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7 jan 2015 O Globo CESAR BAIMA cesar. baima@ oglobo.com. br
Mais perto da ‘Terra 2’
Cientistas encontram oito novos planetas extrassolares na ‘zona habitável’ de suas estrelas
Astrônomos descobrem mais oito planetas em condições de ter água e serem habitáveis. Os cientistas estão cada vez mais próximos de encontrar a tão
buscada “Terra 2”, um planeta extrassolar, ou seja, em órbita de uma estrela que não o Sol, tão parecido com o nosso em tamanho, quantidade de radiação
recebida, densidade, composição e outros fatores que talvez seja capaz de abrigar organismos vivos ou até mesmo desenvolver suas próprias formas de vida.
DAVID A. AGUILAR/CFA
Um lar alienígena? Ilustração mostra um planeta parecido com a Terra na zona habitável de sua estrela
Astrônomos do Centro de Astrofísica Harvard­Smithsonian (CfA), nos EUA, anunciaram ontem a confirmação da existência de oito destes planetas
extrassolares na chamada “zona habitável” de suas estrelas, onde não estão nem perto nem longe demais, e assim não seriam nem muito quentes nem
muito frios, de forma a permitir a existência de água em estado líquido na sua superfície, condição considerada essencial para abrigar ou desenvolver vida. O
anúncio, feito durante reunião da Sociedade Americana de Astronomia (AAS), dobrou o número de planetas relativamente pequenos — com menos de duas
vezes o diâmetro da Terra — conhecidos nesta região da órbita de suas estrelas.
Segundo os astrônomos, dois destes planetas seriam ainda os mais parecidos com a Terra já achados. Estes objetos, batizados Kepler­438b e Kepler­442b,
no entanto, orbitam estrelas anãs vermelhas, menores e mais frias que nosso Sol. Por isso, eles também têm que estar bem mais perto delas para que
recebam luz e energia suficientes para serem possivelmente habitáveis.
BOAS CHANCES DE HABITABILIDADE
Desta forma, o Kepler­438b, com um diâmetro apenas 12% maior que o da Terra, completa uma órbita a cada 35 dias, sendo banhado com cerca de 40%
mais luz e calor que o nosso planeta. A título de comparação, no nosso Sistema Solar, Vênus, também com um tamanho parecido com o da Terra, recebe
cerca do dobro da radiação solar do nosso planeta, o que os cientistas acreditam ter sido o suficiente para desencadear um poderoso efeito estufa que faz com
que a temperatura em sua superfície ultrapasse os 460º Celsius, o bastante para derreter chumbo.
O Kepler­442b, por sua vez, está mais longe de sua estrela e deve ser bem mais frio que o nosso planeta. Cerca de um terço maior do que a Terra, ele
completa uma órbita em torno de sua estrela a cada 112 dias, numa distância em que é banhado com aproximadamente dois terços da luz e energia que o
nosso planeta recebe do Sol. Antes, os dois planetas mais parecidos com a Terra já encontrados eram o Kepler­186f, que tem 1,1 vez o tamanho do nosso e
recebe apenas 32% de sua radiação, e o Kepler­62f, com 1,4 vez o diâmetro da Terra e banhado com 41% da radiação que o nosso planeta recebe.
Pelos seus tamanhos relativamente pequenos, os astrônomos também calculam que são altas as chances de ambos novos planetas serem rochosos como
a Terra. No caso do Kepler­438b, esta possibilidade é de 70%, enquanto que no do Kepler­442b ela cai para cerca de 60%. Com todos estes fatores —
tamanho, distância da estrela e índice de radiação recebido — levados em conta, os cientistas estimam em 70% as chances de o Kepler­438b estar na zona
habitável de sua estrela e em 97% as do Kepler­442b.
— Não sabemos com certeza se qualquer dos planetas de nossa amostra são verdadeiramente habitáveis, tudo que podemos dizer é que estes são
candidatos promissores — explicou David Kipping, um dos astrônomos do CfA responsáveis pela descoberta, que será publicada no periódico científico
“Astrophysical Journal”.
Para encontrar estes planetas, os astrônomos primeiro analisaram dados coletados pelo observatório espacial Kepler. Lançado pela Nasa em 2009, o
equipamento, dotado de um fotômetro hipersensível, detecta a possível presença destes objetos graças às ínfimas variações que provocam no brilho de suas
estrelas durante os chamado trânsitos, isto é, quando eles passam em frente à estrela do ponto de vista da Terra. Para se ter ideia do quanto isso é difícil, os
trânsitos de nosso planeta provocariam uma redução de menos de 0,001% no brilho do Sol para um observador de fora do Sistema Solar.
Por isso, entre 2009 e 2013 o Kepler ficou permanentemente focado em uma pequena região do céu entre as constelações de Lira e Cygnus (Cisne)
apinhada com cerca de 150 mil estrelas, até que falhas sucessivas em dois dos seus quatro rolamentos que eram responsáveis por mantê­lo apontado
sempre na mesma direção levaram à suspensão da coleta de dados científicos. Recentemente, porém, os cientistas e técnicos da Nasa descobriram uma
maneira de usar a própria pressão no vento solar para ajudar a estabilizar o observatório espacial, o que permitiu que ele voltasse a caçar planetas
extrassolares, ainda que com metade da sensibilidade de antes dos defeitos nos giroscópios.
Mas um dos problemas do método de detecção de planetas extrassolares usado pelo Kepler, conhecido como “de trânsito”, é que ele só fornece dados
confiáveis sobre seu tamanho, período orbital (o seu “ano”) e, consequentemente, distância da estrela, e nada sobre sua massa, densidade ou composição. Já
o outro método mais usado para buscar planetas extrassolares, conhecido como “de velocidade radial”, tem limitações diferentes e quase opostas. Nele, os
astrônomos medem as ligeiras oscilações na posição da estrela causadas pelo “puxão” gravitacional destes objetos na sua órbita, o que dá uma boa ideia de
sua massa e período orbital, mas nada sobre seu tamanho.
CONFIRMAÇÃO POR SUPERCOMPUTADOR
No caso de planetas extrassolares pequenos como os agora anunciados, porém, sua massa reduzida e a grande distância que estão — 470 anos­luz para o
Kepler­438b e 1,1 mil anos­luz para o Kepler­442b — impossibilitaram a utilização deste método de velocidade radial para confirmar sua existência. Para isso,
os astrônomos tiveram que recorrer a uma técnica indireta, mas ainda assim estatisticamente confiável, para determinar se as variações observadas no brilho
das estrelas teriam sido mesmo provocadas pelo trânsito de planetas. Nela, um sofisticado programa de computador chamado Blender, rodando no
supercomputador Pleiades, instalado no Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, analisa todos os dados coletados pelo Kepler e os compara a uma mistura
(“blend”, em inglês) de outros fenômenos astronômicos que poderiam ter provocado as mudanças no brilho das estrelas para validar as descobertas.
Depois desta análise, no entanto, os astrônomos passaram ainda outro ano fazendo observações adicionais com telescópios em terra para reforçar esta
confiança. Nelas, eles descobriram que quatro dos novos planetas extrassolares na verdade orbitam estrelas em sistemas múltiplos, isto é, com duas ou mais
delas. Em todos os casos, porém, as “companheiras” de suas estrelas estão longe o bastante para que sua influência sobre a órbita dos planetas extrassolares
seja considerada “pouco significativa”.
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