DESTINO
Ilhéus
Terra do Cacau
e dos Coronéis
Texto de: Catarina Delduque
Pequena, histórica, lendária. Jorge Amado conseguiu imortalizar a Bahia e as suas cidades.
Ilhéus é talvez aquela que mais efeito tem sobre os portugueses, pois é palco da famosa ‘Gabriela, Cravo e Canela’. E se bem que a mulata fosse (talvez) produto da imaginação fértil do
escritor, outras memórias não o serão. Os coronéis ainda existem por ali, bem como o cacau, a
vassoura de bruxa, o ‘Bataclã’ ou o ‘Vesúvio’. De alguma forma, tudo nesta terra obrigatoriamente se relaciona com Jorge Amado. É chegar para ver.
ONDE AS MULHERES FORMOSAS TÊM NOME: Se
Ilhéus foi palco da novela que imortalizou
Jorge Amado nos écrans da televisão para os
portugueses, então a cidade é a primeira a
não deixar morrer esse facto. Por todo o lado, a Gabriela é recordada. Na rádio, nos autocarros, nas paredes do bar ‘Vesúvio’, inclusivé nas mulheres: se for bonita, ganha logo o
epíteto — é uma Gabriela. E o que não for
chamado Gabriela, será certamente apelidado Cravo e Canela. Aqui só não ganha muito espaço o Seu Nacib, o Doutor Mundinho, ou a Maria Machadão.
É impossível, a quem tenha lido o livro, ou acompanhado a novela, visitar Ilhéus sem se deparar permanentemente com referências a um
passado que, apesar de não se ter
vivido, a não ser na imaginação,
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começa a tomar forma. É de alguma forma
nostálgico ver o banco onde o coronel Ramiro se sentava a apanhar sol, o bar onde Nacib e Gabriela viveram os seus amores, o Bataclã que agora está rodeado de tapumes para ser recuperado. E é também nostálgico conhecer a casa onde viveu Jorge Amado, lugar
de onde acompanhou as vidas de inúmeras
personagens que depois ele próprio se
encarregou de imortalizar. A dívida de
Ilhéus para com o autor está paga: também ele está imortalizado, numa das
paredes do ‘Vesúvio’, sorrindo a quem
passa, ao lado da sua formosa (e famosa) Gabriela.
TERRA DO CACAU: Ilhéus encontra-se na conhecida Costa do Cacau,
assim baptizada devido às fazen-
das de cacaueiros (cultura iniciada no século
XVII) e à produção de chocolate. Devido a
uma praga que, em 2000, destruiu praticamente toda a cultura de cacau da região, e a
que chamaram vassoura de bruxa, muitas
fortunas se perderam e muitos foram obrigados a procurar outro sustento. Mas hoje, alguns dos coronéis ainda sobrevivem. E alguns dos mencionados na obra de Amado,
foram reais até há pouco tempo.
Actualmente, encontra-se em execução um
plano de recuperação da indústria do cacau.
Mas aquele período que deu a Ilhéus o apogeu económico já foi há algum tempo, desde
1910 e prolongou-se até ao início da década
de 1980.
O chocolate de Ilhéus é bastante conhecido.
Uma das únicas fábricas de chocolate da
Bahia está precisamente aí. E para provar a
Revista APAVT • Nº9 • Dezembro 2003
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especialidade, uma pequena venda na praça
D. Eduardo, frente ao Vesúvio, oferece algumas especialidades: trufas, bombons, tabletes misturadas, crocantes, a oferta é variada
e de deixar água na boca.
O chocolate também pode ser encontrado
como aroma de charutos. Em algumas das
lojas de Ilhéus é possível encontrar essa curiosidade. Para alguns entendidos, é mesmo
uma especialidade.
CIDADE HISTÓRIA: Apesar das referências
históricas à presença dos portugueses, imperam mais em Ilhéus as referências da novela.
A presença dos portugueses é inevitável, a edificação da vila que viria a ser a cidade de São
Jorge de Ilhéus, as igrejas e os engenhos são
resultado da presença dos portugueses. Mas
esta região da Bahia contou também com outras culturas: a índia, a negra, a alemã.
Ilhéus conhece o seu apogeu quando floresce
a cultura do cacau, em 1746, altura em que
chegaram do Pará as primeiras mudas do cacaueiro, que foram plantadas em Canavieiras. A partir de 1860, aumenta a cultura, para responder ao aumento do consumo de
chocolate. O período de produção e enriquecimento dura apenas por mais cem anos, altura em que começa entrar em declínio.
Mas a história ficou eternizada. Desde a Catedral, ao Vesúvio, passando pelo Bataclã, ou a
casa de Jorge Amado, ou como o Palácio
Paranaguá, a sede da Associação
Comercial, as igrejas de Nossa
Senhora da Piedade, de São Jorge
e de São Sebastião. A história
mistura-se com a imaginação, as memórias diluemse entre personagens históricas e fictícias.
E sim, Ilhéus foi casa de
Jorge Amado, durante
a sua juventude. Em
1931 escreve “O País do Carnaval”, viveu o
apogeu da cidade e testemunhou a existência
de algumas das personagens que imortalizou.
CHEGAR A ILHÉUS, PORQUÊ? Ilhéus situa-se a
462 km a sul de Salvador e a 325 a norte de
Porto Seguro, podendo ser alcançado por via
aérea, terrestre ou marítima. Á partida poderá parecer um passeio sem muito interesse,
mas a cidade tem vários pontos curiosos a
visitar. Não só os históricos, mas a nível de
compras é também interessante. Roupas, livros, lembranças, charutos, um mercado de
artesanato, são alguns dos atractivos.
O Bar ‘Vesúvio’ oferece música ao vivo todas as noites, para acompanhar as refeições,
ou tomar apenas uma bebida.
Nos resorts nas redondezas da cidade, como
por exemplo, em Canavieiras, a animação à
noite é também constante, com música ao vi-
vo e, às vezes, discotecas.
A nível de restauração, o centro de
Ilhéus oferece uma escolha variada,
que vai desde comida árabe até à regional. Um local a visitar é a Av.
Dois de Julho, uma antiga zona
portuária e comercial, que hoje foi
convertida em zona de bares e restaurantes.
Durante o dia, é fácil e até aprazível, perder-se pelas ruas da cidade,
encontrar as mais variadas lojas e os mais
diferentes pontos possíveis de visitar. O centro histórico, de ruas estreitas, ou as ruas mais
próximas ao porto, poderão ser ideias para
passeios.
Os ilheenses são regra geral pessoas simpáticas, que levam a vida de modo calmo. Não
se costumam encontrar tantos vendedores de
rua em Ilhéus como, por exemplo, em Salvador.
VISITAS EM ILHÉUS. Para além da vertente histórico-cultural, a região de Ilhéus oferece
uma série de actividades ao ar livre, desde
passeios, à possibilidade de praticar diferentes desportos. Se no espaço urbano, se aconselham visitas à casa de Jorge Amado, com
uma fotobiografia, as capas dos seus livros, a
apresentação de um vídeo, ou a exposição de
diferentes imagens de orixás, por outro lado
também se pode conhecer o Museu Regional
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do Cacau (fundado em 1982) com documentos, fotografias, objectos e obras de artistas
plásticos da região. Aqui é apresentado o desenvolvimento do ciclo do cacau e de parte
da vida dos colonizadores e habitantes indígenas, e a Praça do Cacau, com quase cem tipos de cacaueiros de todo o mundo aí plantados, representando a cultura do Cacau no
Brasil, em África e na Ásia, e uma fazenda da
região, em miniatura.
Mas muito mais existe para visitar. O ideal
será contratar um guia, ou alugar um automóvel, para conhecer todas as atracções que
rodeiam a cidade.
A lagoa encantada, por
exemplo, uma lagoa de 6,4
km2 cercada por fazendas e
mata, ganhou o seu nome devido às ilhas flutuantes que se
movem de uma margem à
outra, conforme os ventos e a
corrente, que por vezes poderão parecer seres míticos, como o “lobisomem” ou a”mula sem cabeça”.
Os apreciadores das belezas
naturais poderão encontrar
nas proximidades da Lagoa
Encantada, as caldeiras do
rio Caldeiras e do rio Apepique, com duas cascatas. Ali é
possível tomar-se banho e desfrutar da paisagem. A cachoeira do Apepique é ideal para
os praticantes de canoagem. Outra das belezas naturais da região é o Jardim Botânico
Mata da Esperança, que pode ser percorrido
a pé (três horas de passeio) ou de bicicleta
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DE FAZENDAS E CHOCOLATES: Outra proposta
de passeio, poderá ser a visita a uma fazenda.
Para além do valor histórico, a oportunidade
de conhecer in loco um espaço que apenas se
mais de cem anos e objectos utilizados na
novela ‘Renascer’, já exibida em Portugal.
O povoado de Engenho Santana, onde foi
instalado o primeiro engenho de cana-de-açúcar do Brasil, ou a Capela de Santana,
na vila do rio do Engenho, erguida por volta
de 1550, e considerada uma das mais antigas
capelas rurais do Brasil, são ideais para se
voltar à época dos primeiros colonizadores e
apreciar a natureza exuberante. Cópia do estilo arquitectónico suíço, a Fábrica de Chocolate foi a primeira fábrica de chocolate artesanal do Norte/Nordeste. Para além da loja, também é oferecida uma maquete da Fazendinha Renascer com a casa do coronel e
barcaças (onde o cacau é seco ao sol).
A quatro horas de distância de Ilhéus, encontra-se a Fazenda Renascer, aquela que foi
utilizada para gravar a novela com o mesmo
nome. Aqui é possível apreciar-se a paisagem, de cascatas e corredeiras, ou ficar a conhecer-se o ciclo do cacau: plantação, colheita e aproveitamento. Na Fazenda de Rio-do-Braço, a 25 quilómetros de Ilhéus, por
asfalto e estrada de terra, encontram-se as
ruínas da mercearia de Norberto, outra personagem da telenovela Renascer, bem como
a Casa da Jacutinga. Mais históricas, são as
fachadas das casas de ricos fazendeiros de
cacau, a capela e um armazém de cacau do
início do século.
costuma ver em novelas, conhecer o proprietário, e visitar os espaços poderão ser
bons atractivos. Por exemplo, na Fazenda
Primavera, o proprietário recebe os visitantes
pessoalmente. E apresenta o seu museu particular, com documentos raros, relíquias com
MAR E OS RIOS SECom uma localização marítima, Ilhéus está
também próximo a rios, que
permitem os mais diversos
passeios. O Rio de Engenho,
um antigo quilombo, o estuário dos rios Cachoeira,
Engenho e Fundão, cuja
maior atracção é o morro de
Pernambuco, são algumas
das possibilidades. Para tal
são organizados passeios,
sendo que alguns incluem
refeições a bordo.
Por outro lado, o mar é sempre um atractivo. E por isso,
praias como a dos Milionários, no litoral
Sul, ou a Jóia do Atlântico, no litoral Norte,
poderão ser algumas ideias. Mais conhecida
é a ilha de Comandatuba, onde se encontra o
resort Transamérica, considerado um dos
melhores do Brasil.
(uma hora) através de trilhas, e observar as
espécies vegetais e animais da Mata Atlântica, bem como cachoeiras. Uma outra proposta de passeio é a Estrada Parque Ilhéus - Itacaré: 65 km ao longo do litoral, com praias
semi-selvagens, cachoeiras, mirantes, passarelas suspensas e túneis para os animais. Esta
também pode ser percorrida de bicicleta.
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