Kuma&Transculturazione
Shirley de Souza Gomes Carreira - ABEU – Centro Universitário
Imigrantes libaneses no Brasil: a representação literária do processo de aculturação
Questo articolo esamina la rappresentazione letteraria degli immigrati libanesi all'interno della letteratura
brasiliana. L'autrice mette in evidenza come la letteratura abbia giocato un ruolo fondamentale non solo nel
testimoniare il processo di acculturazione, ma anche nel tramandare la memoria etnica. L'articolo ripercorre
le molteplici fasi che gli immigrati libanesi hanno dovuto attraversare in vista di una completa integrazione e
fornisce una vivida rappresentazione dell'interazione sociale e dell'iniziale scontro tra culture diverse.
A cultura permite ao homem não somente adaptar-se ao seu meio, mas também adaptar esse
meio ao próprio homem, a suas necessidades e seus projetos.
(CUCHE, 1999, p. 10)
Introdução
A migração é um fenômeno tão antigo quanto a origem do homem e, conforme afirma Goldberg
(1997, p.21), é uma condição natural da experiência humana. No entanto, o deslocamento implica a
perda de referentes identitários, ou seja, do lugar antropológico (AUGÈ, 1994) e traz como
consequência a necessidade de adaptação a uma outra cultura.
Segundo o Memorandum on the study of acculturation, de 1936, «Acculturation comprehends those
phenomena which result when groups of individuals having different cultures come into continuous
first-hand contact, with subsequent changes in the original cultural patterns of either or both
groups»1. No entanto, Berry (1997, p. 7) afirma que, na prática, a aculturação tende a induzir maior
mudança em um dos grupos do que no outro e, embora seja a princípio uma mudança de ordem
cultural, acaba por tornar-se uma mudança psicológica do indivíduo.
A aculturação é, portanto, um processo que envolve tanto o grupo dominante quanto o grupo
minoritário, tendo um impacto maior neste último. O contato cultural atinge dois aspectos básicos: o
grau de envolvimento de um grupo com o outro e o grau de manutenção da cultura manifestada por
cada grupo. Deste modo, um grupo pode assimilar o outro, ambos podem permanecer culturalmente
distintos ou misturarem-se entre si.
O processo de aculturação do imigrante implica etapas que refletem, em maior ou menor grau, a
ansiedade resultante da desorientação experimentada ao se entrar em uma nova cultura, ou seja, do
choque cultural.
Este artigo consiste em uma análise da representação literária da aculturação de imigrantes
libaneses na literatura brasileira, bem como uma reflexão sobre as variáveis sociais que afetam a
integração social do imigrante. Para tanto, examinaremos três obras que contextualizam a imigração
libanesa no Brasil: Amrik, de Ana Miranda, Nur na escuridão, de Salim Miguel, e Relato de um
certo Oriente, de Milton Hatoum.
Amrik é um romance histórico, fruto de minuciosa pesquisa da autora, que não apenas utilizou como
matéria prima os relatos de imigrantes, denominados mahjar, como também dados extraídos da
literatura árabe, bem como registros históricos relativos à imigração. A narradora é uma imigrante
libanesa, que rememora a sua saga pessoal, desde a infância no Líbano, passando por uma frustrada
experiência na América do Norte, até a sua chegada ao Brasil, onde, finalmente, se estabelece.
Em Nur na escuridão, de Salim Miguel, um imigrante libanês nos leva a conhecer a sua saga
familiar e as relações complexas dos estrangeiros com o país de adoção. Liderada pelo pai, Youssef,
uma família percorre alguns lugares do Brasil à procura de um local onde possa se estabelecer e de
uma oportunidade para recomeçar. Embora entrecortada pela autobiografia do pai, quem nos conta
toda essa história, desde a chegada à Praça Mauá, no Rio de Janeiro, é Salim, o filho mais novo, que
reflete sobre a formação da família e as muitas viagens, mesmo as involuntárias, que acabam
fazendo.
Relato de um certo Oriente, de Milton Hatoum, constitui um mosaico de relatos de membros e
amigos de uma família libanesa, ordenado pela narradora não nomeada na forma de uma carta
enviada ao irmão, que está em Barcelona. O texto é resultado de múltiplas informações amealhadas
durante a viagem de regresso a Manaus, sua terra natal, para rever a mãe de criação e matriarca da
família, que, no entanto, falece antes do reencontro.
Os três textos têm o deslocamento e a memória como molas propulsoras da narrativa e, em
proporções diferentes, exploram a temática do choque entre culturas, bem como relatam a árdua
experiência dos imigrantes na nova terra.
1. O imigrante libanês no Brasil
A emigração libanesa para o Brasil iniciou-se oficialmente após a visita de D. Pedro II ao Líbano,
muito embora haja registros históricos da presença de libaneses desde 1808.
No século XIX, o governo brasileiro adotara uma política de branqueamento que levou, por sua vez,
ao estímulo à emigração de europeus, cuja vinda para o Brasil era subsidiada. No entanto, o mesmo
não aconteceu com emigrantes de outras regiões, como os japoneses, sírios e libaneses.
Desvinculados da política de imigração oficial, que dirigia os imigrantes europeus às lavouras do
interior paulista e dos estados do sul, os imigrantes libaneses tiveram que custear a viagem e a
manutenção na nova terra, o que os levou a procurar apoio na rede de familiares já estabelecida no
país, ligando-se aos ofícios urbanos e comerciais – sobretudo o de mascate, ocupação importante
num país ainda essencialmente rural. Apesar da ausência de incentivos governamentais, o Brasil foi
o país que recebeu o maior número de imigrantes libaneses.
O sucesso dos pioneiros estimulou o processo migratório, pois aqueles que conseguiam se
estabelecer convidavam seus parentes e amigos para que também viessem tentar a sorte no Brasil,
formando uma corrente volumosa de imigrantes que se estendeu dos anos 1880 até o presente, com
breves períodos de interrupção (especialmente durante as guerras mundiais).
Vários foram os fatores que colaboraram para a emigração libanesa, dentre eles a violência no
tratamento dado aos soldados cristãos durante o alistamento militar, que se tornou obrigatório em
1909; a pressão demográfica, pobreza do solo, doenças endêmicas, declínio das indústrias
tradicionais e a falta de oportunidades econômicas.
Roberto Khatlab (2007) afirma que foram três as ondas migratórias sírio-libanesas para o Brasil: de
1880 a 1900, 1900 a 1950 e de 1975 em diante.
Os integrantes da primeira onda migratória tinham em mente fazer fortuna para poder retornar à
terra natal, caracterizando uma imigração de ordem econômica. Sua atividade principal no país era
o comércio e logo ficaram conhecidos como “mascates”.
A experiência bem-sucedida de alguns pioneiros fez com que a emigração se tornasse uma
verdadeira febre, estimulada cada vez mais pela crença de que alguns anos nas Américas seriam
suficientes para garantir a aquisição de terras e a prosperidade dos membros da família que ficaram.
O modelo de existência para esses primeiros imigrantes ainda era o da terra natal, para onde
ambicionavam retornar.
É difícil precisar o contingente de imigrantes nessa fase, pois não existem estatísticas sobre a
distribuição de libaneses no Brasil do início do século 20. No entanto, conforme Truzzi (2005, p.
15) registra, “nos primeiros anos de 1900, havia três centros de atração principais no Brasil para
essa etnia: a Amazônia, São Paulo e Rio de Janeiro”. Diferentemente de europeus e asiáticos, os
árabes não se fixaram de maneira concentrada em um único lugar, mas se espalharam de Norte a
Sul do Brasil, com alguma predominância no Norte.
Os mascates tiraram proveito do surto de prosperidade da borracha que atraía grandes levas de
brasileiros para a região do Amazonas. Com o tempo, a decadência da borracha determinou a
transferência de muitos libaneses para São Paulo e para o Rio Janeiro, contribuindo para a eclosão
de grandes artérias comerciais (KHATLAB, 2007).
O espírito de clã, trazido por imigrantes que tinham na aldeia o horizonte máximo, beneficiou a
comunidade. A rede de favorecimentos começava na acolhida aos recém-chegados e se estendia
depois até as relações entre industriais e grandes comerciantes, com facilidades de crédito e de
fornecimento. Os mascates, em geral, abasteciam-se com patrícios, comerciantes que já haviam
passado pela fase da maleta debaixo do braço e conseguiram abrir uma lojinha.
Muitos sírios e libaneses vieram para o Brasil enganados pelas companhias de navegação. Esses
imigrantes eram levados para Santos ou Rio de Janeiro e só quando desembarcavam percebiam que
não estavam na América do Norte. O Brasil também foi a opção para aqueles que não conseguiram
visto de entrada para os Estados Unidos devido ao seu estado de saúde ou analfabetismo.
A segunda fase de migração foi marcada pelas consequências das duas grandes guerras mundiais,
quando o Líbano atravessou uma das mais sombrias páginas da sua história e conheceu a fome, as
doenças contagiosas, as disputas político-religiosas e o bloqueio marítimo. Nessa época, os
emigrados tiveram um papel importante na vida de seus familiares, a quem enviavam ajuda.
O fluxo migratório sírio-libanês atingiu seu auge entre 1920 e 1930. Esse período assinala a
mudança de objetivo dos que aqui chegaram. Decepcionados com o rumo que seu país tomou após
o fim da dominação política e econômica, os imigrantes optaram por fixar residência no Brasil,
iniciando uma “imigração de assentamento”.
Diferentemente da primeira onda migratória, quando o imigrante não considerava definitiva sua
vinda para o Brasil e o retorno ainda permanecia no pensamento da maioria; o libanês da segunda
onda migratória não via a si mesmo como parte de um grupo de expatriados, mas como membro de
uma coletividade de emigrados que desejavam ter um lugar que pudessem considerar como seu em
terras brasileiras.
A terceira e última onda migratória, que teve lugar após a guerra civil libanesa, deveu-se à falta de
perspectivas para os jovens que viviam em regiões rurais. Mais recentemente, a partir de 1995,
começou uma evasão, em grande parte, de cidadãos libaneses qualificados, devido à recessão
econômica e ao desemprego.
A fim de que possamos analisar a representação literária da imigração libanesa no Brasil,
examinaremos, a seguir, as variáveis de ordem social que afetam a integração do imigrante e que
são, de certa forma, igualmente representadas, já que estão associadas à questão do choque cultural.
2. Variáveis que afetam a integração social do imigrante
A aculturação é bidirecional, afetando os dois grupos envolvidos, e exige certos requisitos como o
contato, a influência recíproca e a mudança. Em uma situação intercultural, o imigrante depara-se
com dois aspectos fundamentais: o envolvimento com a cultura receptora e a manutenção da própria
cultura. A partir do posicionamento do individuo ante a sociedade que o recebe, foi possível
detectar estratégias de aculturação, que, na realidade, implicam escolhas pessoais.
Berry (1997) distingue quatro estratégias aculturativas:
1-Integração: em que há o interesse em manter a cultura original e, ao mesmo tempo, há interação
com outros grupos culturais. Ela só é possível em sociedades multiculturais baseadas em valores de
aceitação da diversidade cultural e com baixo nível de preconceitos.
2- Assimilação: em que os indivíduos adquirem totalmente os traços da cultura de inserção, abrindo
mão de sua identidade cultural.
3- Separação: quando o grupo não-dominante tenta manter sua cultura original e evita interagir
com o novo ambiente cultural, significando o mínimo de desprendimento cultural combinada com o
mínimo de aprendizado da nova cultura.
4- Marginalização, quando há pouca possibilidade em manter a cultura de origem, bem como de
entrar em contato com outros grupos culturais. Em outras palavras, há o máximo desprendimento
cultural vinculado a um mínimo aprendizado cultural.
No caso específico dos imigrantes no Brasil, dada a natureza do processo migratório, associado ao
desenvolvimento econômico do país, houve uma integração, com intensas trocas culturais
(LESSER, 1999, p. 22).
O idioma é, via de regra, um dos obstáculos à adaptação do imigrante ao país de adoção. Oliveira
(2001, pp. 12-13) define o idioma como a primeira grande barreira a ser enfrentada pelo imigrante:
o bilinguismo ou a competição entre a língua de origem e a nova definem a construção da
identidade do imigrante, ou seja, a identidade nova e híbrida, que surge das trocas culturais.
A identidade cultural pode ser compreendida como um conjunto de tradições, histórias e valores
morais, espirituais e éticos deixados por gerações passadas. No entanto, no contexto da migração,
essa identidade é forjada tanto por esse conjunto de tradições quanto pela apreciação que a
sociedade inclusiva faz do grupo, ou melhor, em reação às demandas e valorações, positivas ou
negativas, que essa sociedade exerce sobre o grupo (TRUZZI, 2005, p. 51).
Esse critério de valoração construiu uma imagem do imigrante libanês que gerou o estereótipo do
“turco”, bastante difundido na literatura brasileira.
3. A representação do imigrante libanês na literatura brasileira: uma deambulação
A visão estereotipada do imigrante libanês pode ser encontrada em obras da literatura brasileira,
quase sempre associada à imagem de comerciante, como podemos observar na seguinte passagem
de Gabriela cravo e canela, de Jorge Amado:
Era comum tratarem-no de árabe, e mesmo turco, fazendo-se assim necessário de logo deixar completamente
livre de qualquer dúvida a condição de brasileiro, nato e não-naturalizado, de Nacib. [...] De turco ele não
gostava que o chamassem, repelia irritado o apodo, por vezes chegava a se aborrecer:
– Turco é a mãe! (AMADO, 1975, pp. 43-45).
Embora não focalize em particular a questão da imigração, o romance recupera um dado histórico,
uma vez que a denominação deveu-se ao fato de que os sírio-libaneses viajavam com documentos
emitidos pela Turquia.
Segundo Knowlton (1961), todos os imigrantes do Oriente Médio foram denominados “turcos” até
1892, quando os sírios passaram a ser listados separadamente. Por essa época, os libaneses eram
incluídos nessa lista, porque faziam parte da Grande Síria, que hoje compreende os estados da Síria
e do Líbano. O rótulo funcionava como uma espécie de umbrella term, uma vez que eliminava
distinções entre os grupos que agregava. Conforme Oswaldo Truzzi nos faz recordar:
Embora a região territorialmente pertença ao chamado mundo árabe moderno, e seus habitantes efetivamente
sejam falantes da língua árabe, os sírios e libaneses identificam-se, sobretudo, com a religião professada e
com a região ou aldeia de origem, elementos fundadores de suas identidades, muito mais que com um
estado-nação, inexistente para eles na época (TRUZZI, 2005, p. 2).
Em Nur na escuridão, Salim Miguel relata a indignação de Youssef ao ser chamado de “turco”:
E de repente, sem qualquer explicação, sem lógica visível, sem nenhum fato aparente que justificasse ou
provocasse, a reclamação dos demais comerciantes [...] esse estrangeiro, esse turco, chegou ontem e nos
tomou a clientela, sem se lembrarem que também eles eram imigrantes, ou filhos ou netos de, passaram a
chamar o pai de turco e gringo. Deslembravam-se de que eram chamados de galegos (MIGUEL, 2008, p.
118).
Como é possível observar, a ideia de uma identidade ou cultura árabe unitária, que ignore as
características particulares advindas de situações geográficas e históricas específicas, nunca foi
totalmente aceita. A palavra “turco” assumiu, assim, um sentido pejorativo, advindo, em grande
parte, pelo incômodo causado pelo sucesso econômico dos imigrantes.
Em Amrik. Ana Miranda narra a trajetória dos imigrantes libaneses no Brasil: suas aspirações, seus
sonhos, bem como a luta para superar o choque entre culturas. O romance incorpora dados
históricos, como, por exemplo, o desvio do rio para fazer a rua 25 de março, assim como registra as
dificuldades de aceitação na nova terra:
No começo, disse tio Naim, vinham os italianos e os alemães à porta ver despejar de mais árabes, riam de
nossos modos, contavam histórias engraçadas sobre nós e não tinham medo [...] mas o mascates foram
prosperando e de miseráveis ambulantes descalços que vendiam cigarros em bandejas dependuradas no
pescoço ou quibe frito em tabuleirinhos passaram a mascates de santos de madeira e escapulários depois a
mascates de tecidos botões linhas arre, assim os mascates se tornaram perigosos sujos traiçoeiros ambiciosos
usurários [...] mas não somos o que eles pensam, libaneses são limpos, cultos, temos a Université dos jesuítas
e a Universidade Americana, sabemos falar inglês grego francês, sabemos ler escrever, inventamos álgebra
astronomia matemática, os algarismos arábicos o alfabeto, disse tio Naim, trouxemos para ocidentais a
laranjeira o limoeiro o arroz, ensinamos ocidentais a melhor cultivar a alfarrobeira e a oliveira, a criar
cavalos, a plantar uvas, figos e imensas maças, a regar, pintar as unhas, fazer hortas de verduras e talhões de
legumes, mais de seiscentas palavras à língua dos lusis (MIRANDA, 1997, p. 52).
O ofício de mascate também encontra a sua representação no romance de Ana Miranda. Chafic e
Abrahão são representações de duas fases vivenciadas pelo imigrante de primeira geração. O
primeiro representa o comércio itinerante, ocupação inicial dos imigrantes. O segundo aponta para
uma tendência que se perpetuaria na segunda geração, comércio fixo, que não só viria a formar uma
rede de conterrâneos a dar suporte uns aos outros, como permitiria aos seus descendentes o
privilégio de dedicar-se aos estudos.
Os imigrantes da segunda geração encontraram os primeiros aqui fixados, muitos deles atacadistas,
podendo assim lhes fornecer mercadoria e ensinar a língua e os conhecimentos básicos para o
exercício das transações comerciais:
Abraão abriu a canastra mostrou como vendia renda, bordado, retrós sabonete meia dentifrício coisas
pequenas pesam pouco, vendem fácil, preço bom, crédito, lágrimas no olhos, Logo aprendes a língua e se
sabes umas poucas palavras podes trabalhar por tua conta, sais de manhã cedo mesmo que chova levas pão
farinha pudim de palmito bocajuva vais de casa em casa nos bairros da Sé Santa Ifigênia, havia um mapa da
capital da província de São Paulo, Abraão tinha lista de fregueses (MIRANDA, 1997, p. 176).
Em Nur na escuridão, de Salim Miguel, pode-se observar a dificuldade enfrentada pelos libaneses
recém-chegados para se iniciarem na profissão de mascate:
Não importa o que uma pessoa tenha sido ou queira ser [...] ao chegar ao Brasil, libaneses e sírios, árabes em
geral, começam mascateando [...] Se estão se dando bem e o mascatear dá certo, vão deixar de ser trouxas,
não demora adquirem um cavalo, uma carrocinha, depois podem ter uma vendola, um armazém, loja de
tecidos, quem sabe uma fabriqueta (MIGUEL, 2008, p. 96).
O processo de aprendizagem é quase sempre o mesmo:
A primeira investida foi para Petrópolis, perto, acompanhado de um parente, que dominava os segredos da
profissão, e não só dominava, gostava de mascatear, de conhecer novas gentes e novas regiões [...] explicou
como o pai deveria agir. Cada país de origem pedia um modo, bom de perguntar logo a nacionalidade,
indagar dos primeiros tempos deles ou dos antepassados, dos problemas de adaptação; ensinava, nunca dê o
preço de uma mercadoria, para realizar a venda precisa pôr um preço sempre mais alto, depois ir cedendo,
pechinchar se chama, faz parte de um jogo milenar (MIGUEL, 2008, p. 101).
Essa atividade favorecia o enraizamento na nova terra, pois o mascate necessitava socializar-se e
cativar a sua freguesia, muito embora não fosse essa a intenção inicial dos imigrantes, para quem
aquela era uma condição passageira, a ser coroada com o retorno à terra natal. Com o passar do
tempo, no entanto, este passava a ser algo cada vez mais distante, fazendo com que os imigrantes
começassem a pensar em meios de melhorar a sua condição de vida. Assim é que Naim, tio da
protagonista de Amrik, exorta os amigos libaneses à criação de estruturas sociais locais que lhes
permitam ter uma vida próxima à da terra natal em solo brasileiro: «[...] um dia vão perceber que a
vida passou, ficaram aqui fazendo fortuna e não voltaram nem ficaram ricos, só alguns, Entendam
logo isso e façam os cemitérios clubes igrejas mâdrassas que nos dos outros não nos aceitam [...]»
(MIRANDA, 1997, p. 64).
O domínio do português foi, sem dúvida, a primeira grande barreira a transpor. Ao mesmo tempo
em que necessitavam aprender o idioma para mascatear, os imigrantes libaneses buscavam manter
vivo o idioma de seu país natal, mantendo contato com outros imigrantes da mesma origem. No
entanto, aos poucos, assim como a terra natal, a interação apenas em árabe tornou-se algo distante.
Em Amrik, a narradora relata essa tendência dos imigrantes a se agruparem com seus conterrâneos.
O início do processo de intercâmbio cultural é também descrito no romance, bem como o
desenvolvimento de uma interlíngua2, mistura de árabe e português:
Tio Naim estudou na Université dos jesuítas Saint Joseph, escrevia para o ALK-Ahram e agora pediam para
escrever sobre imigrantes, dinheiro, política, república, ele gostava de república porque trazia prosperidade,
os escritos de tio Naim eram discutidos por libaneses nos mezzes as domingos, senhores de muitos espíritos
contrários e dados a leis da imaginação, mais levados por seus sonhos do que pela realidade, cada qual vendo
mais a distância que a proximidade, misturando árabe com português [...] (MIRANDA, 1997, p. 62).
Néstor García Canclini, na introdução de seu Culturas híbridas, nos diz entender hibridização como
os «processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma
separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas» (CANCLINI, 2003, p. XIX).
A interlíngua é um idioma híbrido e uma das primeiras manifestações do hibridismo cultural.
Quando Homi Bhabha (apud RUTHERFORD,1990, p. 211) desenvolveu o conceito de hibridismo,
ele o definiu como o terceiro espaço, isto é, o lócus do surgimento de uma representação mútua e
mutável da diferença cultural e produtor de uma nova configuração identitária, híbrida, porque não
é fruto da assimilação nem da resistência à aculturação, mas fruto da tessitura de elementos
provenientes de duas culturas diferentes.
Em Relato de um certo Oriente, de Milton Hatoum, Hakim, filho de imigrantes libaneses, nascido
em Manaus, é iniciado na língua árabe pela própria mãe, aprendendo sem nenhum método a língua
e a cultura de seus ancestrais:
As primeiras lições foram passeios para desvendar os recantos desabitados da Parisiense, os quartos e
cubículos iluminados parcialmente por clarabóias: o corpo morto da arquitetura. Sentia medo de entrar
naqueles lugares, e não entendia porque o contato inicial com um idioma inaugurava-se com a visita a
espaços recônditos. Depois de abrir as portas e acender a luz de cada quarto, ela apontava para um objeto e
soletrava uma palavra que parecia estalar no fundo de sua garganta; as sílabas, de início embaralhadas, logo
eram lapidadas para que eu as repetisse várias vezes. Nenhum objeto escapava dessa perquirição nominativa
que incluía mercadorias e objetos pessoais [...]. Ela ensinava sem qualquer método, ordem ou seqüência. Ao
longo dessa aprendizagem abalroada eu ia vislumbrando, talvez intuitivamente, o halo do “alifebata”, até
desvendar a espinha dorsal do novo idioma [...] (HATOUM, 2006, p. 51).
Esse aprendizado inscreve em Hakim uma memória ligada à família imigrante, à tradição de uma
cultura que não conhece em sua raiz, mas como legado familiar e forma de resistência a uma
homogeneização do estrangeiro na terra do outro, gerando um conflito em relação à própria
identidade. Hakim é um sujeito cindido, diante de uma dualidade identitária:
Desde pequeno convivi com um idioma na escola e nas ruas da cidade, e com outro na Parisiense. E às vezes
tinha a impressão de viver vidas distintas. Sabia que tinha sido eleito o interlocutor número um entre os
filhos de Emilie: por ter vindo ao mundo antes que os outros? Por encontrar-me ainda muito próximo às suas
lembranças, ao seu mundo ancestral onde tudo ou quase tudo girava ao redor de Trípoli, das montanhas, dos
cedros, das figueiras e parreiras, dos carneiros, Junieh e Ebrin? (HATOUM, 2006, p. 52).
A angústia experimentada pela personagem reflete o dilema dos filhos de imigrantes, obrigados a
conciliar dois sistemas de valores diferenciados. No romance, a complexa coexistência de culturas
distintas é definida por Hakim como “as águas de dois rios tempestuosos que se misturam para
originar um terceiro”. Esse terceiro rio é o “terceiro espaço”, onde a identidade híbrida é forjada.
Identidade “transcultural”, posto que resulta de trocas culturais:
O termo ‘transculturação’ define um modo de integração cultural em que há transformação dos grupos
envolvidos, gerando novas configurações identitárias. Esse termo é mais preciso do que “aculturação”, uma
vez que traz implícita a noção de ultrapassagem da própria cultura e da cultura do outro (CARREIRA, 2009,
p. 177).
Os imigrantes de primeira geração buscavam modos de revisitar as próprias origens, como é
possível observar na seguinte passagem de Nur na escuridão: «Precisa não renegar a raça a que
pertence, precisa conhecer a história da sua terra (tão rica em acontecimentos), precisa participar
das reuniões da colônia, precisa se integrar, precisa entrar para o Clube Monte Líbano, precisa»
(MIGUEL, 2008, p. 23).
Os valores e a tradição eram mantidos e transmitidos através do núcleo básico que era a família.
Embora a maior parte dos descendentes de libaneses tenha perdido contato com o idioma de seus
antepassados, a memória histórica era transmitida nos momentos de reuniões familiares; uma
memória que era reconstruída, inclusive, através de hábitos alimentares (KEMMEL, 2000, pp. 1415):
A família reunida. Tradição dos finais de semana. Pode ser aos sábados ou num domingo. De preferência na
casa do pai. Eventualmente na de um dos filhos. Enquanto a mãe vivia, costumava-se levar amigos, não
dispensavam a comida árabe, quibe em especial [...] a comida continuava a mesma. Só que agora, na
cozinha, as duas filhas, ajudadas pelas empregadas. Noras relutavam, repetindo: não sei preparar comida
árabe, por melhor que faça vocês vão dizer, a da mamãe era melhor. E era. Pratos preferidos: quibe cru (ou
de forno, ou frito, com e sem recheio), tabule, esfiha, labnia, malfufe (melhor com folha novinha de parreira,
pode ser também de repolho), mjadra (lentilha com arroz, a que não pode faltar cebola frita cortada fininha),
grão-de-bico amassado com óleo de gergelim, zatar com azeite de oliva, por vezes uns goles de arak, quase
sempre cerveja, mais raro vinho (MIGUEL, 2008, p. 185).
Às vezes, os costumes causavam estranheza em seus descendentes, fazendo, curiosamente, do
território familiar um espaço exótico e estrangeiro:
No centro de um pátio iluminado pelo sol equatorial, homens e mulheres repetiam o hábito gastronômico
milenar de comer com as mãos o fígado cru de carneiro. Não era a um ritual bárbaro ou ao sacrifício de um
animal que eu assistia do quarto dos pais, mas sim a uma novidade assombrosa, a uma festa exótica que tanto
contrastava com o ritmo habitual da casa (HATOUM, 2002, p. 58).
A tentativa de manutenção de valores influenciou também a escolha dos cônjuges e a questão do
casamento entre brasileiros e libaneses também é representada na literatura:
Uns homens daqui mandavam buscar mulheres nas suas aldeias no Líbano, mulheres da sua mesma religião
maronita e de virgindade virgindade sempre virgindade, alguns mascates logo que ganhavam um dinheiro
voltavam a suas aldeias para escolher uma mulher, traziam a mulher para o Brasil ou deixavam a mulher lá e
voltavam sozinhos, outros casavam com uma brasileira e voltavam com ela para sua aldeia no Líbano, uma
mascate casou com uma brasileira e levou a brasileira para Beirute, lá estava outra mulher e a brasileira não
aceitou a bigamia, o marido deixou a brasileira na rua, ela ficou perdida nas ruas e ia virar mendiga ou
prostituta de turcos, na sala de tio Naim eles discutiram o destino da perdida [...] decidiram trazer de volta a
brasileira ai que sacrifício pagar passagem assim para brasileiro tanto libanês precisava trazer mãe ou pai ou
irmão, não ia custar tão caro, mais caro é ter boa reputação [...] (MIRANDA, 1997, p. 67).
O tipo de situação descrita no romance de Ana Miranda se reporta a uma fase da imigração em que
os casamentos mistos ainda não eram comuns. Segundo Oswaldo Truzzi (2005, p. 33), «o padrão de
buscar a noiva na terra de origem» era uma prática rotineira entre os pioneiros, mas muitos
imigrantes conheceram-se e casaram-se aqui no Brasil, como o casal de libaneses de Relato de um
certo Oriente.
Como observa Cecília Kemel (2000, p. 57), muitos foram os fatores que facilitaram o processo de
aculturação do imigrante árabe; dentre eles a afinidade entre a prática religiosa dos árabes cristãos e
o catolicismo praticado no Brasil. Os imigrantes muçulmanos, privados desse fator, tornaram-se
menos acessíveis. Essa questão é bem delineada em Relato de um certo Oriente, principalmente, em
relação à Emilie e seu marido. Emilie cultua seus santos com a liberdade de quem compartilha o
lugar comum. Seu marido, no entanto, como afirma Dorner, o imigrante alemão que é amigo da
família, «não era esquivo aos da terra, mas sempre foi imbuído de uma indiferença glacial para com
todos»; era «um asceta mesmo cercado por pessoas».
A negociação entre culturas, entretanto, nem sempre é bem-sucedida. Se a maioria dos imigrantes
engendra uma estratégia de aculturação integrativa, ou mesmo de assimilação, alguns acabam
optando pela marginalização. Em Relato de um certo Oriente, a falta de ancoragem e o sentimento
de inadequação levam o irmão de Emilie, a matriarca da família libanesa, ao suicídio:
Não, Emir não era como os outros imigrantes, não se embrenhava pelo interior enfrentando as feras e
padecendo as febres, não se entregava ao vaivém incessante entre Manaus e a teia de rios, não havia nele a
sanha e a determinação dos que desembarcam jovens e pobres para no fim de uma vida atormentada
ostentarem um império (HATOUM, 2004, p. 62).
Jeffrey Lesser (1999, p. 22) chama a atenção para o fato de que a assimilação, na qual a cultura prémigratória da pessoa desaparece por completo, bem como a marginalização, em que há a
impossibilidade de manutenção da cultura de origem e a incapacidade de interação com o meio,
foram casos raros no Brasil, dando lugar às trocas culturais.
À guisa de conclusão
A nossa deambulação pelas obras de Milton Hatoum, Salim Miguel e Ana Miranda, embora não
exaustiva, revela não apenas o registro da presença dos imigrantes libaneses em solo brasileiro, mas
também o choque entre culturas e as estratégias de aculturação.
A par disso, é possível observar, também, o papel da obra literária na manutenção de uma memória
étnica, pois, através dela, torna-se possível o conhecimento dos valores e práticas sociais dos
imigrantes por um viés que vai além do registro histórico, uma vez que resulta de impressões, ainda
que ficcionalizadas, de imigrantes e de seus descendentes, e de sua forma de lidar com o passado.
Em Nur na escuridão, Salim Miguel deixa claro o teor autobiográfico de seu romance. Ainda que
haja alguma variação nos fatos narrados (no romance, por exemplo, é o tio Hanna que atrapalha a
ida para os Estados Unidos por conta de uma inflamação nos olhos, mas, na realidade, foi o seu pai
quem a teve), são as reminiscências de sua própria história que constituem o arcabouço do romance.
Milton Hatoum sempre procurou esclarecer em suas entrevistas que Relato de um certo Oriente não
é um livro autobiográfico, mas não nega que a sua elaboração é um kilt de memórias, suas e de
outros, entremeadas a tal ponto pela ficção que nenhum membro de sua família reconhecer-se-ia no
romance. Ao contrário de Nur na escuridão, o romance de Hatoum situa-se em um momento
histórico em que os imigrantes já ultrapassaram o choque cultural.
Amrik, por sua vez, constitui o resultado de uma minuciosa pesquisa. Ana Miranda, ao fim do
romance, fornece uma lista bastante detalhada de suas fontes, que vão de relatos de viagens e
registros da imigração a livros de culinária, bem como um glossário de termos em árabe e nomes de
personagens ficcionais ou históricos citados no livro, desvelando ante o leitor a materialidade da
obra.
Os romances examinados sugerem uma intenção subjacente dos autores de vencerem as barreiras do
estereótipo, que marcou boa parte da representação do imigrante na literatura brasileira, buscando,
através da ficção, construir, cada um a seu modo, uma visão da saga dos imigrantes libaneses no
Brasil. Os olhares que lançam à história são fruto das formas diferenciadas de lidar com a memória.
Ao dialogar com a cultura árabe, os romances demonstram como a interpenetração de culturas
permite uma ressignificação dos elementos culturais, proporcionando versões do Oriente cujos
escopos e feições são sempre múltiplos e em mutação.
n. 1 / marzo 2012
1
Em 1936, foi criado, nos Estados Unidos, um comitê encarregado de organizar as pesquisas sobre aculturação. Esse
comitê, composto por Robert Redfield, Ralph Linton e Melville Herskovits, organizou o Memorando sobre o estudo da
aculturação, que se tornou o primeiro referencial teórico sobre o assunto.
REDFIELD ROBERT, LINTON RALPH, HERSKOVITS MELVILLE J. (1936), “Memorandum on the study of
acculturation”, American Anthropologist, 38, 1, pp. 149-152.
2
Interlíngua é o sistema de transição criado pelo aprendiz, ao longo de seu processo de assimilação de uma língua
estrangeira. É a linguagem produzida por um falante não nativo a partir do início do aprendizado, caracterizada pela
interferência da língua materna, até o aprendiz ter alcançado seu teto na língua estrangeira, ou seja, seu potencial
máximo de aprendizado.
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Kuma&Transculturazione Shirley de Souza Gomes