XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004
As Tecnologias de Informação e os Postos de Trabalho
Jeferson José Gomes, Msc (CEFET-PR) – [email protected]
Waldemar Pacheco Junior, Msc (UFSC)– [email protected]
Vera Lúcia Duarte do Valle Pereira, Drª (UFSC) – [email protected]
Resumo
O presente artigo visa apresentar o conceito de tecnologia de informação, um breve histórico
de sua utilização no ambiente industrial, vantagens e exemplos de sua utilização. As
mudanças organizacionais provocadas pela implementação da TIs e suas conseqüências para
o desenvolvimento do trabalho também são apresentadas procurando determinar como os
projetos de postos de trabalho devem ser realizados.
Palavras chave: Tecnologia de Informação, Mudança Organizacional, Postos do Trabalho.
1. Introdução
O ser humano sempre foi capaz de produzir e transformar coisas, a tecnologia sempre esteve
ligada a estes eventos proporcionando conhecimento que são absorvidos e assimilados. A
tecnologia envolve tanto os aspectos organizacionais, técnicos e sociais.
Segundo Barbieri (1990), a tecnologia sempre esteve ligada às transformações da sociedade
em todas as épocas e locais. O fato recente é o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas e a
magnitude das suas transformações. Antes da era industrial, essas transformações, além de
lentas, ficavam confinadas em limites regionais; atualmente, elas se desenvolvem em escala
internacional e seus impactos são mais difíceis de serem controlados.
Entre as novas tecnologias, ligadas à transformação da sociedade tem-se a tecnologia de
informação (TI). A TI possibilita mudanças fundamentais na forma como o trabalho se
processa. Estas mudanças podem ser de natureza estrutural, estratégica, cultural, tecnológica,
humana ou de qualquer outro componente, e são capazes de gerar impactos em partes ou no
conjunto da organização. Dentre as conseqüências para o ser humano está a extinção ou uma
completa reestruturação de funções, ou seja, as funções serão redefinidas e redesenhadas.
2. A Tecnologia
Para Barreto (1992), o conceito de tecnologia está diretamente ligado ao de conhecimento,
que é o conjunto de informações que, absorvidas ou assimiladas, é capaz de modificar a
estrutura cognitiva do indivíduo, do grupo ou da sociedade. Tecnologia, então, são os
conhecimentos que geraram a máquina, o processo de produção, a planta industrial, e que
permitem sua absorção, adaptação, transferência e difusão.
Segundo Pacey (1990), a tecnologia é representada: por seu aspecto organizacional que
apresenta muitas facetas da administração e de políticas públicas, e se relaciona com as
atividades de engenheiros, técnicos e trabalhadores da produção, e usuários e consumidores
de todo o produzido; por seu aspecto técnico, pois tem relação com máquinas, técnicas,
conhecimentos e com a atividade essencial de fazer funcionar as coisas; e, por seu aspecto
cultural que engloba a ideologia, a organização, a técnica e as ferramentas. Quando se fala de
tecnologia em sentido restrito, os valores culturais e os fatores organizacionais são
considerados como algo externo a ela, reduzindo-a por completo a seus aspectos técnicos; ao
falar deste modo, é mais apropriado usar a palavra técnica.
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3. Tecnologia de Informação (TI)
Torres (1995) utiliza uma definição ampla de TI, como sendo toda tecnologia que opera com
informação, seja em um sistema de informações, na automação de um processo industrial, na
comunicação entre computadores de duas ou mais organizações ou no uso dos recursos
computacionais.
Para Walton (1993), a TI, de um modo geral, está presente em uma instalação:
a) na fábrica englobando os instrumentos e máquinas de manufatura, movimentação de
materiais (sistemas de armazenagem e busca automática), desenho (desenho, engenharia e
planejamento de processos assistidos por computador), planejamento e controle, e gestão
(sistemas de suporte a decisão); e,
b) no escritório inclui o processamento de texto, arquivamento automático, sistemas de
processamento de transações, conferência eletrônica, correios e quadros eletrônicos,
video-teleconferências, programas de pesquisa em banco de dados, planilhas eletrônicas,
sistemas de suporte a decisão e sistemas especialistas, integração de unidades através de
redes de informação (interna e externa).
Segundo Zuboff apud Marcovich et. al. (1999), os administradores em geral investem em
novas TIs porque acreditam que isso lhes permitirá realizar suas operações mais rapidamente
a um custo mais baixo. Utilizam-na para objetivos estratégicos e para planejar e alcançar um
ou mais dos três objetivos operacionais independentes: (a) aumentar a continuidade
(integração funcional, automação intensificada); (b) melhorar o controle (precisão, acuidade,
previsibilidade, consistência, certeza); e, (c) proporcionar maior compreensão (visibilidade,
análise, síntese) das funções produtivas.
A informação existente dentro de uma empresa precisa ser bem utilizada e a TI permite
oportunidades de diferenciação, passando assim a ter uma importância estratégica e não
meramente técnica.
3.1. TI e os Postos de Trabalho
Qual é a conseqüência da implantação de novas tecnologias de informação para os postos de
trabalho?
Para muitos, a utilização de novas tecnologias de informação nas empresas só acarreta em
mais desemprego. Pastore (1998) contesta esta alegação, mostrando que:
1 o emprego no setor bancário brasileiro encolheu 50% no período de 1986-96, a automação
teve grande responsabilidade nesse processo. Mas, essa mesma automação, abriu
oportunidades de trabalho nos campos da informática e telecomunicações, assim como
estimulou atividades financeiras no setor não bancário: cartões de crédito, seguradoras, etc.
Inúmeras inovações de processos foram introduzidas para melhorar a sua eficiência, tendo
como conseqüência a terceirização de serviços de apoio. Nos últimos 25 anos a destruição
de postos de trabalho nos bancos foi parcialmente compensada pela criação de trabalho
nesses outros setores sendo que, em alguns casos, provou uma expansão de postos de
trabalho;
2 Em 1996, estimava-se em cerca de 1 milhão o número de robôs em operação em todo o
mundo. Mas, as pesquisas mostravam a existência de cerca de 800 mil pessoas trabalhando
direta e indiretamente na construção de robôs e quase 1,5 milhão na sua manutenção;
3 Uma simulação relatada pela OIT mostrou que, na Inglaterra, a entrada da microeletrônica
provou várias mudanças e gerou, em termos líquidos, 81 mil postos de trabalho
(KAPLINSKY, 1989); e,
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4 Uma pesquisa realizada em 274 empresas da Alemanha nas quais os computadores foram
introduzidos nos setores de administração, designe, produção e controle de qualidade, em
meados dos anos 80, mostrou um equilíbrio entre os profissionais demitidos e admitidos
quando se considera os efeitos diretos e indiretos (EWERS et. al., 1990).
Deve ficar claro, que, muito mais do que a introdução de novas tecnologias, incluindo aí a TI,
a falta de competitividade tem um impacto maior na destruição de postos de trabalho diretos.
Para Pastore (1998), “isso não significa que as tecnologias sejam neutras em termos de seus
efeitos sobre o emprego. Ao contrário, elas provocam uma grande revolução nas empresas
que são levadas a demitir, admitir, treinar, retreinar, reciclar e reconverter seus trabalhadores”.
O desemprego é prolongado quando os trabalhadores, por falta de habilidades, não
conseguem acompanhar as mudanças tecnológicas. Grande parte dos empregos criados é
diferente da parcela que foi destruída. A redução da jornada de trabalho, o trabalho em tempo
parcial, a terceirização, a subcontratação e outras formas de "trabalho atípico" funcionam
como compensadores ao choque de desemprego localizado que determinada tecnologia pode
trazer (PASTORE, 1998).
Pastore (1998) conclui:
“as tecnologias de processos têm contribuído de forma decisiva para o crescimento
econômico, o aumento da demanda e a ampliação das oportunidades de trabalho
desde que as sociedades disponham de instituições capazes de acomodar as novas
formas de trabalho. Para se avaliar o efeito final das tecnologias e dos sistemas de
produção não basta, portanto, examinar a destruição líquida de emprego que
geralmente ocorre nos locais em que entram. É preciso examinar os efeitos de
deslocamento de mão-de-obra e de criação de novas atividades e postos de trabalho
em outros setores e empresas”.
Para Gonçalves (1998), “os cargos estão sendo redefinidos e redesenhados. É o caso de
empresas que estão utilizando times multifuncionais na área de projeto de produto,
incentivando a integração do seu pessoal através da eliminação da circulação de papel e da
adoção de sistemas informatizados integrados”. Gonçalves (1998, p.16) complementa “é
indispensável redesenhar as tarefas e redistribuir as atribuições se quisermos potencializar os
benefícios da utilização da tecnologia ao nível do resultado da organização como um todo”.
Quando ocorrem mudanças estruturais em um setor de uma empresa, com a
implantação de novas tecnologias, fazendo com que algumas tarefas sejam feitas mais
rapidamente, outras partes da cadeia de tarefas serão afetadas, mesmo que a maioria das
implementações sejam de baixa escala, com nenhuma intenção explícita de mudar a estrutura
da função (EASON, 1998).
3.2. A TI no escritório
Na década de 1950, surge a TI e sua principal característica baseava-se no processamento
centralizado de dados, sem ocorrer interação entre o usuário e a máquina. Os computadores
eram de grande porte e operados por especialistas (RODRIGUEZ&FERRANTE 2000).
A partir 1970, as aplicações em tempo real, ou seja, respostas aos questionamentos, já
ocorriam em um número bastante elevado de aplicações. O processamento de dados começa a
ser descentralizado com o uso de CPD’s (Centros de Processamento de Dados). Há a
introdução das redes locais de alta velocidade (LAN’s – Local Area Network) que operam em
distâncias limitadas. Tem-se facilidade de incluir novos elementos. O controle de
administração de hardware e software pode ser realizado pelos usuários, várias redes LAN’s
podem integrar-se e compartilhar recursos. Em 1975, surgem os microcomputadores da Intel,
e de uso difundido a partir da década de 1980 (RODRIGUEZ&FERRANTE 2000).
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A década de 1990 traz como principais conquistas na área de TI uma maior ênfase na
arquitetura cliente/servidor com a utilização. de plataformas menores de hardware e software.
Há uma intensificação do uso da Internet, que surgiu em 1981 como uma expansão da rede
Arpanet – dedicada a interligar redes militares americanas de pesquisa (1969), com a
utilização de correio e do comércio eletrônico. Tem-se ainda o teleprocessamento simultâneo
de dados, voz e imagem que permite a realização de reuniões on-line.
Atualmente, redes que interligam computadores dentro ou entre organizações e que
possibilitam que trabalhadores em diferentes locais de trabalho compartilhem informações e
cooperem em projetos, estão se tornando rapidamente uma importante arma estratégica para
muitas empresas. Estas informações disponíveis na rede são acessadas e compartilhadas por
vários usuários em seus computadores pessoais.
A automação do fluxo de trabalho permite que as redes de computadores enviem
automaticamente documentos como faturas, solicitações de cheques ou consultas aos clientes
ao local correto para serem processados. Permite que todo o procedimento seja realizado por
intermédio do computador, sem que qualquer funcionário jamais precise manusear uma folha
de papel. Permite, também, que as pequenas empresas lidem com tarefas de arquivamento de
registros que antes somente as grandes empresas podiam fazer.
3.3. A Tecnologia de Informação na Fábrica
A partir da década de 50 foram introduzidas as máquinas por controle numérico, que por meio
da leitura de um cartão realizava uma seqüência de passos previamente programados,
possibilitando as máquinas controlarem o movimento e a velocidade de suas ferramentas
durante a operação. Surgem, então, as máquinas de controle numérico computadorizado com
o mesmo princípio de funcionamento, porém, o conjunto de instruções codificadas e os
computadores tomam o lugar dos operadores dando mais acuidade, precisão e repetitividade
ao processo. Hoje, os centros automatizados de controle numérico possuem três ou mais graus
de liberdade, permitindo conformar peças mais complexas, possuem também a capacidade de
trocar suas próprias ferramentas (SLACK et. al.,1996).
Os robôs começaram a ser utilizados na indústria no início da década de 60, eram à válvulas e
muito caros. A partir da metade da década de 70, com o avanço da microeletrônica, houve
uma diminuição de preços e conseqüentemente uma maior aplicação industrial (SLACK et. al.
1996).
Atualmente, os robôs mais avançados possuem retroalimentação sensorial por meio de
controle de visão e controle de toque. Porém, o grande atributo dos robôs é sua habilidade de
desempenhar tarefas rotineiras e algumas vezes perigosas por longos períodos, tais como:
soldagem, pintura, atividades no fundo do mar entre outros.
Os veículos auto guiados (AGVs – Automated guided vehicles) são veículos autônomos e
começaram a ser utilizados a partir dos anos 50, em particular na indústria automobilística e
no transporte de cargas pesadas e/ou perigosas. Os AGV’s recebem informações de um
computador central e são guiados por cabos enterrados no chão da fábrica. Os AGV's mais
modernos são controlados por microprocessadores, que se encontram a bordo do próprio
veículo. Os AGV’s transportam materiais e também ajudam a promover entregas just in time
de peças no processo de produção, em alguns casos podem ser usados como estações de
trabalho móveis substituindo os sistemas de esteiras transportadoras (ALVES, 1998).
Os softwares são ferramentas importantes na aplicação da TI dentro do setor produtivo. Os
softwares gráficos são utilizados no desenvolvimento dos mais variados produtos e serviço. O
uso desta ferramenta traz flexibilidade para o desenvolvimento de produtos e serviços pela
possibilidade de testar mais modelos, economia de matéria-prima e agilidade na troca e
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distribuição das informações. O uso crescente do CAD acarretou o desenvolvimento de outros
sotwares como o CAM (computer aided manufacturing – manufatura assistida por
computador) responsável pelo controle numérico de processos, máquinas, robôs, sistemas
controladores de estoque, AGVs e sistemas flexíveis de manufatura, e o CAE (computer aided
engineering – engenharia assistida por computador) que é a associação de programas
específicos de cálculos de engenharia. Segundo Scheer (1993), as atividades importantes no
contexto de projeto assistido por computador são:
•
obter informações a partir de arquivos e estoques de dados existentes;
•
cálculos de cargas e tolerâncias garantidas a serem observadas;
•
preparação de desenhos; e,
•
elaboração de análise técnica e econômica do projeto.
A maioria dos sistemas de produção possuem alguma TI, quer seja pelo uso de alguma
máquina de controle numérico por computador (CNC), softwares de projetos e/ou de análise
de engenharia, robôs, veículos auto guiados e/ou controle remoto das máquinas, quando estas
tecnologias estão integradas pode-se formar um sistema flexível de manufatura.
O autor define um FMS como um sistema de produção com TI integrada que necessita de
pessoas multi-habilitadas para realizar as atividades do sistema. As pessoas não manejam
mais diretamente as matérias primas, elas controlam o processo que age sobre as matérias
primas, ou seja, a atividade produtiva é diferente. Um FMS (Flexible Manufacturing
Systems). é composto por (SLACK et. al., 1996):
1) Estações de Trabalho CNC, com máquinas ferramentas ou centros de trabalhos
automatizados, tem função de desempenhar operações mecânicas; sua utilização permite o
aumento em muito da rapidez com que os itens podem ser fabricados;
2) Instalações de carga/descarga, com robôs que movem peças de e para as estações de
trabalho;
3) Instalações de transporte/manuseio de materiais movem peças entre estações de trabalho;
podem ser AGV’s, ou esteiras, ou trilhos transportadores ou se a distância for pequena,
robôs; e,
4) Sistema de controle por computador, preferencialmente um sistema centralizado, controla
e coordena as atividades do FMS e, também, o planejamento e a seqüência de produção e
o roteamento das peças através do sistema.
Uma das TI mais avançada dentro de uma indústria é a Manufatura Integrada por Computador
(CIM - Computer Integrated Manufacturing) que se refere às necessidades de processamento
de informação integrada para as tarefas técnicas e operacionais de uma empresa industrial
(SCHEER 1993).
Daft (1999) considera que a grande vantagem da CIM é que produtos de diferentes tamanhos,
tipos e requisitos misturam-se livremente na linha de produção. Códigos de barras impresso
em uma peça permitem que as máquinas executem mudanças instantâneas. A CIM possibilita
que as fábricas aumentem o tamanho dos lotes e a flexibilidade ao mesmo tempo. Ao atingir
esse nível, permite a personalização em massa, com cada produto sendo adequado às
especificações do cliente. Outras vantagens da CIM são tornar a utilização das máquinas mais
eficiente, cresce a produtividade da mão-de-obra, diminuem as sobras e aumentam a
variedade dos produtos. A CIM possui poucos níveis hierárquicos, tarefas adaptáveis, pouca
especialização, descentralização, e o ambiente geral caracteriza-se como orgânico e autoregulável. Possui treinamento amplo e freqüente para os trabalhadores. A capacitação tende a
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ser cognitiva, de forma que os trabalhadores possam processar idéias abstratas e resolver
problemas. Os relacionamentos entre organizações são caracterizados pela demanda mutável
dos clientes, que é facilmente manipulável pela nova tecnologia, e estreitos relacionamentos
com alguns fornecedores que oferecem matérias-primas de alta qualidade.
A evolução cronológica da TI na indústria está resumida na tabela 1.
Data
1946
Evento
Desenvolvimento de um dispositivo de controle que grava sinais elétricos magneticamente
reproduzindo-os para a operação de máquinas.
Final Desenvolvimento do controle numérico (CN) para máquinas ferramentas e dos veículos auto
anos 40 guiados (AGV’s).
1952 Inicia-se a utilização comercial do controle numérico e dos AGV’s.
1959 Introdução do primeiro robô comercial controlado por chaves fins-de-curso.
1961 Introdução do primeiro robô com CN utilizado para atender uma máquina de fundição sobre
pressão. A partir desta década começa a utilização dos CLP’s.
1962 Início da utilização de computadores no controle de processos.
1968 Desenvolvimento do primeiro robô móvel, constituído de vários sensores
1970 Início da utilização de microcomputadores pelas empresas.
1971 Fabricação da primeira máquina por controle numérico no Brasil.
1972 Com o desenvolvimento dos microprocessadores inicia-se a substituição dos equipamentos
analógicos por equipamentos digitais.
1973 Desenvolvimento da primeira linguagem de programação em computador para robôs.
1974 Desenvolvimento do primeiro robô controlado por computador.
1975 Primeiras utilizações dos robôs em operações de montagem.
1983 Desenvolvido um projeto piloto de uma linha de montagem flexível usando robôs.
Tabela 1: Evolução cronológica da TI na industria (Fonte: Groover et al., 1986)
3.4. Vantagens com o uso da TI
Para Scheer (1993), “a tecnologia da informação será não somente reconhecida como um
fator de produção que influencia cada vez mais a estrutura organizacional, como também um
importante fator de competitividade”.
Uma idéia das vantagens estratégicas disponibilizadas com a implantação da TI é apresentada
na tabela 2 (MARCOVITCH et. al., 1999).
Processo
Vantagens estratégicas disponibilizadas
Redução de estoques - Sincronização de processos de vendas, produção
e compras - Identificação e administração de gargalos de produção Gerenciamento
Controle de qualidade e produtividade - Redução dos efeitos danosos da
da Produção
sazonalidade - Suavização dos planos de produção
Controle de estoques, evitando investimentos excessivos em estoque e
Suprimentos
compras desnecessárias - Simulação de faltas e disponibilidades Facilidade para seleção de fornecedores - Automação das informações
Desenvolvimento de Engenharia de produtos - Cadastramento de fórmulas – Simulação de
Produtos
custos - Acompanhamento da evolução histórica e técnica de cada
produto
Atendimento de
Melhoria no giro de estoques de produtos acabados - Programação
pedidos
automática de embarques
Administração e
Melhor aplicação dos recursos - Visão segura do fluxo de pagamentos
Controle
versus recebimentos - Informações rápidas e seguras para planejamento
Facilidade para elaboração de informações gerenciais - Racionalização
de processos
Tabela 2: Vantagens estratégicas obtidas com a implantação da TI (Fonte: Marcovitch et al., 1999)
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A TI está possibilitando mudanças fundamentais na forma como o trabalho se processa. As
atividades mais suscetíveis a alterações, segundo Oliveira apud Agrasso & Abreu (2000), são
aquelas intensivas em informação. Um primeiro grupo refere-se à produção: a física
(crescentemente atingida pela robótica e instrumentação de controle); a produção de
informação (influenciada pelos computadores em tarefas burocráticas como contas a receber,
contas a pagar, faturamento etc.); e, a produção de conhecimento (CAD, CAM, análise de
crédito e risco, produção de software etc.). A seguir tem-se os trabalhos de coordenação,
sendo as telecomunicações, o instrumento fundamental da mudança. Afeta a distância física, a
natureza do tempo sobre o trabalho, armazena informações e mantém a memória
organizacional por banco de dados. Finalmente, o terceiro grupo refere-se à gestão, afetando
tanto a direção, ao permitir monitorar o ambiente e tomar as decisões para adaptar a
organização ao ambiente, como o controle, ao medir a performance e compará-la com os
planos, para manter-se no rumo desejado. A seguir são apresentados alguns exemplos da
utilização da TI nas indústrias:
1.
PROJETO ERJ 170/190 – EMBRAER: a TI é utilizada para o desenvolvimento de
produto. O projeto envolve a montagem de redes de clientes e fornecedores que
participam juntos de projetos, partilhando informações e assumindo riscos. Ao todo, são
2500 pessoas envolvidas (1000 na Embraer e 1500 locadas nos parceiros). A TI fez com
que processos antes desenvolvidos passo a passo acontecessem simultaneamente,
profissionais trocando informações diárias por meio de uma extranet, por onde trafegam
todas as orientações, relatórios e imensos arquivos de desenhos que teriam de viajar em
disquetes pelo correio (PADUAN, 2001);
2.
PORTAL CORPORATIVO: a AmBev pretende que este portal se torne uma ferramenta
de gestão. As informações contidas no portal virão da AmBev e de fornecedores externos,
todos conectados pela internet. A idéia principal é buscar dados em qualquer computador
ligado à rede e traduzi-los automaticamente para uma página da internet. A AmBev
espera melhorar a comunicação interna utilizando um único sistema de troca de
informações. Outro benefício é a possibilidade de pessoas em locais diferentes poderem
trabalhar numa mesma planilha de custos, melhorando a produtividade. A gestão do
conhecimento é focada pela criação de um banco de dados com experiências e
procedimentos, evitando que estes se percam a cada projeto concluído (TEIXEIRA,
2002); e,
3.
Fábrica de automóveis da Volkswagen em Resende – RJ: o investimento da Voslswagen
de US$ 250 milhões para a confecção da planta industrial produz apenas duzentos
empregos diretos. Mas, sete empresas “fornecedoras-residentes”, cada uma responsável
pelo seu equipamento, mão-de-obra e sistemas de produção geram outros, um mil e
quatrocentos empregos. Neste novo conceito de produção, a “empresa mãe” é quem
emprega menos. Atinge com isso um alto grau de flexibilidade, substituindo-se a
produção em massa pela produção individualizada que acompanha mudanças de demanda
(PASTORE, 1998).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A TI é uma necessidade eminente para as empresas manterem-se competitivas. É interessante
ressaltar que a TI está presente em todos os setores dentro de uma empresa, seja nos processos
produtivos, nos produtos, na administração e/ou nos sistemas de informação. A TI é uma
poderosa ferramenta, que altera as bases de competitividade, estratégias e operacionais das
empresas. Para Mañas (1993)
“Os administradores sabem a necessidade de prever a mudança tecnológica e seu
impacto sobre as atividades. Inovações radicais da tecnologia produzem
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transformações profundas na organização social, no trabalho e na vida cotidiana.
Atingindo toda a sociedade, esses processos introduzem mudanças relevantes nos
conhecimentos, na cultura e nas relações do poder e exigem, portanto, a criação de
instrumentos de controle e de intervenção totalmente novos. Isso porque o desafio
tecnológico recoloca em discussão alguns equilíbrios fundamentais da sociedade: os
níveis de ocupação, as profissões e os conhecimentos adquiridos, os locais e as
formas de construção das experiênciais sociais e da identidade das pessoas, dos
grupos de classe.
A indústria é a parte da sociedade mais invadida por essa transformação. A fábrica já
mudou e continua mudando. Hoje, com a automação da gestão empresarial e dos
escritórios, com os novos instrumentos para elaborar projetos, com a automação
flexível computadorizada da produção, está definitivamente superada a
racionalidade da moderna fábrica eletro-mecânica. Esses impactos já estão servindo
como experiência para a mudança nos serviços e em outras áreas de produção e
lazer.”
Qualquer introdução de novas tecnologias produz mudanças organizacionais, a TI afeta de um
modo especial a ser humano, diminuindo o emprego direto e consequentemente provocando
profundas alterações nos postos de trabalho.
Para Wood Jr. et. al. (2000), “mudança organizacional é qualquer transformação de natureza
estrutural, estratégica, cultural, tecnológica, humana ou de qualquer outro componente, capaz
de geral impacto em partes ou no conjunto da organização.”
Dentre as mudanças organizacionais ocorridas pelo utilização da TI, Daft (1999) destaca as
seguintes:
1. Estrutura organizacional mais achatada: ocorrendo a substituição da antiga hierarquia
por pequenas equipes de trabalho. trazendo rapidez as decisões e uma melhor eficácia;
2. Maior centralização ou descentralização: os gerentes que desejam centralizar podem
utilizar a tecnologia para adquirir mais informações e tomar mais decisões. De modo
análogo, os gerentes podem descentralizar as informações para os empregados e aumentar
a participação e a autonomia. A filosofia gerencial e a cultura corporativa têm uma grande
participação sobre como as TI influenciam as decisões, mas as empresas esclarecidas
parecem usá-la para dar autoridade aos empregados, sempre que possível;
3. Coordenação Melhorada: a nova tecnologia permite que os gerentes se comuniquem entre
si e estejam cientes das atividades e resultados da organização. Ela pode ajudar a derrubar
barreiras e criar um sentimento de equipe e identidade organizacional que não estava
disponível antes, principalmente quando as pessoas trabalham em locais diferentes;
4. Menos tarefas rígidas: um menor número de tarefas administrativas sob uma TI estará
sujeita a políticas e descrições de cargos rigidamente definidas; e,
5. Maior proporção de pessoal profissional: a implementação de sofisticados sistemas de
informação significa que os empregados precisam ser altamente treinados e profissionais
para operar e manter o sistema.
Para ser bem sucedida a implantação de novas TI deve passar por um processo de análise que
inclua, além do projeto de implantação, as conseqüências que a tecnologia proporcionará a
estrutura da empresa.
Segundo Eason (1998), a maioria das implementações são planejadas como mudanças
técnicas com nenhuma intenção de mudar a estrutura da atividade. Quando a implementação
ocorre dentro de uma abordagem sóciotécnica três passos devem ser seguidos:
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Passo 1: Examinar as funções do usuário que serão afetadas pela introdução da nova TI.
Que efeito a nova função terá no trabalho a ser feito pelo usuário? Quais serão as
mudanças no conteúdo do trabalho e na carga de trabalho?
Passo 2: Quais serão as conseqüências nas atividades do usuário com a nova função? Se,
por exemplo, a carga de atividade total cair como é que se pretende que o tempo seja
preenchido? Pela redução do número de empregados na função, aumentar o número de
atividade, ou a equipe ampliará a função para incluir outros tipos de atividades?
Passo 3: Quais serão as conseqüências de algumas mudanças da função principal
relacionadas as outras funções do trabalho? Olhar para as funções que tem
interdependências de tarefas com funções de mudanças e procurar por efeitos
anteriormente apresentados, isto é, por exemplo, se os gerentes digitam suas próprias cartas
o que acontece com as secretárias; se os médicos pedem mais testes para os pacientes, o
que acontece com as equipes dos laboratórios etc.? Os efeitos podem se espalhar por meio
das interdependências de tarefas para outros departamentos ou seções.
Ainda, segundo Eason (1998), o procedimento geral para o projeto de postos de trabalho é
amplamente aplicado seja qual for a escala da unidade organizacional considerada. Um ponto
importante de partida para este procedimento é a seleção de uma unidade organizacional
apropriada para análise, preferencialmente aquela parte da organização que será afetada pela
nova TI. Uma vez que a unidade de análise foi identificada criam-se critérios: custo,
produtividade, técnico, tradição, eficiência organizacional, saúde e bem estar e satisfação e
motivação são alguns critérios que devem ser levados em consideração para avaliar as opções
de projetos de postos de trabalho que podem ser alocados por: especialização de tarefas,
rotação de atividade, ampliação da atividade, enriquecimento da atividade e grupo de
trabalhos autônomos. Os diferentes acionistas podem ter prioridades diferentes nos critérios e
a maioria dos especialistas de projeto de postos de trabalho adotam uma abordagem
participativa nas quais a força de trabalho relevante tem uma parte importante na seleção de
uma opção a qual satisfaz as suas exigências. Uma vez que uma opção foi concordada será
necessário estabelecer os assuntos organizacionais a serem estabelecidos antes que uma opção
possa ser implantada, por exemplo exigências de treinamento, pagamento e questões de
avaliação, acordos com sindicatos, etc..
O processo de mudança tem de ser facilitado pelo desenvolvimento de uma estratégia de
implementação que examina os custos de transição. Uma estratégia desta forma procura
especificar as atividades que devem ocorrer para mover a organização de sua forma existente
a uma nova forma e irá incluir um cronograma para todas as mudanças técnicas que devem
ocorrer. Ao delinear a estratégia, a estrutura existente deve ser retirada (o que pode incluir
redundâncias, transferência ou uma aposentadoria precoce) para a nova estrutura poder então
ser introduzida. Em muitas situações, isto tem de ser executado, enquanto, o negócio normal
está sendo empreendido. Geralmente, a mudança leva mais tempo do que o planejado,
elevando os custos estimados (EASON, 1998).
Toda nova TI a ser implementada em uma empresa, seja no escritório ou na fábrica acarretará
ao posto de trabalho: busca de profissionais com melhor nível de escolaridade, mudança e
maior variedade de funções, maior e mais freqüente realização de treinamentos.
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As tecnologias de informação e os postos de trabalho