UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE HIDRÁILICA E SANEAMENTO CONVÊNIO: UFBA - Universidade Federal da Bahia CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco DIAGNÓSTICO DOS POVOADOS DE ALTO DA BOA VISTA E NOVA VISTA PERTENCENTES AO MUNICÍPIO DE XIQUE-XIQUE MARÇO/2000 AGRADECIMENTOS A equipe responsável pela elaboração do diagnóstico das comunidades de Alto da Boa Vista e Nova Vista agradece a oportunidade e o apoio das seguintes entidades: CODEVASF - Airson Bezerra Lócio – Presidente Manoel do Bomfim Dias Ribeiro - Diretor de Engenharia Eduardo José da Silva – Supervisor do escritório de apoio de Salvador Sônia Maria Aranha Góes – Supervisora de Programas UFBA - Heonir Jesus Pereira Rocha - Reitor Caiuby Alves da Costa - Diretor da Escola Politécnica/UFBA UEFS - Maria do Socorro São Mateus - Diretora do Deptº. de Tecnologia Antônio Freitas da Silva Filho - Vice- Diretor do Deptº. de Tecnologia Carlos Henrique de A.C. Medeiros – Professor CODEVERDE - Júlio Perdigão - Diretor Equipe Técnica Yvonilde D. P. de Medeiros – Coordenadora Geral (UFBA) Ana Elisabete Bezerra Xavier - Sub -Coordenação (UFBA) Carlos Henrique de Almeida Couto Medeiros – Prof. Orientador(UEFS) Estudantes Equipe 1 Jackson Conceição de Matos – Monitor/Engenharia Civil (UFBA) Aderbal Pereira da Costa– Engenharia Agronômica(UFBA) Alice Rosa Cardoso – Arquitetura (UFBA) Clériston Teixeira da Silva - Engenharia Civil (UEFS) Cosme da Silva Farias – Engenharia Agronômica (UFBA) Erisválter C. M. de Souza – Engenharia Civil (UEFS) Fabiola Souza de Queiroz – Enfermagem (UFBA) João Paulo Souza Simões – Engenharia Civil (UEFS) Marcos Souza Brandão Silva – Engenharia Civil (UFBA) Marla Castro Rodrigues – Arquitetura (UFBA) Nagirley Kessin Oliveira Sales - Engenharia Ambiental Urbana(UFBA) Raquel Vasconcelos Neta – Ciências Sociais (UFBA) Renata Oliveira – Arquitetura (UFBA) Sandro Luiz Cardoso Santana – Comunicação Social (UFBA) Simone Ferreira da Silva – Engenharia Civil (UEFS) Equipe 2 Selma Cristina da Silva – Monitora/Engenharia Sanitária e Ambiental (UFBA) Antônio Alves Dias Neto - Engenharia Sanitária e Ambiental (UFBA) Aderbal Pereira da Costa– Engenharia Agronômica(UFBA) Diogo Medeiros Bahia – Medicina (UFBA) Glícia Gleide Gonçalves Gama – Enfermagem (UFBA) José Robson da Silva Dias - Engenharia Sanitária e Ambiental (UFBA) Lívia Maria Rocha dos Anjos – Enfermagem (UFBA) Margareth Freitas Mota – Nutrição (UFBA) Osmário Souza Pereira - Engenharia Sanitária e Ambiental (UFBA) Raquel Vasconcelos Neta – Ciências Sociais (UFBA) Ricardo Augusto R. Galvão – Medicina (UFBA) Sandro Luiz Cardoso Santana – Comunicação Social (UFBA) Sueli Bonfim – Veterinária (UFBA) Apoio: UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana Construtora Andrade Gutierrez CODEVERDE – Companhia de Desenvolvimento do Rio Verde Magna Engenharia Prefeitura Municipal de Xique – Xique ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................8 2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PROJETO....................................................9 3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO PROJETO ...............................................11 3.1. MUNICÍPIO DE XIQUE-XIQUE ......................................................................11 3.2. POVOADOS SITUADOS NO ENTORNO DO PROJETO...........................11 3.2.1. Alto da Boa Vista......................................................................................11 3.2.2. Nova Vista .................................................................................................12 4. DIAGNÓSTICO.......................................................................................................13 4.1. MEIO FÍSICO .....................................................................................................13 4.1.1. Clima..........................................................................................................13 4.1.2. Topografia e relevo..................................................................................14 4.1.3. Desenho Urbano......................................................................................15 4.1.3.1. Estrutura Fundiária e de parcelamento ............................................15 4.1.3.2. Uso do solo atual.................................................................................16 4.1.3.3. Análise Tipológica ...............................................................................17 4.1.3.4. Disponibilidade Infraestrutural...........................................................23 4.1.3.5. Técnica e materiais construtivos.......................................................24 4.2. MEIO BIÓTICO................................................................................................25 4.2.1 Fauna.........................................................................................................26 4.2.1.1. Caracterização Faunística .................................................................26 4.2.1.2. Fauna aquática ....................................................................................26 4.2.1.3. Fauna Terrestre ...................................................................................27 4.2.1.4. Espécies Domesticadas .....................................................................27 4.2.1.5. Suinocultura..........................................................................................28 4.2.1.6. Caprinocultura ......................................................................................28 4.2.1.7. Bovinocultura........................................................................................28 4.2.2. Flora .............................................................................................................29 4.2.2.1. Identificação das espécies vegetais .................................................30 4.2.2.2. Descrição das principais espécies da flora regional .....................30 4.2.2.3. Floresta estacional ..............................................................................31 4.2.2.4. Várzeas (Brejos) ..................................................................................31 4.2.2.5. Plantas medicinais existentes nos Povoados em estudo .............31 4.2.2.6. Caatinga arbórea .................................................................................32 4.2.2.7. Mata ciliar..............................................................................................32 4.2.2.8. Exceções de espécies vegetais ........................................................32 4.3. MEIO ANTRÓPICO...........................................................................................33 4.3.1. Aspectos Demográficos ............................................................................33 4.3.1.1. Migração ...............................................................................................33 4.3.1.2. População Economicamente Ativa - PEA .......................................34 4.3.1.3. Educação ..............................................................................................36 4.3.1.4. Infra Estrutura Básica .........................................................................37 4.3.1.5. Saúde ....................................................................................................38 4.3.1.5.1. Doenças encontradas nos povoados ........................................41 4.3.1.5.2. Reflexo da inexistência do saneamento básico na saúde .....43 4.3.1.5.3. Situação geral da saúde nos povoados ....................................44 4.3.1.5.4. Ação Pública nos Povoados .......................................................44 4.3.1.5.5. Agente Comunitário de Saúde....................................................45 4.3.1.6. Saneamento .........................................................................................45 4.3.1.6.1. Lixo ..................................................................................................45 4.3.1.6.2. Vetores transmissores de doença..............................................46 4.3.1.6.3. Esgotamento sanitário..................................................................46 4.3.1.6.4. Drenagem.......................................................................................47 4.3.1.6.5. Abastecimento de água ...............................................................48 4.3.1.7. Solo ........................................................................................................49 4.3.1.7.1. Erosão.............................................................................................50 4.3.2. Atividades Econômicas.............................................................................50 4.3.2.1. Agricultura .............................................................................................50 4.3.2.2. Comércio...............................................................................................51 4.3.2.3. Cultura e Artesanato ...........................................................................51 4.3.2.4. Associação de Moradores..................................................................51 5. DEFINIÇÃO DAS DIRETRIZES DO PROJETO................................................52 6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES...............................................................54 ANEXO 1 - Síntese dos questionários, gráficos e planilhas ANEXO 2 - Mapa ANEXO 3 - Fotos ANEXO 4 - Relatório de diário de campo e depoimentos APRESENTAÇÃO A CODEVASF e a UFBA, com o objetivo de formalizar a cooperação técnicocientífica e financeira com vistas a realização de ações conjuntas em favor do desenvolvimento sustentável no Estado da Bahia, através de programas de ensino, pesquisa e extensão, firmaram o CONVÊNIO 0-93 99-0018/00. O plano de trabalho para 1999 incluiu um estudo da situação de 2(dois) povoados, Nova Vista e Alto da Boa Vista, assim denominados pelos moradores, localizados no município de Xique-Xique, sertão da Bahia. Estes povoados, apesar de não pertencerem à área de influência direta, sofrem um forte impacto do Projeto Baixio de Irecê – Projeto de Irrigação do Vale do Rio São Francisco, por estarem muito próximos da captação. O estudo foi realizado “in loco” por duas equipes multidiciplinares de estudantes da UFBA e quatro alunos da UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana. A primeira equipe realizou os cadastros físicos, topográficos e levantamento da infra estrutura, e a segunda, o levantamento sócio- econômico e sanitário, através de aplicação de questionários e observações. 1. INTRODUÇÃO O objetivo geral deste trabalho é realizar um diagnóstico físico e sócioeconômico dos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista, localizados no município de Xique -Xique com a finalidade de subsidiar ações e programas que visem a minimizar os impactos sócio-ambientais na região. Os objetivos específicos são: • Mapeamento topográfico e cadastral dos Povoados; • Levantamento das condições socio-econômicas e sanitárias; e • Cadastros arquitetônicos, visando identificar o tipo e o padrão habitacional. 8 2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PROJETO O Projeto de Irrigação do Baixio de Irecê, localizado entre os paralelos 10º 20’ e 10º 45’ ao sul e meridianos 41º 45' e 42º 35' a oeste de Greenwich, é um projeto público de irrigação com a finalidade de propiciar o atendimento de uma área aproximada de 95.119ha, considerando-se uma superfície agrícola útil de 59.631ha. O Projeto busca o desenvolvimento econômico de uma grande porção da região oeste do Estado da Bahia, otimizando as condições locais favoráveis de solo, de clima e de relevo, bem como, da boa localização de um grande manancial hídrico perene e de ótima qualidade, representado pelo rio São Francisco. Este aproveitamento tem como base de sustentação a intensiva utilização das práticas de irrigação. A utilização física da área abrange Áreas de Preservação Ambiental - APAS, áreas de solos irrigáveis e não irrigáveis. As áreas não irrigáveis serão colocadas como áreas auxiliares ou de apoio para as áreas de produção, passando a servir como centros de serviços, de concentração agro-industrial, utilizadas para o descarte provisório de produtos não necessários ao desenvolvimento da região. No setor que abrange as áreas irrigáveis, o projeto destinou 3 (três) modelos de lotes para a exploração agrícola: ∗ aos pequenos produtores com aproximadamente 6 ha; ∗ aos médios produtores com aproximadamente 30 ha; ∗ às empresas e grandes produtores com lotes de aproximadamente 120 ha. O estudo das unidades de produção contemplou culturas compatíveis com os fatores físicos da região, assim como, as disponibilidades de mercado, os métodos de irrigação e os tipos de modelos de exploração preconizados. 9 O conjunto hidráulico para atender ao sistema de produção consiste de obras de captação e adução à margem direita do Rio São Francisco, situado a 2 Km à montante da localidade de Alto da Boa Vista. Por meio das obras hidráulicas, a vazão produzida é recalcada para um sistema constituído por canais livres, que conduzem e distribuem esta vazão na região a ser irrigada. Nas áreas irrigadas a água é derivada para uma rede de baixa pressão, e a partir desse ponto, conduzida para as unidades agrícolas irrigadas por gravidade ou pressurizadas através de estações de bombeamento para serem distribuídas por meio de adutoras chegando às unidades agrícolas responsáveis pela irrigação sob pressão. A estimativa para os pequenos produtores é de que sejam contemplados com 2.156 lotes, distribuídos em 12.988ha, correspondentes a 22% da área total irrigável, enquanto que para os médios produtores, 1.052 lotes em 32.433ha, ou seja 54% do total irrigável e finalmente os grandes produtores e empresas com 121 lotes, totalizando uma área de 1.4210ha, correspondentes a 24% da área irrigável. A implantação inicial do empreendimento, está prevista para 8 (oito) etapas , sendo que a primeira, já esta sendo executada. Perfazendo um total de 16 anos, com investimento na ordem de R$ 705.000.000,00 (setecentos e cinco milhões de reais). Durante o empreendimento estima-se a geração de 84.700 (oitenta e quatro mil e setecentos) de empregos diretos e 169.400 (cento e sessenta e nove mil e quatrocentos) indiretos. 10 3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO PROJETO 3.1. MUNICÍPIO DE XIQUE-XIQUE Situado em uma Latitude 10º49’ Sul e Longitude 40º43’ W Greenwich, a uma altitude de 403m, fica distante 581 Km de Salvador, 475 Km de Feira de Santana e 116 Km de Irecê. O município tem os sequintes limites: ao sul o município de Morpará, ao leste os municípios de Itaguaçú e Gentio do Ouro e ao oeste o Rio São Francisco. O município de Xique-Xique está inserido na microregião do Baixo Médio São Francisco, semi-árido nordestino, Polígono das Secas. Nos aspectos de regionalização administrativa, o municipio de Xique-Xique está localizado na microregião 006 que tem sede em Barra e é enquadrado na região econômica 011, todas tendo Irecê como sede. Possui área de 5.020 Km2, população de aproximadamente 43.000 habitantes, sendo 30.000 na zona urbana e 13.000 na zona rural. As rodovias que ligam o Município à capital são: BR 324 (Salvador – Feira de Santana); BR 116 (Feira de Santana – Entroncamento da BR 262) e BR 262 (até Xique-Xique – Estrada do Feijão). O relevo do municipio caracteriza-se pela presença das seguintes formações: pediplano sertanejo, várzeas, terraços aluviais. A temperatura média anual da sede do municipio aprtesenta as seguintes variações: médias das máximas 35ºC, médias das mínimas 25ºC. A captação Projeto de Irrigação do Vale do São Francisco situa -se a 42Km da cidade de Xique-Xique. 3.2. POVOADOS SITUADOS NO ENTORNO DO PROJETO 3.2.1. Alto da Boa Vista Situado a nordeste do município de Xique-Xique, dista do mesmo 42Km, localizado à margem direita do Rio São Francisco. A origem das terras onde surgiu o povoado de Boa Vista, distrito judiciário de Nova Iguira, está no segundo latifúndio do Brasil-Colônia, pertencente ao fidalgo português Antônio 11 Guedes Brito, Primeiro Conde da Casa da Ponte. Esse latifúndio compreendia toda a margem direita do rio São Francisco. A “Estrada de Dona Joana” que ligava Jacobina ao São Francisco, construída no século XVII pelo expedicionista português Belchior Dias, passava entre as sedes atuais da Vila de Nova Iguira e do Povoado de Alto da Boa Vista. No século XVIII o português Marçal Ferreira da Silva adquiriu junto à família do Sr. Antônio Guedes de Brito, por uma boa soma em dinheiro, uma vasta área de terra onde instalou duas fazendas que se tornaram tradicionais com o decorrer dos séculos. Essas fazendas foram chamadas de Marrecas e Riacho Grande. O povoado fica na área da centenária Fazenda Alto da Boa Vista, nas proximidades do morro do mesmo nome, que tem cerca de 550m de altitude. No início da década de 50 o povoado possuía 210 habitantes, que ocupavam pouco mais que 20 casas. Naquela época o transporte era feito em lombos de animais ou em carros-de-boi, principalmente nos dias de feira-livre da sede. Nos últimos anos, o povoado de Alto da Boa Vista ganhou o direito a 2 (duas) escolas municipais, 1 (um) templo religioso e serviço de energia elétrica, além de 1 (um) posto telefônico comunitário 1 (uma) Associação de Moradores e alguns bares/mercearias. Está interligada à sede municipal através de uma estrada de cascalho. 3.2.2. Nova Vista Situado a nordeste e distando de 40,5 Km da cidade de Xique-Xique, está localizado à margem direita do Rio São Francisco. Alto Santa Cruz ou Nova Vista, é formado por antigos moradores de Alto da Boa Vista. A mudança ocorreu na época da grande enchente ocorrida em 1979, onde os moradores foram obrigados a evacuar a área nas proximidades do rio. Após a enchente, alguns preferiram permanecer temendo um novo episódio de cheia. Este povoado, ao contrário do outro, está inserido diretamente na área de implantação do Projeto Baixio de Irecê. Neste povoado não existe igreja, posto telefônico e nem associação de moradores. Só é contemplado por uma escola. 12 4. DIAGNÓSTICO 4.1. MEIO FÍSICO 4.1.1.Clima O clima característico da região é quente e seco, com alta temperatura e chuvas torrenciais. Entre os meses de abril e outubro, ocorre a época da seca com temperaturas mais baixas sobretudo nos mês de julho. Os meses mais quentes são outubro e novembro; e os mais frios, maio e junho. Verifica-se que as médias mensais variam pouco ao longo do ano, ficando em torno de 24ºC. O clima dos povoados estudados segundo a classificação de Koppen é Bsw “h” , e este é um clima muito quente e semi-árido tipo estepe com forte evaporação no verão e temperatura elevada com média superior a 20ºC no mês frio; estação chuvosa dividida em dois períodos, intercalados por uma curta temporada seca. Uma pequena parte ao noroeste da área enquadra-se na classificação BS “wh”, mas mantêm as características climáticas supracitadas. É constante os ventos do quadrante sudeste, denominado pela população de sertânico, sendo mais freqüente no mês de agosto. Na região dos postos de Barra e Remanso as velocidades (rajadas) médias do vento ficam por volta de 1,8 m/s e 1,4m/s respectivamente, com direção predominante para o primeiro quadrante Norte-Leste. Sobre a pluviometria, no perímetro do projeto, pode-se afirmar que as precipitações anuais médias decrescem de oeste para leste desse perímetro, ficando em torno de 650mm na margem do rio São Francisco, 600mm ao longo do rio Verde, e 550mm, na margem leste do projeto. As precipitações pluviométricas anuais médias têm poucas variações no sentido norte-sul e no sentido leste-oeste. Sendo que nos últimos anos têm sido a seguinte: 1100 mm nos anos úmidos e 400 mm nos anos secos. 13 Na região do projeto o período de maior umidade relativa corresponde aos meses mais chuvosos, de novembro a abril, e a insolação média observada é bastante uniforme durante o ano. Os meses mais ensolarados são julho, agosto e setembro, época da seca, e os menos ensolarados são dezembro, janeiro e fevereiro, época das chuvas. No perímetro projetado, os meses que apresentam maior evaporação são agosto e setembro e o período de menor evaporação ocorre nos meses de abril, maio e junho. 4.1.2.Topografia e relevo O resultado dos levantamentos topográfico planialtimétrico e cadastral, dos povoados de Alto do Boa Vista e Nova Vista, demonstraram que o relevo da região é plano, tendo apenas um desnível altimétrico de 6m entre seus pontos mais íngremes. A cota da curva de nível alcançada no povoado de Alto da Boa Vista, foi 398m, e no Povoado de Nova Vista variou de 396 à 401 metros. O levantamento planimétrico foi executado da seguinte forma: • A partir de um ponto denominado Eo, no início do povoado de Alto da Boa Vista pelo lado sul, foi instalado a primeira poligonal com 10 (dez) pontos locados e 1 (um) auxiliar, sendo que em cada um destes pontos, foram locadas as testadas das casas, os postes, o cemitério, as torres e os demais pontos notáveis do local, pelo Método de Irradiação. Este procedimento foi mantido por todo o povoado, até o fechamento da poligonal no ponto E8 para o ponto auxiliar A1, e finalmente em E1, finalizando o mapeamento do povoado de Alto da Boa Vista. • Retornando para a estação Eo foi iniciada a poligonal aberta em direção ao povoado do Nova Vista através da estrada que liga estas 2 (duas) localidades, mantendo o mesmo processo de irradiação dos pontos notáveis, fazendo sua complementação com medição direta com trena e indireta através da leitura dos fios inferior e superior da luneta do teodolito. 14 O último ponto irradiado foi a “pedra fundamental” da CODEVASF n.º 06, situada em frente a entrada do canteiro de obras da Empresa Andrade Gutierrez, que coincide com a última aresta da última casa. O levantamento altimétrico teve a seguinte metodologia: Partiu-se do Referencial de Nível (RN) situado atrás da escola do povoado de Alto da Boa Vista transferindo gradativamente para todos os pontos das 2 (duas) poligonais obtendo-se assim, as curvas de nível da região que engloba os 2 (dois) povoados e a estrada que interliga ambos. Observou-se que a região é plana com raras ondulações. 4.1.3. Desenho Urbano 4.1.3.1. Estrutura Fundiária e de parcelamento A estrutura da malha urbana do povoado de Alto da Boa Vista e Nova Vista é muito simples, demonstrando a espontaneidade de seu parcelamento através de pequenos desmembramentos de unidades maiores que começa a se alterar a partir do momento da chegada da obra. Em Alto da Boa Vista, 151 casas se distribuem em duas ruas paralelas ao curso do rio. A primeira, mais externa, onde ficam as duas Escolas e o posto telefônico, foi chamada aqui de Rua Principal. A segunda foi denominada de Rua Beira Rio, onde se localiza a igreja, entre a Principal e o São Francisco. 15 4.1.3.2. Uso do solo atual Conforme le vantamento, e demonstrado na planilha anexa, podemos observar que é comum na região apresentar uma concentração de serviços e agricultura para subsistência, seja em fundo de quintal ou em propriedades mais distantes e maiores. No caso de Alto da Boa Vista existem poucas possibilidades de expansão devidas as condicionantes físicas de cotas do rio São Francisco, em períodos de chuva, que poderão ser resolvidas com drenagem, podendo implicar em custos elevados. Uma análise mais detalhada de viabilidade econômica poderá respaldar melhor qual a solução adotar. Se a opção for a drenagem, crescerá em direções definidas devido a disponibilidades de terra em sua volta. As famílias desses dois povoados dedicam-se à pesca ou ao “roçado”, cultivando melancias, mandioca, feijão, como culturas de subsistência. Em seus quintais, possuem pequenos canteiros, com ervas para chá e verduras. Em Nova Vista as casas foram analisadas no sentido LL-LL do canteiro de obras, este distante 1.800 metros. No povoado de Nova Vista foi instalado o canteiro de obras do Projeto Baixio de Irecê para o atendimento das atividades da primeira etapa, correspondendo ao início da captação para irrigação dos 90.000 (noventa mil) hectares, se estendendo 103 Km a montante do reservatório de Sobradinho. 16 Em Nova Vista, foram registradas apenas 46 casas, distribuídas em uma única rua, demonstrando já uma forte tendência ao crescimento desordenado, muito provavelmente devido a instalação do canteiro e dos alojamentos, atraindo para a área não apenas os operários para a realização da obra, como também, pequenos comerciantes locais e de Xique-Xique. O pequeno povoado, em breve terá um mercado, um açougue e uma padaria. Nos próximos sub -itens desse relatório, serão descritas e analisadas, através de croquís, fotos e textos explicativos, as edificações dos dois povoados, na sua tipologia e natureza construtiva, numa tentativa de captar a lógica de ocupação, técnicas e uso de solo dessa população. 4.1.3.3. Análise Tipológica Após sistematização das informações levantadas em campo, pôde-se estabelecer um perfil geral da qualidade das habitações estudadas, através da análise individualizada de cada edificação dos povoados. As casas possuem basicamente a mesma estrutura interna – área social e dois quartos sem sanitário, 42% delas apresentaram esta característica sendo 17 que o terceiro cômodo é usado depósito. Este padrão de forma simplificada utiliza sempre as mesmas técnicas e materiais construtivos: 79% de taipa de pilão ou pau-a–pique, telhado de duas águas em cerâmica artesanal cozida ao sol, com todos os quartos voltados para o nascente, porém, sem nenhuma abertura para ventilar ou arejar o ambiente. Das casas, no núcleo mais antigo apresentaram condições de habitabilidade mais rudimentar, a exemplo do chão batido com uma percentagem de 69%, enquanto que no Nova Vista, povoado mais recente a percentagem é de 53%, no que se refere as técnicas de construção 84% das casas de Alto da Boa Vista se apresentaram em paua-pique contra 79% em Nova Vista. As casas de um lado da rua são a imagem espelhada das casas em frente e reproduzem um tipo de construção fisicamente temporária pois com as enchentes, na estação das chuvas, as casas são destruídas por terem sido feitas de material perecível e não ter sido adotado nenhum tipo de proteção como grandes beirais etc., então, no período de estiagens elas são reconstruídas adotando a mesma forma anterior. Essa técnica vem sendo passada de geração a geração já há bastante tempo, o que se constitui valor histórico cultural imprescindível a considerar. Tem-se, então, um modelo arquitetônico perene, conhecido como “arquitetura vernacular”, de grande valor antropológico. Observando o modelo contido no desenho a seguir, pode-se visualizar o que foi descrito acima. O modelo ao lado refere-se a planta padrão das casas de Boa Vista É a célula básica de construção podendo surgir a partir daí pequenas modificações. Casa de D. Jovita – Rua Principal, FNS 4 18 Essa disposição dos cômodos é a que melhor se adequa à necessidade de se ter um eixo de circulação, interligando a rua e o quintal, portanto, estão alinhados, promovendo uma total transparência na casa, pois é possível com o olhar atravessa-la e a circulação fica mais eficiente. A ventilação é cruzada, e em quase a totalidade das casas, as janelas estão localizadas apenas na frente: uma na sala, uma no quarto. O quarto dos fundos sempre se apresenta sem nenhuma abertura, seja para ventilação ou iluminação, portanto, mais escuro e insalubre. Às vezes, é menor que o primeiro e pode servir de depósito de alimentos a abrigar o fogão a gás, recentemente utilizado, mas que ainda não foi completamente adotado na região. A partir desse princípio de construção, as casas vão ganhando novos espaços, conforme as necessidades de abrigo de cada família. Normalmente, o primeiro espaço a ser pensado é o da cozinha: o fogão de barro, que fica no quinta l, às vezes sem nenhuma proteção, ganha uma corbetura. Com o cultivo da mandioca, surge o depósito, que abrigará o seu produto final – a farinha. Quando há necessidade de um depósito para a farinha e alimentos, o “puxado” do fogão recebe paredes, como na casa à direita da foto. Respectivamente, casa 07 FNS 11, de Sr. Vivaldino e casa 11, FNS 15, de Sr. Cosme. ambas na Rua Principal. 19 A família cresce e, quando não é construída uma outra casa ao lado, nos mesmos moldes e com o quintal em comum, é feita uma ampliação. Geralmente, são adicionados quartos (quantos forem necessários) e a cozinha seca se dissocia da sala e vai para o cômodo atrás dela. Quando isso acontece, aumenta o número de quartos insalubres, pois estes não são feitos com janelas. A casa de D. Júlia ( Rua Beira Rio, casa 19, FNS 135) e a de D. Francisca, Rua principal, FNS são exemplos de ampliação. Note que os quartos novos não tem janelas. 20 Dentro das modificações notadas no modelo padrão, também a chamado está varanda, criando um espaço de convivência e descanso. Surge do prolongamento do beiral, apoiado em três pilares de madeira, ou, quando alvenaria, a casa é de aparece fechada com um pequeno muro. Esses prolongamentos resultam em pés direito bem baixos e é comum algum “desavisado” bater com a cabeça no telhado. 21 Outro espaço, agora não mais o de abrigo/proteção, é construído para atender a pequena atividade de cunho comercial, que geralmente fica acoplada à casa de seu dono: Na casa de D. Mirani, Rua Principal, FNS 61, o bar está ligado à sala por uma porta. Já Sr Josué possui um bar garagem e é um dos pouco a possuir banheiro. Rua Beira Rio. Existem também, edificações que atendem às necessidades da comunidade, tal como a casa de farinha, a escola... As casas de Nova Vista, também partem do mesmo princípio construtivo e tipológico, mas são um pouco mais variadas, tanto nos materiais, como na forma. 22 A proximidade com o canteiro de obras já trouxe algumas mudanças nas construções, visto que representa uma nova realidade no dia a dia dos moradores, muito diferente daquela que estavam acostumados. Surgiram bares e barracas de madeira que vendem lanches, está sendo construído um pequeno centro comercial, com padaria, mercado e açougue pelo fornecedor de comida da obra... Além disso, os alojamentos dos funcionários estão sendo construídos a poucos metros das casas, entre elas e o rio São Francisco. Com as mudanças trazidas pela presença de uma obra tão grande e duradoura, a arquitetura que se faz a tanto tempo nesses dois povoados tende a se transformar, e certamente terá que responder ao crescimento e desenvolvimento da área. Como reza um dito popular da região, “o chicote das necessidade faz as idéia galopá...” 4.1.3.4. Disponibilidade Infraestrutural Após o primeiro contato visual com a Vila foi elaborado um questionário técnico descritivo, levantando sobre os materiais técnicos construtivos empregados; a relação entre as instalações e as atividades domésticas realizadas em seus respectivos espaços físicos. Pesquisando as tipologias desenvolvidas pela comunidade inclusive no que diz respeito ao lay-out e tamanho dos cômodos com objetivos de subsidiar implantação das futuras unidades habitacionais para este seguimento da população, para as populações com diferentes perfis que obviamente virão após a implantação do Projeto Irecê, os parâmetros serão os mesmos utilizados da região procurando atender os pré estabelecidos na Lei de Uso e Ocupação do Solo do Município de Salvador. Também foram abordados as condições de habitabilidade quanto a infraestrutura, densidade, características das unidades habitacionais. O levantamento fotográfico vem reforçar essas observações. Nas conversas informais procurou-se entender o processo de urbanização que se constituiu, chegando-se a conclusão de um assentamento predominantemente informal com precárias condições de habitação, infraestrutura inadequada, uma população com alto índice de 23 analfabetismo e eminentemente pobre onde predominam as atividades informais principalmente da pesca e da agricultura de subsistência. 4.1.3.5. Técnica e materiais construtivos Assim, identificou-se uma tipologia básica tanto nas casas de Alto da Boa Vista como em Nova Vista, também observou-se largo emprego de certos materiais e técnicas de construção típicos da arquitetura do agreste nordestino. A seguir uma breve descrição da técnica predominantemente usada. A estrutura das casas é feita em madeira , principalmente o angico. Os pilares são enterrados nas quatro extremidades, um no centro alinhado a outros dois que sustentam a cumeeira da casa. A amarração das peças é feita com arame comum aproveitando os nós e forquilhas de madeira. A casa não possui fundação, as estacas são enterradas e o chão apiloado. A vedação é feita com a taipa de sopapo ou pau a pique, técnica em que uma rede múltipla de galhos irregulares de madeira são amarrados entre si por cipó e onde é arremessado ou sopapeado punhados de barro úmido. Essa rede é bem amarrada à estrutura e são reservados os vãos de portas e janelas. Após a secagem é feito o revestimento com o mesmo barro alisado interna e externamente. Com o tempo, esse reboco externo vai sendo lavado e a taipa 24 volta a ficar exposta criando focos de mosquitos. A estrutura do telhado é feita de madeira irregular. As ripas e caibros de espessura menor e as terças e cumeeira sempre carnaúba, palmeira abundante na região. As telhas cerâmicas são produzidas na olaria local de forma também artesanal. A casa em taipa desse porte é erguida em mutirão em apenas uma semana. Quanto as instalações elétricas e hidráulicas quando existem, são aparentes. O resultado da pesquisa apontou que apenas (5%) das casas nos povoados de Nova Vista e Alto da Boa Vista possuem sanitários. 4.2. MEIO BIÓTICO A interação do homem do campo e o meio ambiente ocorre de forma íntima e constante. Da natureza, além de tirar seu sustento, com a prática da agropecuária e pescado do rio para própria subsistência, utilizam também, os vegetais do tipo medicinais para cura de diversas enfermidades. Desta forma, 25 os povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista são “auto -suficientes”, apesar de todos os problemas encontrados na região. As formas de culturas de subsistência podem ser caracterizadas por pequenos proprietários rurais e/ou pescadores que trabalham com culturas, tais como: mandioca, feijão, batata, melancia, milho, abóbora, melão, gergelim e feijão de corda. 4.2.1 Fauna 4.2.1.1. Caracterização Faunística A fauna de ambas as localidades sofre influência do rio São Francisco e apresenta uma diversidade em espécies. A prática da caça é pouco desenvolvida e a da pesca acontece de forma artesanal. A fauna da localidade de Alto da Boa Vista apresenta diversidade em espécies animais, porém, suas populações acham-se representadas por um número reduzidos de indivíduos. 4.2.1.2. Fauna aquática A fauna aquática é caracterizada pela presença do Surubim, Caborge, Piranha, Traira (Hoplias malabarcus), Bagre, Piaú e Curimatã. Existe também a presença de Tucumaré, uma espécie introduzida na região. Os peixes são utilizados na alimentação, e vendidos, sendo uma fonte de renda para os moradores. Não foi observado nenhum tipo de fiscalização em relação a pesca nas localidades. A macrofauna aquática que ocorre na bacia do São Francisco, no curso do Baixo Médio São Franscisco e Lago de Sobradinho é pobre em espécie. Não foi encontrado suporte em termos qualitativo e quantitativo, consequentemente, sem maiores interesses econômicos e sociais. Uma pesquisa forneceria um parecer da representatividade mais detalhada para o meio ambiente. 26 4.2.1.3. Fauna Terrestre Nas enseadas situadas nas partes mais baixas das localidades é constante a presença de jacarés (Caimam yacare), garças (Casmerodius albus egretta), mergulhões (Mergus octosetaceouns), socó (Tigrisoma Sw) e marrecos que se alimentam dos peixes de pequeno porte que habitam essas áreas alagadas. Com base em dados secundários e informações de campo registrou-se a presença de codorna (Nothura maculosa), pato (Coscoroba coscoroba), perdiz (Rhynchotus rufescens), nambu (Crypturellus sp), além de pássaros preto (Gnorimopsar chopi), canário (Serinus canarius), cardeal (Paraoria Bom Coronata), sofrê e pardal. Segundo informações obtidas em campo existiam Capivaras (Hydrochoerus hydrochoeris), hoje extintas, às margem do Rio. A área abrangente dos povoados encontra-se habitada por alguns animais silvestres. Na caatinga, segundo informações de moradores e do geólogo da obra, são encontrados aproximadamente a 12 Km adentro; raposa (Ducyon sp), gato do mato (Felis sp), veado Mazama sp), tatu (Euphoctus Sexcintus), guaxini, porco do mato, teiú (Tupinambis Teguixim), camaleão, catitu, onça, sussuarana, gambá (marsupiais). 4.2.1.4. Espécies Domesticadas Após sistematizados as informações contidas nos questionários, pôde-se constatar que nos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista, existem criações extensivas de diversos tipos de animais. A TABELA 01 mostra os percentuais das criações de animais domésticos existentes nos povoados. Essas atividades pecuárias, por um lado têm contribuído positivamente para amenizar as deficiências protéicas dessas comunidades, e por outro, negativamente, na transmissão de diversas zoonoses e principalmente, verminoses. 27 TABELA 01- Percentuais das criações de animais domésticos nos povoados % Criações de animais Boa Vista Nova Vista domésticos Suíno 13,40 0,0 Caprino 10,60 5,55 Bovino 26,30 44,44 Aves 22,90 16,66 Equíno 11,20 5,55 Gato 4,50 11,11 Cachorro 10,10 16,66 Silvestres 0,120 0,0 4.2.1.5. Suinocultura Abrangendo todo povoado, essas espécies encontram-se em contato direto com a população, ao redor de suas casas, onde as crianças em contato com o chão são as mais prejudicadas. Entrevistando moradores detectamos a presença de cisticercose, larva da Taenia solium transmitida pela carne suína. 4.2.1.6. Caprinocultura A criação de caprinos existe em menor quantidade do que à suinocultura, verifica-se de forma semi-intensiva, realizada com técnicas rudimentares (cercados), onde a vacinação, vermifugação, manejo reprodutivo e outros cuidados zootécnicos, geralmente não são praticados. 4.2.1.7. Bovinocultura Na região pesquisada, de acordo com os dados coletados em campo, cada morador possui aproximadamente de 2 a 10 cabeças de gado e no máximo 50 cabeças de gado, e este pode ser encontrado no cercado de forma semi- 28 intensiva ou no pasto de forma extensiva. Ocorre rotação de pastagem, rodízio feito com os bovinos em uma determinada área durante um certo período. Neste espaço de tempo o rebanho se concentra na ilha local do outro lado do rio, utilizado para plantação e criação de animais, e em outra estação do ano esse mesmo rebanho é deslocado para o povoado onde utilizam da pastagem da caatinga, visto que na época das cheias o pasto da ilha se torna inviável para o pastoreio. 4.2.2. Flora As características climáticas e edáficas das localidades permitem a existência de uma cobertura vegetal bem específica da região. Existe a predominância de uma vegetação tipicamente nativa, além de uma vasta espécies de vegetais, árvores e gramíneas. Percebendo-se com isso que não houve uma ação forte no sentido de implantação de pastagens artificiais. As espécies vegetais apresentam uma fisiologia forte de vegetação de caatinga, com variedades de vegetação cactáceas, palmeiras e plantas xerófitas. Observa-se também arbóreo de médio porte: Juazeiro, Umbuzeiro, Barauma, Pau-de-colher, Jurema pinhão. Ocorre também a formação vegetal caracterizada pela presença, em número reduzido, de árvores de porte elevado: Jenipapo, Jatobá, Baraúna (Shinops Brasiliensis) e Angico (Anadenanthera macrocarpa). Os recursos vegetais nativos são encontrados na caatinga e na ilha, locais onde existem pequenas plantações para a subsistência. Na caatinga observou-se na região baixa, a presença da carnaúba (Copernicia cerifera); na região alta (pedregosa), encontram-se cactacéas; mandacarú (Cereus jamacaru), xique-xique (Pilocereius gounellei), macambira (Bromelia laciniosa); e as frutíferas, tais como: umbu (Spondias tuberosas), umburana de cambão (Bursera leptophleos) e umburana de cheiro. Este último vegetal possui também, usos medicinais em disenterias e cicatrizações, devido a presença do quinino em sua constituição, e de armazenamento, através do barril feito com a madeira extraída do mesmo. Na região encontramos madeiras dos tipos: sucupira branca, jatobá e arueira (Myracrodruom urumdeuva), baraúna 29 (Shinops Brasiliensis) e ipê roxo, que são espécies que produzem madeira de lei de excelente qualidade, e estão ameaçadas de extinção. Na Ilha do Mirador, localizada em frente a comunidade de Alto da Boa Vista, verificou-se que às margem do rio, no período de vazante são utilizadas pelos moradores para plantio. 4.2.2.1. Identificação das espécies vegetais Os processos de exploração a que estão submetidos os recursos naturais tem levado a extinção de um número cada vez maior de espécies da flora, principalmente em função dos desmatamentos, queimadas e expansão das fronteiras agrícolas e pecuárias. Com relação as espécies em via de extinção encontra-se um número considerável na área em estudo. - Angico (Anadenanthera macrocarpa) - Baraúna (Shinops Brasiliensis) - Aroeira (Myracrodruom urumdeuva) 4.2.2.2. Descrição das principais espécies da flora regional - Baraúna (Schinopsis brasiliensis): Árvore de grande porte, chega a atingir 12 metros de altura e caule com 50 cm de diâmetro. A madeira é bastante utilizada na construção de cerca. - Pau Ferro (Caesalpina ferrea): Árvore de grande porte com cerca de 20 m de altura, habita via de regra as zonas de aluvião. É utilizada para vigas, esteios, estacas e lenha, em virtude da dureza do seu cerne. - Umbu (Spondias tuberosa Arr. Com.): Árvore de médio porte com tronco retorcido e copa que chega a medir 10 (dez) metros de diâmetro. Produz um fruto muito apreciado pelo sertanejo e se torna fonte de alimentação no período da safra (Novembro a Fevereiro). 30 - Jatobá (Hymenea sp): Árvore de grande porte com tronco cilíndrico e ereto, é muito apreciado pelas madeireiras. 4.2.2.3. Floresta estacional Formação florestal caracterizada pela presença marcante de indivíduos arbóreos de porte elevado, estação seca definida e caducifolidade em mais de 40% dos indivíduos. No estrato superior temos a presença marcante da baraúna (Schinus terebenthifolius), tamboril (Euterolobium tamboril), angico (Anadenanthera macrocarpa), Jatobá (Hymeneae courbaril) e Umburana de Cambão (Bursera leptophlocos). 4.2.2.4. Várzeas (Brejos) São áreas que refletem os efeitos das cheias do rio na época chuvosa ou das depressões alagáveis todos os anos. Os gêneros Typha, Cyperus e Juncus estão presentes nesta região. As gramíneas e as ciperáceas recobrem grande parte destes terrenos intercalados por espécies das famílias melastomataceae, Salvinaceae, Pontederiaceae, Nyphaceae, Leguminosaceae e Alismataceae. Presença de espécie como: brejo (Echinodoreos Latifólius), Sagitária (Sagitária Lacifólia), Aguapé (Eichornia Crarsipes), Vitorinha (Nymphaea Rudgeana). A presença de diversas macróficas, Aguapé (Eichornia Crarsipes) e brejo (Echinodoreos Latifólius), funcionam como abrigo para diversas espécies de aves aquáticas. 4.2.2.5. Plantas medicinais existentes nos Povoados em estudo A s plantas medicinais presente na região são: marselha, crista de galo (família amarantáceas), camará, cidreira, mastruz (Senebiera pinnatifida), são 31 caetano, jarinha, brilhantina, bezentasil, vick, poejo, arrueira, angico, quebra fação, arruda e mameleiro (Cactócea). 4.2.2.6. Caatinga arbórea Na região dos Povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista a presenca da caatinga arbórea é bastante visível e abundante, onde diversas espécies estão presentes, tais como: juazeiro (Zizyphus joazeiro), quixabeira (bumélia sartourum), mulumgu (Erythrima velutina), pau de colher (Maytenus rigida), pau d’arco roxo (Tabebuia brasiliense), umbuzeiro (Spondia tuberosa), aroeira (Myracrondrun urundeuva), anjico (Anadenthera macrocarpa), Imburana de cambão (Burcera leptophoes) e baraúna (Schinopisis brasiliense). 4.2.2.7. Mata ciliar A mata ciliar do rio São Francisco, nos trechos dos povoados Alto da Boa Vista, Nova Vista e adjacências, encontra-se em processo acelerado de devastação (Anexo 3 – Foto 17). A prática de desmatamento ainda traz grandes prejuízos ao meio ambiente local. O assoreamento é o que mais reflete na vida da população e no desaparecimento da fauna aquática, onde o rio vai ficando cada vez mais raso e provocando grandes inundações no período das enchentes. 4.2.2.8. Exceções de espécies vegetais A carnaúba (Copernícea cerífera) é uma espécie nativa da região onde o seu habitat natural são as localidades alagadas. A haste (caule) da carnaubeira é bastante utilizada no madeiramento das casas dos povoados. A espécie conhecida vulgarmente como canudo é pertencente ao gênero ipomeia possui substâncias tóxicas que provocam definhamento nos rebanhos caprinos e ovinos. 32 4.3. MEIO ANTRÓPICO As observações contidas neste item resultam da aplicação de questionários, casa-a-casa, nos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista. Os questionários foram elaborados com objetivo de levantar dados sociais, econômicos e de saúde da população dos referidos povoados. Foram aplicados 156 questionários, contendo questões sobre demografia, escolaridade, emprego, renda, doenças etc. O método de análise dos dados levantados baseou-se na estatística e depoimentos dos moradores locais. 4.3.1. Aspectos Demográficos 4.3.1.1. Migração Os resultados das análises dos questionários indicam que dos 796 moradores residentes nos Povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista, 79,8% nasceram nestes povoados; 8,4% nasceram na Sede do município (Xique-Xique) e 11,8% nasceram em outro local fora do município. Percebe-se também que 75,1% dos moradores nasceram e se criaram no local; 11,1% moram nos povoados a mais de 5 (cinco) anos e 12,6% a menos de 5 (cinco) anos. A Tabela 02 apresenta detalhadamente os resultados da análise obtida dos dados levantados. TABELA 02. Quantidade e percentagem de moradores nascidos nos povoados. Local nascimento Nº de moradores % 635 79,8 Sede do município (Xique -Xique) 67 8,4 Outro local fora de Xique-Xique 94 11,8 796 100 Nos Povoados TOTAL 33 4.3.1.2. População Economicamente Ativa - PEA No povoado de Nova Vista , atualmente com um total de 157 moradores, apenas 49 moradores realizam algum tipo de atividade remunerada, correspondendo a 31% dessa população. Sendo que dos 49 moradores, 61% são lavradores; 8% pescadores e o restante tem outras ocupações. Desses 27% atualmente trabalham temporariamente no Projeto Baixio do Irecê. O Gráfico 01 mostra as principais profissões encontradas no povoado de Nova Vista. Percentagem (%) dos moradores 100 80 60 40 20 0 Lavrador Pescador Outras Profissões Gráfico 01. Principais profissões existentes no povoado de Nova Vista A população economicamente ativa do povoado de Nova Vista, representa 20% do total de moradores. Desses 25 moradores que trabalham ou geram algum tipo de renda, observa-se que 52% está dentro da faixa salarial menor que 1 (um) salário mínimo; 32% na faixa entre 1 (um) e 2 (dois) salários mínimos; 16% na faixa maior que 2 (um) salário mínimo. O Gráfico 02 mostra o nível de renda do povoado de Nova Vista. 34 Percentagem (%) dos trabalhadores 100 80 60 40 20 0 < 1 SM 1 < SM < 2 > 1 SM Faixa Salarial Gráfico 02. Nível de renda da população economicamente ativa do povoado de Nova Vista No povoado de Alto da Boa Vista, num total de 639 moradores, a população economicamente ativa representa 5%. Apenas 34 moradores tem renda ou geram algum tipo de economia. Do total de moradores que geram algum tipo de renda no povoado de Alto da Boa Vista, 65% encontra-se na faixa salarial menor que 1 (um) salário mínimo; 20% entre 1 (um) e 2 (dois) salários mínimos; 15% maior que 2 (dois) salários mínimos. O Gráfico 03 mostra o nível de renda do povoado de Alto da Boa Vista. Percentagem (%) de trabalhadores 100 80 60 40 20 0 < 1 SM 1 < SM < 2 > 2 SM Faixa Salarial Gráfico 03. Nível de renda da população no povoado de Alto da Boa Vista 35 As crianças que encontram-se na faixa etária de 6-12 anos de idade trabalham ajudando as mães nos afazeres domésticos e não ajudam no sustento da família. Os resultados da aplicação dos questionários revelam que os moradores não possuem nenhum ofício, limitando-se apenas a suas atividades profissionais que em sua maioria é de lavrar ou pescar. 4.3.1.3. Educação Segundo informações da Inspetoria de Ensino Fundamental e da Supervisão da Secretaria de Educação do Município de Xique-Xique, o povoado de Alto da Boa Vista possui 2 (duas) escolas de ensino fundamental, que oferece curso da 1ª a 4ª séries, e atendem à 230 (duzentos e trinta) alunos. As aulas são ministradas por oito professoras de nível 1, distribuídas segundo o número de salas, atendendo aos turnos matutino e vespertino. As escolas oferecem merenda e parte do material escolar, que é financiado pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) e pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar). O cardápio da alimentação das escolas é feito pelo Conselho da Alimentação Escolar, que tem por critério o custo, fornecimento de nutriente e aceitação do cardápio pelos alunos. A outra escola de 1º grau encontra-se em fase final de construção. Neste primeiro ano de ensino, só será oferecida a 5ª série, sendo que o quadro docente será composto por professores concursados. A prefeitura municipal de Xique-Xique fornece transporte escolar para os alunos de 1º e 2º graus que estudam na sede da cidade, ou seja, em Xique-Xique. O povoado de Nova Vista possui uma escola de ensino fundamental com apenas uma professora de nível 1 para atender 37 alunos. A situação da merenda e do material escolar é a mesma do povoado de Alto da Boa Vista. A Prefeitura também oferece o transporte para os alunos que estudam na sede (Xique-Xique). 36 Segundo os questionários aplicados, o nível de escolaridade dos moradores dos povoados é o seguinte: 21% dos moradores são menores de 5 anos de idade; 25% são analfabeto; 42% tem 1º grau incompleto; 10% 1º grau completo; 1% 2º grau incompleto; 1% 2º grau completo e o restante não soube informar. O Gráfico 04 mostra os resultados dos níveis de escolaridade nos povoados. 80 60 40 Não sabe informar 2º grau completo 2º grau incompleto 1º grau completo 1º grau incompleto 0 Analfabeto 20 > 5 anos Percentagem (%) de moradores 100 Gráfico 04. Grau de escolaridade dos moradores dos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista As instalações das escolas do povoado de Alto da Boa Vista, são precárias, compostas por um único cômodo, onde são ministradas aulas para duas turmas, sendo a divisão das salas feitas através das carteiras. Nas escolas faltam sanitários, cantinas e área de lazer. 4.3.1.4. Infra Estrutura Básica Dos serviços básicos de infra estrutura, apenas o fornecimento de energia elétrica é satisfatório com 98% das residências contempladas com o serviço. A existência de apenas um posto telefônico não atende a necessidade básica dos moradores. A estrada que liga a cidade de Xique – Xique ao povoado de Alto da Boa vista não possui pavimentação, o que dificulta o acesso, principalmente em períodos chuvosos. 37 4.3.1.5. Saúde Nos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista as condições básicas de promoção da saúde não são atendidas, conforme pesquisa realizada. O nível educacional, precário, que predomina nos povoados favorecem o baixo nível de saúde da população. Essa população por não dispor das mínimas informações necessárias à promoção da saúde, a exemplo das práticas de higiene, ficam sujeitas às doenças mais básicas que um indivíduo pode adquirir. A falta de emprego permanente, a não capacitação profissional dos moradores e, consequentemente, a inexistência de uma renda fixa favorecem o desemprego e fome, resultando em um comprometimento da saúde, debilitando o indivíduo na realização de suas atividades diárias. O trabalho é importante à saúde, pois dele é retirado o sustento da família e os recursos necessários ao bem estar e ao desenvolvimento físico e intelectual dos indivíduos. Aparentemente, o estado nutricional no povoado de Alto da Boa Vista é normal; isto porque as pessoas que lá residem possuem estatura mediana e distribuição da massa corpórea sem excessos ou magreza, entretanto não se pode afastar a existência de casos isolados. Tais deficiências são globais, porém muito mais quantitativas que qualitativas. Segundo o questionário aplicado, 63% da população em estudo realiza 1 a 2 refeições diárias. Ao que chamam de “café da manhã”, limita-se a um simples cafezinho, que é base alimentar para manhã de trabalho na lavoura até o momento do almoço, na maioria dos casos. Esta última refeição é dependente da lavoura de subsistência e/ou pesca, ambos relacionados à enchente ou vazante do rio São Francisco, como também a outros fatores ambientais característicos da região do sertão baiano. Ao avaliar, especialmente, as crianças que são maioria no povoado de Alto da Boa Vista, é visível que a eutrofia da população infantil é mascarada, ou ainda, 38 suavizada não só pela falta das medidas de peso-altura, mas por não apresentarem sinais e sintomas característicos da desnutrição, tais como edema, anemia e atrofia geral da musculatura e apatia. Poucos casos apresentaram tais sintomas. Através do breve inquérito alimentar aplicado nas entrevistas, tornou-se claro que a base alimentar dos povoados em estudo é a proteína animal, garantida basicamente através do pescado. Provavelmente essa base alimentar diminui as possibilidades de desnutrição energético protéica infantil. Diariamente os moradores do povoado de Alto da Boa Vista consomem todos os grupos alimentares, e basicamente, em pequena quantidade e em sua maioria cozidos. Certa porção da população consome alimentos fritos, o que poderia predispor os casos de hipertenção arterial, como encontrado no questionário de morbidade aplicado. Como a base alimentar é proteína animal e carboidratos o problema é a falta de consumo diário quantitativo, ocorrendo em alguns casos restrição alimentar. O consumo de alimentos 1 a 2 vezes ao dia, possivelmente não atende às necessidades calóricas diárias. A partir da questão sobre a alimentação básica diária pôde-se subentender que o volume de alimentos também é pequeno, corroborando a hipótese da baixa ingestão energética das populações em estudo. O estado nutricional precário é determinado por fatores econômicos, como renda e produção agrícola. Os dados mostraram que 46,43% em Nova Vista e 34,90% em Alto da Boa Vista, da população economicamente ativa entrevistada, tem renda mensal inferior a um salário mínimo. Em resumo, este levantamento não se constitui numa base bem fundamentada, uma vez que as questões foram levantadas diretamente com os moradores. Seria imprescindível um trabalho mais demorado com exames rigorosos para a partir de então, tomar-se as medidas para a melhoria do estado de saúde da população. 39 Outro ponto associável à nutrição são as condições de saneamento básico do povoado, que é inexistente. As verminoses e parasitoses têm aí o meio favorável de multiplicação, podendo causar dentre outros males; infecção intestinal, diarréia e anemia. As baixas condições sanitária e ambiental, de higiene pessoal e contaminação de alimentos, a falta do tratamento da água e as condições de moradia favorecem a desnutrição infantil. Através do questionário aplicado pode-se observar, mais comumente, o quadro de diarréia em crianças e em idosos. No entanto, quanto a este ponto não há uma gravidade e isto possivelmente está associado à prática da amamentação, embora nem sempre exclusiva, mais sendo ofertado em vários casos até os três anos de vida. A amamentação nos povoados é prática freqüente e é um grande protetor contra as doenças. NIL ROSEN VON ROSENSTEIN afirmava: “ Em locais pobres, com falta de higiene, abundância de contagem e ignorância das regras mais elementares, o aleitamento materno chega a ser de grande importância para salvar uma vida” . Para maior credibilidade a esta conclusão, tornar-se-ia necessário utilizar-se de alguns parâmetros antropométricos (peso e altura) que são representativos do estado nutricional e também do crescimento. Todas as deficiências nutricionais e demais problemas de saúde identificados e analisados do povoado de Alto da Boa Vista, também mostraram-se presentes no povoado de Nova Vista. Pode-se, contudo, afirmar que há um maior risco de vida neste último povoado devido a proximidade da captação que causa maior impacto ambiental. Mesmo distante da superficial eutrofia que os povoados apresentam é imprescindível intervenção imediata sobre a população em estudo, anteriormente utilizando-se de parâmetros antropométricos (peso e altura), bioquímicos e laboratoriais para verdadeiramente traçarmos o diagnóstico nutricional referidos povoados. 40 4.3.1.5.1. Doenças encontradas nos povoados Como resultado à todas as condições opositoras à promoção de saúde, mesmo em um estudo referido, identificou-se mazelas, tais como hipertensão arterial, asma e alguns casos de diabetes. Ao questionar a saúde dos entrevistados nos últimos quinze dias, observou-se os seguintes problemas de saúde: diarréia, gripe, febre, tosse, dispinéia, cefaléia, dor de garganta dentre outros. Das 156 famílias entrevistadas quanto aos problemas de saúde que mais afetou a família nos últimos 15 (quinze) dias 22% responderam gripe; 16% febre; 16% Cefaléia; 13% diarréia; 8% tosse; 6% dor de garganta; 5% dispnéia e 15% outras. A TABELA 03 traz uma listagem destas doenças com seus valores absolutos. TABELA 03 - Doenças que mais afetaram a população dos povoados nos últimos 15 (quinze) dias). Valores expressos em números absolutos e em percentuais. Doença Valor Absoluto Percentual (%) Diarréia 20 13 Gripe 34 22 Febre 25 16 Tosse 12 8 Dispnéia 08 5 Cefaléia 25 16 Dor de garganta 09 6 Outros 23 15 156 100 TOTAL Constatou-se alguns dos problemas de saúde existentes na população em estudo. Vale ressaltar que os dados foram dos entrevistados, estando desta forma sujeitos a falhas, já que os mesmos não possuem conhecimentos de muitas doenças e, além disso, a inexistência de um sistema de saúde local, impossibilita o diagnóstico preciso. 41 O Gráfico 05 mostra os percentuais das principais doenças referidas nos povoados. Problemas Crônicos de Saúde 7,4 5,8 4,7 hipertensão esquistossomose % 2,6 2,1 asma cardiopatias outros Gráfico 05. Problemas crônicos de Saúde nos povoados A hipertensão arterial foi informada como o maior problema da saúde da região (7,4%). A existência do agente comunitário possibilitou o diagnostico de muito dos casos, no entanto, a falta de um profissional de saúde mais qualificado, impede que seja feito o controle adequado dessa doença, que pode ter seus sintomas minimizados através de mudanças nos hábitos alimentares e de um tratamento terapêutico específico. A esquistossomose ou "barriga d'água", parasitose que está intimamente associada a condições sanitárias precárias, foi o segundo problema de saúde mais citado pela população (5,8%). Para se ter um melhor controle da transmissão da doença deve-se realizar medidas de saneamento básico, educação sanitária e erradicação dos vetores intermediários (caramujos). A estrutura física inadequada das moradias, a falta de aberturas para ventilação e iluminação, favorece a existência de um ambiente úmido, o que propicia o surgimento de doenças respiratórias tais como asma, bronquite e pneumonia. A asma foi a terceira doença mais referida, atingindo 4,7% da população. 42 4.3.1.5.2. Reflexo da inexistência do saneamento básico na saúde Nos povoados visitados, as condições sanitárias são inadequadas o que contribui para o surgimento de doenças transmitidas por diversos agentes etiológicos. A água é um elemento indispensável ao ser humano, por isso, quando não é devidamente tratada pode constituir-se em um importante meio de transmissão de doenças. Segundo informações adquiridas nos povoados, a água consumida não sofre nenhum tratamento, o que reflete na qualidade da saúde da população. A interdição do acesso ao rio fez com que diminuísse a disponibilidade da água, interferindo nos hábitos higiênicos da família, onde a água é utilizada apenas para o preparo dos alimentos e beber. O lixo acumulado também se constitui numa importante fonte de transmissão de patógenos, pois incitam a proliferação de insetos e roedores. Os vetores cuja proliferação estão associados ao lixo são: moscas, ratos, baratas e mosquitos. A mosca e a barata funcionam como vetores mecânicos, transportando agentes etiológicos através das patas ou de outras partes do corpo, ou no trato digestivo, depositando-os nos alimentos e utensílios, ou na própria pele do homem, podendo ser responsáveis pela transmissão de hepatite infecciosa, amebíase, diarréias infecciosas, cólera, poliomelite, tuberculose, teníase e outras. Os mosquitos que proliferam nos resíduos dos lixos são culex (pernilongo ou muriçoca), transmissor da filariose, e o aedes, que é um vetor biológico da febre amarela e da dengue, além de estar associados a cachorros doentes (CALAZAR). Os ratos têm reprodução garantida quando dispõem de água, alimento e abrigo, e estes são responsáveis pela transmissão de doenças através da mordedura, das fezes e da urina, pela saliva e pelas pulgas e piolhos. Além do mais, a maioria das casas é de taipa, o que se torna um importante foco de abrigo para o barbeiro, triatomíneo transmissor da doença de Chagas. A ausência de sanitários e a falta de um destino adequado para os excretas humanos, aliada a uma criação extensiva (livre) de animais como porcos e 43 bois, propiciam um ambiente para a proliferação de vetores transmissores de doença, além infestá-los com teníase ou cisticercose. 4.3.1.5.3. Situação geral da saúde nos povoados As populações dos povoados podem ser consideradas jovens, sendo pouca a presença de idosos. As mulheres em idade fértil têm filhos muito jovens e não fazem uso de qualquer método contraceptivo, o que indica ausência de planejamento familiar, sendo a maioria dos partos realizados por parteiras que são residentes das próprias vilas. Algumas das gestantes encontradas referiram acompanhamento pré-natal, realizado em Xique-Xique. A ausência de um posto médico ou de visita médica regular à cidade também dificulta muito o diagnóstico e tratamento da população. Mesmo com a presença do agente comunitário, responsável apenas pelo acompanhamento das morbidades, faltam profissionais qualificados como médicos, enfermeiras e nutricionistas. 4.3.1.5.4. Ação Pública nos Povoados O PACS (Programa dos Agentes Comunitários de Saúde) tem cerca de 10 (dez) anos de existência e vem sendo aplicado em diversas comunidades em todo o país. É um programa do Ministério da Saúde que visa uma integração entre a população e sua respectiva assistência de saúde local. Este trabalha, segundo um modelo de assistência baseado na atuação primária, em substituição às práticas curativas e hospitalocêntricas apenas. As comunidades de Boa Vista e Nova Vista também fazem parte do PACS, porém, sua implantação não obedece aos rigores do programa ministerial. Nesta localidade há apenas um agente comunitário de saúde que ainda se responsabiliza por outras duas localidades, totalizando cerca de 200 famílias, onde no programa prevê no máximo 250 famílias. Segundo o PACS, há sobrecarga de trabalho e o apoio dado pela secretaria de saúde (órgão responsável pelo repasse de verba) é tímido em relação à demanda local. Há pouco material didático para distribuição, instrumentos de trabalho como tensiômetros, estetoscópio, balança, etc.. A manutenção não é constante, não 44 há transporte gratuito para encaminhamento de pacientes e ainda o programa de capacitação dos ajustes é deficiente, o que os torna pouco aptos para realização da atividade profissional. Ao indagar o agente sobre endemias e epidemias locais, pouca informação se obteve. Doenças como hanseníase, meningite, febre tifóide, cólera e Calazar, consideradas problemas de ordem pública em Xique-Xique, são dificilmente diagnosticadas nestas localidades. Isso demonstra a falta de profissionais aptos para fazer diagnósticos, já que tem cerca de três anos que não há visitas de médicos e enfermeiros. Isso reforça a tese de que “onde não há diagnóstico, não há doença” . 4.3.1.5.5. Agente Comunitário de Saúde Há uma tentativa, do município de Xique-Xique, em atender aos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista com um agente comunitário. Infelizmente, o município só dispõe desses agentes para atender uma área muito grande, o que torna o trabalho prejudicado. O agente comunitário, visita as casas diariamente para inferir informações sobre o estado de saúde dos moradores locais, pesar as crianças e orientá-los quanto às regras básicas de higiene e profilaxia (tratamento das doenças). 4.3.1.6. Saneamento 4.3.1.6.1. Lixo Não foram observados grandes acúmulos de lixo (Anexo 3 - Foto 39) , levandose a duas hipóteses: a população do povoado não possui poder aquisitivo para consumir alimentos, enlatados, engarrafados e de embalagens plásticas; ou pelo fato da composição do lixo ser, em sua maioria, constituída por matéria orgânica, são reaproveitadas como alimento para os animais. Nos povoados não existe coleta de lixo, sendo o mesmo jogado para os porcos comerem ou lançado em terrenos baldios e rios. 45 Observa-se que das 156 famílias entrevistadas; 52% lança o lixo no rio e os 48% restante, queima, enterra, lança no mato/terreno baldio. 4.3.1.6.2. Vetores transmissores de doença Há existência de grande quantidades de moscas e mosquitos, próximo e dentro das residências. A população entrevistada queixou-se da presença de ratos, baratas e pernilongos dentro de suas casas. Do total de questionários aplicados 12% dos entrevistados responderam haver presença de mosca; 28% mosca e pernilongo; 11% de todos os vetores menos o rato; 10% de mosca e barata; 9% todos os vetores e 30% mosca e pernilongo e outros vetores. Pelas respostas dos moradores observa -se que os vetores que mais afetam os povoados são a mosca, os pernilongos e as baratas. 4.3.1.6.3. Esgotamento sanitário Observa-se que das 156 casas onde foram aplicados os questionários, apenas 5% possuem sanitário, sendo 4% localizados na área externa da residência e 1% na área interna; 90% lançam os dejetos sanitários no mato ou em terrenos baldios e 5% utiliza outro meio. O Gráfico 06 mostra as diferentes maneiras de se destinar dos dejetos sanitários dos povoados. 46 Pordentagem (%) das famílias 100 80 60 40 20 0 Mato Sanitario Outro Local onde lançam os dejetos sanitários Gráfico 06. Destino dos dejetos sanitários dos povoados Observou-se que nas casas onde existe sanitário as soluções para o esgotamento são: vaso sanitário com (Anexo 3 - Foto 40) ou sem descarga, fossa negra e casinha com buraco. 4.3.1.6.4. Drenagem A época de chuva denuncia dois grandes problemas de Alto da Boa Vista. Com a falta de drenagem, gigantescas poças de lama se formam nas poucas vias de circulação, que servem para dessedentação dos animais, tornando o ambiente propício a proliferação de vetores. 47 4.3.1.6.5. Abastecimento de água 4.3.1.6.5.1.Captação A captação é feita diretamente do Rio São Francisco (Anexo 3 Foto 41). Em Nova Vista não há “rede de distribuição de água”, sendo captada através de baldes plásticos e outros tipos de vasilhames, pelos próprios moradores. Com a presença da obra a população têm que andar grandes distâncias para lavar roupas, tomar banho, pescar e carregar água para armazenar em suas casas. Segundo os moradores, no início da obra, a empresa executora, fornecia água à comunidade através de um carro pipa. Todavia, o serviço deixou de ser prestado. 4.3.1.6.5.2.Distribuição No povoado de Alto da Boa Vista, a “Rede de distribuição” da água foi executada pela CERB - Companhia de Engenharia Rural da Bahia, através de um reservatório elevado com capacidade de armazenamento de aproximadamente 10 m3 (Anexo 3 - Foto 42). Do total de casas entrevistadas, 62% possuem um ponto de água canalizado pela CERB, 36% utilizam a água diretamente do rio e 2,0% de outra fonte. O gráfico 07 mostra as diferentes Percentagem (%) das casas formas que os moradores utilizam para levar a água à sua casa. 100 80 60 40 20 0 CERB Rio Outro Diferentes formas da água chegar nas casas Gráfico 07. Diferentes formas que moradores utilizam para levar a água à sua casa. 48 4.3.1.6.5.3.Armazenamento e usos Quanto ao armazenamento de água nos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista, pode-se observar que das 156 famílias entrevistadas, 85% utilizam pote de barro, 3% pote de barro e vasilhas plásticas, 3% não armazena; 9% outros vasilhames. Verificou-se que não há instalação hidráulico sanitária nas casas, a maioria dos moradores utilizam o rio para a lavagem de prato, roupa e banho. As estatísticas mostram do total de famílias entrevistadas, 46% utilizam a água para beber, cozinhar, tomar banho, lavar roupa e limpar a casa, 36% apenas para beber e cozinhar; 11% todos os usos exceto para limpar a casa; 5% beber cozinha e tomar banho e 2% somente para beber. 4.3.1.6.5.4.Qualidade da água A água oferecida aos moradores provém diretamente do rio São Francisco sem nenhum tipo de tratamento ou desinfecção, apresentando os parâmtros físicos (turbidez e cor) elevados (Anexo 3 - Foto 38). Segundo o questionário aplicado nos povoados, de um total de 156 famílias, 54% não tratam a água que chega a sua casa; 32% apenas filtra; 7% utilizam de outros meios para tratar água; 5% fervem e 2% fervem e filtram. 4.3.1.7. Solo O solo da região apresenta áreas arenosas, argilosas, areno-argilosas; classificados cientificamente como latossolo vermelho amarelo eutróficos, vertisolos, cambissolos, podizolos e até mesmo, pequenas faixas de terras roxas. Sendo que este último possui alta capacidade de trocas catiônicas; e vazantes, nas proximidades do rio, que variam em sua fertilidade. 49 4.3.1.7.1. Erosão No povoado de Alto da Boa Vista pôde-se presenciar a existência de erosão já se caracterizando as vossorocas e ao longo de sua extensão presença de resíduos sólidos que são carregados para o leito do rio (Anexo 3 - Foto 19). Esse processo se deve ao desmatamento ocorrido próximo às margens do rio. 4.3.2. Atividades Econômicas 4.3.2.1. Agricultura A agricultura é praticamente de subsistência. Quando se consegue uma colheita maior, muito raramente, o excedente é vendido na feira de XiqueXique. A agricultura praticada pelos lavradores dos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista é de forma artesanal e rudimentar. Não foi observado uso de técnicas agrícolas que pudessem proporcionar maior produtividade das culturas implantadas que tradicionalmente são: milho, feijão, mandioca, batata, melancia e abóbora. Observou-se que as principais espécies cultivadas pelos moradores são: milho (Zea mayes), feijão (Phaseolos vulgares), melancia (Cucurbitaceae) abóbora (Eucides, também chamado de jerimum ), melão (Cucumis melo) e batata (Ipomea batatas). Essas espécies são plantadas no período chuvoso que vai de Outubro a Maio e os frutos grãos e sementes são consumidos pelas próprias famílias. Nos povoados não se pratica a agricultura irrigada. Não foi notada, também, a presença de espécies frutíferas de grande e médio portes. São poucos os moradores que plantam olerícolas no fundo do quintal. 50 4.3.2.2. Comércio O comércio é praticamente inexistente. Há presença de bares/mercearias, quitandas e uma casa de farinha, que não conseguem suprir as necessidades dos moradores locais. Os moradores utilizam o comércio de Xique-Xique. 4.3.2.3. Cultura e Artesanato Praticamente não existe tradição cultural, sendo a pesca e a Festa de Santo Antônio - padroeiro dos povoados de Alto da Boa Vista e Nova Vista, as únicas atividades culturais existentes. Como atividade artesanal, pode-se citar a confecção de redes para a pesca, esteiras da fibra do caroá e pote de barro para armazenamento da água. 4.3.2.4. Associação de Moradores A Associação Comunitária de Boa Vista possui 97 associados sendo: 1 (um) presidente, 1 (um) tesoureiro, 1 (um) secretário, 4 (quatro) associados que participam do Conselho Fiscal e 90 associados. O Conselho Fiscal é composto, também, por representantes da CAR (Companhia de Ação Regional). A Associação de Moradores foi fundada em 1995 e desde então já conseguiu um trator, uma casa de farinha, um posto tele fônico e uma caixa de distribuição de água. A associação comunitária não possui propriedades, as culturas são plantadas nos terrenos dos próprios moradores. É sustentada pela casa de farinha e pelo dinheiro do “frete” do trator. São realizadas reuniões bimestrais ou trimestrais para discussão e elaboração das propostas de projetos que a comunidade necessita. 51 5. DEFINIÇÃO DAS DIRETRIZES DO PROJETO Baseado na análise dos técnicos e da participação da Comunidade, e tendo sempre em vista os princípios básicos que norteiam o trabalho, as seguintes diretrizes de ação foram definidas: • Maximização do conforto e segurança da população; • Saneamento básico e saúde pública; • Programa de educação ambiental para a população, única maneira de garantir a manutenção e eficaz operação dos equipamentos a serem construídos. • Geração de trabalho e renda. Visto que alguns custos já estão acontecendo como reflexo do Baixio do Irecê para as populações e sendo a região extremamente carente, torna-se indispensável a adoção de alternativas de trabalho e renda para a população. Propõe-se a utilização da própria população da área na implantação do projeto, o que atingirá simultaneamente os objetivos de geração de trabalho e renda; • Programa de capacitação de seus habitantes para a prestação dos serviços a serem desenvolvidos, estimulando e ampliando as vocações econômicas locais. • Organização da Associação de Moradores: permitirá que a comunidade estabeleça parcerias com entidades públicas e privadas - tanto nacionais quanto internacionais - para a capacitação de seus membros e a implantação de projetos educacionais e geradores de renda. Considerando que a legislação e controle de parcelamento, uso e ocupação do solo é autonomia constitucional do Município, o trabalho estará se desenvolvendo no sentido de construção de uma proposta para um plano de controle de parcelamento, uso e ocupação do solo, como instrumento emergencial de controle contendo os seguintes parâmetros: • Plano de implantação de infra estrutura e vias; • Parcelamentos o u assentamentos públicos ou privados; 52 • Subdivisão ou junção de propriedades; • Localização de equipamentos urbanos (mercados, terminais rodoviários, aterros sanitários de lixo, estações de tratamento de água e esgoto, reservatório de água, posto de saúde, escolas, entre outros); • Projetos de investimento da iniciativa privada e; • Modificações das edificações e urbanizações existentes do ponto de vista da ventilação e iluminação. O Plano deverá atingir as seguintes metas: • Analisar as condicionantes relevantes para o desenvolvimento urbano do núcleo, do passado e da atualidade; • Identificar o provável desenvolvimento do futuro no caso da continuidade do desenvolvimento do passado; • Identificar o cenário desejável e viável para desenvolvimento futuro. 53 6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES O que se pretende com esta proposta é elevar a qualidade ambiental da área e contribuir para uma melhor distribuição de oportunidades sociais e ampliação das fontes de renda da população, sabendo contudo que as desigualdades existentes não serão superadas em um curto período de tempo, mas sim, através de um processo que deve ser iniciado agora e que deve ocorrer através da mobilização dos grupos envolvidos e do suprimento de serviços e equipamentos capazes de iniciar e fomentar transformações locais. Desta forma, devem ser observadas ações em diferentes tempos, algumas de ordem imediata que devem visar questões críticas tais como desemprego (desqualificação de mão de obra), deficiências sanitárias, insegurança, desconforto e insustentabilidade, e outras a médio prazo, que se referem à incorporação de processos de desenvolvimento e de elevação do desempenho do sistema de escolas, centros de saúde, transporte coletivo, áreas de convivência, etc. Finalmente deve -se visar o alcance de patamares de vida considerados dignos pelos órgãos internacionais competentes, como a UNICEF, OMS etc. Por outra parte, as intervenções específicas ou pontuais e políticas de apropriação de espaços para determinados usos e equipamentos de interesse social, receberão incentivos adequados, ajustando-se os mesmos quando possível, à oferta local de recursos próprios e incentivando a criação de setores que alimentem a infra-estrutura de atendimento para novos empreendimentos. Pretende-se com isto que venha a existir uma complementaridade aceitável entre as diferentes realidades e atividades contempladas. 54 Pressupõe-se que dificilmente se conseguirá um perfil homogêneo de qualidade em toda a extensão do território considerado, contudo, serão propostas ações de forma a se reduzirem as diferenças que permeiam a região. Serão identificadas as áreas mais frágeis em termos econômicos e ecológicos que requeiram intervenções de ajuda e proteção e aquelas mais robustas em nível de conforto ambiental e renda da população, que serão trabalhadas para maximizar essas características. Serão destacadas áreas com potenciais ou vocações específicas e submetidas a um aproveitamento em padrão apropriado. Enfim, será analisada a área como um sistema a ser modelado numa perspectiva de sustentabilidade e integração ao conjunto geral da macro região. Um dado significativo a ser incorporado na montagem da proposta é a imensa área do Projeto em que se inserem as comunidades. Neste sentido há de se considerar dois aspectos: sua relação com este Projeto e o Projeto com as áreas vizinhas, segundo os parâmetros estabelecidos na Análise da Configuração e Tendências das Redes Urbanas e Regionais realizados pelo IPEA - Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada. Pode-se concluir por exemplo que a área se constitui em um tecido relativamente ocioso se comparado à quantidade de atividades que ocorrem em outras partes, sugerindo-se que esta deverá adquirir uma dinâmica muito mais intensa, em que nessas comunidades venha a constituir-se um subcentro no conjunto de produção da agricultura, possibilitando que se criem articulações de vários tipos muito mais eficientes, ressalvando o cuidado de não sobrecarregar-se a infra-estrutura local. Quanto ao segundo ponto, vale ressaltar o fato muito pouco percebido da importância aquática frente à área, que pode ser percorrida e ocupada, além do que ela representa na intermediação com o complexo de lazer e econômico da região. É preciso que se considere o modo como o projeto e a mudança geram insegurança, risco e incerteza para a comunidade no tocante à qualidade de vida e a atrasos de continuidade. Diante deste quadro, os dados obtidos fornecerão subsídios para a política e a legislação de uso do solo de modo que: a) seja mais coerente com a realidade vigente em cada uma das comunidades em estudo; b) reconheça a existência de características da cultura local que 55 normalmente não são levadas em conta nos projetos de urbanização. O principal local de atuação para educação sanitária é a escola. Deve-se primeiro capacitar o educador para que o mesmo torne-se multiplicador das informações básicas de saúde. A realização de aulas educativas e dinâmicas que ensinem como tratar água ingerida, escovar os dentes corretamente, destinar os dejetos e o lixo em locais apropriados, relacionar higiene com doenças e ter noções de cidadania; favorecerá, de forma prática e econômica a melhoria das condições de saúde. 56