Sexta-feira e fim de semana
22, 23 e 24 de agosto de 2014
Jornal do Comércio - Porto Alegre
Economia
5
Editor: Luiz Guimarães
[email protected]
PETROQUÍMICA
BRASKEM/DIVULGAÇÃO
Empresa pode
interromper
produção no
complexo de
Triunfo
Fiergs pede intervenção de Dilma em negociação
Falta de acordo sobre o fornecimento de nafta pela Petrobras à Braskem ameaça operação de três polos petroquímicos
Jefferson Klein
[email protected]
Desde a criação do Polo Petroquímico de Triunfo em 1982, não
houve uma situação que uniu tanto empresários e políticos gaúchos
como a renovação do contrato de
fornecimento de nafta da Petrobras
para o grupo Braskem. O atual
acordo acaba no final desse mês e
o temor é que a indefinição sobre
os valores cobrados pela matéria-prima cause a interrupção das
atividades do complexo de Triunfo
e dos localizados na Bahia e São
Paulo. O último movimento para
impedir este cenário foi dado pela
Fiergs, através de um pedido de
intervenção feito à presidente da
República, Dilma Rousseff (reprodução ao lado).
Em carta, a federação solicita a
Dilma que entre no processo para
evitar a paralisação do polo. O
presidente da Fiergs, Heitor Müller,
admite que paira no ar a dúvida
sobre se a estrutura irá ou não parar por ainda não se ter finalizado
o acerto da nafta entre Petrobras e
Braskem. Segundo o empresário,
essa é uma possibilidade que faz
“tremer a base”, já que os prejuízos
para a economia do País e do Rio
Grande do Sul seriam gigantes. No
entanto, Müller se diz um otimista
e espera que seja encontrada uma
solução dentro do limite de tempo.
Caso contrário, o presidente da
Fiergs adverte que, além do impacto nos postos de trabalho, o Estado
perderia muita arrecadação.
As companhias transformadoras do setor do plástico também teriam que procurar opções
para adquirir matéria-prima (resinas). Müller salienta ainda que
se houver alguma interrupção de
atividade, isso não significa necessariamente que ocorra no Sul. A
Braskem pode decidir “hibernar”
as plantas que possui na Bahia ou
em São Paulo e manter a gaúcha
com nafta importada.
O presidente da Associação
Brasileira da Indústria Química
(Abiquim), Fernando Figueiredo,
argumenta que, se a circunstância
chegar ao extremo, o polo que teria mais chances de paralisar seria
o de Mauá (SP), devido ao fato de a
unidade estar muito distante de algum porto. Já pelo motivo inverso,
o de Triunfo teria mais probabilidade de continuar operando. Porém, Figueiredo também acredita
que o caso possa ser resolvido antes disso e afirma que iniciativas
como a da Fiergs, manifestando a
preocupação da indústria, ajudam
nesse sentido. Para o presidente da
Abiquim, haveria uma saída simples (apesar de impopular) para
o imbróglio: aumentar o preço da
gasolina. O dirigente justifica a
posição recordando que foi o crescimento do consumo do combustível que fez com que a Petrobras
intensificasse a importação de nafta e, por consequência, elevasse o
custo da matéria-prima.
O presidente do Sindicato das
Indústrias de Material Plástico
no Estado do Rio Grande do Sul
(Sinplast-RS), Edilson Deitos, concorda com Figueiredo e não aposta
na parada dos polos. Mas, se isso
acontecer, o dirigente aponta que
a alternativa seria a importação
de resinas. Contudo, o empresário
reitera que espera uma definição
positiva antes do final do contrato
atual entre Petrobras e Braskem.
Deitos, que recentemente também assumiu o cargo de coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, sustenta que o País
precisa implantar uma política
industrial para o setor do plástico
nacional. O presidente do Sinplast-RS lembra que a nafta representa
menos de 5% do faturamento da
Petrobras, mas a cadeia do plástico
abrange cerca de 11,5 mil empresas
e gera 350 mil empregos no Brasil.
No Rio Grande do Sul, os números
são de 1,3 mil companhias e 30,5
mil postos de trabalho. Ou seja, o
preço da nafta não pode inviabilizar um setor dessa importância.
O executivo manifesta ainda
preocupação quanto ao projeto de
construção de uma fábrica da companhia polonesa Synthos no Estado, pois a iniciativa depende do
fornecimento de matéria-prima por
parte da Braskem. Essa estrutura,
cujo investimento é estimado em
aproximadamente R$ 380 milhões,
será abastecida com o butadieno
da Braskem, que provém da nafta.
Governo gaúcho acompanha impasse entre companhias com preocupação
Além dos empresários, o governo do
Estado está seguindo de perto o assunto
envolvendo Petrobras e Braskem, afirma o
secretário estadual de Desenvolvimento e
Promoção do Investimento, Mauro Knijnik.
Segundo o dirigente, a expectativa é de
que se encontre uma rápida solução para a
questão. O governador Tarso Genro já ha-
via expressado a preocupação com o tema
para a presidente da Petrobras, Graça Foster,
quando a comandante da estatal esteve no
Palácio Piratini, no dia 14 de julho.
Apesar do otimismo, quanto mais o
tempo avança, maior é a ansiedade. Durante a divulgação dos resultados financeiros
da Braskem no segundo trimestre, realizada
no começo deste mês, o presidente da empresa, Carlos Fadigas, afirmou que esperava
que a renovação do acordo ocorresse ainda
em agosto e não pensava em outro desfecho. No entanto, em recente entrevista dada
à Folha de São Paulo, o executivo admitiu
que pode haver paralisação de operações.
Em nota, a Braskem manifesta que “se-
gue empenhada em encontrar uma solução
com a Petrobras. A companhia tem analisado diferentes cenários e, caso essa solução
não seja encontrada, existe a possibilidade
de interrupção parcial da produção”.
Já a Petrobras, procurada pela reportagem do Jornal do Comércio, não retornou
os questionamentos enviados.
Download

Fiergs pede intervenção de Dilma em negociação