Cadernos de História
Memorial do RS
Voltaire Schilling
Polônia: a luta
pela liberdade
Governo do Estado do RS – Germano Rigotto
Secretaria Estadual da Cultura – Roque Jacoby
Memorial do RS -Voltaire Schilling e Luiz Alberto Gusmão
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Introdução
Desconhecida pela maioria dos brasileiros, a história da Polônia e dos
poloneses, cuja imigração para o Brasil celebra 130 anos, foi marcada pela
luta travada por eles nos últimos 200 anos, para atingir a liberdade e a
independência política. Foram anos e anos de dor, de sangue e de lágrimas,
que terminaram por fazer com que milhares de poloneses tivessem que
abandonar o seu torrão natal para poderem ir ganhar a vida em outros
cantos do mundo. O que se segue, esta síntese que ora apresentamos ao
público gaúcho, é uma homenagem feita em forma de esclarecimento do
verdadeiro épico que foi a história dos poloneses em direção à liberdade,
somente há pouco alcançada.
Napoleão disse, certa vez, que geografia é destino. Com isso,
ele queria enfatizar que os países e os povos têm sua existência e
cultura determinada pela situação que ocupam no mapa geopolítico do
continente a que pertencem. A nenhum outro país europeu aplica-se
melhor isto do que à Polônia, nação eslava situada na Europa do
Leste, fronteira entre dois mundos hostis.
Separando mundos hostis
“A Polônia é um grande Estado cercado de Estados ainda
maiores e que possuem uma grande força ofensiva devida ao
despotismo e à disciplina militar”.
J.J. Rousseau, 1772.
Hoje uma área um pouco superior a 300 mil km², coube à terra
de Copérnico ficar numa espécie de limbo geopolítico, sempre
ameaçado de ser assaltado por qualquer um dos pontos cardeais que
a cercam. A Polônia, por igual, separa dois mundos culturais, étnicos e
religiosos muito distintos: o germano e o eslavo. Ao seu oeste e ao
norte, território das antigas tribos germânicas, encontram-se os
prussianos, os saxões e os suecos de fé luterana, ao sul, os
austríacos católicos. Ao leste, habitam os russos de fé cristã ortodoxa.
Para agravar sua delicada posição estratégica, a partir do século 16,
ao sul avolumou-se a presença do Império Turco Otomano.
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O fato de se situar a meio caminho entre o oeste e o leste,
sentindo-se ameaçada por ambos, e de também ser o divisor de
águas entre o Sacro Império Romano-Germano ao Ocidente, do
Czarado de Moscou ao Oriente, tendo ainda por perto a presença do
Sultão de Istambul nos seus limites meridionais, é a explicação mais
convincente do ardoroso abraço dos poloneses à sua fé na religião
cristã e sua lealdade à Roma.
Os poloneses, convertidos ao cristianismo no século X,
firmaram-se, depois da Reforma Luterana, como os mais ardorosos
seguidores do catolicismo do Leste Europeu, situação que, com o
tempo, provocou a simbiose entre a nacionalidade e a religião: um
verdadeiro polonês tinha de ser católico.
Vivendo ameaçada
Assim, foi esta situação geográfica, fragilizada ainda mais por
ser um país de extensas planícies, destituído de proteções naturais,
que modelou a vida e a história da Polônia nos últimos séculos.
Quando seus vizinhos estavam em paz entre si, tendiam a partilhar o
território polonês entre eles; quando estavam em guerra, faziam-na
sobre as terras polonesas. Historiadores apontam como um fator que
realçou a debilidade política do reino polonês o fato da Szlachta(*), a
nobreza local não ter jamais aceitado a existência de um sistema
centralizado, algum tipo de monarquia absolutista como a que vingou
na França, na Espanha e em outros países europeus a partir do
século 16, que, entre outras coisas, mostrou-se um instrumento eficaz
na defesa do estado-nacional em construção.
A adoção do princípio do liberum veto pela Sejm (Assembléia da
Nobreza), a partir de 1652, implicava que qualquer integrante da
instituição, lançando mão do poder de veto, podia paralisar o poder
executivo. Deste modo, ao enfraquecer o braço do rei, pouca coisa
podia esperar-se de ele ser eficaz em realizar uma boa guarda das
fronteiras nacionais. No corpo político polonês daqueles tempos, como
inúmeros tratadistas constataram, os membros paralisavam a cabeça.
Isso promovia a institucionalização da anarquia e não da liberdade.
Todavia, a ausência de um estado forte não foi impedimento
para que a união entre o reino da Polônia e o grão-ducado da Lituânia,
abarcando então vastas extensões de terra da Ucrânia, fizesse desta
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aliança o segundo reino mais extenso da Europa; tal situação durou
por quase um século (dos 1.140 mil km² que possuía na ocasião viuse reduzida a 990 mil km², em 1634).
A Primeira República
O acordo polaco-lituano, resultado do Tratado de Lublin, de
1569, foi denominado de Rzeczpospolita Obojga Narodów - também
conhecido como a República dos Dois Povos - estendeu-se por quase
um século, naufragando definitivamente em 1795.
A aproximação entre poloneses e lituanos, surgida devido à
ameaça de expansão do Czarado de Ivan, o Terrível, foi selada por
uma coroa em comum encabeçada por um monarca escolhido pela
Electio Viritim, um processo de eleição do rei feita nos moldes do
sistema praticado pelo Sacro Império Romano-Germano, havendo
ainda a presença ativa do Sejm, com poderes ressaltados.
O senado (composto por 81 bispos e demais dignitários) e a
assembléia (formada por 54 posels, deputados representantes dos
sejmiks, comarcas locais) tornaram-se árbitros dos destinos dos reis
poloneses, impedindo a formação de um estado forte (sem que o
regime polonês evoluísse para uma monarquia parlamentar de molde
ocidental).
Szlachta, a nobreza polonesa.
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O rei, ainda que bem pouca autoridade de fato exercesse, tinha
o atributo de distribuir os cargos e as funções públicas como
compensações aos serviços prestados ao estado, as ditas panis bene
meritorum (a distribuição do pão merecido), que mesmo não sendo
remunerados, resultavam na extração de bons rendimentos aos seus
dignitários.
Rousseau, refletindo sobre o sistema político polonês, escreveu:
“Lendo a história do governo da Polônia, compreende-se com
dificuldade como pode, um Estado tão singularmente constituído,
subsistir por tão longo tempo. Um grande corpo formado por um
grande número de membros mortos e por um pequeno número de
membros desunidos, cujos movimentos todos, quase independentes
uns dos outros, longe de terem um fim comum, se destroem
mutuamente... que não pode oferecer resistência algum a quem
desejar ofendê-lo...”.
(“Considerações sobre o Governo da Polônia”, 1772).
Dinastias Polonesas
Dinastia
Piast
Anjou
Jagelões
Vaza
Vettin
Período
960 – 1370
1370 – 1399
1399 - 1572
1587 - 1668
1670 - 1763
(*) A nobreza polonesa dizia ter sua origem nos Sarmatas (daí
Szlachta), uma tribo da qual pouco se conhece, famosa entre os
antigos pelas virtudes cavaleiras. Nesse mito distinguia-se o
sentimento da superioridade oriunda da condição estamental, mas não
étnica ou religiosa. O sarmantismo tornou-se, com o tempo, uma
autêntica característica nacional, obtendo a adesão de todas as
classes sociais (Jan Kieniewiscz – Polônia, identidade de um país).
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Panorama social da Polônia
Não sem motivo a palavra Polônia deriva de pole, de terra plana
lavrada, havendo nela milhares de acres de boa qualidade para serem
usados pela agricultura e criação de gado. Estendiam-se, elas, para o
leste, em direção às estepes da Ucrânia, região de terra negra, rica
em trigo e outros grãos, quase sempre em mãos de grandes
magnatas, senhores feudais que tinham ao seu serviço centenas de
servos e pequenos lavradores, seus dependentes.
Naturalmente que a política do reino estava nas mãos deles, dos
magnatas, não havendo na Polônia medieval, nem na moderna, uma
sólida burguesia urbana que pudesse lhes arrancar o poder ou reduzirlhes os privilégios. Deste modo, tal como ocorrera na Rússia czarista,
o liberalismo não deitou raízes no solo polonês, ficando a autoridade
concentrada em governadores palatinos, dos castelões ou dos
estarostes, todos integrantes da nobreza. Amantes das cavalgadas e
das caçadas, as telas dos pintores poloneses, tais como Jan
Chelminski, Josef Brandt, Ludwig Gedlek, e Tadeu e Sigismundo
Ajdukiewicz, estão repletas de cenas onde os fidalgos apressam-se
em se lançar pelas vastas estepes e inúmeros bosques atrás das
presas selvagens.
Ainda que tendo o controle sobre o porto báltico de Gdansk
(Danzig), a Polônia não conseguiu afirmar-se comercialmente nas
águas internacionais, visto que, de alguma forma, sempre ficou
tributária dos suecos ou dos russos, povos que, de fato, controlavam o
grande lago do Norte, como o Mar Báltico era conhecido. Assim, o
perfil agrícola, de terra voltada para a lavoura e criação, marcou
profundamente a história política, social e cultural do país.
Não só isso: a alta dos preços dos gêneros, ocorrida ao longo do
século 17, estimulou aprofundar na Polônia o fenômeno da chamada
Segunda Servidão. Conforme aumentava o volume das exportações
de grãos do Leste, para o Oeste, mais próspero, os grandes
proprietários da Boêmia, da Polônia, da Lituânia e da Rússia lançaram
mão de uma série de subterfúgios para arrancar mais e mais tributos e
tempo de trabalho dos seus camponeses, encolhendo ainda mais seus
já escassos direitos.
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Cena de mercado aldeão (tela de S. Witkiewicz, 1882).
Isso gerou, particularmente no século 17, uma dialética perversa
e injusta, na qual a abolição ou atenuação da servidão e melhoria de
vida do povo comum na Europa Ocidental reverteu-se num peso ainda
maior em sofrimento para a gente do campo da Europa Oriental.
Seguramente foi o exagero das exigências tributárias dos
magnatas poloneses que provocou a grande rebelião das tribos
cossacas da Ucrânia, em 1648, fazendo com que, a partir de 1654,
toda aquela região, seguindo a determinação do Hatamã, o chefe dos
cossacos, buscasse a proteção do czar da Rússia.
A Polônia feudal
O célebre historiador econômico Wiltod Kula (1916-1988),
profundo estudioso da vida agrária da época feudal, definiu a situação
polonesa como “uma economia agrária sem acumulação”, apontando
nela as seguintes características:
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1) Predomínio absoluto da agricultura na economia do país.
2) Somente os nobres, a gente da Szlachta, podiam ter a
propriedade da terra.
3) A força de produção estava repartida entre a aldeia e a reserva
senhorial.
4) Havia barreiras institucionais que limitavam a mobilidade social e
geográfica (a servidão da gleba).
5) Os camponeses pagavam suas prestações ao senhorio quase
que exclusivamente com mão-de-obra.
6) A atividade artesanal e industrial desenvolveu-se no âmbito da
grande propriedade e sob o controle das corporações.
7) Não havia nenhum limite jurídico às decisões tomadas pelos
nobres no campo econômico.
8) Havia forte propensão da nobreza ao consumo de luxo.
9) Existiam regiões mais avançadas e mais acessíveis aos meios
de transporte da época.
10)O Estado não intervinha no campo econômico.
(W. Kula - Teoria econômica do sistema feudal).
Cavaleiros poloneses combatendo por Cristo.
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Na órbita da Rússia
Com o fim da dinastia lituano-polonesa dos Jagelões, reis
estrangeiros começaram a serem eleitos para ocupar o trono em
Cracóvia (então cidade sede do reino). Um dos mais desastrados
deles foi Augusto II, o Forte, um monarca saxão que envolveu a
Polônia na desastrosa Grande Guerra do Norte (1700-1721), conflito
este que, encerrado na Paz de Nystad de 30/08/1721, contribuiu para
o enfraquecimento da presença sueca e para a projeção do Czarado
russo como nova potência dominante na região do Báltico Oriental.
A Polônia, após os danosos efeitos da guerra entre o rei sueco
Carlos XII e o czar russo Pedro, o Grande, terminou efetivamente
satelitizada por São Petersburgo, fazendo do governante de Varsóvia
um vassalo do czar, pois quem mandava realmente no país era o
embaixador russo. Por aquelas alturas, a população polonesa somada
à lituana alcançava os 8 milhões de habitantes, espalhados pelos 33
palatinados (províncias) que constituíam o reino.
Coube ao rei Estalislau II Augusto Poniatowski (reinou entre
1764 a 1795), ainda que tido como títere dos russos, influenciado
pelas idéias do iluminismo, buscar uma alternativa à situação de
angústia, debilidade e atraso, em que a sua nação se encontrava,
espremida entre a Prússia, a Áustria e a poderosa Moscóvia.
Pensando contar com a simpatia da czarina Catarina II, da
Rússia, uma déspota esclarecida, de quem fora um dos favoritos, o
monarca liderou uma reforma política. A partir de 1768, desencadeou
um programa progressista que culminou na aprovação da Constituição
de 3 de maio de 1791, a qual, influenciada pelos filósofos franceses,
ousou até abolir a servidão.
Rousseau e a Polônia
Visto Poniatowski ter sido um enviado do trono russo e acenado
com certas reformas tidas como excessivamente liberais, parte da
nobreza polonesa alçara-se contra ele formando a Confederação de
Bar (1768-1772). O conde Wielhorski, um dos seus integrantes, viajou
então para a França em busca do apoio jurídico e teórico de
pensadores que os ajudassem a modelar o país de acordo com as
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idéias mais avançadas, que não as então propostas por Poniatowski
(visto como um agente russo).
Entrevistou-se com o abade Mably (historiador e reformador
social que chegou até visitar a Polônia, em 1775, para conhecer in
loco as condições gerais em que o país se encontrava) e também com
o famoso filósofo Jean-Jacques Rousseau, então habitando uma
modesta peça em Paris, mas tido como o pensador mais influente da
Europa. Solicitou-lhe “um plano regrado de reconstrução”, resultando
disso o ensaio, já citado acima, “Considerações sobre o governo da
Polônia”, redigido em 1772.
O escritor admirava a capacidade dos poloneses em resistir à
opressão, particularmente a movida pelos russos (o Czarado no
século XVIII era o símbolo mais acabado do despotismo, imagem que
Catarina II tentava atenuar com reformas cosméticas). Afirmou que
somente o patriotismo apaixonado, ministrado no dia-a-dia, salvava os
poloneses do desaparecimento total e que a independência futura
deles, quando deixassem de ser “um povo policiado”, passava
necessariamente pela superação das enormes diferenças que
separavam as classes sociais, a nobreza do povo e, entre a própria
nobreza, a rica da remediada.
A Reforma Poniatowski
Reformou-se o Sejm, suprimindo-lhe a prerrogativa do liberum
veto, para assim reforçar a autoridade real frente aos privilégios da
Szlachta, bem como se criou a Comissão de Educação encarregada
de executar uma profunda reforma na sociedade visando remover os
obstáculos feudais que impediam a nação polonesa, ainda que
tutelada por estrangeiros, de possuir um estado-nacional moderno.
Procurava-se, com isso, inverter a situação de verdadeira
anarquia institucional e governativa em que o reino há muito tempo
encontrava-se, visto que qualquer integrante do Sejm podia paralisar
uma iniciativa do Executivo com o seu veto.
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Estanislau Poniatowski (rei entre 1764-1795).
Mesmo que não se atrevesse a abolir a servidão (estima-se que
então 90% dos camponeses eram servos da gleba), Poniatowski
preocupou-se em dotar o país de uma burocracia, abrindo carreira no
funcionalismo público para a classe média nativa.
A simples possibilidade de a Polônia, ainda que reduzida a um
terço do seu território anterior à partição de 1772, vir a possuir um
estado verdadeiramente organizado, inspirado nos ideais dos filósofos
franceses, enraiveceu seus vizinhos, particularmente a czarina da
Rússia. Os monarcas temiam vê-la empunhando o barrete frígio,
tornando-se, assim, um foco revolucionário, igual ao da França de
1789, o que, fatalmente, abalaria os rigores autocráticos ou mesmo
despóticos das cabeças coroadas da Europa do leste. Foi assim que
as Três Águias Negras (a dos Romanov, a dos Hohenzollern e a dos
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Habsburgo) novamente se coligaram para agrilhoar a Águia Branca
polonesa (símbolo da soberania nacional desde 1295).
A isso se agregou o fato de os magnatas poloneses se sentirem
atingidos nos seus privilégios políticos, com a supressão do liberum
veto, tratando, então, de conspirar para que seu próprio país fosse
alvo de uma intervenção militar estrangeira.
Resultou que o reino viu-se invadido, desencadeando a
denominada Guerra da Defesa da Constituição (1792-95), ocasião em
que um pequeno exército de patriotas poloneses pegou em armas
para proteger uma nação que, novamente, via-se esganada, flagelada
e martirizada pelos seus potentes vizinhos.
Kosciuszco, “o filho mais puro da liberdade”.
A saída de cena de Estanislau II Augusto Poniatowski, o último
rei dos poloneses, falecido em 1795, abriu as portas da história para
que novo líder do patriotismo polonês empunhasse a bandeira da
libertação: Tadeu Kosciuszco (1746-1817). Tratava-se de um
personagem singular, um homem que se tornara uma verdadeira
lenda tanto na América como na Europa. Quando jovem, faminto por
façanhas, atravessara o Atlântico, em 1776, para ir lutar como oficial
engenheiro ao lado dos colonos norte-americanos em favor da
independência. Sentira viva simpatia por aquela insurgência, pois
identificava na situação vivida pelos rebeldes de George Washington a
mesma que privava da liberdade seus conterrâneos.
Kosciuszco, graças às suas qualificações técnicas de engenheiro
militar - era um especialista em fortificações - servira com denodo e
lutara com bravura sob as ordens do general Nathaniel Greene. Além
de se mostrar um verdadeiro gênio em organizar sistemas defensivos,
como o fizera em West Point quando, promovido a general brigadeiro
do exército continental, participou de incontáveis combates que vieram
a pôr fim ao domínio britânico sobre as 13 colônias inglesas da
América do Norte.
Washington o condecorou com a Ordem de Cincinato,
concedendo-lhe, ainda, a cidadania norte-americana, presenteando-o
com uma respeitável propriedade. Nada disso fez com que ele se
inclinasse a permanecer nos Estados Unidos. Em 1784, aquele a
quem Thomas Jefferson chamara certa vez de “o mais o puro filho da
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liberdade”, rumou de volta à Polônia, para envolver-se a fundo na luta
pela autodeterminação nacional.
Em 1793, durante a chamada Segunda Partilha da Polônia, 42%
do território nacional fora engolido pela Rússia (que ficou com a
Livonia e a Moldavia), Prússia (que anexou a Grã-Polônia, a Kujavia,
Torum e Gdansk) e Áustria (Cracóvia). Kosciuszco não estava
disposto a aceitar mais uma mutilação do seu país, pois reagiu ao fato
de os russos ficarem com a parte mais extensa, os prussianos com a
parte mais rica e os austríacos com a mais populosa.
O juramento de Kosciuszco
“O herói dos dois mundos” pegou em armas para defender a
pátria da agressão, lançando um manifesto patriótico no dia 24 de
março de 1794, em pleno rynku, o mercado central de Cracóvia.
Assumindo conscientemente o papel de ditador de toda a Polônia,
jurou ao povo jamais usar os poderes extraordinários em que se
investira para oprimi-lo. Segundo as palavras dele:
“Eu Tadeu Kosciuszco juro sob o signo de Deus e perante a
Nação que não irei usar a autoridade e poder por mim investido para
privar ou subjugar, mas somente para a defesa da integridade das
fronteiras nacionais e para recuperar a sua soberania e assim
engrandecer a liberdade universal, que Deus e seu Inocente Filho
Sacrificado ajude-me.”
(Manifesto no Rynku de Cracóvia, 24 de março de 1794).
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O juramento de Kosciuszco (24 de março de 1794).
No dia 7 de maio, por fim, pelo Manifesto de Polaniec, anunciou
a abolição da servidão, dando, nesse sentido, um passo bem maior do
que seus ex-camaradas da revolução americana, que não haviam se
atrevido a tanto.
Depois de memorável resistência em Varsóvia e Vilna, quando
comandara os kosinierzy, um exército camponês armado de kosa
(foices), vencendo os russos em Dubieguva e Rechawice, Kosciusco,
tolhido pela superioridade dos inimigos na batalha de Mociejowice, foi
forçado a se render, em 1795.
Ele, que na América servira à causa da revolução, agora
terminou derrotado na chefia de uma, visto que os poloneses, isolados
no centro da Europa, bem longe de qualquer possibilidade de obterem
apoio, ao contrário dos norte-americanos, não puderam contar com o
auxílio de ninguém. Kosciusco, que tombara ferido, foi feito prisioneiro.
Os russos, então, declararam Finis Poloniae, ao que ele teria
respondido Jeszcze Polska nie zginela (“A Polônia ainda não está
perdida”).
Quais as causas de tantos e sucessivos fracassos nacionais,
indagavam os poloneses? Desde o século XVIII, entendia-se que a
razão da catástrofe nacional da Polônia fora a adoção do sistema do
liberum veto que limitava a autoridade real. A isso se somou a
anarquia resultante do excesso de liberdade por parte dos magnatas,
o seu egoísmo de classe e a intolerância e o atraso geral do país.
Essas teses, assegurou Kiesniewscz, compuseram a verdadeira
legenda negra antipolonesa e foram, com o tempo, introjetadas,
aceitas também pelos próprios poloneses.
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A debacle da Insurreição de Kosciuszco condenou a Polônia a
um longo cativeiro, durante os 123 anos seguintes, situação da qual
ela somente se livrou ao final da Primeira Guerra Mundial, em 1918.
O exemplo corajoso e temerário de Kosciuszco, todavia, pairou
para sempre na memória dos poloneses, que nunca deixaram de
sonhar com a conquista futura da liberdade, situação que se repetiria
em 1830, 1848, 1863, 1918, 1944 e, ainda, em 1980, quando da
fundação do Sindicato Solidariedade.
O Ducado de Varsóvia (1807-1813)
Um laivo de esperança ainda sacudiu os poloneses por ocasião
da ascensão de Napoleão Bonaparte e de sua marcha para a Europa
Central. Depois de ter batido os exércitos dos Habsburgo e dos
Hohenzollern, em 1806-7, o conquistador francês percebeu as
vantagens de estimular o nacionalismo e o patriotismo polonês em
favor da causa francesa.
Legiões polonesas, como a Dabrowski (*), já haviam lutado
corajosamente ao lado do conquistador francês na Itália e em diversas
outras oportunidades, o que fez com que ele, Napoleão, ordenasse a
reorganização de um estado polonês, desaparecido no levante de
1795: o Ducado de Varsóvia. Com uma extensão de 155 mil km²,
contava com uma população de 4.300.000 habitantes, defendido por
39 mil homens em armas.
O renascido exército nacional fora arregimentado a partir dos
poloneses que haviam lutado ao lado dos franceses, cujos oficiais
compuseram o novo quadro militar do Ducado de Varsóvia. Napoleão
distinguiu como seu comandante o príncipe José Poniatowski,
bravíssimo sobrinho do último rei da Polônia, Estanislau II Augusto,
personalidade nobre que melhor encarnava o espírito romântico do
cavalheiro audaz e destemido, tão ao gosto da tradição dos Sármatas.
O General Príncipe Poniatowski, montado num corcel fogoso, era a
materialização do ardente desejo de liberdade dos poloneses.
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O príncipe José Poniatowski numa carga de cavalaria.
O governo era formado por um triunvirato e estava submetido a
um “Residente” - o representante de Napoleão - no caso, o Marechal
Davout.
A Constituição do Ducado de Varsóvia, expressão do Código
Napoleônico, estabeleceu: a) a igualdade de todos os cidadãos
perante a lei; b) a abolição dos privilégios da szlachta (a nobreza); c) a
abolição da servidão; d) os direitos políticos eram estendidos aos
nobres e aos burgueses.
A dedicação das tropas polonesas ao imperador foi integral. Do
general ao recruta, todos ficaram com Napoleão até o fim. Durante a
invasão da Rússia em 1812, registrou-se um fato que virou marco da
devoção completa dos cavaleiros dos regimentos de hussardos
poloneses por Napoleão. Na travessia do rio Niêmen, que separava a
Polônia da Rússia, muitos deles, mesmo sendo tragados pela
violência da correnteza, ainda gritavam, lá do meio do rio caudaloso:
“Vive l´Empereur! Vive l´Empereur!” (incidente este também registrado
por Tolstoi no “Guerra e Paz”).
Em Waterloo, a batalha perdida por Bonaparte, em março de
1815, o sonho de uma restauração da liberdade polonesa, novamente
naufragou. No Congresso de Viena, de 1815, ela, reocupada pelos
russos desde 1813, foi entregue ao czar, sendo que um integrante da
dinastia Romanov assumiu diretamente o encargo de ser o seu
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governante, chamado, então, de Reino da Polônia. Outras partes da
Polônia foram, por sua vez, entregues à Prússia e à Áustria.
(*) A letra do Canto de Guerra da Legião Dabrowski tornou-se o
hino da Polônia:
“Polônia não está morta enquanto nós vivermos /O que os outros
nos tomaram pela força nós iremos recuperar pelas espadas / Marche,
marche Dabrowski, da Itália ao solo da Polônia / Com nossa liderança
iremos reunificar a nação”.
O Grande Exílio
Mais uma tentativa libertária desencadeou-se em 29 de
novembro de 1830, aproveitando-se dos fumos revolucionários vindos
da França, ocasião em que o rei Carlos X, um monarca retrógrado, um
Bourbon da velha estirpe, fora deposto por um levante popular. Foi o
sinal para que os poloneses, seguindo a onda revolucionária, se
erguessem, desejando, assim, afastar o duro punho do czar Nicolau I
de Varsóvia e convocando um Governo Nacional para assumir-lhe o
lugar. Uma rápida contra-ofensiva russa, que ocupou Varsóvia em
setembro de 1831, sepultou logo os sonhos de liberdade. Nada lhes
adiantou o Marquês de Lafayette (colega de Kosciuszco na luta pela
independência dos Estados Unidos) ter dito, em Paris, “Agora, somos
todos poloneses”.
Abatidos e desiludidos com mais um fracasso, milhares de
poloneses buscaram a estrada do exílio como a única saída possível
naquelas circunstâncias dramáticas.
Entre eles, entre os que perderam a pátria, encontrava-se o
jovem concertista Fréderik Chopin, que, foragido em Paris, veio a se
tornar um dos mais famosos e populares compositores e concertistas
do século 19, e, também, Adam Mickiewicz (1798-1855), o Byron
polonês, um poeta militante da sociedade secreta nacionalista, a
Philomathas&Philaretas, que introduziu o romantismo na literatura
polonesa. Consagrou-se como o bardo da resistência nacional durante
aqueles anos tristes e obscuros da partilha, embalando os patriotas
com versos candentes e atormentados:
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“Agora minha alma vive no meu país / Minha pátria e eu
formamos uma coisa só/Sinto como minha a sua dor e sofrimento /
...sinto em mim mesmo o massacre do meu país / do mesmo modo
que uma mãe sente os tormentos do seu filho dentro do ventre.”
(“Dziady”, Parte III).
Adam Mickiewicz
Uma outra tentativa de levante repetiu-se em 1848, por ocasião
da chamada Primavera dos Povos, quando, por igual, fracassou a
sublevação na região de Malopolska, a Pequena Polônia. Fugidos,
inúmeros patriotas poloneses, retomando a tradição legada por
Kosciuszco, tornaram-se ativos internacionalistas, lutando em outros
países europeus contra a política da Santa Aliança: na Itália (Adam
Mickiewicz e Wojciech Chrzanowski), na Alemanha (Wiktor Heltman,
Ludwik Mieroslawski, Franciszek Sznajde), na Áustria (Józef Bem) e
na Hungria (Józef Bem, Henryk Dembinski, Józef Wysocki).
Em 22 de janeiro de 1863, deu-se a última tentativa do século 19
para que eles, liderados dessa feita por Targutt, recuperassem a sua
liberdade. Protestando contra a convocação militar de jovens para
servirem no exército do czar, milhares de civis rebelaram-se contra o
domínio russo. Apesar da simpatia que arrancaram para a sua causa,
novamente ninguém ajudou concretamente os sublevados (com
exceção do líder dos anarquistas russos Mikhail Bakunin que, em
nome do internacionalismo libertário, tentou engajar-se para ir lutar ao
lado dos poloneses; todavia, ficou à distância, em Estocolmo, na
Suécia).
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Os russos somente conseguiram liquidar os últimos redutos de
resistência em 1865. Os patriotas foram então deportados em massa
para a Sibéria e 18 mil deles condenados a longas penas de degredo.
O czar Alexandre II ordenou a dissolução do Reino da Polônia,
substituindo-o pelo País do Vístula, subdividido em 10 regiões
transformadas em província russa. Certamente foram essas
circunstâncias sombrias de ver a Polônia novamente prostrada,
lacerada pelas perseguições da polícia czarista, que inspiraram
Henryk Sienkiewicz, célebre romancista histórico, a escrever o famoso
livro Quo Vadis, de 1895, que se tornou um sucesso mundial, no qual
narra os sofrimentos dos cristãos na Roma antiga, durante o reinado
de Nero.
Todas essas insurreições, que demonstravam o caráter indômito
do povo polonês, fizeram com que eles fossem chamados de “os ilotas
da Europa moderna”, pois bastava o opressor distrair-se para ter que
enfrentar um levante.
Guerra e revolução
Para alcançar a tão esperançada liberdade nacional, a Polônia
teve que esperar pela desgraça coletiva dos seus vizinhos, ocorrida ao
final da Primeira Guerra Mundial (1914-18). Somente com o
desmantelamento dos Impérios Centrais (a derrota do IIº Reich na
Alemanha e o fim do domínio dos Habsburgos na Áustria-Hungria,
simultâneo ao colapso da Dinastia Romanov, entre 1917-1920),
tornou-se possível a proclamação de uma república polonesa
totalmente autônoma.
Mesmo assim, os estragos da guerra deixaram suas marcas por
todas as partes. A presença dos exércitos estrangeiros, alemães,
austríacos e russos, enfrentando-se por quase todo o território
nacional, deixaram para a nova Polônia uma terra arrasada,
praticamente sem recursos para estruturar o seu tão almejado estadonacional independente.
A Constituição de 1921, a da chamada Segunda República,
aboliu todos os títulos de nobreza e introduziu o princípio da igualdade
cidadã (todavia, com a ampliação da crise econômica internacional
desencadeada nos anos 30, a nação viu-se forçada a aprovar a
Constituição autoritária de 1935).
19
A Polônia, que teve reconhecida sua autonomia pelos
bolcheviques, em março de 1918, entrou em guerra contra eles em
1920, atendendo à ambição estratégica do Marechal Pilsudski, herói
nacional, em manter o controle sobre os dois mares, o Báltico e o
Negro. O Exército Vermelho reagiu por meio de uma contra-ofensiva e
somente foi batido às portas de Varsóvia, quando Pilsudski impôs-lhe
severa derrota (“O milagre do Vístula”). Garantiu assim, pela força das
armas, a independência nacional.
A nova partilha
Nos anos seguintes ao governo do Marechal Pilsudski (a dita
“Ditadura Moralizadora”, de 1926 a 1935) dois novos poderes
ameaçadores da segurança da Polônia ergueram-se ao oeste e ao
leste. Em 1933, o nacionalista radical Adolf Hitler assume o poder na
Alemanha com explícitos planos expansionistas (o que implicava o
reclamo dos territórios alemães cedidos à Polônia pelo Tratado de
Versalhes, de 1919).
Em 1934, foi a vez de Stalin assegurar definitivamente a sua
liderança total sobre o Estado Soviético, por ocasião do chamado
“congresso dos vencedores”, ampliando o projeto de transformar a
URSS numa grande potência. As nuvens negras carregadas com a
tempestade da guerra – formadas pelo nazismo e pelo stalinismo ergueram-se sobre os horizontes das duas fronteiras da Polônia.
O país viu-se vítima da associação entre as duas ditaduras (o
Pacto Germano-Soviético de agosto de 1939, que estabeleceu a
partilha secreta da Polônia entre Hitler e Stalin, ficando o primeiro com
¾ dela) e, no transcorrer da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
com a Polônia totalmente ocupada pelo IIIº Reich, ela foi transformada
em Governadoria-Geral. Coube a Hans Frank, um dos piores
carrascos nazistas, a sua comandância, servindo de palco para as
batalhas brutais travadas entre os exércitos de Hitler e de Stalin.
Além disso, a Polônia viu-se escolhida como o local ideal para a
aplicação da política de extermínio em massa (Endlösung)
desencadeada pelas forças de ocupação nazista. Judeus, ciganos e
outras minorias foram transportados em vagões de gado, de todas as
partes da Europa, para serem liquidados nos seus principais campos
de morte (Auschwitz-Birkenau, Treblinka, Sobibor, etc.).
20
Deu-se, paralelamente, um planejado massacre da elite
polonesa, executado pela Einsatztruppe (tropa de extermínio), que
visou exterminar políticos, intelectuais, acadêmicos, professores,
padres, oficiais superiores, líderes sindicais, etc., fazendo com que a
Polônia, principal cenário da guerra racial nazista, fosse uma das
nações que, proporcionalmente, mais perdesse habitantes civis
durante a Segunda Guerra Mundial (*).
(*) Segundo os dados oficiais do governo polonês, apresentados
em 1947, as perdas resultantes das operações militares
chegaram a 521 mil civis.
9 Vítimas dos campos de concentração e excussões na
liquidação dos guetos: 3.577 mil.
9 Mortos por epidemias, exaustão, em prisões e nos campos:
1.286 mil.
9 Fora dos campos, mortos por ferimentos, maus tratos e
trabalhos forçados: 1.681 mil.
9 Total: 6.544 mil (seis milhões quinhentos e quarenta e
quatro mil mortos) sobre 35 milhões de habitantes
existentes na Polônia antes da IIª GM.
O levante de Varsóvia, 1944.
Batidos os nazistas em Stalingrado, em janeiro de 1943, e
novamente derrotados na batalha do bolsão de Kursk, na Ucrânia, em
julho de 1943, a grande contra-ofensiva soviética aproximou-se das
fronteiras da Polônia em 1944. Aproveitando-se da evidência do
Exército Vermelho estar nas cercanias de Varsóvia, a resistência
polonesa do Armija Krazowa (AK), braço militar do governo exilado em
Londres, lideradas pelo general Bor-Komarowscki, seguindo nas
esteiras do levante judeu do Gueto de Varsóvia, ocorrido em 1943,
intentaram um surpreendente alçamento armado contra os nazistas,
como acontecia em Paris na mesma altura. Visavam liberarem a
cidade e o restante do país sem o auxílio direto dos russos.
Como os soviéticos não foram consultados sobre a conveniência
da insurreição, iniciada em 1º de agosto de 1944, não houve
21
articulação entre o comando polonês na capital e as tropas russas que
estavam do outro lado do rio Vístula, acampadas a alguns quilômetros
distantes. Deu-se, então, a grande tragédia.
Isoladas e mal equipadas, as milícias do AK, depois de
sustentarem um combate urbano desproporcional durante 63 dias
dentro de Varsóvia, foram dizimadas pelas divisões blindadas da
Wehrmacht e da SS Dielenburg. Obedecendo à ordem de Hitler, elas
destruíram com canhões, em conjunto com os bombardeios aéreos
rasantes feitos pela Luftwaffe, praticamente nove décimos da capital
polonesa (98% dos edifícios públicos foram dinamitados). Em meio
aos destroços, encontraram-se 200 mil mortos, restos humanos de um
dos mais terríveis massacres da população civil da Segunda Guerra
Mundial.
Memorial dedicado ao Levante de Varsóvia.
(agosto-outubro de 1944)
Fora mais um dos tantos levantes fracassados da história da
Polônia, só que, desta vez, o desastre de 1944 ultrapassara, em
perdas humanas e bens nacionais destruídos, a qualquer outro
episódio do passado nacional dos poloneses. Somente em janeiro de
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1945, as divisões do Exército Vermelho penetraram na capital
polonesa afastando definitivamente os nazistas. Encontraram uma
cidade destruída, uma enorme metrópole fantasma, estraçalhada por
um vagalhão de balas e de bombas, que haviam feito dela um imenso
entulho de tijolos e pedras calcinadas, misturadas ao sangue
derramado dos insurgentes varsovianos.
O colapso da Polônia, partilhada entre nazistas e stalinistas. (1939)
23
Conclusões
Nenhum outro povo da Europa Moderna, de Tadeu Kosciuszco a
Lech Walesa, travou tantas batalhas para, em fim, conseguir aspirar
os ares da liberdade, da autonomia e da independência nacional,
como os poloneses o fizeram. Durante bem mais de dois séculos,
esses ilotas do leste empenharam-se em se defender das
intromissões e das ocupações, das violentas repressões, das
matanças, seguidas pelas penas do degredo e do exílio forçado dos
patriotas, que as potências vizinhas os submeteram. E, como se dera
no passado, foi o enfraquecimento delas, da Alemanha (depois da
derrota nazista de 1945, seguida da ocupação aliada) e da Rússia
(após o desmantelamento da URSS, em 1989-1991), que
concretamente viabilizou a atual situação democrática que a Polônia
voltou a viver.
Dominada desde o século XVIII até o XX, a nação sofreu de
tudo: da dominação czarista à brutal ocupação nazista e stalinista. Os
poloneses sentiram nas suas costas os flagelos de todos os tipos de
chicote sem que isso afastasse do horizonte deles a esperança de se
verem algum dia verdadeiramente livres.
24
Quadro histórico da Polônia
O Estado da Polônia resulta da
evolução
das
tribos
eslavas
descendentes de Lech (Polanies,
Wislanies,
Pomorzanies
e
Mazovianos) que se unem para
formá-lo. Mieszko ou Mieczyslau I,
chefe dos polônios, torna-se o
primeiro mandatário, em 966 (ano
Polônia Medieval
da conversão ao cristianismo). O
primeiro rei é Boleslau, O Bravo,
coroado em 1024. Guerras contra
os tártaros e contra os Cavaleiros
Teutônicos. Batalha de Grunvald,
em
1410,
vitória
contra
os
Cavaleiros Teutônicos, afirmação
do estado polonês. Ascensão da
Dinastia Jagelônica (1386-1572).
Período
de
independência
e
esplendor. Fundação da Dieta
(Senado e Sejm), em 1493.
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Com o fim da Dinastia dos
Jagelões, em 1574, o rei torna-se
eletivo. Estefan Bártori forma a
Primeira
República
(união
polonesa-lituana), em 1579. Época
do “Dilúvio” (começo de 1609),
país
invadido
por
suecos,
moscovitas e turcos. Início do
Polônia Moderna
culto
à
Virgem
Czestochowa.
Negra
Envolvimento
de
na
Grande Guerra do Norte (1709–
1721).
Primeira
Partilha
da
Polônia, em 1772 (Rússia, Prússia
e Áustria). Colapso das reformas
liberais.
Insurgência
de
Kosciuzsco, 1794-5. A Segunda
Partilha da Polônia, em 1795.
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Ducado de Varsóvia, pertencente
à esfera do Império Napoleônico
(1807-1813). Reino do Congresso
(1815-1830), novamente tutelada
Polônia Contemporânea
pela Rússia. Insurreições antirussas em 1830, 1848 e 1863. A
Grande Imigração para o resto da
Europa
e
para
a
América.Independência alcançada
em 1918. Regime autoritário do
marechal Pilsudski (1926-1935).
Polônia invadida e ocupada pelos
nazistas (1939-1945). Levante do
Gueto de Varsóvia, em 1943, e do
Exército Interior em Varsóvia, em
1944. Exército Vermelho ocupa a
Polônia:
implantação
do
stalinismo.
República Popular da Polônia,
regime
comunista
(1948-1990),
integrante do Pacto de Varsóvia.
Novamente independente depois
da
formação
Solidariedade
do
e
Sindicato
dos
acontecimentos que levaram à
27
queda do regime comunista (19801991).
Bibliografia
DAVIES, Norman. God’s Playground: A History of Poland (New York:
Columbia University Press, 1982).
DAVIES, Norman. Heart of Europe: A Short History of Poland (New
York: Oxford University Press, 1984).
28
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Presença, s/d.
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Panstwowe
ROUSSEAU, Jean-Jacques – Considerações sobre o Governo da
Polônia, in Obras Escolhidas. Porto Alegre: Editora Globo, 1962, vol.
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29
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Polônia: a luta pela liberdade - Sociedade Polônia de Porto Alegre