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EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS
Educar com o Coração
Lorena Ostrowski
Associação Educacional Leonardo da Vinci
Curso de Especialização em Psicopedagogia
Professora Orientadora: Ms.Marilda Regianni Olbrymek
Resumo
A Educação em Valores Humanos defende o conhecimento profundo do ser humano, o amor,
como base pedagógica e encara a espiritualidade como dimensão natural do ser. Busca o
desenvolvimento e aperfeiçoamento de todas as faculdades do ser humano, harmonizando-as e
unificando-as. Neste artigo, pode-se conhecer o criador de um Programa de Educação em
Valores Humanos, importantes para o indivíduo viver plenamente. É preciso reconhecer a
contribuição de uma educação baseada em valores para a formação de educadores mais
conscientes de seu papel como agentes transformadores de um mundo novo que aspira a novos
conhecimentos, sabedoria, fé e amor. Faz-se necessária uma renovação da compreensão do
homem, do mundo e das ciências exatas e humanas, não apenas intelectual, mas pela
transformação interior. A Educação em Valores Humanos tem papel fundamental nessa
transição, já que pode trazer novas perspectivas sobre a visão da totalidade de ser humano.
Palavras-chave: Valores Humanos, Educação, Transformação Interior.
1. INTRODUÇÃO
É preciso reconhecer que a educação atual encontra-se defasada e é altamente
arcaica, por transmitir aos alunos apenas informações, conhecimentos em forma de
conteúdos que, muitas vezes, nada tem a ver com a realidade atual em que eles se encontram
inseridos. A escola precisa reconhecer que, além de construir conhecimentos, tem uma
função social que é a de educar para a vida.
Ensina-se o ser humano a nadar, a dirigir carros, a pilotar aviões, a cozinhar.
Formam-se engenheiros, arquitetos, médicos, advogados, professores, artesãos. Entretanto,
esquece-se de valorizar o primordial para que o ser humano aprenda a ser realmente feliz, ou
seja, esquece-se de ensiná-lo como cultivar a paz interior, respeitar o próximo, ter saúde
física, emocional e mental. A reflexão, o discernimento, a solidariedade, a amizade, a
lealdade, que são os valores humanos, ficam relegados a segundo plano ou a disciplinas
específicas dentro do sistema educacional.
Em vista disto, não é surpreendente dizer que o ser humano é estimulado e educado a
ter coisas, a valorizar o material, que são exigências naturais de uma sociedade capitalista.
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Atravessa-se uma época caótica, na qual a degradação dos costumes e valores humanos é
tratada como coisa normal. A sociedade encontra-se carente de iniciativas que minimizem a
conseqüência desses efeitos danosos. É preciso criatividade e ação a fim de se resgatar tudo
o que se perdeu e que é necessário para se construir num sistema educacional que tende a
inclinar-se para o lado da desordem social em prejuízo da educação.
Decorrente de toda essa realidade, seria muito importante e poderia trazer bons
resultados o investimento em uma educação baseada em Valores Humanos, que priorize
virtudes como elementos constitutivos da organização da ação pedagógica. Em torno do
Amor, da Paz, da Ação Correta, da Não-Violência e da Verdade, são estruturadas atividades
e conteúdos ligados aos conceitos, procedimentos e atitudes de diferentes áreas ou
disciplinas. Nesse sentido, os valores passam a ser o suporte de todo o projeto pedagógico
de uma escola ou, mesmo, do pensar e do fazer pedagógico do professor.
Um programa educacional com tais características já existe. Seu criador, Shatya Sai
Baba, cuja referência virá posteriormente de forma mais detalhada, refere-se ao programa
como um desencadeador da revolução espiritual no âmbito da educação.
O Programa de Educação em Valores Humanos (PEVH) traz novas técnicas e ricas
oportunidades para a atuação do educador consciente de seu papel na formação da criança e
do jovem. As crianças e os jovens são protagonistas de uma sociedade mais justa, mais
humana, na qual é preciso que se instalem relações mais harmoniosas do indivíduo consigo
próprio, com os outros e com o mundo à sua volta. O PEVH aponta um caminho que vem ao
encontro das aspirações deste novo milênio: a integração dos conhecimentos, a não
separatividade, o holismo, que considera a pessoa como um todo e não-fragmentada,
fazendo parte do universo e participando ativamente da recriação da vida. Trabalhando sob
essa ótica, o sistema educacional poderá fazer com que os alunos se conscientizem dessa
totalidade e possam ampliar os aspectos físico, mental, intelectual, intuitivo e psicoespiritual
de sua personalidade. Desse modo, poderão reconhecer o sagrado, o divino, como fonte
essencial da vida e da existência.
2. O CRIADOR DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS
Sathya Sai Baba é a mais relevante liderança espiritual viva da Índia. Nasceu há
setenta e cinco anos na Aldeia de Puttaparthi, hoje considerada um dos maiores centros de
peregrinação do mundo. Sathya Sai Baba é, também, excepcional educador de mentes e
almas. Criou, há mais de trinta anos, o Programa de Educação em Valores Humanos e o
introduziu em sua aldeia natal como uma idéia-semente. Atualmente, o complexo
educacional criado por Sai Baba compreende desde escolas de Ensino Fundamental e Médio
até universidades onde a tecnologia de ponta convive com a espiritualidade, integrando
ciência e religiosidade.
Segundo Marilu Martinelli, jornalista, educadora e uma das primeiras divulgadoras
do Programa de Educação em Valores Humanos no Brasil, esse programa não defende
alguma religião ou filosofia em particular. Trata-se de um mistura criteriosa de filosofia e
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técnicas educacionais que visam à criação de uma nova realidade e de uma ordem social
mais humana, partindo da unificação do conhecimento. Os Valores Humanos universais
constituem o pilar de sustentação da mensagem do mestre espiritual educador Sathya Sai
Baba. Esses valores são o denominador comum presente em todas as filosofias e religiões
como uma herança da humanidade. Definem, de maneira viva e transparente, a condição
humana. Milhares de pessoas o visitam para conhecê-lo e conhecer sua mensagem
universalista de unidade na diversidade que, nos dias atais, se espalha pelo mundo através da
Organização Sathya Sai, a qual orienta mais de mil centros de estudos Sai Baba existentes
em todo o planeta.
Outro aspecto levantado por Martinelli (1999) é que o Programa de Educação em
Valores Humanos é adotado em mais de cem países há mais de trinta anos, não se tratando,
portanto, de mais uma experiência na área educacional. Trata-se de uma realidade efetiva
quanto à sua validade e aceitação. Apresenta uma teoria educacional que sintetiza várias
filosofias em uma criteriosa e funcional mistura de técnicas e princípios. Esse programa
contribui para um aprofundamento do humanismo, fazendo crescer o conhecimento intuitivo
espiritual, cultivando o homem psico-espiritual, permitindo a transcendência da razão e a
estruturação do ser humano pelo desenvolvimento integral da personalidade.
3. O QUE SÃO E QUAIS SÃO OS VALORES HUMANOS
Os valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana.
Todo ser humano pode e deve tomar conhecimento da importância da vivência desses
valores para alcançar a arte de viver em paz consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo
que o rodeia. Uma das causas de tantos conflitos que afligem a humanidade está na negação
dos valores como suporte para o desenvolvimento integral do indivíduo e da sociedade.
Não é possível encontrar o propósito da vida sem viver intensamente esses valores
que estão registrados no âmago do ser humano, ainda que adormecidos na mente. Sobre isso
Martinelli (1996, p. 15) nos diz que:
“a vivência dos valores alicerça o caráter e reflete-se na conduta como uma conquista
espiritual da personalidade. No dinamismo histórico, os valores permaneceram
inalteráveis como herança divina em cada um de nós, apontando, sempre, na direção
da evolução pelo autoconhecimento. Nesse grandioso drama humano, criado por
nossos erros e acertos, os valores abrem espaço e trazem inovações essenciais para a
sobrevivência da espécie e o cumprimento do papel do ser humano na criação.
Vivemos tempos críticos, violentos e desesperados; isso acontece devido ao fato de
grande parte da humanidade ter esquecido seus valores e tê-los considerado até
ultrapassados e desinteressantes.”
Percebe-se que o medo, o desamor e o engano têm feito parte da vida dos seres
humanos como uma forma de relacionar-se com as pessoas e com o mundo. Verifica-se que
com a deterioração desses valores há uma grande transformação na qualidade de vida no
planeta.
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Afinal, os seres humanos estão caminhando dentro de um processo ideológico de
inversão de valores que destacam a importância do materialismo, do individualismo e do
desalento.
Por outro lado, é imprescindível ressaltar que houve grandes transformações no que
diz respeito à questão dos conceitos de poder e de felicidade. Sabe-se que o ter não faz do
indivíduo um ser mais feliz. Essa questão traz à tona uma auto-indagação e a necessidade de
mudanças. A partir dessa reflexão, pode-se perceber que a felicidade é uma conquista da
alma, um estado de paz interior, uma filosofia de vida e, portanto, independe de
circunstâncias materiais ou satisfação de desejos.
O PEVH trabalha e desenvolve os valores absolutos: Verdade, Ação Correta, Paz,
Amor e Não–Violência. A cada valor absoluto espiritual correspondem valores relativos
que, exercitados, aprimoram a personalidade e fortalecem o caráter. Os valores relativos são
manifestações de cada valor absoluto no exercício da vida; são instrumentos de
aprimoramento da personalidade, a qual se constrói constantemente, para que possa atingir
seus verdadeiros objetivos. Alguns desses valores se dividem em otimismo, reflexão, ética,
respeito, silêncio interior, autoconfiança, amizade, dedicação e muitos outros de grande
valor para a vida e para o viver.
Martinelli (1999) destaca que os valores humanos estão presentes em todas as
religiões e filosofias, independente de raça, sexo ou cultura. São próprios da condição
humana. Os valores humanos dignificam a conduta humana e ampliam a capacidade de
percepção do ser como consciência luminosa. Unificam e libertam as pessoas da pequenez,
do individualismo. Enaltecem a condição humana. Dissolvem preconceitos e diferenças.
4. OS VALORES HUMANOS E A EDUCAÇÃO
A juventude emergente, nesta nova era, apresenta um amadurecimento precoce,
ainda mais turbulento e permeado de conflitos do que a adolescência na sua forma natural.
Assiste-se, comumente, à banalização da violência, ao uso das drogas e à disseminação de
uma cultura em imensa desestruturação, ocorrendo uma vertente erotização irresponsável,
provocada pela influência dos meios de comunicação. Com a tarefa imediata de prover o lar,
os pais defrontam-se com um ambiente profissional mais exigente, sobrando pouco tempo
para dar aos seus filhos a assistência de que necessitam nessa faixa etária.
Diante dessa realidade cultural, a escola precisa despertar no sentido de tornar o seu
espaço interessante, motivando o jovem a procurá-la para que possa, em parceria com a
família, exercer seu papel de orientadora no desenvolvimento do educando. De acordo com
Brandão & Crema (1991, p. 114):
“se a transformação de um adulto é tão difícil, pode ser mais fácil começar com os
jovens. Se partimos de uma perspectiva do todo e das necessidades do nosso mundo,
a educação – e, particularmente , a assistência ao crescimento do indivíduo durante
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a época de maior plasticidade – destaca-se como a melhor estratégia através da
qual possamos inconscientemente intervir em nossa transformação evolucionária.”
A educação concebida por Sathya Sai Baba está avançando com segurança e
sabedoria na questão referente aos Valores Humanos, pois o conhecimento intelectual,
apenas visto como formação acadêmica, não prepara o ser humano para o perfil exigido pelo
mercado de trabalho hoje. Os tempos atuais impõem atenção redobrada para a formação
integral dos educandos, com o propósito de fazer com que valorizem os pilares
fundamentais da educação, baseados no Dever, Ação Correta, Paz, Amor e Não-Violência.
Esses valores de qualidade formam, para uma convivência humana em todos os setores da
vida, a essência do caráter.
Bhagavan Sathya Sai Baba, que implementou essa metodologia de Educação em
Valores Humanos em suas escolas na Índia, afirma: "Nossas palavras de vida não são para
passarmos à frente de outros. Mas, para passarmos adiante de nós mesmos".
(http://www.saibababrasil.com.br/evh02.htm)
As dificuldades do sistema educacional chegaram a um nível em que a juventude,
incluindo meninos e meninas, não cultiva, nos seus atos, o companheirismo, a solidariedade,
o respeito pelo outro. A ética vivida pelos jovens é a da competição, do individualismo, da
falta de amizade, maneiras, às vezes, muito prejudiciais para o desenvolvimento de sua
personalidade. Isso será assim enquanto o sistema educacional ficar totalmente confinado
aos assuntos teóricos e embasado, apenas, nos métodos científicos.
Os métodos propostos pelo PEVH incluem aspectos espirituais, éticos e morais,
revelando-se, dessa forma, uma possibilidade de superar a situação acima referida,
revertendo o quadro de desequilíbrio cultural, social e moral em que a humanidade se
encontra. Isso tudo pode criar a oportunidade para que o jovem construa sua autoconfiança
de modo que sua vida se torne mais feliz.
O aspecto limitado de que a única forma de se levar o indivíduo ao conhecimento é o
uso do método científico, igualmente, é comentado pelo físico Fritjof Capra, que destaca
vários sintomas de crise no nosso ambiente cultural e social, apontando para um caminho de
sucessivas transições. Algumas dessas mudanças estão relacionadas com os recursos
naturais, outras, com valores e idéias culturais. Sobre essa questão FRITJOF CAPRA (1982,
p. 26) assinala que:
“esta transição também está relacionada com valores culturais. Envolve o que hoje é
freqüentemente chamado de “mudança de paradigma”, uma mudança profunda no
pensamento, percepção e valores que formam uma determinada visão da realidade.
O paradigma ora em transformação dominou nossa cultura durante muitas centenas
de anos, ao longo dos quais modelou nossa moderna sociedade ocidental e
influenciou significativamente o resto do mundo. [...] incluem a crença de que o
método científico é a única abordagem válida do conhecimento; a concepção do
universo como um sistema mecânico composto de unidades materiais elementares; a
concepção da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência; e a
crença do progresso material ilimitado, a ser alcançado através do crescimento
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econômico e tecnológico. Nas décadas mais recentes, concluiu-se que todas essas
idéias e esses valores estão seriamente limitados e necessitam de uma revisão
radical.”
Ainda nessa mesma linha de considerações, observa-se que o sistema educativo
vigente, de acordo com Martinelli (1996), está intimamente ligado ao fato de que os
professores guiam o aluno apenas pelo caminho teórico, sem o suporte do exemplo. Exigese que a criança aja corretamente. Contudo, se esquece da auto-observação e do próprio
aprimoramento dos mesmos como seres humanos. Ser humano algum é superior pelo fato de
ser pai, tio, irmão mais velho ou professor. Na verdade, todo ser é, ao mesmo tempo, um
aprendiz e um educador. Não é possível fazer da educação um instrumento repressor e
totalitário. É preciso, sim, fazê-la uma forma de amar e de construir conhecimentos.
Educação não significa somente aquisição de informação, mas também a ampliação dos
horizontes da mente e o aperfeiçoamento do caráter.
A verdadeira meta da educação é colocar o estudante na senda da autoconfiança,
auto-satisfação, auto-realização e acabar com a ilusão de que a felicidade consiste na
acumulação de dinheiro, conhecimento, bens materiais ou fama. A felicidade é uma atitude
mental que pode ser cultivada, não sendo afetada pela boa ou má sorte.
A professora Eugênia Puebla conduz a uma reflexão sobre a prática pedagógica de
um educador consciente de seu papel na área da educação em valores humanos. A exemplo
de Puebla (1997, p. 19), verifica-se que:
“nós, educadores, podemos ser meros transmissores de informação ou estabelecer
como objetivo um verdadeiro conceito de educação. Se assumirmos ser educadores,
poderemos contribuir para uma mudança social a partir do desenvolvimento
individual e coletivo. Para isso temos que participar da mudança e vivê-la como um
desafio essencial. Assim poderemos colaborar na construção de uma comunidade
harmoniosa, apoiada nos valores humanos como base do crescimento pessoal e
comunitário.”
5. O PAPEL DO PROFESSOR COMO AGENTE TRANSFORMADOR
A partir do momento em que as pessoas começarem a ver com os olhos do coração,
mudarão sua visão sobre elas mesmas, sobre o semelhante e sobre o mundo. Despertarão
para o que é real e verdadeiro na existência e se permitirão viver como seres humanos, ou
seja, como pessoas com emoções, sentimentos, desejos e limitações. Descobrirão que,
através dessas emoções, desencadeiam em si um processo de transformação, de
entendimento do mundo, das pessoas que as rodeiam e de si mesmas. A abertura do coração
desenvolve a paciência, a afeição, o respeito, a compaixão, a abertura às necessidades mais
profundas do outro e a capacidade de se colocar no lugar do outro.
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Um projeto educacional compatível com a transição de padrões sociais pela qual a
humanidade está passando não pode separar o divino do mundo nem ignorar a sede de
vivência espiritual do ser humano.
Quando se distancia do sagrado, o homem torna-se insensível ao poder mágico da
natureza e do universo e se distancia de si mesmo e de seus semelhantes. A espiritualidade
que emerge do coração se fundamenta na integração de crenças, raças e sexos sem
preconceitos e propõe a experiência da comunhão entre todos os seres humanos por meio do
reconhecimento de sua origem.
A educação necessita caminhar rumo à transformação e se aprofundar no
conhecimento interior do ser humano. O professor é a base para todo esse processo de
mudança porque passa a ser, através da força unificadora que é o amor, o mediador de
valores. Ao trabalhar generosamente, o coração floresce e o cultivo do amor enobrece seus
atos. A fé no ser humano e no divino fortalece o docente, que não necessita de aprovação
nem de recompensas porque se sente realizado e com sensação de missão cumprida.
Trabalhar dessa forma confere a renovação de energias, otimismo, alegria e, principalmente,
um sentido mais amplo para a vida. Todavia, é quase impossível saber a extensão e a
importância dessas ações. Uma ação amorosa e altruísta, por mais banal que possa ser
considerada, pode ser de grande valia para alguém e, certamente, fará com que o educador
caminhe para um processo de evolução.
Educar com amor leva o professor à percepção da unidade na diversidade e oferece a
chave para a abertura do centro da alma, o coração. Segundo Martinelli (1999, p. 12),
“lecionar é uma extraordinária possibilidade de ultrapassar limitações de nossa
personalidade, permitindo o enriquecimento de nossas experiências cotidianas, ampliando os
nossos conhecimentos, a compreensão de nós mesmos e do outro”.
Não se pode negar que as dificuldades e desafios transformam o ser humano em
indivíduos melhores, com outro olhar para as situações, e mostram horizontes inéditos, além
de ensinar a aprender com os próprios erros e permitir o afloramento de novas qualidades.
O ser humano que tem a felicidade de trazer por vocação a tarefa de ser
educador, e que desempenha com eficiência essa tarefa, usando as ferramentas
compreensão e do amor, geralmente, aprende mais do que ensina. Nessa troca
experiência com uma constelação de pequenos seres que, em sua essência, são deuses
potencial, realiza em si a grandeza do auto-reconhecimento e da auto-realização.
um
da
de
em
Nesse mundo físico transitório, os professores devem se familiarizar com os
acontecimentos à sua volta e passá-los adiante, aos estudantes, sob suas responsabilidades.
Há muitas técnicas fáceis para se ganhar dinheiro e, apesar de todas as facilidades, o homem
não tem paz, não tem felicidade e está irrequieto. Nesse mundo, o dinheiro é considerado,
por muitos, a coisa mais importante. Outros tantos, ainda, acreditam que a função da
educação é preparar o indivíduo para ganhar dinheiro. Há, também, os que consideram que o
objetivo da educação é, somente, a construção do conhecimento científico.Porém, de acordo
com Sathya Sai Baba, tudo isso é necessário, mas se não for articulado com a solidez de
caráter e ações concretas no cotidiano, de nada valem para a construção da paz do homem e
da humanidade. Se houver virtude e conduta, há um amplo espaço para a paz e a felicidade.
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Portanto, se um professor ensina após ter colocado em prática seus ensinamentos,
estará estabelecendo um ideal para o mundo. Este novo milênio requer muitas
transformações no sentido de levar o ser humano a refletir sobre sua própria forma de ser e
de agir. A teoria, se não articulada com a prática, não promove mudanças. Um professor
deve, primeiramente, conhecer a si próprio e adquirir consciência da luz que pode levar aos
seus educandos. Deverá ser um exemplo vivo de tudo aquilo que diz, o que os contagiará,
tornando o processo de ensinar e aprender um processo de prazer.
Um educador pode ensinar bem, pode utilizar métodos adequados e variados, mas se
o seu discurso não for coerente com sua prática e com sua conduta, será um discurso vazio
que não encontrará eco entre seus educandos. Os Valores Humanos não são encontrados e
aprendidos nos textos, não podem ser presenteados por amigos nem obtidos num mercado.
Têm que ser vivenciados, experimentados com o coração.
A prática dos valores humanos levam os homens a um conhecimento maior de si
mesmos, a um estado de paz interior, de serenidade, de tranqüilidade. O psicólogo Pierre
Weil (1993, p. 43) assinala:
“para que um professor possa transmitir a arte de viver em paz a outras pessoas ,
sejam crianças, adolescentes ou adultos, é necessário que preencha uma condição
essencial: ser ele mesmo um exemplo de tudo que transmite. Pode-se dizer que a
simples presença do mestre, pela irradiação de um conjunto de qualidades como
afeição, doçura, paciência, abertura às necessidades mais profundas do outro,
capacidade de se colocar no lugar daquele que sofre, dispensaria toda e qualquer
espécie de ensinamento.”
A verdadeira Educação em Valores Humanos significa a prática dos valores
humanos na vida diária, os quais estão presentes no ser humano naturalmente. Verdade é
aquilo que deve ser dito; Dever é aquilo que deve ser praticado; Paz é aquilo que deve ser
experimentado; Amor é uma qualidade natural; Não-Violênca, infelizmente, é algo que está
a uma longa distância da humanidade. Por esse motivo, seria imprescindível que os
professores pudessem transmitir aos alunos, além de conceitos sobre os verdadeiros Valores
Humanos, momentos de vivência dos mesmos e, acima de tudo, seu exemplo de vida.
Assim sendo, ser educador exige uma responsabilidade muito grande e um grande
amor pelo que faz. Não basta; é preciso ser. Esse aspecto também é comentado por Migliori
et al. (1999, p. 99), que salienta o seguinte:
“tornar-se mais que um transmissor de informação - e ser um educador que inspira e
dá exemplos com seus pensamentos, palavras e atitudes do que ensina - é aceitar
ser um instrumento para conduzir pelo caminho da retidão a personalidade dos
alunos. O amor e a dedicação precisam permear a conduta do professor. Ensinar é
também arte e ciência. O professor inspirado é aquele que objetiva o aprimoramento
das aulas procurando desenvolver os talentos e habilidades dos alunos numa
atmosfera de amor, alegria e companheirismo, assim sendo como seus próprios
talentos e qualidades.”
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6. O APRENDIZADO DE VALORES: BASE PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Compromissar-se com a educação exige do professor a vivência da filosofia proposta
pela escola, conduzindo sua postura de acordo com ela. O mundo está vivendo a "era do
conhecimento", momento em que pessoa alguma pode parar de estudar, de atualizar-se.
Contudo, o homem precisa saber filtrar as informações e o conhecimento significativo para
aplicá-los no dia-a-dia. Necessita saber gerenciar todo esse "saber", de modo que se torne
útil para sua vida e a da sociedade a qual pertence. Quando se fala sobre "conhecimento",
não se pode mencionar apenas o conhecimento formal. È necessário mencionar, igualmente,
o conhecimento das experiências vividas, a sabedoria que trazem consigo, os
acontecimentos do mundo, os anseios, os sonhos, os desejos e as limitações de cada um.
Atualmente, comenta-se muito sobre a qualidade das relações humanas. Promovem-se
cursos que ensinam como se relacionar e conviver melhor, deixando-se, porém, de vivenciar
os valores humanos.
Sabedoria consiste em equilíbrio pessoal, em inteligência para adquirir novas
posturas e expressividades. É fundamental preparar o indivíduo para a vida. Para tanto, seria
viável refletir se é suficiente o conteúdo formal da escola para formar um indivíduo
consciente do seu papel como agente transformador dentro da sociedade. É preciso
reconhecer a necessidade de um mundo cada vez melhor. De nada adianta indivíduos que
possuam muito conhecimento, mas que não saibam expressá-los e nem cativar aqueles que
os ouvem.
O mercado de trabalho exige, nos dias de hoje, iniciativa, argumentação, ética,
parceria, razão pela qual tem-se que ir além das expectativas. Os alunos estarão,
profissionalmente, atuando num amanhã muito breve. Qualquer um pode ser um
profissional. Porém, o grande desafio da humanidade consiste em tornar-se um cidadão
competente, afetivo, compreensivo, tolerante, flexível, versátil e criativo,
A escola é um espaço social privilegiado de construção do conhecimento, seja ele
científico, histórico ou humano. Não há como crescer na dimensão cognitiva se não houver
crescimento na relação com os outros e consigo mesmo. O conhecimento só se constrói
diante de desafios e da necessidade de se solucionar problemas vitais, e esses só se
manifestam nas relações, principalmente, as sociais. A pedagoga Isabel Galvão (2000,
p.112) reforça, dentro da psicogenética walloniana, que:
“ao participar de grupos variados a criança assume papéis diferenciados e obtém
uma noção mais objetiva de si própria. Quanto maior a diversidade de grupos de
que participar, mais numerosos serão seus parâmetros de relações sociais, o que
tende a enriquecer sua personalidade.”
Todo ser humano tem suas crenças e, com base nelas, seus pensamentos, sentimentos
e atitudes. Uma reflexão sobre o comportamento dos adolescentes leva a crer que muitas de
suas preocupações pautam-se em como o grupo vai perceber ou receber essa ou aquela
determinada atitude. A aceitação e a aprovação do grupo é muito importante nessa fase. O
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adolescente só terá autonomia para discernir o que é certo ou errado se estiver apoiado nos
valores que construiu até então.
Desde a Educação Infantil, precisam ser abordados os verdadeiros valores, não no
sentido de imposição, mas no sentido da construção. A psicóloga Clara Regina Rappaport
(1981) afirma que é do zero aos sete anos que a personalidade do ser humano se estrutura.
Nesse período, a criança recebe toda uma bagagem. Depois, já começa a interiorizar o que
quer ou não quer para si. O que o ser humano recebe de significativo, nessa faixa etária,
levará para a vida toda.
Trabalhar valores é algo que não é visível e imediato. Os valores se constroem no
convívio com o outro, nas ações do dia-a-dia, e os educadores, necessitam, além de dedicar
a atenção a determinados valores no momento e na hora certa, assumir esse compromisso
com o coração e com a ação. É fundamental que se planejem atividades específicas para
refletir com os alunos sobre o comportamento humano, oportunizando que cada um se
"olhe", se expresse e traga, para discussão em sala, exemplos de situações, sem apontar o
defeito do outro.
7. RUMO À NOVAS DESCOBERTAS
O PEVH é um programa educacional transformador e inspirador porque permite
mudanças estruturais na consciência humana. A partir dessas mudanças começa a construção do
conhecimento, tendo como base os valores humanos na construção do caráter, ampliando os
níveis de percepção.
A integração do conhecimento se processa pela transdisciplinaridade, isto é, além da
disciplina a ser ensinada, dentro do desenvolvimento unificado dos níveis da personalidade
humana: físico, mental, emocional, intelectual, psíquico-intuitivo e espiritual. Os aspectos mais
sutis da personalidade humana, quando reconhecidos e refinados pela educação, estimulam a
criatividade e direcionam a inteligência para o verdadeiro, o belo e o bom, colocando-a a serviço
das forças de construção e, não, de destruição da vida.
O Programa não tem cunho doutrinário, não se trata de catequese e, por isso, não defende
religião alguma ou filosofia em particular. Reúne as conquistas pedagógicas e suas técnicas;
acrescenta os valores espirituais e éticos para serem vividos naturalmente como frutos da
conscientização e, não, de uma imposição de códigos morais. A autonomia só pode ser
conquistada quando é descoberto o que impede de obtê-la. A formação de uma identidade
individual abrangente e o respeito pela própria cultura e pelas demais culturas, raças e religiões,
constrói uma cidadania consciente - uma cidadania planetária - que se coloca a serviço da
comunidade, do país e da construção de um mundo melhor.
A vivência dos valores humanos e o ensino transdisciplinar abrem, pelo equilíbrio entre o
universo interior e o universo exterior do ser humano, a visão para níveis diferentes de realidade.
Estimula o discernimento pela percepção da diferença entre realidade e verdade, entre o
permanente e o transitório, emoção e sentimento. O racionalismo e o humanismo, na educação,
cada um a seu modo, desconhecem o embasamento fundamental do espírito. Se o ser humano
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quiser formar uma cultura de paz, precisa vivenciar os valores humanos de modo que se
sobreponham aos desejos desenfreados que, atualmente, se apresentam como substitutos do
espírito. Educar para o autoconhecimento capacita não apenar para ganhar a vida, mas também
para viver a vida, a ela oferecendo o que se tem de melhor e desfrutando a maravilha que nos
oferece.
A visão global, com a eliminação da fragmentação do conhecimento, identifica
educação em valores humanos com a transdisciplinaridade. De acordo com Martinelli (1999,
p. 31):
“o aprofundamento da procura de elos entre todas as disciplinas, consciente de
que todas fazem parte do conhecimento, não valorizando nenhuma em detrimento
das demais, mas englobando-as e ampliando as dimensões do aprendizado, é a
maior similaridade. O convite para a busca do “si mesmo”, transcendendo tempo e
espaço e a própria existência física, é um traço comum que aproxima educação em
valores humanos da transdisciplinaridade.”
A transdisciplinaridade é uma visão integrada do conhecimento que amplia as
dimensões dos conteúdos de cada disciplina para uma compreensão integral da vida. Ao
enfocar um tema, o professor poderá mostrar os elos de ligação com outras informações e
áreas de conhecimento, além de tratar da transcendência e englobar as áreas de ciências,
artes e filosofia, permeando-as com os valores.
Martinelli (1996) remete a uma reflexão sobre o verdadeiro papel do professor, que
deve criar dinâmicas que tanto mostrem à criança a importância e a utilidade, na sua vida
diária, daquilo que aprendeu em sala de aula, o que mais a encantou no que aprendeu, como
aplicará o ensinamento nos seus relacionamentos familiares, nas amizades, brincadeiras, etc.
quanto estimulem a capacidade de aprender e de pensar como fonte de alegria e prazer. O
educador precisa valorizar e permitir a experiência interior do aluno, abrindo sua mente e
coração para o novo, evitando atribuir informações de fora para dentro. Isso exigirá do
professor atenção sobre si mesmo para encontrar modos criativos de superar-se,
redescobrindo o prazer de lecionar e aprender trabalhando de forma transdisciplinar.
Um dos grandes obstáculos do ensino-aprendizagem está na dificuldade do professor
para aceitar os erros e as limitações na assimilação de conteúdos e informações. O educador
precisa estar ciente de que é um ser humano suscetível a erros e acertos. Respeitando os
níveis de aprendizagem de seus alunos, consegue chegar à compreensão de que o erro faz
parte da aprendizagem, não sendo sinal de incapacidade.
8. CONCLUSÃO
É de grande relevância que os educadores deste novo milênio estejam estar atentos e
encontrem respostas para uma questão fundamental na educação: como se deve criar a ponte
entre teoria e prática, conhecimento e ação, valores e virtudes humanas. Segundo Capra
(1982, p. 31):
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“nos preparamos para uma grande transição em que estamos prestes a ingressar, de
um profundo reexame das principais premissas e valores de nossa cultura, de uma
rejeição daqueles modelos conceituais que duraram mais do que sua utilidade
justificativa, e de um novo conhecimento de alguns dos valores descartados em
períodos anteriores de nossa história cultural.”
Logo, é essencial que se vá além dos meros ataques a determinados grupos ou
instituições sociais, e que se mostre que suas atitudes e comportamento refletem um sistema
de valores que sustenta toda a nossa cultura, se tornando obsoleto. Será necessário
reconhecer e comunicar amplamente o fato de que as mudanças sociais correntes são
manifestações de uma transformação cultural muito mais ampla do que relegar esse
propósito, apenas, a instituição da educação.
Transformações culturais desa magnitude e profundidade não poderão ser evitadas e
nem poderão ser retidas, porquanto a humanidade esteja voltada para uma era mais
espiritual, mais transcendente.
É imperioso ressaltar que, talvez, essa nova visão não seja a chave para a
transformação do mundo, mas que, talvez, possa apontar um caminho a ser estudado e
desvendado por muitos profissionais a fim de que as pessoas possam encontrar a paz
interior.
A sociedade evolui e passa por estágios de mudanças, e todas as pessoas não são
seus meros espectadores: são parte integrante delas. As instituições educacionais mostramse, ainda, incapazes de encontrar resultados satisfatórios diante das necessidades sociais e
individuais. O grande desafio, portanto, está em ousar e experimentar novas maneiras de
enxergar a vida, de senti-la e de vivê-la.
Contudo, durante essa fase de transição, de reavaliação e renascimento cultural em
que a humanidade está se preparando para vivenciar, muitos são os obstáculos a serem
superados. O ser humano desta nova era quer mudanças, não mais estando satisfeito com
esse modo de estruturação de vida. Sendo assim, prima por um mundo novo, tentando
minimizar os conflitos e a discórdia, repudiando a corrida desenfreada pelo poder, pelo
prestígio e pelo ter de forma quase que inconsciente e irresponsável.
Conscientes dessas limitações que interferem nas suas ações, os educadores
conseguirão ousar, unindo à competência técnico-política-pedagógia a competência humana
que requer atributos como o amor, o afeto e o carisma, capazes de contribuírem para o
desenvolvimento de crianças felizes.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTINELLI, Marilu. Aulas de Transformação: O Programa de Educação em Valores
Humanos. 5. ed.. São Paulo: Peirópolis, 1996.
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ICPG
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MARTINELLI, Marilu. Conversando sobre Educação em Valores Humanos. São Paulo:
Peirópolis, 1999.
BRANDÃO, M. D. Dênis e CREMA, Roberto. Visão Holística em Psicologia e Educação.
2. ed.. São Paulo: Summus, 1991.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. 21. ed.. São Paulo: Cultrix, 1992.
PUEBLA, Eugênia. Educar com o Coração. 4. ed.. São Paulo: Peirópolis, 1997.
WEIL, Pierre. A Arte de Viver em Paz. 4. ed..São Paulo: Editora Gente, 1993.
MIGLIORI, Regina de Fátima, (et al). Ética, Valores Humanos e Transformação. 2. ed..
São Paulo: Peirópolis, 1998.
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon : Uma Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil.
7. ed.. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
RAPPAPORT, Clara Regina, FIORI, Wagner da Rocha, DAVIS, Cláudia. Teorias do
Desenvolvimento: Conceitos Fundamentais v. 1. 11.ed.. São Paulo: Epu, 1981.
MARTINELLI, MARILU. (2000). O programa Sathya Sai Baba de Educação em Valores
Humanos e a Transdisciplinaridade [on-line]. Available:
http:// www.saibababrasil.com.br/evh02.htm [2001,julho 15]
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