UPE - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
CAMPUS PETROLINA
WILLAMS SILVA NASCIMENTO
A SECA COMO INSTRUMENTO UTILIZADO PELO ESTADO PARA
JUSTIFICAR A MISÉRIA DA POPULAÇÃO SERTANEJA – O CASO
DE JUNCO – JUAZEIRO-BA
PETROLINA – PE
2009
WILLAMS SILVA NASCIMENTO
A SECA COMO INSTRUMENTO UTILIZADO PELO ESTADO PARA
JUSTIFICAR A MISÉRIA DA POPULAÇÃO SERTANEJA – O CASO
DE JUNCO – JUAZEIRO-BA
Monografia apresentada como
exigência parcial do grau de
licenciatura em Geografia à
comissão julgadora da Universidade
de
Pernambuco
–
Campus
Petrolina, sob orientação da
professora Msa Raimunda Áurea
Dias.
PETROLINA – PE
2009
WILLAMS SILVA NASCIMENTO
A SECA COMO INSTRUMENTO UTILIZADO PELO ESTADO PARA
JUSTIFICAR A MISÉRIA DA POPULAÇÃO SERTANEJA – O CASO DE
JUNCO – JUAZEIRO-BA
Monografia apresentada como
exigência parcial do grau de
licenciatura em Geografia à
comissão julgadora da Universidade
de
Pernambuco
–
Campus
Petrolina, sob orientação da
professora Msa Raimunda Áurea
Dias.
Aprovada em ____/____/2009
Banca examinadora:
________________________________________
Orientador
________________________________________
Examinador
________________________________________
Examinador
PETROLINA – PE
2009
AGRADECIMENTOS
A Deus, fonte de todo o amor e fortaleza, pelas bênçãos derramadas em minha vida.
À minha família, pela paciência e apoio contínuo, em especial aos meus pais José de
Arimatéia e Rosa Pereira, pelo exemplo de vida e superação.
A Jamile, companheira fiel e dedicada, com quem quero partilhar muitas outras vitórias,
pelo apoio e motivação.
À minha orientadora professora Raimunda Áurea Dias, pelo incentivo e sugestões.
Enfim, a todos aqueles que, direto ou indiretamente, de alguma forma, colaboraram para
a realização deste trabalho.
RESUMO
O presente trabalho discute a problemática da seca no Nordeste que é uma característica
climática do semiárido, marcado pela escassez periódica de chuvas ou pela reduzida
precipitação pluviométrica nos meses em que se espera o inverno. O caráter da seca é
nitidamente regional, refletindo características meteorológicas, hidrológicas em muitas vezes
sócio-econômicas. Assim a pesquisa realizada no Distrito do Junco – Juazeiro-BA tem o
objetivo de analisar a seca na comunidade, como instrumento utilizado pelo Estado para
justificar a miséria da população sertaneja. Diante da criação de tantas políticas públicas, os
problemas da população semiárida não foram minimizados, pois são muitas as misérias
espalhadas pelo Sertão. As secas vão continuar existindo, mas é possível conviver com o
problema, pois o Nordeste é viável. Seus maiores problemas são provenientes mais da ação ou
omissão dos homens e da concepção da sociedade que foi implantada, do que propriamente
das secas de que é vítima. Desta maneira o fenômeno natural das secas impulsionou o
surgimento para um fenômeno político denominado “indústria da seca”. Através dela os
latifundiários nordestinos valendo-se de seus aliados políticos interferem nas decisões
tomadas em escala federal, estadual e municipal, e beneficiam-se dos investimentos
realizados e dos créditos bancários concedidos. Os financiamentos obtidos muitas vezes são
aplicados em outros setores que não o agrícola e aproveitam-se da divulgação dramática das
secas para não pagar as dívidas contraídas. Dessa forma grupos dominantes têm saído
fortalecidos enquanto é deixada de lado a busca de soluções para os problemas sociais e de
oferta de trabalho às populações pobres. Os princípios metodológicos utilizados foram,
leituras de livros científicos e observação a campo, sendo a análise feita através de dados
coletados por meio de entrevista com questionário realizada com os moradores da
comunidade do Junco. É preciso buscar na Geografia, que é uma ciência que desvenda toda
essa desigualdade social, meios para solucionar e erradicar o problema da seca no Sertão, de
forma com que venha a região a ter prestígio no cenário nacional e internacional, pois o que
não faltam são recursos para aflorar um grande desenvolvimento tanto econômico como
cultural.
Palavras-chaves: seca, semiárido, indústria da seca, política
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – MAPA DA LOCALIZAÇÃO DO DISTRITO DO JUNCO ........................21
FIGURA 2 – UNIDADE DE DESSALINIZAÇÃO DO JUNCO........................................23
FIGURA 3 – CISTERNA DA COMUNIDADE DO JUNCO............................................ 26
FIGURA 4 – RIACHO DO JUNCO .....................................................................................28
FIGURA 5 – PEQUENAS POLÍTICAS ASSISTENCIALISTAS ....................................31
FIGURA 6 – NECESSIDADE DA ÁGUA............................................................................33
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................08
1 O SEMIÁRIDO E A CRIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PELO ESTADO.....10
1.1 SECA FATOR NATURAL OU FATOR POLÍTICO.......................................................15
1.2 CLIMA SEMI-ÁRIDO OU CLIMA ÚMIDO AS DIFERENÇAS ECONOMICAS........17
2 A COMUNIDADE DO JUNCO – ANALISANDO A CONTRADIÇAÕ ENTRE SECA
E AS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO ........................................................................20
2.1 OBRAS E PROJETOS CONSTRUÍDOS NA COMUIDADE DO JUNCO......................23
2.2 O CANAL DO PROJETO SALITRE INCLUI OU EXCLUI A COMUNIDADE DO
JUNCO......................................................................................................................................27
3 CONSTRUÇÃO DE UM CANAL INTERLIGADO AO DO PROJETO SALITRE:
SOLUÇÃO OU PROBLEMA ...............................................................................................30
3.1 AGRICULTURA: FONTE DE RENDA PARA POPULAÇÃO DO JUNCO..................32
3.2 A GEOGRAFIA : CIENCIA QUE DESVENDA O QUE HÁ POR TRAZ DA SECA NO
SEMI ÁRIDO...........................................................................................................................34
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................38
ANEXO.....................................................................................................................................40
QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO....................................................................41
INTRODUÇÃO
Desde o período colonial até hoje, os relatos e imagens sobre o semiárido brasileiro,
em sua maioria, enfatizam paisagens naturais desoladoras e o flagelo social da população
sertaneja nos períodos de seca. Contudo, as secas no sertão nordestino apareciam como um
elemento de desordem no projeto de colonização. Havia um contraste significativo entre uma
perspectiva sedentária de ocupação e a fixação de povoamentos para exploração de riquezas,
com as possibilidades de ocorrências de flagelos de fome e de sede decorrentes das grandes
secas.
Esse estudo não é só importante para estudar a questão da seca, mas para mostrar a
vida de um povo que vive de sofrimento, em meio a um plano político mesquinho e cruel.
Utilizando-o como meio para analisar a seca no Distrito do Junco – Juazeiro-BA, como
instrumento utilizado pelo Estado para justificar a miséria da população sertaneja.
Como princípios metodológicos foram utilizados, leituras de livros científicos e
observação a campo, sendo a análise feita através de dados coletados por meio de entrevista
com questionário realizada com os moradores da comunidade do Junco.
Quando as ocorrências de secas prolongadas colocaram em risco o povoamento e as
atividades econômicas no Sertão nordestino, tiveram início os estudos científicos sobre a
problemática . Predominou a tentativa de descobrir e explicar as causas naturais do fenômeno
das secas no Nordeste. A visão parcial do semiárido, como a região das secas, conduziu a
adoção de soluções fragmentadas, cujo objetivo era combater a seca e seus efeitos.
Surgiram olhares críticos sobre as causas estruturais e as conseqüências da miséria na
região semiárida. Essa visão crítica da realidade desmistificou as ações de combate à seca
que, além de ineficazes, reproduziam as estruturas locais de dominação.
Com o abandono das propostas de reformas substanciais na região, ganhou destaque
uma concepção da “modernização econômica e tecnológica” como base do desenvolvimento
regional. Na década de 1970, as políticas governamentais passaram a dar ênfase à implantação
de pólos de modernização agrícola e pecuária. A agricultura irrigada, com especialização na
fruticultura para exportação, tornou-se a “solução” para os problemas da seca no Sertão.
É importante estudar esse tema, porque o Nordeste se tornou conhecido no Brasil e no
mundo, não pelo que ele tem de bom, mas pela seca e pelos males atribuídos a ela. Onde se
fala de Nordeste, se pensa logo em um povo pobre e faminto, à beira das estradas. Para os
governos, a região aparece com um problema e por causa da seca. A mesma se tornou o
melhor assunto para discursos nas campanhas políticas e um bom negócio para os que querem
enriquecer, mesmo que seja explorando o sofrimento do sertanejo.
No primeiro capitulo discorro sobre o contexto histórico da seca no semiárido, ou seja,
as conseqüências da seca como fenômeno natural e como meio de alienação política, depois
faço uma abordagem sobre o clima, caracterizando e mostrando sua atuação.
No segundo capitulo faço uma observação/pesquisa na comunidade do Junco, que se
localiza as margens do Rio São Francisco e mesmo assim sofre com as conseqüências da seca.
Nota-se que é uma área aonde as decisões política tem peso na sobrevivência da população
que chega a comprar água potável para não morrer de sede, e que apenas poucos tiveram a
sorte de participar do projeto da construção de cisternas em suas casas.
A comunidade sofre com a falta de atuação de uma boa política, pois logo ali perto se
encontra um canal, o do projeto salitre, e que suas águas apenas beneficiam o agronegócio do
Vale do Salitre, uma região que se encontram vários projetos de irrigação, em que é
subsidiada pelo Governo Federal, pois a obra foi construída pela (CODEVASF) Companhia
de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba.
No terceiro capitulo discute-se como a Geografia pode contribuir para desvendar a
realidade, sugerindo ao mesmo tempo alternativas para o Estado refletir a respeito da seca.
Por que, o que não pode, é a realização de tantos projetos para beneficiar a classe detentora
do capital.
CAPÍTULO I
1 O SEMIÁRIDO E A CRIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PELO ESTADO
O semiárido, pouco povoado no período colonial era visto apenas como um lugar
marcado pelo determinismo geográfico 1, assim não havia nada a fazer.
Na época do império (1822-1889) a população sertaneja mais numerosa, os problemas
iam ficando mais visíveis. Nesse momento foi adotada uma política de assistência às
populações flageladas na ocasião de ocorrência das secas, procurando desenvolver uma
política de regularização da navegação no rio São Francisco e de construção de açudes. Em
1877 D. Pedro II fez uso de uma frase que aparentemente parecia verdadeira que,
"empenharia as jóias da coroa, mas não permitiria que os nordestinos passassem fome”
(ANDRADE, 1973). Anos passaram e a população sertaneja passa a sentir muitas
dificuldades e o argumento do Estado volta-se para a “seca” com responsável pela pobreza no
Sertão.
Julgamentos superficiais sobre o fenômeno e interesses políticos
locais conduziram à construção de explicações reducionistas dos
problemas regionais como produtos de condições naturais adversas,
do clima, da terra e de sua gente. A seca tornou-se vilã do drama
nordestino, a principal imagem de “uma terra estorricada,
amaldiçoada, esquecida de Deus” (CASTRO, 1967, pag. 168).
É importante explicar que, com a Proclamação da República (1889) e a transformação
das províncias em estados federais, o poder local passou a ter uma influência aparentemente
maior na Esfera Federal e os estados do Nordeste passaram a pressionar o poder central no
sentido de desenvolver uma política permanente de combate aos efeitos da seca. Nesse
sentido há em 1907 a criação, de uma Inspetoria Federal de Obras contra as Secas que
realizou uma série de estudos geológicos, hidrológicos, botânicos, geográficos, mineralógicos
sobre a região e desenvolveu uma política dominantemente hídrica. Por esta política, foram
______________
1
influências que as condições naturais exercem sobre a humanidade, sustentando a tese de que o meio natural
seria uma entidade definidora da fisiologia e da psicologia humanas, ou seja, o homem seria muito marcado pela
natureza que o cerca. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Determinismo_geográfico)
detectados nas grandes bacias dos rios temporários, locais que fossem favoráveis à construção
de barragens e foram ainda construídos açudes de grande capacidade de retenção de água.
A medida que eram ampliados os problemas sociais no Sertão, o Estado acreditava que
as políticas públicas criadas resolveriam os problemas. Assim de acordo (FILHO e SOUZA ,
1988) cria:
a) DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, que surgiu em 1909 com o
nome de IOCS – Inspetoria de Obras Contra as Secas, logo após foi transformada no IFOCS –
Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas e só em 1945 sofreria uma reorganização aonde
passaria a se chamar DNOCS.
A principal finalidade do órgão é executar políticas do Governo Federal, que
beneficiem áreas contra as secas. No entanto o DONCS tinha uma política que se restringia
aos grandes projetos públicos dentro das fazendas dos grandes coronéis, quando a água
acumulada quase não chegava nas casa dos mais necessitados. Não se desenvolvia, uma
política de caráter social, visando fazer com que a população da área se beneficiasse da obra
pública em que eram investidos milhões, sem que a população recebesse em troca áreas onde
cultivasse, com irrigação, produtos alimentícios. É o que constata Furtado (1997, p. 86):
As máquinas e equipamentos do DNOCS eram utilizados por
fazendeiros ao seu bel-prazer. Nas terras irrigadas com água dos
açudes construídos e mantidos pelo governo federal, produzia-se
para o mercado do litoral úmido, e em benefício de alguns
fazendeiros que pagavam salários de fome [...] Em síntese, a seca
era um grande negócio para muita gente.
Ressalta-se que a política do DNOCS, a princípio recebida com grande entusiasmo,
logo foi desacreditada, pois não procurava solucionar os problemas, mas apenas mitigá-los
nas ocasiões de crise, ao mesmo tempo em que provocava a acumulação das verbas de
socorro às vítimas da seca em mãos de políticos influentes e de grandes comerciantes.
Segundo (FILHO e SOUZA, 1988), o resultado desta postura foi a criação da
SUDENE em 1959, que a partir daí iria coordenar e planejar a nova política do Governo
federal para a região. Sem eliminar o DNOCS e outros órgãos do Ministério do Interior, ela
veio para fiscalizá-los. O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas não viria a fechar
mas teria suas atuações diminuídas.
b) CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba, é
uma empresa pública criada em 1974 e vinculada ao Ministério Nacional, derivada da antiga
CVSF – Comissão do Vale do São Francisco transformada em SUVALE – Superintendência
do Vale do São Francisco. Tem por finalidade promover o desenvolvimento e a revitalização
das Bacias dos rios São Francisco e Parnaíba, através de investimentos públicos para a
construção de obras de infra-estrutura, para a implementação de projetos de irrigação e de
aproveitamento racional dos recursos hídricos. Realizando também pesquisas, estudos
socioeconômicos e ambientais.
Porém, de 1980 até os dias atuais, a empresa vem investindo na produção agrícola
irrigada, mas sem incluir o necessário beneficio sócio, ou seja, modernizando os grandes
latifundiários deixando o pequeno produtor sem meios para produzir.
c) CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco, foi criada em 1948 e tem por
finalidade o aproveitamento das águas do São Francisco para a geração de energia elétrica,
pois o governo pensava que resolveria o abastecimento de todo o Nordeste, e promoveria a
industrialização da região. A Companhia, busca o fortalecimento da cidadania, através de
ações nas áreas de pesquisa científica e tecnológica, educação, saúde e meio ambiente.
O que não preocupa o Estado são os impactos causados com as construções de grandes
obras como a da barragem de Sobradinho, pois a mesma desalojou centenas de trabalhadores
em prol do desenvolvimento e da geração de energia.
d)
Embrapa – Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária, principal instituição de
pesquisa fundada em 1973, visava apoiar o processo de modernização da agricultura brasileira
e centralizar a coordenação, financiamento e execução da pesquisa agrícola no âmbito federal.
Além de atuar nas mais diversas linhas de pesquisa, a instituição coordena o Sistema
Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). Tal sistema integra as organizações estaduais de
pesquisa agropecuária (OEPAS), Universidades e institutos de pesquisa no âmbito federal e
estadual, bem como as demais instituições públicas e privadas, direta ou indiretamente
vinculadas à atividade de pesquisa agropecuária.
e)
BNB – Banco do Nordeste do Brasil, criado em 1952, com o objetivo de disponibilizar
créditos para as indústrias e empresas agropecuárias que fossem instaladas no Nordeste,
realizar estudos e pesquisas sobre os grandes problemas da região, treinar o pessoal para a
região e para o próprio Banco. A criação de tal Banco consolidaria a apropriação do capital na
região.
f) SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, criada em 1959 com o
objetivo de promover e coordenar o desenvolvimento da região. Sua instituição envolveu,
antes de tudo, a definição do espaço que seria compreendido como Nordeste e passaria a ser
objeto da ação governamental: os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e parte de Minas Gerais. Pois mesmo com o
processo de industrialização, crescia a diferença entre o Nordeste e o Centro-Sul do Brasil.
Desde os seus primeiros planos que a SUDENE deu prioridade à
industrialização da região, não se preocupando com o
desenvolvimento da agricultura de subsistência, cujas atividades
absorvem milhares de pequenos e médios agricultores. (FILHO e
SOUZA, 1988, p.81)
Sendo considerada uma entidade que, além de não esta realizar os fins a que se propunha,
era um foco de corrupção. Por conta disso e após uma sucessão de escândalos, em 1999 a
imprensa iniciou um debate sobre a existência do órgão, extinto finalmente em 2001, pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso. No lugar da SUDENE, foi criada a Agência de
Desenvolvimento do Nordeste (ADENE), aonde só seria novamente restituída no Governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de estudado, foi criada uma nova estrutura da
SUDENE, e em janeiro de 2007 através de uma lei complementar foi recriado.
g) Política de irrigação – foi implementada no Nordeste como primordial para o
desenvolvimento da região. Para isso foram vários os investimentos estatais com o objetivo de
tornar, principalmente, o Sertão em um “pomar”.
As águas do Rio São Francisco, assim como a criação da Comissão do Vale do São
Francisco (CVSF), e da SUDENE, foram fundamentais para o desenvolvimento da irrigação
no Nordeste. Até então, as ações na área da irrigação eram desenvolvidas pelo DNOCS, cujo
sua estratégia era constituída na construção de barragens e açudes. A irrigação tornava-se uma
ação complementar para aproveitar parte dos recursos hídricos de alguns açudes.
As ações de irrigação no Nordeste são centenárias, sendo elas meios de estratégias
políticas e empresariais, pois a maior parte dos benefícios proporcionados pela produção
irrigada é internalizada pelo setor privado. Portanto, é do seu interesse assegurar a
estabilidade e continuidade da produção, da operação do sistema, da manutenção e da
reposição dos equipamentos utilizados nos projetos de irrigação.
h) Transposição do Rio São Francisco - Imaginada pelo imperador D. Pedro II no final do
século XIX e estruturado na virada do século XX para o XXI. O rio é um dos maiores e mais
importantes do mundo, nasce na região Sudeste, e vai até o Nordeste. Seu fluxo é
interrompido por algumas barragens para geração de eletricidade, como por exemplo, a de
Sobradinho, que garante a fluência do rio mesmo no período da seca, e a represa de Itaparica,
ambas na divisa entre a Bahia e Pernambuco.
O projeto prevê retirar água justamente nas duas represas e levar essa água para duas
outras bacias de rios menores, mas também importantes: a do rio Paraíba (a leste) e a dos rios
Jaguaribe, Apodi e Piranhas-Açu (ao norte). De acordo com o governo federal, o projeto seria
a solução para o grave problema da seca no Nordeste, pois distribuiria água a 390 municípios
dos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Mesmo com o fracasso das grandes obras contra a seca, retoma-se a proposta de
solucionar o problema com uma mega-obra. Ao ser concebida para a segurança hídrica dos
reservatórios, a transposição servirá ao maior usuário dos reservatórios e adutoras, a
agricultura irrigada. Ela garantirá os crescentes volumes de água exigidos pelo agronegócio
exportador. Segundo COELHO (1985), “não serão, portanto os projetos faraônicos, como os
da transposição das águas do São Francisco, o das chuvas artificiais, falhos sociais, técnica e
economicamente, que resolverão o flagelo das secas”.
É importante explicar que, diante da criação de tantas políticas públicas, os problemas
da população semiárida não foram minimizados, pois são muitas as misérias espalhadas pelo
sertão. As secas vão continuar existindo, mas é possível conviver com o problema, pois o
Nordeste é viável. Seus maiores problemas são provenientes mais da ação ou omissão dos
homens e da concepção da sociedade que foi implantada, do que propriamente das secas de
que é vítima.
1.1 SECA FATOR NATURAL OU FATOR POLÍTICO
A seca é uma característica climática do semi-árido, marcado pela escassez periódica
de chuvas ou pela reduzida precipitação pluviométrica nos meses em que se espera o inverno.
O caráter da seca é nitidamente regional, refletindo características meteorológicas,
hidrológicas em muitas vezes sócio-econômicas.
As causas da precariedade da situação do Nordeste devem ser procuradas, antes de
mais nada, na história sócio-econômico-política do Brasil, no contexto da economia mundial.
Portanto, não são os resultado da fatalidade, do destino, da natureza, mas o resultado da ação
ou omissão política dos homens e da forma através da qual se apropriam e usam dos recursos
naturais e estabelecem relações entre si. Neste sentido, uma produção política.
Nota-se, portanto, que a seca é realmente uma condição natural do conhecido
“polígono das secas2”, porém os efeitos dela sobre a população que vive no Sertão não pode
ser naturalizados. Segundo, ( COELHO, 1985, p.88 );
Crises climáticas periódicas, como enchentes, geadas e secas,
acontecem em qualquer parte do mundo, prejudicando a agricultura.
Em alguns casos tornam-se calamidades sociais. Porém, só se
transformam em flagelo social quando precárias condições sociais,
políticas e econômicas assim o permitem
De acordo com a análise do autor, a seca não é simplesmente a falta de água, passou a
ser utilizada pelo Estado como resposta para todas as misérias sociais que vive o povo
sertanejo.
Desta maneira o fenômeno natural das secas impulsionou o surgimento para um
fenômeno político denominado “indústria da seca3 ”. Através dela os latifundiários nordestinos
valendo-se de
seus aliados políticos interferem nas decisões tomadas em escala federal,
______________
2
uma grande área da região Nordeste onde predomina o ecossistema Caatinga e o clima semi-árido (secas
periódicas, vegetações sem folha e c urto período de chuvas). (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3% ADgono
_das _secas)
3
fenômeno político segundo o qual latifundiários nordestinos e seus aliados políticos nas diversas esferas de
governo utilizam a seca para angariar recursos públicos a pretexto de combatê-la. Tais recursos são aplicados em
benfeitorias em suas propriedades particulares. (COELHO, 1985)
estadual e municipal, e beneficiam-se dos investimentos realizados e dos créditos bancários
concedidos. Os financiamentos obtidos muitas vezes são aplicados em outros setores que não
o agrícola e aproveitam-se da divulgação dramática das secas para não pagar as dívidas
contraídas. Dessa forma grupos dominantes têm saído fortalecidos enquanto é deixado de lado
a busca de soluções para os problemas sociais e de oferta de trabalho as populações pobres.
A seca como um fenômeno natural, em diferentes graus de
intensidade é conseqüência da falta de chuvas num determinado
período do ano. Mas os problemas desta, resultante não são maiores
do que a negligência dos governantes em se aproveitar dos recursos
destinados às famílias que realmente sofrem com o problema da
seca. (FILHO e SOUZA, 1983, p.45)
Destaca-se que em pais capitalista o lucro precisa vir de todos os lugares. Assim, a seca
passou a ser símbolo de acumulo de capital não só dos grupos empresariais, como também de
políticos locais que ao longo dos anos tem transformado o fenômeno natural em problema
social. Dessa maneira utiliza a escassez de chuvas para justificar as misérias sertanejas.
Observa-se que a construção de cisternas que acumulem a água da chuva captada nos
telhados, estocando-a para os períodos de estiagem, tem-se mostrado como uma solução
eficiente no combate à miséria no sertão. A iniciativa feita por entidades não governamentais
prova que o estado não estava cumprindo o seu papel.
Mas quando o Governo decide realizar o projeto, ele o utiliza como meio para conquistar
votos, pois o que se vê são construções de cisternas em municípios com bastantes eleitores, e
muitas promessas nas campanhas eleitorais, o que reforça a idéia de que a seca deixou de ser
um fenômeno natural para se transformar em política.
1.2 CLIMA SEMIÁRIDO OU CLIMA ÚMIDO AS DIFERENÇAS ECONOMICAS
A zona semiárida do Nordeste brasileiro abrange uma área de 940 mil km2 ,
representando cerca de 75% da superfície total da Região. Segundo AB’SABER (1973) o clima
é quente e seco, com temperatura média acima de 26ºC, com cerca de 3 mil horas anualmente
de insolação. As noites sertanejas são frias durante quase todo o ano, caindo assim a
temperatura
para os 18ºC, particularmente nas áreas serranas. Em relação ao índice
pluviométrico4 é importante frisar que varia entre 400 e 800 mm de chuvas anuaís havendo,
entretanto uma intensa evaporação ou evapotranspiração, que atinge mais de 2.500
milímetros, por ano.
Verifica-se que as chuvas são insuficientes e irregulares, a temperatura é elevada e
uma forte taxa de evaporação na extensa mancha semi-árida do Sertão nordestino, faz com
que ocorre larga variação da estação seca, que dura entre seis e onze meses. As chuvas, que
podem ser torrenciais e provocar inundações, concentram-se no verão e no início do outono.
Destaca-se que a característica mais marcante desse tipo climático, porém, não é a
escassez das precipitações, mas a sua irregularidade, pois em janeiro ou fevereiro quando não
caem ou são pouco intensas, instala-se um ano de seca. Periodicamente, registram-se períodos
de seca de alguns anos, nos quais as precipitações ficam bastante abaixo do normal. Assim
A insuficiência e irregularidade na distribuição de chuvas, a
temperatura elevada e a forte taxa de evaporação são características
climáticas que “projeta derivadas radicais para o mundo das águas,
o mundo orgânico das caatingas e o mundo socioeconômico dos
viventes dos sertões” (AB’SÁBER, 2003, p. 85).
Nunca se sabe em que mês terá início a chuva e quando ela voltará a cair outra vez.
Assim, pode chover muito num lugar e poucos quilômetros adiante a terra continua seca.
Porém, de fato, não existe ano sem chuva. Nos anos mais secos, dificilmente chove menos
___________
4
é uma medida em milímetros, resultado da somatória da quantidade da precipitação de água
(chuva, neve, granizo) num determinado local durante um dado período de tempo. (AB’SABER, 2003)
que 200 mm /ano. Cerca de 80% dos solos do semiárido são de origem cristalina, rocha dura
que não favorece a acumulação de água, sendo os outros 20% representados por solos
sedimentares, com boa capacidade de armazenamento de águas subterrâneas.
A economia da zona do semiárido apresenta-se como um complexo de pecuária e
agricultura extensiva de baixo custo, apoiadas nos consórcios de proprietários formados por
algodão, milho, feijão e mandioca. Esse tipo de agricultura de subsistência é altamente
vulnerável ao fenômeno das secas. Visto que, a precipitação na Região Nordeste apresenta
uma grande variabilidade no tempo e espaço, a ocorrência de chuvas, por si só, não garante
que as culturas de subsistência serão bem sucedidas. Uma seca intensa durante a quadra
chuvosa, ou uma precipitação intensa ou excessiva na mesma época, podem ter impactos
bastante negativos na economia regional e nacional.
Dentro do Sertão existem áreas, que são caracterizadas por um clima úmido, como é o
caso das áreas montanhosas, que devido a sua altitude, se diferenciam das demais fazendo
com que estas pratiquem uma forma de economia diferente das regiões semiáridas. As áreas
são consideradas como enclaves úmidos e sub-úmidos se distribuem de modo disperso pelos
sertões semi-áridos e configuram verdadeiros sub-espaços. Articulando-se com os sertões
semiáridos que normalmente os circundam, os enclaves constituem importantes setores de
produção agrícola. São, tradicionalmente, considerados como celeiros dos espaços sertanejos.
A atividade agrícola tende a se concentrar, preferencialmente, nos topos e nas encostas
úmidas, onde o potencial natural permite uma exploração diversificada e contínua do solo.
Na cultura popular dos sertões é costume reconhecer-se por brejo
qualquer subsetor mais úmido existente no interior do domínio
semiárido;isto é, qualquer porção de terreno dotada de maior
umidade, solos de matas e filetes d’água perenes ou subperenes, onde
é possível produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos
trópicos úmidos. Um brejo, por essa mesma razão, é sempre um
enclave de tropicalidade no meio semi-árido: uma ilha de paisagens
úmidas, quentes ou subquentes, com solos de matas e
sinais de antigas coberturas florestais, quebrando a continuidade dos
sertões revestidos de caatingas. (AB’SABER, 2003, p.17)
Portanto, nessas áreas há recursos naturais mais abundantes para o homem poder criar
e plantar, a dificuldade em se viver da terra é menos intensa do que nos grandes sertões,
contudo, são áreas de relevos marcados, raras são planícies e geralmente médios agricultores
utilizam o terreno para monoculturas.
A maior disponibilidade de recursos hídricos, por outro lado tem incentivado a prática
da irrigação com reflexos positivos, aumentando a produtividade por superfície cultivada. Sob
esse aspecto, os enclaves têm um balanço hídrico duplamente beneficiado. Primeiramente, o
regime térmico é modificado pela altitude ou pela própria condensação do vapor d’água
presente no ar. Isso provoca um considerável aumento da nebulosidade, reduzindo a insolação
e a temperatura. Por conseqüência, há diminuição da evapotranspiração potencial, que traduz
a demanda total de água pelas plantas. Um outro aspecto a ser considerado diz respeito ao fato
de que os enclaves são beneficiados por um aumento substancial das chuvas que são também
mais regularmente distribuídas.
Além das diferenças dentro do clima semiárido, verifica-se que na Região Nordeste há
áreas totalmente de clima úmido que é marcado por verdadeiros bolsões de miséria, assim não
é o clima ser úmido, semiárido, equatorial que determina a economia favorável ou
desfavorável de uma região e sim a acumulação do capital centrada no lucro.
CAPÍTULO II
2 A COMUNIDADE DO JUNCO – ANALISANDO A CONTRADIÇAÕ ENTRE SECA
E AS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO
É necessário desmistificar a seca como elemento desestabilizador da economia e da
vida social nordestina e como fonte de elevadas despesas para o Estado. É preciso afirmar que
a seca, é um fenômeno natural, porém não é responsável pela fome e pela miséria que
dominam a população da região.
Desde as primeiras iniciativas governamentais, os interesses políticos das oligarquias
sertanejas no Nordeste prevaleciam, transformando o combate à seca em um grande negócio.
Como cita (RIBEIRO, 1995, p. 348).
Esses donos da vida, das terras e dos rebanhos agem sempre durante
as secas, mais comovidos pela perda de seu gado do que pelo peso do
flagelo que recai sobre os trabalhadores sertanejos, e sempre
predispostos a se apropriarem das ajudas governamentais destinadas
aos flagelados.
O autor explica que, não falta água no Nordeste, faltam soluções para resolver a sua
má distribuição e as dificuldades de seu aproveitamento. Nessas condições, não é de estranhar
que o problema das secas não se resolva. Sua efetiva solução passaria pelos interesses
mesquinhos de grupos poderosos, que conseguem vantagens com a pobreza e o sofrimento de
milhares de sertanejos, como é o caso de pessoas que moram no distrito de Junco – JuazeiroBA que fica localizado no Vale do São Francisco a 20km de Juazeiro-BA e com uma
população de aproximadamente 600 famílias (Ver figura 1, p. 21).
A situação limite é quando integrantes das famílias precisam migrar, pois as
plantações não vingaram em virtude da seca, contraditoriamente é um fato lamentável para
uma comunidade banhada por um grande rio “São Francisco”.
Como percebe-se em pesquisa de campo 2009
na localidade de Junco, muitos
moradores mesmo inseridos a uma situação de vida muito difícil de viver não pensam em sair
de lá. Muitas vezes acontecem de saírem para trabalhar, mas sempre estão voltando para
visitarem os seus parentes.
Figura 1
Mapa da localização do Distrito do Junco
FONTE: Imagens digitais Brasil ao Milionésimo
2001, banco de dados IBGE
SANTOS, David. 2009
Lutar para permanecer em sua terra deve ser o sentimento de todos, pois é na luta e na
união da classe trabalhadora que a realidade atual pode ser transformada.
Mesmo perfeitamente adaptados à convivência com a rusticidade
permanente do clima, os trabalhadores das caatingas não podem
conviver com a miséria, o desemprego aviltante, a ronda da fome e o
drama familiar profundo criado pelas secas prolongadas (AB’SÁBER,
2003, p. 85).
A justificativa social da convivência com o semiárido deve ser a possibilidade de lutar
pelo trabalho e melhoria de renda na terra, principalmente para a população sertaneja que tem
na terra a garantia de vida.
O distrito de Junco é apenas um dos que margeiam o Rio São Francisco, mesmo
ficando a poucos quilômetros das águas é impressionante a façanha de faltar água nessa
localidade, não pela pouca distância, mas pelo desinteresse político em tentar pelos menos
amenizar a situação difícil em que vivem as pessoas desse lugar. Verifica-se que, os bons
projetos ligados à agricultura irrigada para o agronegócio estão direcionados aos empresários
possuidores de renda.
Ao longo da história, a pobreza e miséria no Sertão foram relacionadas com a
ocorrência das secas. As interpretações desse fenômeno natural e de suas conseqüências para
a produção e a população local, omitiram os aspectos estruturais do modo de ocupação do
espaço, de exploração dos recursos naturais e de subordinação da população.
Mas não se trata de, mais uma vez, atribuir à seca toda a culpa pelos baixos índices de
desenvolvimento humano no semiárido. Identifica-se a persistência das desigualdades sociais
que está na base da reprodução secular das condições de miséria que fragilizam as famílias
sertanejas, impedindo-as de resistir aos efeitos das estiagens prolongadas.
É comum em todo vale do São Francisco, não só no Junco, as pessoas não terem água
para o mínimo, alimentação, higiene e etc. Mas, ao invés de resolver pequenos problemas, o
Estado realiza grandes projetos em nome do “desenvolvimento” como construção de
barragens e a transposição das águas do Rio São Francisco. Desse modo, a Geografia
enquanto ciência que estuda o espaço, analisa que ele é dividido por aqueles que detém
capital.
2.1 OBRAS E PROJETOS CONSTRUÍDOS NA COMUIDADE DO JUNCO
Para que se tenha um estudo do espaço pesquisado, recorremos à Geografia que se
caracteriza em uma disciplina voltada não só para o estudo do espaço mas também a relação
que há em torno entre o homem e ele. A mesma não só observa, mas também faz análises
para alcançar um resultado.
Através dos estudos para esse trabalho, percebeu-se que o Distrito do Junco, área em
estudo, passa por situações de calamidades, bem como é analisado que esta situação se dá por
um motivo que é histórico, porém não natural.
Na localidade foi adotado um projeto de construir uma unidade de dessalinização (ver
figura 2, p. 23) , aonde a água seria puxada de um poço artesiano e bombeada para todo o
Distrito. Mesmo após o processo de dessalinização, não se tem uma água boa para plantar e
muito menos para beber, pois é relevante a quantidade de sal que ainda se encontra na água,
ou seja, ela é lançada na casa sem tratamento algum.
Figura 2
Unidade de dessalinização do Junco
NASCIMENTO,willams. 2009
De acordo com os moradores a água potável da comunidade é comprada cada
vasilhame com vinte litros de água custa dez centavos, uma situação que se lança em volta de
um lugarejo que fica a poucos metros do Rio São Francisco.
Mais do que situação emergencial, a medida é uma demonstração de que a população
do semiárido necessita de políticas adequadas à convivência com a seca e emancipatórias em
sua dimensão social. Em relação às políticas governamentais no semiárido, questiona-se o
caráter fragmentado e descontínuo dos programas desenvolvidos em momentos de calamidade
pública que alimentam a chamada “indústria da seca”.
Os governos necessitam ter uma visão social para corrigirem as
distorções que se aceleram e aumentam nos períodos de seca. Os
recursos públicos necessitam ser empregados em benefício do grosso
da população e não de acordo com os interesses dos grandes grupos
econômicos. Para isto é necessário que se desenvolva uma política
popular. (ANDRADE, 1987, pag.35)
Depois de algumas observações, nota-se que a água dessa estação de tratamento tem
duas saídas, uma que sai direto para a casa das pessoas sem tratamento algum e a outra que
vai para um aparelho que controla quanto de água pode ser retirada. Esta última tem uma
qualidade melhor, pois é tratada antes de chegar ao destino final.
- Como é que pode um negocio desse, a gente fica levando balde e
contando as moedas para não morrer de sede. É como se fosse uma
ficha telefônica, agente coloca a moeda e cai a água contadinha, gota a
gota sem passar nada. Sr (J. C. P. S. 25 anos)
Visualiza-se a insatisfação das pessoas, tendo que carregar água comprada, e muitas
vezes não podem nem carregá-la como é o caso das pessoas idosas. Quando o dinheiro falta
os moradores se verem obrigados a tomar água salgada
Para alguns moradores, a água poderia até ser comprada, como acontece nos centros
urbanos, mas que chegasse através de encanamentos em suas residências, para que não
passassem por tanta dificuldade na hora de carregá-la.
É notável que uma região aonde o principal fator para tantos absurdos seja o problema
político, não só pelo motivo da falta de água, mas pelo descaso de grandes obras que as vezes
começam e não terminam, e quando terminam não são utilizados por todos mas apenas os
mais favorecidos, ou seja, os grandes latifundiários. São muitos os investimentos, porem não
chega a quem mais necessita.
Mudava, então, a leitura sobre o fenômeno das secas: ao invés de
decorrer meramente de fatores climáticos ou geográficos, era produto
de um conjunto de relações sociais estabelecidas ao longo dos séculos
de povoamento da região. Entre essas relações, estava a maciça
concentração de terras, com latifundiários detendo imensas
propriedades que abrigavam boa parte das obras executadas e cujo
uso atendia a interesses particulares. (Guimarães 1989, p. 213)
Enquanto os grandes projetos se sucedem, os nordestinos continuam desamparados e
cada vez mais descrentes das soluções que sempre de novo se anunciam. Mas não estão
conformados com esta situação. Como cita o Sr. (J. C. M. S. 38 anos)
- Entra prefeito e sai prefeito prometendo e prometendo mas acaba
tudo na mesma coisa, sempre fazendo obras só para uns e outros
ficando sem nada.
Ele se refere à construção de uma cisterna comunitária (ver figura 3, p. 26) que foi
construída mas que não supre a necessidade de toda população. Quando em um período
prolongado de falta de chuvas a cisterna logo fica vazia, deixando os moradores sem água
potável.
O Estado junto com o ASA (Articulação no Semiárido), construiu algumas cisterna na
comunidade, apenas em algumas casas, pois segundo os moradores, não se podia construí-las
em residências que não atingissem os padrões estabelecidos pelo projeto. Com muita
dificuldade algumas pessoas conseguiram o direito de possuir uma cisterna, mas tiveram que
mexer na estrutura de sua casa.
Ressalta-se que as cisternas funcionam na época em que chove, com uma capacidade
para armazenar 16 mil litros de água, se chover suficiente, caso raro nessa região. Pois se não
chover elas ficam vazias e sem nenhuma função. Os moradores falam que se atingirem o nível
máximo dá para uma família com 4 pessoas passarem uns 5 meses com água, mas só
cozinhado e bebendo, se for usar a vontade não passa 2 meses.
Figura 3
Cisterna da comunidade do Junco
NASCIMENTO, willams. 2009
O maior problema da área se dá quando não chove por muito tempo, ficando assim as
cisternas sem água, e a situação se agrava quando o aparelho que controla a venda da água
quebra, deixando a comunidade em uma situação de calamidade. Tendo sempre os moradores
que fazer abaixo assinados para o conserto do aparelho, pedido esse que muitas vezes é
atendido meses depois.
A revolta e a indignação se estampam no rosto dos sertanejos do Junco, que enfrentam
esse problema de falta de água, quando para eles é de total responsabilidade do governo, que
deixa de agir com o seu dever e consequentemente, desrespeitando os direitos da população.
2.2 O CANAL DO PROJETO SALITRE INCLUI OU EXCLUI A COMUNIDADE DO
JUNCO
Um dos maiores planos de irrigação do semiárido, o Projeto Salitre, é uma obra da
CODEVASF e faz parte do plano de combate a seca do Nordeste brasileiro. Trata-se de um
canal de irrigação que leva a água do rio São Francisco para a região de Juazeiro – BA,
atualmente é uma área de destaque da agricultura irrigável nacional.
O Projeto estava em construção e ficou parado desde o final da década de 1990, sendo
retomado em 2007, com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O objetivo da obra é
irrigar uma área de um total de 35 mil hectares de terra no sertão baiano, o Projeto está com
a primeira etapa pronta, o que corresponde a 2 mil hectares irrigados.
Sabe-se que a referida obra não tem data para ser concluído, em razão da espera de
uma definição da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba
(Codevasf) sobre a relocação territorial de algumas famílias que vivem ao lado do mesmo,
acampadas em uma área de 130 hectares, no Vale do Salitre, a poucos quilômetros do distrito
de Junco. Destaca-se que, duas mil famílias que ocupam o espaço estão obtendo sucesso com
a plantação de melão, cebola, tomate, melancia, quiabo, amendoim, feijão e mandioca, ou
seja, plantam para sobreviverem.
Com largos canais condutores de água, que se dividem em subcanais, o Projeto Salitre
se aproveita de uma solução técnica viável para irrigação no semiárido, mas concentra tal
solução nas mãos dos grandes empresários, concentrando não só a terra como também a água.
Nesse caso, exclui os camponeses do benefício do Estado
O progresso e o desenvolvimento, neste País ainda não chegou para o
povo. As grandes obras custaram milhares de vidas que ajudaram
asua construção e ainda continua ceifando vidas de homens que
apenas lutam pelo direito de trabalhar. (FILHO e SOUZA, 1988, pag.
35)
Ressalta-se que as águas são bombeadas para as grandes plantações, ou seja, os
latifundiários se beneficiam da maior quantidade de água ou dela toda, o que prova o descaso
com os camponeses.
A região que o canal envolve é permeada de conflitos, pois o Distrito do Junco não se
beneficia dessa água. Segundo relata os moradores da comunidade em pesquisa de campo
2009, a água não chega, pois é retida para as grandes plantações do agronegócio que se
localizam no Vale do Salitre. É uma área que foi beneficiada pelo projeto, em virtude de
possuir um grande potencial para a plantação, e que logo foi territorializada pelos grandes
latifundiários.
O problema da falta de água se agravou no lugar, pois os moradores relatam que
depois da chegada desses fazendeiros a água não chega mais em um pequeno riacho que eles
aproveitavam, mesmo sendo completamente poluída para o consumo domestico. (Ver figura
4, p. 28). Como cita o Sr (P. C. R. 83 anos)
- a água do riacho não era da boa mas servia pelo menos pra gente
lavar roupa. Agora só vive seco porque, as maquinas não deixam
mais a água passar.
Figura 4
Riacho do Junco
NASCIMENTO, Willams, 2009
O lugar em estudo tem sido cenário de incoerência e injustiças sociais que toma para si
proporção de calamidade nas contínuas estiagens de longa duração quando a população tem
dificuldade de acesso a água de boa qualidade. Nessa circunstancia, o que bem se vê são os
assistencialismos de maneira paliativa, sobretudo dos que se beneficiam politicamente com
isso, alimentando assim a “indústria da seca”.
A realidade é que o que se vê de fato é a intervenção pública, em
todas as esferas, se limitar aos anos mais caóticos, com dinheiro a
fundo perdido sem criar uma infra-estrutura que permita ao homem a
superação do problema. Essa forma de intervenção só beneficia a
classe de água pelos órgãos públicos, só atendendo às residências
indicadas pelo prefeito, ou quando esse é de oposição, do deputado
ligado ao governo que mantém aquela área como curral eleitoral.
(ANDRADE NETO, 1994, pag. 37):
Vale mencionar, que a construção do canal no Salitre beneficia apenas uma pequena
parcela da população já detentora do capital, excluindo quem de fato precisa da terra e da
água para sobrevivência.
CAPITULO III
3 CONSTRUÇÃO DE UM CANAL INTERLIGADO AO DO PROJETO SALITRE:
SOLUÇÃO OU PROBLEMA
Quando se fala em construir um projeto, pensa-se que esta beneficiará a todos,
principalmente por se tratar de água, pois o ser humano não consegue viver sem a mesma. É
preciso tomar decisões coerentes para que fatores como por exemplo a seca deixe de
proporcionar tantas misérias no Sertão. O descaso do Estado traz conseqüências que se não
forem resolvidas, transformaram o Nordeste em uma área que não se conseguirá viver.
Os grandes homens deste País deviam ser considerados. Mas,
infelizmente os interesses pessoais e de grupos, particularmente
daqueles que construirão as obras, prevalecem acima da verdade e do
verdadeiro interesse do Nordeste e dos nordestinos. Isto significa que
a miséria do povo, a educação, tudo, enfim, que necessita o Nordeste,
não é prioridade a resolver. (COELHO, 1985, p. 81)
Para a população do Junco pequenas políticas assistencialistas não estão ajudando a
eles sobreviverem (ver figura 5, p. 31), como os caminhões pipas que custam muito caro e
ainda demoram meses para chegar à comunidade, sem falar que essa água só dá mesmo para
beber por alguns dias, concretizando assim um cenário de grandes dificuldades.
A construção de um canal que interligasse a água do canal do projeto salitre
diretamente à comunidade do Junco seria uma das alternativas que funcionariam com mais
eficiência, principalmente porque á água seria transportada sem interrupções pelo meio do
caminho. Nesse caso a água chegaria não só na comunidade, mas seria distribuída pelas casas
através de tubulações. Pois, não basta só transportá-la, é preciso que ela seja bem utilizada, ou
seja, aproveitada como acontece nas zonas urbanas, aonde são feitas encanações.
Muitos planos foram e são criados no semi-árido até a data de hoje, mas o que se vê é
que nenhum tem o objetivo alcançado, devido a uma serie de fatores, principalmente as
questões políticas, pois em meio a tantas obras produzidas, elas acabam beneficiando uma
grande minoria da população, ou seja, o latifundiário, pois enormes áreas de plantações são
irrigadas, deixando o camponês sem condições para plantar.
Figura 5
Pequenas políticas assistencialistas
30%
moradores que gostam
moradores que não gostam
70%
Fonte: Pesquisa de campo, 2009
De fato, quando se avalia a política de irrigação implementada no Nordeste, de acordo
com seus próprios e quase explícitos objetivos, percebe-se que, o êxito do projeto tem sido
extremamente reduzido. As metas não atingidas de renda e de produção evidenciam
claramente este fracasso.
A construção de um canal seria uma forma de amenizar a seca, e até mesmo fazer com
que a população do Junco praticasse outras formas de sustento de vida, como por exemplo,
plantar seus cultivos associados com a fabricação de esteiras que no momento é a sua
principal fonte de renda.
É importante um grande estudo para que fato a construção de um canal para aquela
área seja concretizada. A população precisa ser ouvida, pois é a vida das famílias que estar em
jogo.
3.1 AGRICULTURA: FONTE DE RENDA PARA POPULAÇÃO DO JUNCO
O território do Sertão do São Francisco baiano está localizado na porção norte do
estado. Possui toda sua área inserida na zona semiárida e possui como principal recurso
hidrográfico o rio São Francisco. Assim, devido às características geoambientais, o
desenvolvimento da atividade agrícola nessa área só é possível pelo aproveitamento do
potencial hídrico aliada ao uso da tecnologia de irrigação.
A situação vivida pelos moradores do Distrito do Junco é idêntica à dos demais
lugares do Sertão. Mesmo contando com recursos, como um solo favorável para o plantio, a
população não consegue manter sua família com a produção agrícola.
Assim, quanto à agricultura, não adianta construir uma rede enorme de canais de
irrigação para desenvolver uma agricultura de produtos de exportação, através de grandes
empresas. É preciso que se desenvolva uma agricultura voltada para subsistência, como é o
caso da agricultura camponesa, pois se for investir na área para se ter uma agricultura voltada
para o agronegócio, estaria apenas favorecendo aos latifundiários.
Vale lembrar, que a produção camponesa não visa o lucro, mas é cultivada para a vida
comercializando o excedente e isso, de certa forma, vai de encontro ao sistema capitalista. Por
isso segundo FABRINI (2002, p. 88):
o capitalismo insiste na expropriação e desaparecimento dos
camponeses, pois essa forma de sustentabilidade não atende à forma
de economia vigente.É como se o camponês não tivesse lugar no
capitalismo, fosse de fora, mas insiste em continuar existindo, ou seja
traindo as leis do capital pela luta.
Os camponeses vivem da terra e para a terra, hoje buscando na resistência e na
aquisição de recursos de sustentação sócio-ambiental. No semiárido isto se reflete através de
uma agricultura não mais num combate à seca, mas na busca de inovações, criatividade e lutas
dos movimentos sociais
Para buscar a solução na agricultura é preciso muito planejamento e bom senso na
hora de elaborar os projetos, para que não aconteça o acumulo de terras nas mãos de poucos,
pois gerariam grandes revoltas, principalmente dos de baixo. Dessa forma as áreas para
plantações teriam que ser igualmente divididas, com um mesmo potencial de água para os
moradores que ocupam o espaço. No entanto se essas áreas não forem distribuídas para o
povo da comunidade, e sim para alguém de fora geraria insatisfação, e conflitos.
Os moradores ressaltam que não plantam porque não tem água, mas se realmente
houvesse o compromisso político em abastecer a comunidade, eles utilizariam para plantar,
(como aponta a figura 6, p. 33). É notável o amor que eles tem à terra, quando citam em ritos
vezes em morrer pela terra.
Figura 6
Necessidade da água
18%
Para desenvolver plantio
Para outros fins
82%
Fonte: Pesquisa de campo, 2009
O semiárido é uma região propícia para a agricultura, precisa-se apenas de um
tratamento nacional a essa atividade, especialmente no aspecto ecológico. Mas sabe-se que
realmente está implícito no contexto da seca, não é, sem dúvida alguma, o interesse em
resolver este grave problema que aflige diversas famílias do Sertão nordestino, e sim a
intenção absoluta de abocanhar os recursos destinados para a implantação desses grandiosos
projetos. Portanto, o investimento na produção agrícola na região não será importante só para
as pessoas sobreviverem, mas também impulsionará uma economia sustentável para todos.
3.2 A GEOGRAFIA : CIÊNCIA QUE DESVENDA O QUE HÁ POR TRAZ DA SECA
NO SEMIÁRIDO
A Geografia é uma das ciências responsáveis pela leitura do espaço e como ele se
apresenta na atualidade dividido. Destacamos que a Geografia assume uma posição
diferenciada quanto às demais disciplinas escolares, uma vez que a Biologia, a Química e a
Física apontam sempre a natureza nas suas especificidades; a Geografia, trabalha nas relações
do homem para com a natureza e a natureza para com o homem.
Atualmente todos vivem inseridos numa lógica que determina os fatos perante o tempo
e o espaço. O local e o global estão em constante ligação e a cada vez mais estreita. A
Geografia na escola contribui para a formação de um homem mais consciente.
Em outras palavras, a aula de Geografia pode contribuir para fazer
as pessoas pensarem sobre suas imagens de mundo, o modo como
foram construídas, as razões pelas quais se mantêm e as maneiras
outras de imaginar esse mesmo mundo. (SOUZA NETO, 2008, p. 27)
Compreende-se que estudar geografia deve significar algo mais prazeroso e contrário
de se ater simplesmente à memorização de mapas e capitais. A referida ciência deve ser
explorada em todos os seus campos, os quais superam o conhecimento empirista.
Mais do que nunca, é hoje uma necessidade imperiosa conhecer de
forma inteligente (não decorando informações e sim compreendendo
processos, as dinâmicas, as potenciais mudanças, as possibilidades de
intervenção) o mundo em que vivemos, desde a escala local até a
nacional e a mundial. E isso, afinal de contas, é ensino de geografia
(VESENTINI,1996, p. 28).
Ao lado das desigualdades regionais em seus aspectos mais estritamente econômicos,
surgiu uma aguda percepção de seu lado social e político, vinculada, especialmente, à miséria
da população rural e, conseqüentemente, a uma cada vez mais intensa crítica aos efeitos da
seca no semiárido.
Para os geógrafos que entendem que a seca não passa de um fator político para
conseguir votos, estão de acordo que não é só a natureza que determina a vida do homem.
Este tem possibilidades de ir além, ou seja, o homem é capaz de modificar a natureza a ponto
de destruí-la.
O movimento de renovação da Geografia não surge apenas como o “momento”
reformador da disciplina e da ciência em si, mas assume um importante papel transformador,
da sociedade possibilitando mudanças no cenário nacional, inclusive no semi-árido aonde a
falta de chuva é tida como fator crucial para impedir o desenvolvimento da região. Trazendo
conseqüências gravíssimas como famílias que morrem de sede tendo água a poucos metros de
sua residência.
Espera-se que a Geografia cumpra mais que um papel meramente curricular
obrigatório, pois não se pretende formar “micro-geógrafos acadêmicos” como diria Sahr
(2006, p.30). Almeja-se que a Geografia seja uma ferramenta de auxílio para a percepção do
estudante perante o mundo que o cerca, e que, a partir disto, ele desenvolva as habilidades
para tornar-se um cidadão desalienado, crítico e consciente.
Ter conhecimento do que é Geografia é ver além das aparências, é ser capaz de
analisar a espacialização da miséria não como simples registro de paisagem. Mas ter
consciência de que a ciência é de fundamental importância para entender o desenvolvimento
contraditório proporcionado pelo capitalismo.
Em uma diversidade que este espaço, pensá-lo tornou-se a tarefa complexa aos
professores de Geografia; mas de certa forma, acabou com a idéia de que este espaço
geográfico é uma coisa fixa, morta petrificada. Então agora é preciso, para compreender a
realidade, saber, por exemplo, porque os trabalhadores rurais se transformaram em operários
fabris.
E pensar esse espaço é o principal objetivo que os professores de Geografia devem
realizar juntos com seus alunos. Porque só compreendendo essa dinâmica espacial é possível
exercer a cidadania, ao relacionar lugares e fenômenos, paisagens e pessoas, processos sócias
e transformações naturais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos que os políticos, costumam fazer política com o sofrimento e a miséria do
povo. As alternativas de produção existem não são implementadas porque, na verdade, tem
faltado aos administradores públicos a indispensável vontade política para definir ações
estruturadoras no semi-árido. E tem faltado porque concretizá-la significa contrariar
interesses, muitas vezes situados na base de apoio parlamentar do governo.
O povo considera que o Governo Federal, ao abdicar da adoção de medidas
preventivas no combate à seca, colhe os benefícios da indústria de votos, uma tradição
oligárquica nordestina, que sobrevive da miséria alheia.
O Governo Federal, ao invés de aplicar as diversas tecnologias disponíveis para levar
água para as populações pobres do Nordeste, opta por uma política assistencialista, que lhe
garante votos em troca de precárias cestas básicas e frentes emergenciais de trabalho.
É essencial, para que a seca torne-se apenas um fenômeno climático, uma redefinição
do atual modelo agrário brasileiro, ancorado no latifúndio pecuarista e na agroindústria
exportadora, que gera desemprego e não está organizado para abastecer com alimentos o
mercado interno.
Ao longo dos anos, tal modelo vem sendo consolidado, particularmente no Nordeste,
por desvios de verbas públicas para construir açudes em grandes propriedades e incentivos
oficiais aos fazendeiros para a compra de máquinas e insumos sofisticados.
Mais do que nunca, é necessário inverter esta lógica que exclui a agricultura de
subsistência, praticada por milhões de trabalhadores rurais, do acesso a linhas de crédito, à
assistência técnica e a tecnologias adequadas à pequena propriedade.
A comunidade do Junco passa por muitas necessidades, mas que são conseqüências de
um Governo voltado para o grande latifundiário, pois a região se localiza às margens de um
Rio e mesmo assim a população sofre com a falta de água potável.
Entender que o semiárido, passa por dificuldades nos grandes períodos de estiagem e
dever de todos, mais principalmente daqueles que detêm dos poderes nas mãos e que podem
mudar essa situação que não só faz com que o povo sertanejo viva numa miséria total como
também inclui uma região tão rica como o Nordeste em um palco de calamidades.
Contrariando toda a evolução dos últimos anos, entretanto, a crença no “combate” à
seca com obras e retenção artificial de água permanece viva, como atesta alguns projetos que
são construídos que beneficiam apenas o agronegócio da agricultura irrigada, favorecendo
assim os grandes latifundiários, e excluindo a grande maioria que são os pequenos
camponeses.
Por isso concluímos, o problema do Sertão do Nordeste não é físico, climático mas
social e político e será solucionado no dia em que a população entender que o poder está nas
mãos dela e não do Estado.
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Bagagem, 2º Ed. Campina Grande, 2008
VESENTINI, José William. A CAPITAL DA GEOPOLÍTICA. São Paulo. Ática, 5º Ed
1996
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADgono_das _secas. Acesso em 29 de
Set. 2009.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Determinismo_geográfico. Acesso em 5 de Out.
2009.
ANEXO
UPE - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
CAMPUS PETROLINA
QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO
1 - Quanto tempo essa comunidade fica em média sem chuvas?
2 – Qual é a fonte de renda das pessoas que vivem no Junco?
3 – A falta de chuvas em algum momento faz com que vocês pensem em deixar de morar na
comunidade.
4 – Você gosta de morar no Junco?
Sim ( )
não (
)
5 – Quando não chove de onde vem a água para vocês sobreviverem?
6 – O governo trabalha para amenizar a seca ?
Sim ( )
não ( )
7 – O Canal do Projeto Salitre beneficia os moradores da localidade do Junco?
Sim (
)
não (
)
8 - Vocês compram água no período da seca?
Sim (
)
não ( )
9 – Nos períodos das longas secas já aconteceu de alguma pessoa chegar a falecer?
Sim (
)
não (
)
10 - As plantações são prejudicas pela falta de chuvas ?
11- Existe alguma cisterna na comunidade para aproveitar a água das chuvas?
Sim (
)
não (
)
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a seca como instrumento utilizado pelo estado para justificar a