Tal como na reunião de Lisboa, as reuniões que o MMU organizou em Coimbra, no dia 23, e no
Porto, a 27 de Fevereiro, foram pautadas pela grande adesão dos clínicos
Fernando Gomes
Miguel Guimarães
Reuniões organizadas pelo MMU mobilizaram cerca de 1600 profissionais
Médicos dispostos a sair da zona de conforto e reivindicar
Foram três as reuniões promovidas pelo Movimento Médicos Unidos (MMU) e o sentimento que
perpassa pela classe foi abordado de forma igual em todas elas: os médicos estão dispostos a
lutar pelo SNS e por melhores condições de trabalho.
Tal como na reunião de Lisboa, que o «Tempo Medicina» deu conta na edição passada, as
reuniões que o MMU organizou em Coimbra, no dia 23, e no Porto, a 27 de Fevereiro, foram
pautadas pela grande adesão dos clínicos, mas, sobretudo, pela vontade demonstrada de
empreender um caminho de luta contra a actual política de Saúde. Disso mesmo deu, novamente,
nota Carlos Cortes, um dos fundadores do MMU, nas declarações ao nosso Jornal.
O médico realçou que «chegou à altura» de os profissionais saírem da «zona de conforto» tendo
nas várias reuniões ficado bem patente que «os médicos estão dispostos a mobilizarem-se». «Os
médicos tomaram consciência que tinham de fazer algo para o Ministério recuar neste caminho
que está a percorrer», sublinhou Carlos Cortes, acrescentando que se os sindicatos e a Ordem dos
Médicos precisarem da mobilização da classe «ela está muito forte e presente» e isso ficou claro
nas três reuniões.
Tal como aconteceu em Lisboa (ver edição de dia 27/02/12), também em Coimbra e no Porto
estiveram representantes dos sindicatos — Federação Nacional dos Médicos e Sindicato
Independente dos Médicos (SIM) —, e da Ordem dos Médicos que discutiram com os perto de
1600 médicos presentes nos três encontros (dados do MMU) «formas de luta de todo o tipo»
para travar a política que emana da João Crisóstomo sem, no entanto, Carlos Cortes querer
adiantar mais pormenores sobre essas acções na conversa com o nosso Jornal.
O SIM também deu nota do sentimento vivido nas três reuniões na sua página oficial, em
www.simedicos.pt, sublinhando que «esta é uma altura em que os médicos têm de sair da sua
zona de conforto e individualmente assumirem, pelas formas legais, a sua indignação, e que os
sindicatos médicos podem estar certos que têm tropas para as próximas batalhas», lê-se na
página.
A grande mobilização registada parece dar «esperança», quer às instituições que representam a
classe, quer ao Movimento que nasceu nas redes sociais, de que «algo está a mudar» na forma
como os médicos se estão a unir para alcançar os objectivos a que se propõem, afirmou Carlos
Cortes.
Reunião com tutela adiada
Nos testemunhos dos profissionais que participaram nos três encontros denota-se também que os
problemas que atingem a classe médica e o Serviço Nacional de Saúde «são os mesmos» em
todas as regiões do País e que os profissionais «sentem os problemas da mesma forma», resume
o médico que pertence ao MMU. Mais uma vez foram abordadas as questões das horas
extraordinárias e do descanso compensatório, nomeadamente o desrespeito pelas circulares
emanadas pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).
A negociação das grelhas salariais para o horário das 40 horas semanais também foram
amplamente discutidas, com os médicos a reclamarem um «salário base condigno que possa
corresponder à responsabilidade que os médicos têm» sem que tenham de «usar as horas extra
para compor o vencimento base», disse Carlos Cortes ao «TM».
Isto na semana em que estava marcada para o passado dia 28 mais uma reunião entre os
sindicatos e a tutela para então dar início à discussão dos valores salariais da grelha, tal como o
nosso Jornal deu conta na edição de dia 13/02/12, mas que foi desmarcada pelos representantes
governamentais. Segundo informa o SIM na página oficial, o encontro foi adiado para o próximo
dia 13 de Março «dada a impossibilidade temporal de a delegação governamental ter elaborado
propostas negociais face à presença da troika».
«A preocupação com a nova formulação» do regulamento do internato médico ficou igualmente
patente nos testemunhos de quem participou nos encontros, contou Carlos Cortes. Numa altura
em que se está a discutir a reestruturação da formação dos médicos, estes denotam receios
relativamente a rumores da intenção de eliminar o ano comum ou da profissionalização logo
após a conclusão da licenciatura.
O acto médico também voltou a estar na berlinda já que nas reuniões foi reafirmado que «há uma
urgência», na sua definição, matéria que está parada desde o veto do Presidente da República
Jorge Sampaio. «É tempo de voltar a tirar o acto médico da “gaveta”», reforçou o membro do
MMU.
Fusão do CHUC alvo de críticas
Em Coimbra, a fusão do Centro Hospitalar de Coimbra com os Hospitais da Universidade de
Coimbra, agora reunidos no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), esteve
debaixo de fogo. No encontro foi apresentado um documento preparado pelo MMU, que foi
posteriormente entregue à direcção clínica da unidade, dando nota do desagrado dos médicos em
relação à forma como o processo está a ser conduzido.
No documento, a que o «TM» teve acesso, lê-se que a decisão de criar este mega centro
hospitalar foi tomada «sem uma consulta prévia aos profissionais de saúde e sem recurso a
nenhum estudo que sustentasse essa fusão», ao que se acrescenta: «A escolha das unidades a
fundir ou a encerrar não teve como critérios conhecidos nenhuns que pudessem melhorar a
prestação dos cuidados de saúde à população da área nem elevar os padrões da qualidade da
medicina praticada».
Os clínicos temem que a fusão tenha como consequências um «decréscimo qualitativo» da
assistência médica, a «instabilidade» nos postos de trabalho e uma «perigosa redução da
capacidade formativa devido ao estrangulamento dos meios» e alertam para a necessidade de
participação dos profissionais no processo de centralização de hospitais e serviços.
Rita Vassal
… CAIXA …
Conselhos regionais da OM saúdam mobilização
As reuniões nacionais promovidas pelos Médicos Unidos tiveram lugar nas sedes dos conselhos
regionais da Ordem dos Médicos (OM). «Tempo Medicina» falou com Fernando Gomes e
Miguel Guimarães, respectivamente presidentes dos conselhos regionais do Centro e do Norte
que foram os anfitriões das duas últimas reuniões que serviram de palco para os debates sobre o
futuro profissional e as dúvidas que assolam os médicos
«Esta movimentação é bem-vinda!»
Fernando Gomes, presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos
Em declarações ao «TM», Fernando Gomes disse que a reunião geral de Coimbra «decorreu
como deveria decorrer qualquer outra na OM, que é a casa de todos os médicos».
«Nessa perspectiva, acolhemos, de bom grado, esta organização um pouco ad hoc, mas de
colegas que estão perfeitamente motivados para discutir os problemas», disse aquele
representante, fazendo notar que os médicos «reconhecem os órgãos que intervêm na defesa da
classe».
«Esta movimentação é bem-vinda!», manifestou o presidente do CRC da OM, alegando ser uma
obrigação da estrutura que representa participar e informar os médicos das diversas situações que
resultam, «quer do que se está a discutir com o Governo quer da realidade europeia,
nomeadamente em relação à qualificação profissional, ao futuro das especialidades ou das vagas
para formação», a par das questões inerentes à grelha salarial e às horas extraordinárias, entre
outros temas ali debatidos.
Em forma de balanço, Fernando Gomes salienta que a reunião serviu para constatar «que os
médicos estão preocupados», reafirmando a necessidade de «linhas de trabalho conjuntas com a
Ordem e com os sindicatos».
Nesse sentido, o presidente do CRC da OM frisa que «a posição da Ordem é a de continuar a
fazer o trabalho que tem vindo a fazer, em tudo o que seja do seu âmbito».
«Não nos sentimos, de forma nenhuma, postos em causa. Aliás, consideramos bem-vindas estas
movimentações espontâneas, hoje muito ligadas às modernas tecnologias, como o Facebook,
onde foi criado este grupo», esclareceu Fernando Gomes, adiantando: «Há uma semana, abrimos
um site e enviámos newsletters a cinco mil médicos da nossa região… Estamos também virados
para as novas tecnologias!»
«Quando passamos para o campo da acção, assumimos as nossas responsabilidades perante os
colegas ou, neste caso concreto, perante o Governo», afirmou Fernando Gomes, vendo «com
bons olhos» movimentações como a desta reunião «bem participada».
Vitalino José Santos
«Os médicos estão unidos como nunca»
Miguel Guimarães, presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos
Numa nota enviada ao nosso Jornal por Miguel Guimarães, o Conselho Regional do Norte refere
que «o debate intenso que os 700 médicos presentes protagonizaram, revelou uma enorme
vontade da classe médica em defender a dignidade do seu exercício profissional, sem receios ou
preconceitos de qualquer natureza». A nota saúda, ainda, a «excepcional mobilização» registada
na reunião, concluindo que «os médicos estão unidos como nunca na defesa da Saúde como bem
público e na salvaguarda dos doentes e do País».
Manuel Morato
TEMPO MEDICINA 1.º CADERNO de 2012.03.05
1214711C2112RV09B
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