piada para Robin Willians”
Blog II: Blog do jornalista Edemilson Paraná
Imagem 5
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Fonte: http://blogdoparana.wordpress.com/
Imagem 6
Fonte: http://blogdoparana.wordpress.com/
Imagem 7
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Fonte: http://blogdoparana.wordpress.com/
No blog do jornalista, também utilizado por seu autor para divulgação do seu trabalho,
podemos identificar a presença de diversos gêneros textuais, como:
•
Notícia: na imagem 1 temos uma notícia postada “Site da secretaria de
cultura do distrito Federal invadido em favor da luta no Santuário dos Pajés”
•
Perfil biográfico: na imagem 2 temos o texto “Quem é Paraná?”, cuja
finalidade é contar a vida do jornalista Edemilson Paraná, quem é, sua origem e seu
trabalho.
•
Convite: na imagem 3, o jornalista utiliza seu blog para convidar seus
leitores para participar de uma manifestação no feriado.
Considerações finais
Com base nas teorias e estudos sobre gênero textuais, suporte de gêneros e a
transmutação dos gêneros, percebemos que o blog deve ser analisado sobre vários aspectos.
Muitos estudiosos e livros didáticos classificam esse website como gênero da internet, porém
desconsideram que sua estrutura específica comporta diversos gêneros orais e escritos, tendo
assim seu papel também de suporte.
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Observamos que o blog se encontra na internet que é o serviço que nos permite
acessá-lo, e que a internet
está disponível em todos os microcomputadores conectados à
rede, sendo então o computador o canal que nos leva ao suporte.
Portanto encontramos no blog vários gêneros nele fixados, por isso, em resposta à
pergunta – título, de acordo com nossos estudos, acreditamos que ele não pode ser
considerado simplesmente um gênero, o seu papel de suporte deve ser levado em
consideração.
Referências
BAZERMAN,
Paulo,2005.
Charles.
Gêneros Textuais,
tipificação
e
interação.
Ed.
Cortez,
São
_______. Gênero, agência e escrita. Ed. Cortez, São Paulo, 2006.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BONINI, Adair. Veículo de comunicação e gênero textual: noções conflitantes.
D.E.L.T.A., 19:1, 2003.
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2009.
DIONISIO, A. P. Gêneros multimodais e multiletramento. In KARWOSKI, A.; GAYDECZKA, B.;
BRITO, K. S. (Orgs.) Gêneros textuais: reflexões e ensino. União da Vitória - PR: Editora
Kaygangue, 2005.
DOLZ, B; NOVERRAZ, M; SCHNEUWLY, D. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. Org.
ROJO, R. e CORDEIRO, G. L. Campinas: Mercado das Letras, 2004.
HEWITT, H. Blog: entenda a revolução que vai mudar o seu mundo.Tradução de
Alexandre Martins Morais. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2007.
MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.). Hipertexto e gêneros digitais.
Rio de Janeiro:Lucerna, 2004.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão.
Parábola Editorial, São Paulo, 2008.
ROJO, R; BARBOSA, J.P; COLLINS.H. Letramento digital: um trabalho a partir dos gêneros do
discurso. In KARWOSKI, A.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.) Gêneros textuais:
reflexões e ensino. União da Vitória- PR: Editora Kaygangue, 2005.
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Para citar este artigo:
SANTOS, Daiane Eloísa dos; CARVALHO, Geovana Lourenço de. Blog: gênero textual ou
suporte para gêneros? . In: XII CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho.
2012. Anais. ..UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências
Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012. ISSN –
18083579. p. 261 – 271.
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