R. Periodontia - Março 2008 - Volume 18 - Número 01
ASPECTOS BIOMECÂNICOS DAS PRÓTESES PARCIAIS
REMOVÍVEIS E O PERIODONTO DE DENTES SUPORTE
Biomechanical aspects of removable partial denture and the periodontium of abutment teeth
Adriana da Fonte Porto Carreiro1, Candice de Freitas Rêgo Bezerra2, Bruna Aguiar Amaral3, Grasiela Piuvezam4, Eduardo
Gomes Seabra5
RESUMO
A reabilitação oral dos pacientes parcialmente dentados pode ser realizada através de próteses parciais removíveis e constitui fator essencial para a manutenção da qualidade de vida. No entanto, torna-se fundamental, no processo de planejamento das próteses parciais removíveis
analisar a situação periodontal dos elementos dentários
remanescentes que servirão de suporte para essas próteses,
pois a literatura mostra que a maioria dos usuários de
próteses removíveis apresenta ou apresentou alguma forma de doença periodontal. Assim, diante do exposto, o
presente artigo tem como objetivo apresentar as características biomecânicas das próteses parciais removíveis que
respeitam o periodonto dos dentes suporte.
UNITERMOS: Prótese Parcial Removível, Planejamento, Periodonto, Dentes pilares. R Periodontia 2008;
18:105-113.
1
Professora Adjunta da Disciplina de Prótese Total da Faculdade de Odontologia da UFRN
2
Mestre em Odontologia – área de concentração em Periodontia – UFRN
3
Doutoranda do Programa de Pós graduação em Patologia Oral da UFRN
4
Doutoranda em Ciências da Saúde - UFRN
5
Professor Adjunto da Disciplina de Periodontia da Faculdade de Odontologia da UFRN
Recebimento: 18/10/07 - Correção: 21/12/07 - Aceite: 08/01/08
INTRODUÇÃO
O tratamento protético apresenta, como principal finalidade, a recomposição das funções do sistema estomatognático, através da reposição de elementos dentários e de tecidos adjacentes perdidos,
objetivando devolver ao paciente os requisitos
mastigatórios, fonéticos e estéticos. Além de promover a conservação das estruturas orais remanescentes e não somente a simples reposição dos elementos dentários ausentes (Mauri Filho et al., 2004).
Pode-se, então afirmar que a reabilitação oral, seja
através de próteses fixas ou removíveis constitui fator essencial para a manutenção da qualidade de
vida dos pacientes (Caputo & Wylie, 1991).
A reabilitação dos pacientes parcialmente dentados, em sua grande maioria, é realizada através da
utilização das próteses parciais removíveis, que segundo Todescan (1998) “são aparelhos
dentossuportados ou mucodentossuportados, destinados a substituir um ou mais dentes em um ou
em ambos os maxilares, podendo ser removidos da
boca com relativa facilidade, tanto pelo profissional
quanto pelo paciente”.
Assim, a prótese parcial removível, torna-se uma
alternativa comum de tratamento para restaurar áreas edêntulas, na medida em que apresenta prepa105
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ros conservadores e rápida resolução. Este tipo de prótese
cumpre um papel relevante na reabilitação de desdentados
parciais, pois é um método biologicamente satisfatório e de
custo acessível para grande parte da população (Leles et al,
1999).
Do ponto de vista da indicação das próteses parciais removíveis sabe-se que os limites de indicação são muito amplos, pois à medida que a via de suporte dentário vai se escasseando, os recursos propiciados pelo suporte mucoso vão
sendo recrutados no planejamento com o intuito de poupar
os dentes que permanecem na cavidade oral (Stewart & Rydd,
1983). No entanto, torna-se fundamental, no processo de
planejamento das próteses parciais removíveis analisar a situação periodontal dos elementos dentários remanescentes
que servirão de suporte para estas próteses, pois a literatura
vem mostrando que a maioria dos pacientes usuários de
próteses removíveis apresenta ou apresentou alguma forma
de doença periodontal (Mauri Filho et al., 2004).
Especificamente no caso brasileiro, de acordo com os
dados do projeto SB Brasil 2003 (Brasil, 2004) observou-se
uma grande quantidade de pessoas parcialmente dentadas
e com elementos dentários acometidos por bolsas
periodontais de mais de 4 mm, em todas as faixas etárias,
refletindo portanto, em um elevado número de indivíduos
que necessitam de próteses parciais removíveis associadas a
condições periodontais alteradas.
Assim, diante do exposto, o presente artigo tem como
objetivo apresentar das características biomecânicas das
próteses parciais removíveis que respeitam o periodonto dos
dentes suporte.
METODOLOGIA
Os dados selecionados para essa revisão bibliográfica
foram obtidos através do acesso as bases de dados eletrônicos LILACS e MEDLINE, a consulta em listas de referências
de artigos, no Pub Med e através de busca manual em revistas e periódicos. Na base de dados eletrônicos LILACS foi
utilizada a seguinte estratégia de busca, “prótese parcial removível” como descritor de assunto e como palavra,
“periodontal”. No MEDLINE foi utilizado removable partial
denture como descritor de assunto e como palavras, planning
e periodontium. No Pub Med foram utilizados as palavras
removable partial denture e abutments teeth. O período
utilizado para a busca foi de 1993-2007.
CONSIDERAÇÕES PERIODONTAIS
Diversos autores (Bergman, 1987; Brill et al., 1977; El
Ghamraywy, 1976; Jorge et al., 2007) são concordantes no
que concerne ao potencial que a PPR exerce em favorecer o
acúmulo de biofilme dentário. Segundo Leles et al., 1999, a
própria presença da PPR pode ser um contribuinte para acelerar problemas periodontais num paciente, cuja história prévia de perdas dentárias múltiplas muitas vezes é indicativa
de um baixo nível de conscientização e interesse relacionado à saúde bucal. Se o paciente não se propuser a realizar
adequada higiene oral associada ao controle profissional, esse
aumento do biofilme dentário começará a trazer danos ao
periodonto tais como inflamação gengival e aumento da
profundidade de sondagem, podendo chegar até a perda
de inserção.
Portanto, antes de qualquer tratamento protético, devese realizar uma avaliação clínica e radiográfica do periodonto
dos elementos dentários remanescentes. Essa avaliação servirá de suporte para estas próteses para estabelecer uma
condição de saúde e assegurar-se de que os pacientes receberão instrução detalhada de higiene oral de maneira que o
acúmulo de biofilme dentário ao redor dos dentes pilares e
dos componentes da prótese seja o mínimo possível. É necessário avaliar a situação dos tecidos periodontais, se existe
a presença de inflamações, edemas, alterações de coloração
gengivais, a possível presença de bolsas periodontais e conseqüentemente de perdas ósseas, mobilidade dentárias e
recessões gengivais (Santos Júnior et al., 2002).
O planejamento da terapêutica básica é realizado em
função das necessidades individuais apresentadas. O
sangramento à sondagem é o sinal clínico mais sensível de
inflamação e indica a necessidade de raspagem e alisamento
corono-radicular para eliminação ou redução do cálculo
dentário e também do biofilme dentário. Instruções detalhadas de higiene oral são necessárias para indivíduos que
apresentam higiene bucal ineficiente e/ou traumática de
maneira que o acúmulo de biofilme ao redor dos dentes pilares e dos componentes da prótese seja o mínimo possível.
A oclusão deverá estar bem ajustada para que as forças
oclusais incidam de tal forma que a resultante seja no sentido do longo eixo dos dentes, sem provocar forças laterais.
Portanto, a terapia oclusal é utilizada para garantir
neutralização e transmissão de forças efetivas ao periodonto
(Hou et al, 1997).
A terapia periodontal prévia ao tratamento deve satisfazer os seguintes objetivos: eliminação de todos os fatores
etiológicos, eliminação ou redução das bolsas periodontais
com restabelecimento de sulcos gengivais livres de inflamação, criação de uma arquitetura óssea e gengival fisiológica
sempre que possível, estabelecimento de relações oclusais
funcionais e desenvolvimento de um programa de controle
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de biofilme dentário individualizado (Sanchez, 1998).
A reavaliação julga o sucesso ou fracasso da terapêutica
básica na promoção da saúde e a possibilidade da realização do tratamento protético. A obtenção do equilíbrio entre
a virulência bacteriana e a resistência do hospedeiro direciona
o tratamento para a manutenção deste estado. Esta etapa
protocolar evita que a gengivite ou a periodontite inativa
transforme-se em lesão destrutiva ativa. A periodicidade da
manutenção é ditada pelo risco do desenvolvimento de cáries, gengivites e/ou periodontites ativas. No fracasso da terapêutica básica, na promoção de saúde ou de possibilitar o
tratamento protético, pode-se repetir algumas de suas etapas como realização de nova raspagem e alisamento coronoradicular ou execução de cirurgias periodontais, principalmente para eliminação de bolsas periodontais existentes (Lindhe
et al, 2005).
Quando o periodonto encontra-se no nível normal, sem
comprometimento periodontal, observa-se que a carga transmitida ao dente-suporte é mais próxima da fisiológica, pois
se faz axialmente, isto porque o dente é capaz de resistir à
sobrecarga que incide sobre ele, não tendendo a inclinar-se.
No entanto, no caso em que o dente suporte apresenta
perda de estrutura do periodonto de sustentação (periodonto
reduzido), determinando com isso, aumento de coroa clínica e, conseqüentemente, aumento do braço de potência e
diminuição do braço de resistência, seu eixo de rotação é
deslocado mais apicalmente e, assim, predispõe ainda mais
os elementos dentários à ação de forças laterais e verticais
(Mauri Filho et al. 2004; Todescan et al. 1998).
Porém, se existe qualidade dos tecidos de suporte favorecendo a indicação da PPR, é importante que os princípios
das forças oclusais, que incidem sobre as superfícies dentárias,
não desenvolvam resultantes de forças no sentido lateral dos
elementos de suporte, permitindo um perfeito equilíbrio da
oclusão nesses pacientes. Este tipo de prótese terá que ser
muito bem controlada (controle de biofilme dentário), pois
não poderá haver inflamação gengival, o que levaria o
periodonto de sustentação a nova reabsorção óssea, comprometendo todo trabalho realizado. A figura 1 mostra as
conseqüências periodontais quando condições adequadas
de higiene oral não são alcançadas, tanto da boca como da
prótese (figura 2). Assim, o tecido periodontal deve estar sem
sinais clínicos de inflamação. A prótese parcial removível deve
ser planejada adequadamente para esses casos.
Segundo Gomes & Renner (1990), o mais importante na
confecção de uma prótese parcial removível é a seleção, distribuição e localização dos dentes que servirão de pilares.
Após criterioso exame clínico, associado ao exame dos modelos de estudo no articulador e no delineador, devem ser
estabelecidos diagnóstico e planejamento adequados que
irão nortear o preparo dos elementos pilares.
Portanto, antes de qualquer tratamento protético é necessário o tratamento das estruturas periodontais alteradas,
pois o estabelecimento da saúde periodontal fornece mais
previsibilidade e longevidade ao tratamento reabilitador.
CONSIDERAÇÕES PROTÉTICAS
Para um tratamento protético eficiente necessita-se de
correto diagnóstico e planejamento das próteses parciais
removíveis, bem como de adequada análise das condições
periodontais dos dentes remanescentes, principalmente os
elementos selecionados para oferecer suporte protético. Os
tratamentos reabilitadores através das próteses parciais removíveis devem obedecer a uma sistemática clínica capaz
de permitir a longevidade, do ponto de vista periodontal e
de higidez, dos elementos dentários remanescentes. Sendo
assim, cabe salientar a importância do tratamento integrado prótese-periodontia-prevenção.
Associado a possibilidade de indução de forças, o uso
de prótese parcial removível, aumenta o acúmulo de biofilme
apicalmente aos grampos, atuando como um fator
modificador de risco da doença periodontal (Asckar et al.,
1999). Levando-se em consideração que a maioria dos pacientes usuários de próteses parciais removíveis apresenta algum tipo de doença periodontal, torna-se necessário o planejamento protético correto desses casos, principalmente
quando após o tratamento periodontal encontra-se um
periodonto reduzido. Dessa forma, partindo-se do princípio
que o periodonto encontra-se sadio, embora possa se encontrar reduzido, procede-se ao planejamento da prótese
parcial removível, visando uma distribuição adequada de forças para que a doença periodontal não se torne novamente
ativa e progressiva.
Preparo de boca, por definição, é uma série de procedimentos de proteção ou alterações para melhorar as condições da boca, com o intuito de receber a prótese parcial
removível. Na confecção de uma PPR tem-se como objetivo
restabelecer a função, adicionar qualidades estéticas e preservar os elementos remanescentes e tecidos de suporte.
Esta é uma etapa do tratamento muito negligenciada na
maioria dos consultórios, proporcionando situações mais
danosas que preventivas no restabelecimento da saúde bucal (Dykema et al., 1996).
Autores como Duarte & Paiva (2000) e Matos et al. (2002)
realizaram estudos analisando modelos que chegavam aos
laboratórios em diversas cidades brasileiras e concluíram que
a maioria dos modelos encontrava-se sem qualquer preparo
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nos dentes pilares tais como: nichos, re-contorno ou planos-guia, mostrando que ainda existe a necessidade de
conscientização dos cirurgiões-dentistas. Os autores observaram na pesquisa que em 94,17% dos modelos examinados não foi encontrado nenhum tipo de preparo e 3,54%
apresentavam preparo de nicho, todavia com algumas irregularidades, tais como: falta de dimensões corretas, tanto
em largura como em profundidade. Costa et al. (1997) afirmaram que quando a PPR não é confeccionada corretamente, pode contribuir para o início de patologias bucais, entre
as quais se destacam as doenças periodontais.
Vista a importância do planejamento e preparo de boca
bem executados, faremos considerações de cada componente da prótese para que a instalação da mesma contribua para a saúde periodontal dos dentes pilares.
Planos-Guias
São definidos como planos preparados nas faces
proximais e linguais dos dentes pilares, paralelos entre si e a
trajetória de inserção e de remoção da prótese removível
(Desplats, 1989). O preparo de planos-guias é de fundamental importância para manutenção ou melhora das condições bioestáticas dos dentes pilares e para que se determine condições ideais de suporte, retenção e estabilidade para
a prótese. A direção de inserção deve ser selecionada de
modo que facilite o preparo dessas áreas planas e paralelas
entre si, conferindo maior estabilidade à prótese e dentes
pilares, permitindo menor acúmulo de biofilme dentário, já
que reduz o ângulo morto formado (Todescan, 1998).
Apoio Oclusal
O apoio oclusal suporta e estabiliza a prótese no sentido ocluso-gengival transferindo a força mastigatória, que
incide sobre os dentes artificiais, aos dentes pilares (Carr et
al., 2005). A localização e a forma dos apoios em relação aos
dentes pilares deve permitir a distribuição dessas forças no
sentido do longo eixo do dente, devendo-se evitar planos
inclinados que produzem, por sua vez, o surgimento de forças laterais as quais provocam danos ao periodonto de sustentação, levando a reabsorção óssea e a um estado de
mobilidade dentária. A figura 3 mostra a confecção de nicho
em dente anterior com periodonto reduzido. A superfície
perpendicular ao longo eixo do dente permite a axialização
das forças. O apoio deve estar o mais próximo ao centro de
rotação do dente-suporte, quando os dentes apresentam
problemas periodontais. Isso porque, como possuem perda
de suporte ósseo, haverá um aumento da coroa clínica, aumentando, conseqüentemente, o braço da potência e diminuindo o braço da resistência.
Além de transferir as forças oclusais para os dentes pilares no sentido axial, a presença de apoios acomodados sobre nichos bem preparados promove suporte à prótese, impedindo que a mesma intrua (na direção cervical), o que
comumente causa danos para a mucosa, provocando pressão sobre as papilas gengivais adjacentes aos espaços
protéticos (Carreiro et al., 2006).
Grampos
São os elementos mecânicos do retentor extracoronário
responsáveis pela estabilização e retenção da prótese parcial removível. A atuação dos grampos de retenção e de oposição deve ser passiva sobre os dentes pilares. Dessa forma,
quando do correto assentamento da prótese na boca ou
quando da sua inserção e retirada, os grampos não devem
exercer forças laterais sobre os dentes pilares. Essas forças,
quando existentes, devem ser anuladas pela atuação recíproca que se desenvolve entre os grampos de retenção e
estabilização. Para essa quantificação é utilizada a ponta
calibradora de retenção de 0,25mm, pois esta se apresenta
dentro dos limites de tolerância biológica do dente e apresenta-se compatível com a flexibilidade da liga de Co-Cr, usualmente empregada para estruturas de PPR (Carr et al., 2005).
Fixada a ponta calibradora ao mandril da haste vertical móvel do delineador, esta é posicionada de modo que toque
lateralmente o dente pilar (no equador protético) e que permitam o toque do disco calibrador, na sua extremidade inferior, no ponto exato da face dental que apresenta a medida
de retenção determinada pelo disco calibrador de 0,25 mm
(figura 4). Associado a isso, o desenho do braço de retenção
deve apresentar conicidade progressiva, o que permite que
apenas o terço terminal deste braço exerça torque sobre o
dente durante a trajetória de inserção e remoção da prótese
(De Fiori, 1993).
Sela
Deve existir relação de íntimo contato entre a sela de
resina, parte da prótese que contém os dentes artificiais, e o
tecido fibromucoso, em especial em áreas de extremidades
livres, para evitar injúrias teciduais devido à maior possibilidade de movimentação da base (Phoenix et al.,2007). Os
limites da sela deverão obedecer ao limite de tolerância dos
tecidos, necessitando, dessa forma, da execução de uma
moldagem funcional eficaz. Além disso, torna-se ainda necessário posterior controle para observar a existência dessa
condição. Indica-se o reembasamento quando se pressiona
com os indicadores nas regiões de extremidades livres e ocorre
o seguinte movimento: a sela tende a aproximar-se dos tecidos e a estrutura metálica afasta-se dos elementos pilares
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Figura 1 - Presença de biofilme dental e sangramento gengival em pilar protético
Figura 3 - Confecção de nicho em dente anterior com periodonto reduzido
Figura 2 - Presença de biofilme dental na PPR
Figura 4 - Ponta calibradora do delineador para determinar medida de retenção
na região anterior. Este é um movimento de báscula, presente em próteses removíveis de extremidade livre em função da diferença de resiliência entre a fibromucosa e o ligamento periodontal que gera forças laterais indesejáveis ao
dente pilar vizinho à extremidade livre. Por isso, a sua magnitude deve ser minimizada buscando-se o íntimo contato
entre a superfície interna da sela e a fibromucosa.
silicona de condensação leve sobre a barra lingual no momento da prova da estrutura metálica para certificar-se de
que existe alívio entre a fibromucosa e a barra lingual.
Na região superior, a mucosa é mais espessa e firmemente aderida ao osso, possibilitando a função de suporte
também para a conexão maior através do íntimo contato da
mesma com a fibromucosa. A figura 6 apresenta conexão
maior em cobertura total de palato, indicada para arcos superiores com poucos remanescentes dentários, onde se utiliza o palato como suporte.
Outro aspecto importante é a distância entre a borda
livre da gengiva e a conexão maior que deve ser de, no mínimo, 3 mm e 5 mm, respectivamente para o arco inferior e
superior. Esta distância deve ser respeitada para evitar compressão sobre a gengiva marginal (Cameron et al., 2002).
Principalmente em arcos inferiores e com periodonto reduzido, a distância entre a gengiva marginal e o assoalho bucal
Conector Maior
O conector maior é constituído por uma barra metálica
rígida que une, através dos conectores menores, os retentores
e a sela bilateralmente. Com relação aos tecidos periodontais,
a região inferior merece maior destaque visto que a mucosa
apresenta-se fina e pobremente aderida ao osso, tornandoa incompatível para a incidência de forças. Portanto, a relação entre a conexão maior inferior e a fibromucosa deve ser
de alívio (Todescan, 1998). A figura 5 mostra o emprego de
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Figura 5 - Uso de silicona de condensação leve sobre a barra lingual no momento da prova da
estrutura metálica
Figura 7 - Placa lingual como conexão maior
Figura 6 - Conexão maior em cobertura total de palato
Figura 8 - Distância encurtada na região posterior da gengiva livre para o assoalho bucal
encontra-se encurtada, não permitindo espaço para acomodar a barra lingual e ainda respeitar a distância de no
mínimo, 3 mm da gengiva marginal. Nesses casos, indica-se
a placa lingual como conexão maior, que se estende até o
terço médio do dentes pilares, passando sobre a gengiva
marginal previamente aliviada (Phoenix et al.,2007) (figura
7). A placa lingual pode também ser indicada para a região
posterior quando a citada distância apresenta-se encurtada
(figura 8).
Alkaltan & Kaynak (2005) acompanharam por 30 meses
dois grupos de usuários de PPR, um com placa lingual e outro com barra lingual e compararam a condição periodontal.
Em ambos os grupos, não encontraram alteração
periodontal, no entanto, o grupo com placa lingual
apresentou maior acúmulo de biofilme, evidenciando a
necessidade de controles periódicos e eficientes hábitos de
higiene oral.
Conector Menor
O conector menor constitui um elemento da prótese
que une o retentor à sela e/ou ao conector maior. Deve ser
aliviado quando passa pela papila gengival para evitar compressão sobre a mesma (CARR et al., 2005).
Dessa forma, faz-se de extrema importância a interação
prótese/periodontia já que a eficácia do tratamento
reabilitador vai depender em grande parte do planejamento, do diagnóstico inicial correto e do acompanhamento
periodontal posterior a instalação da prótese.
DISCUSSÃO
O periodonto representa uma área de interesse mútuo
para a Periodontia e a prótese visto que um periodonto saudável deve ser sempre almejado no tratamento protético.
Segundo Costa et al., (1997) indivíduos portadores de
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próteses parciais removíveis estão predispostos à formação
e acúmulo de biofilme dentário e de restos alimentares tanto na área grampo-dente, como na área de conector maior,
tornando a prótese um fator retentivo de biofilme dentário.
Asckar et al. (1999) complementam, afirmando que os processos destrutivos nos dentes e no periodonto de proteção
e sustentação de pacientes portadores de próteses parciais
removíveis são mais altos nos dentes envolvidos no desenho
da prótese, que naqueles não envolvidos, concluindo-se que
a prótese é maior hospedeiro para o biofilme do que os dentes naturais. Segundo Zlataric et al. (2002), essas alterações
são atribuídas a pobre higiene oral, aumento do acúmulo
de placa e cálculo e transmissão excessiva de forças às estruturas do periodonto.
Contudo, Leles et al., (1999) constataram que este maior acúmulo de biofilme parece significativo apenas quando
o paciente não é convenientemente orientado ou possui
cuidados inadequados de higiene oral. Dessa forma, devese considerar que o tratamento protético depende em grande parte da presença de tecidos periodontais sadios, pois
uma prótese parcial removível colocada em presença de doença periodontal ativa contribui significativamente para a
rápida progressão da doença e, conseqüentemente, para a
perda dos elementos remanescentes.
Assim sendo, antes de qualquer tratamento protético
deve-se realizar uma avaliação clínica e radiográfica do
periodonto para estabelecer condição de saúde e assegurar-se de que os pacientes receberão instrução detalhada de
higiene oral, de maneira que o acúmulo de biofilme ao redor
dos dentes pilares e dos componentes da prótese seja o
mínimo possível (Sanchez, 1998). Estes procedimentos são
fundamentais e de extrema importância para o sucesso do
tratamento protético, embora ainda sejam negligenciados
por alguns profissionais resultando, dessa forma, em agravamento das condições periodontais e em menor
longevidade clínica da prótese.
Segundo Zuim et al. (1996) existem controvérsias quanto aos motivos que levam ao fracasso das próteses. Uma
das hipóteses é que as forças mastigatórias que incidem sobre as estruturas de suporte devem ser minimizadas pelo
correto planejamento das estruturas metálicas, seja em relação ao tipo de grampo usado, posição do apoio ou técnicas
de moldagens a se utilizar. Outra hipótese atribui o fracasso
das próteses mais a falta de controles periódicos e deficiente
higiene oral e menos por detalhes de planejamento ou simples uso da prótese. Entretanto, apesar das controvérsias,
diversos autores concordam que os efeitos adversos das PPRs
sobre a saúde dos tecidos moles e dentes remanescentes,
podem ser minimizados com programas de controle do
biofilme dental e respeitando-se os requisitos essenciais do
desenho da prótese (Jorge et al., 2007; Muraki et al., 2004;
Zlataric et al., 2002).
De acordo com Bergman (1982), após acompanhar 30
pacientes tratados com próteses parciais removíveis cuidadosamente planejadas, executadas e proservadas, aliada à
instrução de higiene oral e cooperação do paciente não verificou nenhuma deteriorização do periodonto. Esses resultados contrariam a idéia de que a prótese parcial removível
per si leva a um avanço significativo de alterações deletérias
à saúde bucal e reforça a importância do controle do biofilme
efetivo tanto pelo paciente quanto pelo profissional. Jorge
et al. (2007), avaliaram o periodonto de pilares de PPR por 6
meses e concluíram que para preser var as estruturas
periodontais remanescentes, além de investir num correto
planejamento e confecção de uma prótese parcial removível, deve-se ajudar os pacientes a manter um alto nível de
higiene oral, planejando-se retornos periódicos para o ensino, controle e motivação da higiene oral.
CONCLUSÂO
Os problemas periodontais associados às próteses parciais removíveis podem estar relacionados a um planejamento
e execução incorretos da prótese, associado a uma atitude
ineficiente de auto-cuidado dispensada pelo usuário desta
prótese.
Assim sendo, antes de qualquer tratamento
protético deve-se realizar uma avaliação clínica e radiográfica
do periodonto para estabelecer uma condição de saúde
e assegurar-se de que os pacientes receberão instrução detalhada de higiene oral, de maneira que o acúmulo de
placa ao redor dos dentes pilares e dos componentes da
prótese seja o mínimo possível. Outras medidas
complementares e que garantirão o sucesso das próteses
parciais removíveis serão a realização de um controle posterior prolongado e a indissociabilidade entre a próteseperiodontia-prevenção tanto para o profissional como para
o paciente.
ABSTRACT
The oral rehabilitation of the patients partially edentulous
could be carried through removable partial dentures and
constitutes essential factor for the maintenance of the quality
of life of these patients. However, one becomes basic,
in the process of planning of removable partial dentures to
analyze the periodontal situation of the remaining dental
elements that will ser ve of support for these dentures,
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therefore literature comes showing that the majority
of the users of removable partial dentures presents or had
presented some form of periodontal illness. Thus, ahead of
the displayed one, the present article has as objective to
describe the biomechanical characteristics of the removable
partial dentures components to preserve the periodontal
structures.
UNITERMS: Removable Partial Denture, Planning,
Periodontium, Abutment teeth.
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Endereço para correspondência:
Candice de Freitas Rêgo Bezerra
Rua Praia do Sagí, 2094 - Ponta Negra
CEP: 59094-110 - Natal - RN
Tel.: (84) 3219-3101
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4/9/2009, 5:10 PM
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