Theoria - Revista Eletrônica de Filosofia
Faculdade Católica de Pouso Alegre
A IMPORTÂNCIA DA ESCOLHA:
LIBERDADE E RESPONSABILIDADE EM SARTRE
Wilson Mário de Morais 1
RESUMO
A filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre sustenta-se sobre três princípios básicos: o primeiro principio
afirma a prioridade da existência sobre a essência. O segundo principio postula o primado da subjetividade. O
terceiro, sobre a liberdade constitutiva do projeto humano. O trabalho tem por objetivo investigar a relação entre
a liberdade, a responsabilidade e o compromisso ético, questões chaves para a compreensão do universo
existencial e ético do homem contemporâneo. O processo existencial é definido pela livre escolha que cada um
faz de si mesmo, dos valores que inventa e dos fins que persegue, no qual o sujeito vai-se fazendo no exercício
de sua liberdade. Este processo vislumbra uma ética que assuma suas responsabilidades frente a uma realidade
humana em situação.
Palavras-chave: Jean-Paul Sartre – Ética – Liberdade – Responsabilidade.
ABSTRACT
The existentialist philosophy of Jean-Paul Sartre argues on three basic principles: the first principle asserts the
priority of existence over essence. The second principle postulates the primacy of subjectivity. The third, on
freedom constitutive of human design. The study aims to investigate the relationship between freedom,
responsibility and ethical commitment, key issues for understanding the ethical and existential universe of
contemporary man. The process is defined by existential choice that each one makes of himself, he invents the
values and aims it pursues, in which the subject will be doing in the exercise of their freedom. This process sees
an ethics that assumes its responsibilities in the face of a human reality in situation.
Key-words: Jean-Paul Srtre – Ethics – Freedom – Responsability.
Considerações iniciais
Uma das tarefas fundamentais da filosofia é explicitar as estruturas fundantes da
realidade, ou seja, a visão de mundo que sustenta as transformações ocorridas na sociedade.
Ao longo da história do ocidente percebemos a evolução da concepção de uma visão de
mundo marcada pelo mito, passando para uma visão centrada no logos, com o surgimento
da filosofia, e depois para uma visão mecanicista e cientificista do mundo. A visão de mundo
tem sempre alguns elementos estruturadores ao redor dos quais se edifica a construção de uma
1
Mestre em Filosofia pela PUCCAMP. Professor e Coordenador do Curso de Bacharelado em Filosofia da
Faculdade Católica de Pouso Alegre.
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determinada concepção de sociedade e de homem. A nossa civilização tecnológica, da
informação e do conhecimento, tem seu fundamento numa concepção funcional da natureza e
funcionalista do ser humano. Podemos perguntar: tudo o que se pode fazer, se deve fazer?
Encontramos diante de uma questão ética. Como não identificar a técnica com a ética?
A história do ocidente é a história da progressiva conquista da humanidade do homem.
Na modernidade, o homem torna-se um problema para si mesmo, reinventa o trabalho como
lugar de auto-realização, modifica a sua relação com a natureza estendendo cada vez mais
sobre ela o seu domínio, conquista o espaço, chegando à lua, desenvolve o projeto genoma
criando as biotecnologias e, com o desenvolvimento dos meios de comunicação torna o
mundo numa aldeia global – Internet. A autonomia do individuo e a questão da liberdade
colocam-se como problemas fundamentais para o homem contemporâneo. Diante de tantas
mudanças, cabe-nos perguntar: Qual o lugar de Sartre na história da filosofia ocidental? Qual
o eixo organizador de seu pensamento? Que idéia estrutura sua construção filosófica? Como
entender o processo existencial e quais as implicações éticas da concepção sartreana de
liberdade?
Pensador que representou em mais alto grau o existencialismo francês, Sartre assumiu
diversas faces e posições intelectuais. Polêmico, questionador, provocador. Gerd Bornheim,
na apresentação da Critica da Razão Dialética, diz que o renovado interesse pelas idéias de
Sartre deve-se basicamente a alguns motivos, dentre eles, que elas continuam a responder as
inquietações do homem de hoje, persistem vivas e questionadas e, podemos acrescentar:
questionadoras da existência humana.
Nascido na França em 1905, foi testemunha de um período de contrastes no século
xx e procurou através da sua habilidade de escritor, desvelar a existência humana, na busca de
um sentido. Homem das letras e ao mesmo tempo intelectual engajado, não se furtou a usar
de sua autoridade intelectual para agir sobre o seu tempo. Ancorado em diálogo com a
filosofia clássica da subjetividade, desenvolveu seus conceitos filosóficos, entre os quais,
aquele que pode ser considerado o eixo estruturador de seu pensamento: o conceito de
liberdade.
A filosofia se Sartre se organiza em torno de dois problemas centrais com os quais se
esbarra a cada instante sua experiência e seu pensamento: o problema da liberdade e do
problema do outro. Obstáculo? ou trampolim para a verdade mais completa, que permita
apreender o homem total e resolver os problemas da vida? (GARAUDY, 1967).
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Valendo-se dos recursos configurados da filosofia e da literatura, procurou mostrar as
possibilidades e as limitações do individuo concreto situado nas conjunturas cruciais da
história da humanidade no século XX. Muitas de suas obras são perpassadas por uma
desconfortável limpidez reveladora da existência humana. Um fio consciente de combinar
literatura e filosofia caracterizou, desde o inicio, sua obra, marcada por uma ressonância ética.
(SILVA, 2003).
A obra e o pensamento de Sartre são mais bem compreendidos quando colocados no
horizonte dos acontecimentos marcantes do século XX, a Era dos Extremos, segundo o
historiador Eric Hobsbawm e o Século de Sartre segundo Bernard Henry-Lévy como, por
exemplo, as duas guerras mundiais, que mostraram a ineficácia dos princípios éticos que
norteavam as sociedades; a crise da razão e das ciências humanas; a perda de sentido da
existência frente a ruínas de humanismos prometedores e instituições veneráveis que fizeram
estremecer a estrutura cultural do ocidente. Tudo isto põe em questão a existência humana,
dentro da qual o homem busca uma significação para a sua vida . As filosofias da existência
surgem neste contexto de busca de sentido para a vida humana e uma questão se coloca: falta
para estas filosofias uma ética?
Os escritos sartreanos apresentam uma imensa variedade: vão de artigos ocasionais a
ciclo de romances, de contos a sínteses filosóficas vastas, de roteiros cinematográficos a
panfletos políticos, de peças de teatro a reflexões sobre a arte e a música, de critica literária à
psicanálise e biografias monumentais. Todas elas tentam captar as motivações interiores de
indivíduos singulares em relação às situações sócio-históricas específicas da época que os
moldou, a qual, por sua vez, ajudaram a transformar. Sartre tem um projeto fundamental
desenvolvido em suas obras, constantemente revisado. Sua obra é multifacetada, articulada
mediante as transformações dela mesma, com uma unidade estrutural interna coerente.
O centro organizador e o cerne estruturador do conjunto de sua obra é a sua
preocupação com a problemática da liberdade e a sua concepção de individuo. A liberdade é
sempre manifestada em condições existenciais determinadas. O homem é compreendido como
liberdade que se constroi na história através de um processo de libertação e conseqüente
eliminação da fome e da exploração. Sartre insiste na primazia da práxis individual face a face
com as estruturas coletivas e institucionais. A primazia e centralidade atribuída a práxis
individual, intimamente relacionada com a liberdade, é que define a especificidade do projeto
fundamental de Sartre em toda a variedade de suas manifestações. A contingência da situação
oferece ao escritor a matéria prima para a criação de sua obra. Percebe-se que a preocupação
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com a moralidade é dominante no seu pensamento, perpassando em todos os seus escritos
uma moral latente (MÉSZAROS, 1991).
O itinerário do pensamento filosófico de Sartre permite-nos distinguir duas fases
distintas, a saber: um primeiro e um segundo Sartre. O primeiro Sartre tem a sua maior
expressão na obra O Ser e o Nada, onde apresenta com maestria, partindo do método
fenomenológico, sua compreensão da realidade humana. O segundo Sartre tem sua maior
expressão na obra Critica da Razão Dialética onde faz um confronto de suas teses
existencialistas com o marxismo. A mudança encontrada nestas duas fases de seu pensamento
diz respeito ao foco das investigações (BORRNHEIM, 1984). A continuidade presente na
evolução de sua obra é entendida como um intercâmbio dialético. Há uma dialética da
continuidade e da descontinuidade e não uma ruptura da estrutura; o que há são modificações
continuadas com base na estrutura original. A predominância da continuidade de forma
paradoxal e as tensões heterogêneas que determinam suas transformações relativas é que
definem a especificidade do desenvolvimento intelectual de Sartre (MÉSZAROS, 1991).
1. Colocação do problema moral em Sartre
O existencialismo de Sartre é uma filosofia moral. É nesta perspectiva que
desenvolveremos nossa reflexão, mostrando que é possível extrair uma ética das
considerações ontológicas estabelecidas por Sartre da realidade humana, tomando como ponto
de partida a liberdade e a responsabilidade, noções centrais do pensamento sartreano,
focalizando prioritariamente o primeiro Sartre.
Na
construção
de
seu
pensamento,
Sartre
adota
inicialmente
o
método
fenomenológico, desenvolvido por Husserl, fazendo uma descrição fenomenológica da
realidade humana, na busca de compreender seus elementos constitutivos e, à medida que vai
desenvolvendo sua reflexão, aproxima-se do marxismo, incorpora o método deste 2.
2
Cf. Istvan MÉSZAROS, A Busca da Liberdade, O autor expõe nesta obra que o pensamento de Sartre
desdobra-se em três fases fundamentais. Na primeira fase, adota o método fenomenológico de Husserl. A
segunda fase, inspirada por preocupações de ordem marxista, assimila a sua metodologia e condensa-se no livro
Crítica da Razão Dialética (1960). Na terceira, volta a acentuar-se a inquietação sartreana com o individuo
concreto na extensa biografia de Gustavo Flaubert em sua obra O Idiota da Família (1972), além do marxismo,
Sartre lança mão da psicanálise. Em sua obra A Náusea (1937) Sartre faz uma descrição fenomenológica da
existência humana em geral, pondo em dúvida tudo aquilo que lhe daria sentido. A experiência da náusea revela
uma força desveladora da existência.
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A descrição da experiência da náusea 3 põe em relevo teses fundamentais do
existencialismo. Primeiro: a necessidade de converter a revelação do absurdo em um sentido
que justifique a existência humana: o existencialismo deve ser um humanismo. Segundo: a
náusea revela a mim mesmo que sou consciência e esta é o núcleo instantâneo da minha
existência. Terceiro: essa consciência não pode ser sem o outro, que não ela mesma, ela só
existe por aquilo do qual tem consciência. Aquilo do qual tenho consciência é o objeto, o ser.
A consciência precisa do objeto para ser, pois sem o objeto ela não vai além do seu próprio
vazio. O humanismo instaura-se a partir do modo de relacionamento do sujeito com o objeto.
O grande entrave à realização do humanismo é a má-fé.
O ser se define pelo princípio da identidade: ele é o que é. A consciência se define
pelo princípio da contradição: ela é o que não é e não é o que é. Ela é necessariamente
consciência de alguma coisa, nunca conseguindo identificar-se com esse conteúdo que a
constitui. Sartre chama o ser de em-si e a consciência de para-si. Estas são as colunas mestras
de todo o seu pensamento.
As investigações sobre psicologia fenomenológica, tendo como objeto o eu, a
imaginação e as emoções inauguram as atividades filosóficas de Sartre. O ponto de partida de
suas pesquisas é o conceito de intencionalidade da consciência desenvolvido por Husserl,
dando a ela uma interpretação existencial.
A obra de Sartre expressa o grande problema moral do século XX, traduzido na
angústia da responsabilidade humana para um homem que não admite nenhum guia externo
no exercício desta responsabilidade. Somos livres, mas não estamos dispensados de nos
tornarmos livres. As análises ontológicas nos mostram que esta tentativa de nos tornarmos
livres tem sentido, pois não somos determinados. Cada um é desafiado a dar um sentido
positivo para sua existência.
Ao concluir sua obra mestra – O Ser e o Nada – com algumas páginas intituladas
perspectivas morais (SARTRE, 2002), Sartre se propõe a escrever uma obra sistemática
dedicada à moral, diante de uma série de questões levantadas em relação à liberdade que se
toma a si mesma como fim e a sua condição de liberdade situada, responsável e geradora de
angústia. Diz que estes problemas só podem encontrar resposta no terreno da moral,
reconhecendo a insuficiência da ontologia frente ao estabelecimento de prescrições morais,
afirma que ela não formula prescrições morais; ocupa-se daquilo que é , e não é possível tirar
3
A Náusea é um romance no qual Sartre expõe a concepção da existência humana. O personagem principal,
Antoine Roquetin, descobre que nada justifica a sua existência. A absoluta gratuidade da vida não o livra da sua
liberdade e responsabilidade que também são absolutas.
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imperativos de indicativos. No entanto, deixa vislumbrar o que seria uma ética que assuma
suas responsabilidades frente a uma realidade humana em situação, e, portanto, uma situação
humana ambígua ( SARTRE, 2002).
Entretanto, o projeto de um tratado de moral nunca teve seu término. O que temos de
mais concreto é uma publicação póstuma intitulada Cahiers pour une morale ( 1983). O seu
livro Diário de Uma Guerra Estranha (1939) mostra que, desde então, Sartre manifestava
interesse pela procura de uma fundamentação moral, ao analisar a realidade humana enquanto
individualidade e subjetividade, afirmando que o problema moral é especificamente humano,
e que a realidade tendo a si mesma como fim não deve contas de sua moralidade a não ser a si
mesma 4.
Se, por um lado, Sartre se preocupa com uma constante fundamentação moral, por
outro, percebe-se o inacabamento de todas as suas reflexões estabelecidas nessa direção. A
que se deve isto? Uma possível explicação é a convivência de Sartre com uma análise não
conclusiva da realidade humana e não concluir uma obra no terreno da moral é reconhecer
que também neste campo estamos sempre em busca de completude e, ao lidar com aquilo que
pode fundamentar as ações humanas, tendo suprimido Deus e a natureza humana, o terreno é
pouco seguro e a reflexão se torna inesgotável enquanto inserida no processo histórico de
construção do homem. Sempre há algo mais a dizer. Sartre tinha o desejo de que seus textos
inacabados tivessem publicação póstuma, para que permanecessem inacabados tal como são,
uma vez que tinha formulado neles as idéias que não foram todas desenvolvidas, cabendo ao
leitor interpretar aonde elas poderiam levá-lo.
Em Sartre, o surgimento do problema moral ocorre num contexto de possibilidade de
recusa de todo valor moral. Partindo desta hesitação, impõe o problema moral, mesmo no
caso de eu escolher recusá-lo, pois mesmo aí manifesto uma atitude na qual me engajo
moralmente. Esta atitude moral implica na ação, sempre intencional, pois visa a um fim,
capaz de modificar o mundo na sua materialidade. Uma primeira condição da ação é
exatamente a liberdade, que permite à consciência distanciar-se do mundo para imaginar outra
coisa além daquilo que é. O homem é livre porque não é a não ser presença a si, e a liberdade
é precisamente este nada no cerne da realidade humana, que o leva a fazer em vez de ser. Esta
liberdade dá sentido a determinações que poderiam advir de fora ou do passado. No ato de
4
Cf. Jean-Paul SARTRE, Diário de uma Guerra Estranha, p. 137-146. Obra publicada três anos após a sua
morte, diário escrito de novembro de 1939 a março de 1940, que registra o testemunho de Sartre sobre a guerra
e do rumo tomado por ela. Já encontram nela a gestação e o esboço de muitas idéias de suas obras posteriores,
especificamente O Ser e o Nada. Uma questão fundamental é da busca da compreensão do homem em sua
totalidade, onde Sartre lança algumas idéias para a construção de uma moral.
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projetar-se para um fim livremente escolhido ela descobre apoio e obstáculos, cujo valor, em
si, não vem desta escolha. O fato de cada um dos meus atos ser inteiramente livre não quer
dizer que seja um ato qualquer ou que sejam imprevisíveis.
As possibilidades particulares que tenho de agir se colocam dentro do conjunto de
projetos que sou. Este conjunto possui uma totalidade orgânica, uma síntese unitária que
representa a minha possibilidade última, uma opção fundamental que faço de mim mesmo.
Existe a possibilidade da reconsideração desta opção, não me comprometendo com ela. A
tomada de consciência desta perpétua possibilidade de transformação radical de si é a
angústia. Os projetos se articulam dentro da opção fundamental. Abandonando o plano do
irreflexivo, a vontade pode tentar impor, reflexivamente, projetos que contradizem o meu
projeto inicial. Ela contradiz os projetos secundários e não o projeto original, levando-me a
fazer uma opção por mim mesmo, de má-fé. Por exemplo, se o meu projeto original visa a me
escolher no meio dos outros como sendo inferior e se a gagueira é um comportamento que se
compreende e interpreta a partir do primeiro projeto, posso, por motivos sociais ou por mau
conhecimento da minha própria escolha de inferioridade, decidir corrigir-me da gagueira e
até previni-la. Estes resultados só deslocam a inferioridade de que sofro: uma outra surgirá em
seu lugar e exprimirá, a seu modo, o fim total a que me proponho.
A vontade só toma sentido num projeto original de uma liberdade sempre
intencionalmente orientada. Ela pode ir contra o projeto original, mas nunca poderá modificálo como projeto secundário. Esse projeto original é totalidade, não podendo ser atingido pelo
fracasso de estruturas parciais que se desenvolvem na ação. Ele pode consistir até mesmo na
própria escolha do fracasso.
Compreender o problema moral sartreano é assumir que não existem valores a priori
capazes de determinar a ação humana. O bem é o que o homem se impõe no espaço da
liberdade, embora possa ter validade universal.
2. Moralidade e historicidade
No existencialismo sartreano não há moral abstrata, como a moral da boa consciência,
capaz de ser moral mesmo numa situação imoral. Sartre insiste em que há somente uma moral
de situação, portanto, uma moral concreta. Frente a uma determinada situação concreta,
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nenhuma moral estabelecida é capaz de nos dizer o que devemos fazer. Sartre exemplifica
com o dilema do estudante que se encontra diante de duas alternativas: cuidar da mãe ou ir
para a guerra. É o próprio individuo, em sua solidão, que deve escolher qual possibilidade
seguir. Sua escolha orientada pela liberdade é que vai definir o que é melhor para ele
(SARTRE, 1987).
Nos Cahiers pour une Morale Sartre considera importante interpretar os
acontecimentos históricos na compreensão da realidade humana. Segundo ele, “a própria
ontologia existencial é histórica” (SARTRE, 1983, p. 14), pois, a partir do acontecimento
primeiro, que é a aparição do para-si no mundo, todo projeto moral é individual,subjetivo e
histórico ao mesmo tempo. A exigência moral não deve ser procurada num universal abstrato,
pois ela tem sentido por sua interseção na história, o que implica a vivência de uma situação
social possível de mudança. Nós devemos caminhar “em direção de uma moral concreta”
(SARTRE, 1983, p.15), síntese do universal e do histórico.
Sartre afirma que “a moral é a teoria da ação” (SARTRE, 1983, p.24) e o agir
envolve trabalho e luta, que tem na liberdade originária sua condição primordial. O homem,
condenado a ser livre, descobre que a liberdade é a base da moral. É possível perceber que
existe uma ética existencialista que se vai delineando a partir de alguns princípios, como por
exemplo, que o homem é livre e o único inventor de seus valores e não existe uma regra
moral universal.
Francis Jeanson 5 discutindo a questão moral em Sartre, afirma que a fenomenologia
não pode oferecer os princípios de uma ação moral, mas nos dá uma possibilidade, o que nos
leva a dizer que a sua descrição nos leva a reconhecer o homem como um ser moral, mas de
uma moralidade de fato, que exige, para conquistar seu valor, ser retomada numa moralização
ativa e refletida. Se a existência humana pode ser ultrapassada no sentido de sua valorização,
isto significa que ela já encerra em si mesma uma perpétua ultrapassagem de si mesmo; por
baixo de toda a ultrapassagem moral do fato, deve haver um fato de ultrapassagem; toda ação
valorizadora implica em que a realidade já seja, em si mesma, mais do que realidade. Onde
5
Em seu livro Le problème moral ét la pensée de Sartre, Francis Jeanson procura mostrar a possibilidade de
uma conversão moral. A primeira parte da obra trata dos pontos de partida psicológico e a segunda parte
descreve a realidade humana, indicando um movimento de conjunto que resulta na equação estabelecida entre
consciência humana e liberdade. A terceira parte mostra a insuficiência e o fracasso de uma liberdade entregue a
si mesma na atitude natural e passa a descrever os fatores de uma conversão libertadora, de passagem para a
atitude moral, onde o homem se retoma para orientar a sua própria humanização.
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reside a autenticidade da escolha moral?
A autenticidade da escolha moral está na
singularidade:
A autenticidade da escolha moral reside na sua singularidade. O
homem pode
escolher lutar por seus semelhantes e com eles: o valor desta escolha reside no fato
de ter sido feita na solidão e como criação de uma forma absolutamente pessoal de
relação com o outro. É a partir do mundo que o homem empreende conhecer sua
própria existência, mas não é senão a partir de si mesmo que ele pode valorizar seus
atos (JEANSON, 1965, p.31).
As análises ontológicas realizadas por Sartre desembocam numa ética, uma vez que
conduzem a uma prática transformadora do homem (BORNHEIM, 1991). Os princípios desta
ética podem ser evidenciados através de suas obras que apresentam a liberdade como
fundamento. Quais são os pressupostos e as idéias basilares do projeto ético sartreano?
3. Liberdade como autonomia de escolha
O princípio fundamental do existencialismo sartreano nos diz que a existência precede
a essência e, segundo este lema, o homem não possui uma essência, dada a priori. Ele, em
primeiro lugar, surge na sua espontaneidade e somente depois se define, se faz aquilo que vem
a ser. O ato de projetar-se e lançar-se à frente de si mesmo, de fazer-se e assumir-se no mundo
por via de realização de alguma possibilidade, caracteriza a primazia da existência sobre a
essência. O homem é liberdade. Esta não é uma faculdade humana, uma disposição ou
capacidade de agir livremente. O caráter original da liberdade nos leva a entender que ela não
é algo que o homem tenha, mas algo que o homem é. Sendo liberdade, ele não é nada além da
possibilidade de ser. Ele é levado a assumir um projeto de existência, que tentará realizar-se
como modo de ser no mundo.
Sua obra O Ser e o Nada, tratado de ontologia fenomenológica que Sartre publica em
1943, elucida os conceitos fundamentais da filosofia da existência. Mostra que o homem é um
ser dos possíveis, o que corresponde a pensá-lo como abertura a todas as possibilidades, uma
vez que não traz em si determinação alguma. Assumir livremente uma dessas possibilidades é
projetar um modo de existir e projetar-se na existência, num tipo de experiência em que a
realidade humana se define mais como futuro do que como passado. Como o homem pode
assumir qualquer possibilidade, já que não existe predeterminação para alguma em particular,
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significa que todas são igualmente contingentes, não estando determinado a assumir uma ou
outra. Possibilidade, projeto e contingência estão intrinsecamente relacionadas.
A liberdade originária só pode ser realizada a partir de uma escolha radical de um
projeto a ser realizado num mundo contingente. A fenomenologia da existência, desenvolvida
em O Ser e o Nada, faz da liberdade um tema de ontologia, porque a compreensão
fundamental da realidade humana só acontece em termos de elucidação de um processo no
qual as condutas humanas são elementos de revelação da peculiaridade: o homem não é algo
dado com uma natureza, mas vem a ser aquilo que se faz ao longo da sua existência. A
filosofia da existência pressupõe uma atitude interrogativa que nos afaste de qualquer idéia
natural ou metafísica que se possa colocar como pressuposto do que seja o homem.
A partir de configurações efetivas de possibilidades, o homem faz a escolha
existencial, assumindo o seu projeto. Esse ajuste do projeto a um dado contexto de
possibilidade é o que Sartre chama de situação, uma demarcação concreta do exercício da
liberdade, isto é, da escolha e do projeto. Por isso, Sartre diz que a liberdade é sempre situada.
Neste sentido, a liberdade não é uma categoria transcendental, mas um exercício processual
de construção de si mesmo. A liberdade é exercida num contexto de possibilidades, como
sendo a teia daquilo que devo afirmar ou negar, aceitar ou recusar, na sucessão de atos
concretos em que cada um se faz ser.
Essa complexa variedade que constitui a subjetividade livre Sartre define como
facticidade. É algo que supera o sujeito uma vez que, ao nascermos, já encontramos o mundo,
fato dado em que nos inserimos, mas que nos precede e nos transcende: ambiente histórico,
condição social. Um conjunto de fatos que constitui para o sujeito uma situação. Agir
significa reagir a tudo isto. Assim, a liberdade é inseparável das condições concretas do seu
exercício. O existencialismo sartreano não propõe uma liberdade que seja pura e simples
fruição da espontaneidade da consciência, mas nos coloca em confronto com as adversidades,
a fim de vencê-las para realizar autenticamente um projeto livre de ser.
A noção de facticidade leva-nos ao engajamento e ao compromisso. Não se trata tanto
de assumir um compromisso, mas de reconhecermos que estamos comprometidos. O fato de
nascermos num dado contexto, já nos compromete com ele, ou seja, com o mundo no qual
temos de viver. O quietismo ou a indiferença é uma forma de opção que faço com relação aos
problemas do meu tempo.
Em O Ser e o Nada, o problema da relação entre liberdade e facticidade é
fundamental. O compromisso pode ser entendido como uma noção mediadora, uma vez que
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representa de algum modo a decisão tomada de como lidar com os fatos. Os elementos da
facticidade não são determinantes. Tudo depende da conduta que assumimos frente a eles.
Sartre é insistente na contingência do mundo histórico, uma vez que ninguém está
determinado a qualquer coisa, por mais forte que sejam os fatos que configurem uma situação.
O ser humano é aquilo que faz com aquilo que fizeram dele. O individuo é sujeito de sua
história e da história. A passividade diante da situação é uma escolha. A única coisa que não
podemos escolher é deixar de ser livres. O homem está condenado a ser livre. Não há como
não ser livre. O processo existencial está relacionado com a condição moral do homem e vai
constituir o processo ético-existencial no qual o homem que se vai construindo a si mesmo no
exercício de sua liberdade.
Sartre formulou toda uma metafísica radical da liberdade. No homem, o primordial é o
fato de que ele existe e deve inventar a si mesmo, sem estar predeterminado por nenhum tipo
de essência ou caráter imutável. O pensamento de Sartre pode ser condensado no lema: O
homem não é o que é e é o que não é. Nós não somos algo dado previamente, uma vez por
todas, algo programado de antemão. Somos o que não somos, o que ainda não somos ou o que
desejamos ser; somos nossa capacidade de nos inventarmos permanentemente, de transgredir
nossos limites. O homem não é nada senão a disposição permanente para escolher e revogar o
que quer chegar a ser. Nada nos determina a sermos isto ou aquilo, nem de fora nem de
dentro de nós mesmos. Apesar de, às vezes, tentarmos nos refugiar no que escolhemos ser,
como se fosse um destino irremediável, o certo é que sempre estamos abertos a nos
transformar ou a mudar de caminho. Se não mudamos é porque escolhemos ser desta maneira
e não de outra.
E as determinações que provêm de nossas situações históricas,de nossa classe social,
ou de nossas condições físicas ou psíquicas? E os obstáculos que a realidade opõe a nossos
projetos? Para Sartre tudo isto não impede o exercício da liberdade porque sempre se é livre
dentro de um estado de coisas e diante desse estado de coisas. Sou eu que escolho me
resignar à minha condição social ou me rebelar contra ela e transformá-la; sou eu que
descubro as adversidades do meu corpo ou da realidade, ao propor objetivos que me desafiam.
Até os obstáculos que bloqueiam o exercício de minha liberdade provêm de minha
determinação de ser livre e de sê-lo desta ou daquela maneira, que nada me impõe. A
liberdade humana, entendida no sentido radical que Sartre lhe outorga, é a vocação de negar
tudo o que nos rodeia na realidade alternativa, a partir de nossos desejos e paixões livremente
assumidos. Podemos fracassar na tentativa, mas não podemos deixar de tentar nem renunciar
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ao empenho, pretextando a necessidade invencível das coisas. A única coisa que nós não
podemos escolher é entre ser e não ser livres: estamos condenados à liberdade, por mais
paradoxal que possa soar esta fórmula sartreana, já que é a liberdade que nos define como
humanos.
O êxito não importa absolutamente à liberdade. A discussão que opõe o senso
comum aos filósofos procede de um ma- entendido: o conceito empírico e popular
de liberdade, produto de circunstâncias históricas, políticas e morais, equivale à
faculdade de obter os fins escolhidos. O conceito técnico e filosófico de liberdade, o
único que consideramos aqui significa apenas isto: autonomia de escolha (SARTRE,
2002, p. 563).
O ato fundamental da liberdade é escolha do meu ser. “É escolha de mim mesmo no
mundo e ao mesmo tempo descoberta do mundo” (SARTRE, 2002, p. 569). Segundo Sartre,
precisamos evitar a ilusão que transformaria a liberdade original em um posicionamento de
motivos e móbeis como objetos, e depois em uma decisão a partir desses motivos e móbeis.
Quando há motivos e móbeis já há posicionamento de fins e, portanto, escolha. A escolha
profunda identifica-se com a consciência que temos de nós mesmos. Esta consciência é não
posicional, é nós-consciência, pois, não se distingue de nosso ser e, uma vez que nosso ser é
nossa escolha original, a consciência de escolha é idêntica à consciência que temos de nós
mesmos. É preciso ser consciente para escolher e é preciso escolher para ser consciente.
Escolha e consciência são uma só e mesma coisa (SARTRE, 2002, p. 569). A consciência é
nadificação e somos sempre presentes na íntegra a nós mesmos.
A liberdade humana é escolha. Ser livre quer dizer escolher. A escolha manifesta que a
realidade humana se constitui como um projeto no mundo. Para a realidade humana, ser
reduz-se a fazer e, uma vez que ela é ação, sua determinação à ação é ela mesma ação, o
mundo revela-se segundo o fim escolhido e o dado não pode explicar a intenção, é preciso que
esta por seu próprio surgimento realize uma ruptura com o dado e mesmo a consciência
existindo a partir do dado, não significa que o dado a condicione. A realidade humana pode
escolher-se como bem entenda, mas não pode não escolher e essa escolha é absurda, não por
carecer de razão, mas porque não houve a possibilidade de não escolher. O projeto livre é
fundamental, porque é meu ser ( SARTRE, 2002).
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4. A responsabilidade da escolha e o compromisso ético
As análises ontológicas realizadas por Sartre desembocam numa ética, uma vez que
conduzem a uma prática transformadora do homem (BORNHEIM, 1991). Os princípios desta
ética podem ser evidenciados através de suas obras que apresentam a liberdade como
fundamento. Quais são os pressupostos e as idéias basilares do projeto ético sartreano?
Sartre entende a ética como um projeto de razão prático-histórica, que conserva o seu
caráter de projeto, inclusive quando se procura fundar, reflexivamente, a consistência racional
de sua opção de vida, porque a reflexão ética fundante deverá dar conta sempre da dialética
entre liberdade e situação no plano existencial de sujeitos contingentes.
A ética apresenta-se como projeto, acentuando, assim, a preocupação sartreana em
oferecer orientações éticas sem tentar elevá-las a uma teoria moral definitiva ou a um sistema
com uma arquitetura acabada.
A responsabilidade da escolha e o compromisso ético estão interligados. A escolha já é
uma ação. Nós somos a nossa liberdade. O sujeito já é a sua escolha. Existe uma profunda
ligação entre o processo existencial e a condição moral do homem, uma vez que este processo
existencial é definido pelas escolhas através de valores que o homem inventa e de fins, que
também inventa e persegue. Assim, vai-se constituindo o processo ético-existencial de
constituição da subjetividade através da sucessão de ações num processo continuo no qual o
sujeito vai-se fazendo ao exercitar a sua liberdade. Toda ação implica invenção de valores e
de fins. O que elege os valores são as nossas escolhas, mostrando
que o conceito de
compromisso e engajamento é a ponte entre a liberdade e a facticidade. A escolha de si é a
escolha do outro. Nós vivemos a nossa condição histórica, que, na verdade, é a ponte entre a
nossa condição existencial e a nossa condição ética.
Existe entre a ontologia e a ética uma conexão que nos diz que, de um lado,a ética não
pode ser deduzida da ontologia, uma vez que esta não pode determinar o método e o conteúdo
da ética e, por outro lado, a reflexão ética requer supostos de índole ontológica e
antropológica. Esta intuição é o fio condutor da reflexão ética de Sartre, resultando daí o seu
projeto ético.
O projeto ético sartreano deve ser compreendido a partir de uma ontologia que busca
demonstrar os fundamentos da antropologia da filosofia idealista da modernidade, com sua
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divinização do sujeito e fundar uma perspectiva que permita ao sujeito libertar-se da sua
neurose de querer ser Deus, isto é, de autofundar-se e auto-justificar-se a partir do seu eu, para
empreender a tarefa de exercitar a sua liberdade com consciência da sua contingência. A
dialética liberdade e contingência é um dos pressupostos fundantes da ética sartreana. O
horizonte da ação ética é constituído pela relação dialética entre liberdade e finitude, uma vez
que a tomada de consciência da finitude significa o despertar da autonomia do sujeito e sua
recuperação como agente livre. Sujeito que, carente de uma interioridade inata, surge a partir
de um processo de subjetivação sustentado num nexo de relação com o mundo e com os
outros. Este sujeito é o próprio ato de liberdade.
O sujeito da ética não é um homem em abstrato, nem um sujeito a priori. Ele é o ser
humano concreto que, em situações precisas, decide optar por realizar-se como sujeito no
sentido indicado. O sujeito moral é precisamente a possibilidade que o homem tem de fazer-se
sujeito. Ser sujeito é uma tarefa de humanização, é fazer-se ético. Este ponto é explicitado por
Sartre com base na relação que podemos estabelecer com um imperativo ou valor ético que
representa minha possibilidade de produzir-me como sujeito, como uma autonomia que se
afirma dominando as circunstâncias exteriores, em lugar de ser dominado por elas.
Outro pressuposto do projeto ético de Sartre é a admissão de que o conflito, como
matriz das relações inter-humanas – cuja fenomenologia encontramos em O Ser e o Nada –
não é ontologicamente inevitável, podendo ser superado através da práxis do reconhecimento
recíproco das liberdades, onde cada sujeito assume sua liberdade admitida como
responsabilidade frente ao outro. Essa idéia resume a possibilidade de uma subjetivação
intersubjetiva na qual se reconhece que “o ser do outro é minha ocupação” (SARTRE, 1983,
p. 552). O reconhecimento intersubjetivo torna possível a subjetivação de sujeitos singulares.
A concepção de liberdade humana é a principal idéia orientativa do projeto ético de
Sartre que, na verdade, é uma proposta de reflexão sobre as possibilidades de uma práxis da
liberdade num contexto de uma história contingente. Isto significa que, se o homem quiser ser
humano, fazendo-se sujeito, deve conquistar-se como ser livre, praticando a liberdade com
atos de libertação das condições fáticas exteriores para ir constituindo-se num sujeito capaz de
determinar por si mesmo seu plano de vida. Estar condenado a ser livre é estar chamado a ser
sujeito, convertendo-se num agente ético. Neste sentido, podemos entender a idéia de que o
homem está condenado à liberdade como a vocação ética do ser humano. A liberdade,
enquanto capacidade de recuperação do humano em cada homem ou enquanto possibilidade
de subjetivação que não seja ao mesmo tempo fonte e finalidade do projeto ético. Não existe
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projeto ético sem liberdade e, sem a prática do projeto ético não existe a realização da
liberdade.
Outra ideia que norteia o projeto ético de Sartre é a de que o sujeito ético é um ser
corporal vivente que necessita cuidar de sua finitude. O processo de subjetivação
intersubjetiva da liberdade individual significa solidariedade, entendida como forma humana
de cuidar da finitude em si mesma e em todos os demais. A realização da liberdade
desvincula-se das exigências individualistas do eu e exige como uma das condições
indispensáveis para o êxito da realização da justiça, que é outra idéia inerente ao projeto
sartreano.
Assim, o imperativo da realização da liberdade complementa-se com a exigência da
responsabilidade. O projeto de ser livre exige uma responsabilidade diante da decisão tomada
sobre a qualidade de nossas relações com os outros, com o mundo e da história que fazemos.
Esta responsabilidade implica na libertação do sujeito de toda moral constituída.
Responsabilidade é invenção de sentido através da práxis de subjetivação.
Ainda outra ideia reitora do projeto ético de Sartre é a de que ele deve partir de uma
relação entre os homens compreendida como mais originária do que a relação instituída pela
política, economia, instituições. Na sua última fase, Sartre evidencia a necessidade de admitir
uma relação primária entre os homens baseada no afeto e na proximidade mútua que se
experimenta, por exemplo, na família e na vizinhança. É a relação que expressa o saber
prático de que o outro também é um ser humano. Sartre denomina esta relação originária de
relação de fraternidade. É o saber prático da origem comum de não causar dano ao outro.
Trata-se de criar o homem-humano, fazendo crescer a humanidade em cada um. Esse homemhumano, que cada um leva em si mesmo e cuja realização é a instituição da fraternidade,
como vinculação ética determinante de todas as demais relações entre os homens.
5. Moralidade, história e engajamento
A relação entre ética e história é compreendida por Sartre de forma complexa e precisa
ser entendida em vários níveis. Se, por um lado, temos a história como contexto situacional do
agente moral que não é algo externo mas parte integrante da dinâmica da ação ética, por
outro, o agente ético age na história e,esta implica a ética como possibilidade de adquirir um
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sentido humano. A ação ética torna capaz de reverter o curso de uma história determinada
pelo conflito e o rompimento da solidariedade. A ética decide o sentido da história (SARTRE,
1983).
Os pressupostos e as idéias estruturadoras do projeto ético de Sartre nos permitem
afirmar que a proposta sartreana aponta para colocar fim à história do desprezo da
humanidade do homem, motivando o homem a agir de tal maneira que não despreze o
humano nele nem no próximo; indica uma ética da fraternidade capaz de dar sentido humano
libertador à história universal, combatendo a exclusão; projeta a existência ética como núcleo
da revolução antropológica, que singulariza o fim da humanidade que, ao mesmo tempo, o
universaliza e o faz fraternal.
Percebe-se no desenvolvimento do pensamento de Sartre uma mudança da sua
concepção de liberdade. Ocorre a passagem de uma liberdade individual para uma liberdade
social, de uma liberdade que bastava a si mesma para a idéia de que era preciso que os outros
também fossem livres. Segundo ele, não é admissível nem concebivel que um homem seja
livre se os outros não o são. É o próprio Sartre que atesta isso em uma de suas entrevistas 6.
A relação estabelecida entre liberdade e engajamento e compromisso, é de suma
importância para a compreensão da existência humana, segundo Sartre.
A relação da liberdade com o engajamento é descrita de maneira clara na sua obra O
Existencialismo é um Humanismo cujo objetivo principal era responder às objeções de várias
tendências que acusavam o existencialismo de ser uma doutrina contraditória, individualista,
quietista, burguesa, subjetivista, materialista. O problema do compromisso encontra-se no
eixo das objeções.
Esta obra de Sartre fala do compromisso entre homens livres, segundo o qual a idéia
de reciprocidade entre consciências livres é enriquecida pela responsabilidade da escolha, em
relação àquele que escolhe e ao outro. Sartre chama esta responsabilidade de compromisso ou
de engajamento.
A nossa responsabilidade é muito maior do que supomos ser, pois ela engaja a
humanidade inteira(...) o homem que se engaja e de que dá conta, ele não é apenas
aquele que escolheu ser, mas também um legislador, que escolhe simultaneamente a
6
Cf. Simone de BEAUVOIR, Entrevista com Jean-Paul Sartre Agosto-setembro de 1974, p. 488. “O ser e o
nada é uma obra sobre a liberdade. Naquela época, eu acreditava, como os velhos estóicos, que somos sempre
livres, mesmo em circunstâncias extremamente desagradáveis que podem desembocar na morte. Nesse ponto,
mudei muito... passei de uma idéia estóica de que somos sempre livres –que era uma noção muito importante
para mim, porque sempre me senti livre, não tendo jamais conhecido situações realmente graves onde já não
pudesse sentir-me livre - à idéia posterior de que há circunstâncias em que a liberdade está acorrentada. Tais
circunstâncias decorrem da liberdade de outrem...” p.490 “ Não é admissível, não é concebível que um homem
seja livre se os outros não o são. Se a liberdade é recusada aos outros, deixa de ser uma liberdade. Se os homens
não respeitam a liberdade de outrem, a liberdade que por um instante surgiu neles é imediatamente destruída”.
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si mesmo e a humanidade inteira, não consegue escapar ao sentimento de uma
profunda e total responsabilidade ...Todo projeto por mais individual que seja tem
um valor universal (...) o homem é responsável por sua paixão (SARTRE, 1987, p.
7).
O compromisso com o outro é uma regra de vida, um projeto assumido independente
de qualquer concepção de homem ou de mundo em vigor. A teoria do compromisso é um dos
elementos de convergência entre os existencialismos cristãos e ateus, pois neste ponto todos
atingem a condição do homem e não os seus fins últimos ( MOUNIER, 1963).
A relação comprometida do homem com o outro é tratada em toda a obra como um
fato inerente à liberdade, pois toda escolha é comprometida por fazer parte do projeto
originário, alinhando o compromisso à responsabilidade que cada um carrega consigo, como
dissemos que a nossa responsabilidade engaja a humanidade inteira. Neste sentido, a escolha
pelo projeto é um compromisso existencial, e fugir deste projeto de ser aquilo que se escolhe
ser, ou seja, do projeto de liberdade, não é possível ao homem. Isto o angustia. Quem foge a
esta responsabilidade cai na má-fé. A gratuidade da existência, da escolha, dos valores
significa que o homem deve, sem apoio nenhum, construir-se a si mesmo e ao outro, pois o
projeto, por mais individual que seja, tem um valor universal. Não existe um ato qualquer de
um individuo que não seja comprometido com toda a humanidade. Este é o primeiro
significado dado por Sartre ao compromisso no qual o homem se realiza, realizando um tipo
de humanidade. Este compromisso universal passa pelo assumir a condição humana com seus
coeficientes de adversidades.
Ao afirmarmos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de
nós se escolhe, mas queremos dizer também que, escolhendo-se, ele escolhe todos os
homens. De fato, não há um único de nossos atos que, criando o homem que
queremos ser,não esteja criando, simultaneamente, uma imagem do homem tal como
julgamos que ele deva ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente
o valor do que estamos escolhendo, pois não podemos nunca escolher o mal; pois o
que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bem para nós se não for para todos
(SARTRE, 1987, p. 6).
A noção de responsabilidade funda a relação entre o homem condenado a ser livre e a
ética do compromisso. A responsabilidade é uma reivindicação das conseqüências da
liberdade. Aquilo que me ocorre é meu acontecimento e estou comprometido com aqueles que
de uma maneira ou outra estão envolvidos também. Por mais insignificante que seja, o fazer
cotidiano do homem é comprometido com o outro. Qualquer escolha deve ser responsável
face a qualquer situação, mesmo não existindo nenhum valor a priori que a defina.
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Se realmente a existência precede a essência, o homem é responsável pelo que é.
Desse modo, o primeiro passo do existencialismo é o de por todo homem na posse
do que ele é de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência. Assim,
quando dizemos que o homem é responsável por si mesmo, não queremos apenas
dizer que o homem é responsável pela sua estrita individualidade, mas que ele é
responsável por todos os homens (SARTRE, 1987, p.6).
A estrutura do projeto existencial sartreano é construída sobre o alicerce da absoluta
autonomia do homem em relação a todos os atos de liberdade. O homem afirma-se como
único ser dos possíveis, sem nada para justificá-lo, não pertencendo senão a si mesmo.
Sartre inscreve o seu humanismo no horizonte da liberdade humana sem Deus, sem
valores, sem leis. Tudo o que o homem é, ele o é fazendo-se a cada momento. O homem é o
seu engajamento. Este engajamento é autônomo.
A base da teoria do engajamento é, portanto, sustentada pela filosofia da existência, na
qual a realização do seu projeto se dá na subjetividade em relação com o outro. O que
significaria o aspecto sócio-político da escolha, se cada um é a sua própria escolha e se cada
um busca em vão a sua própria salvação? Em que se apegaria o homem se não existe nada ou
ninguém que lhe aponte a saída salvadora? Sartre põe no homem a origem e o sentido de
todas as escolhas e a saída para toda e qualquer situação. Neste sentido, compreende-se que
ele não se tenha sentido implicado com o desenvolvimento histórico e tenha justificado sua
existência através da literatura. Sartre toma o caminho da filosofia da contingência, abrindo
espaço para abstrações, negando que as profundas mudanças sócio-politicas do seu tempo
tenham grande poder de influência sobre as escolhas dos indivíduos. Pessoalmente, apoiou os
movimentos anti-fascistas europeus.
A concepção sartreana do aspecto sócio-político do engajamento, apresentada em O
Existencialismo é um humanismo, é uma resposta aos críticos, uma defesa da moralidade
ambígua, uma busca de esclarecimento dos aspectos práticos do engajamento. O engajamento
é um dos passos fundamentais da concretização do projeto existencial do homem enquanto
homem livre, incriado e criador de si e do sentido de todas as coisas, destinado a inventar-se
como único valor supremo, como único construtor da sua história, absolutamente autônomo
para escolher-se.
O engajamento é uma das saídas de Sartre para a compreensão do existencialismo
como uma doutrina otimista, como uma doutrina da ação. É uma conduta do homem
sartreano, algo inerente ao próprio homem.
O engajamento supõe a escolha do projeto originário como um momento fundante, no
qual o homem se capta a si como existência no mundo, como consciência que desvela a
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realidade de si, do mundo e do outro, como singularidade sem nenhuma determinação. Nesta
experiência o homem se descobre como pessoa e não coisa. O homem não é o que é (em-si), é
o que não é (para-si). Como único ser dos possíveis, é responsável por aquilo que é. Único ser
do valor e capaz de realizar-se como ser-no-mundo, descobre-se como sendo temporalidade e
transcendência.
A escolha de si, ao mesmo tempo em que é consciência de ser-no-mundo, é escolha da
liberdade. A liberdade é a textura do para si sempre em questão. É o fundamento de todas as
coisas, mas não tem fundamento. É revelada através dos atos e é condição e destino do
homem que não pode escolher não ser livre. Esta escolha é a projeção para um fim, que é
relativo, finito, pois o homem é um ser destinado a viver seu absoluto no extrato da finitude.
A escolha de si tem implicações éticas. A liberdade é engajamento à medida que participa da
contingência universal de todos os homens.
A escolha de si é escolha do outro, é engajamento. A verdade de si é mediada pela
verdade que o outro desvela . A essência da relação eu- outro é o conflito. Todo projeto
individual tem valor universal e por isso é compromisso, engajamento.
O engajamento como liberdade é concretizado dentro dos limites das possibilidades e
imprevisibilidades humanas. A idéia de história, de valor moral, de autonomia do homem e de
sua ação modificadora da realidade não é sustentada por nenhuma verdade pré estabelecida,
pois isto implicaria na negação absoluta da liberdade do homem e da possibilidade de ele ser
o único responsável por sua existência.
Considerações finais
O humanismo sartreano provoca o encontro do homem consigo mesmo, fazendo-o
pensar-se como realidade totalizadora-destotalizada. O engajamento como ato da vontade de
liberdade é, por um lado, definido, enquanto só o homem mesmo o define e realiza
espontaneamente e, indefinido, enquanto é realizado sem nenhuma determinação exterior a
sua vontade de liberdade. É no reino da subjetividade que se resolve tudo. Na concepção
sartreana ocorre a conversão do homem solitário, livre em sujeito engajado na realidade do
outro. A solidão do para-si, enquanto um sujeito responsável pela escolha, só é possível se são
inseparáveis o eu-mundo e o eu-outro, ou seja, se há implicação entre a minha realidade e a
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realidade do mundo e do outro. O outro torna-se presença necessária para a realização do
projeto do engajamento.
Sartre buscou compreender os canais de compreensão do valor que dignifica a pessoa.
Seu projeto de uma moral da finitude expresso em O Existencialismo é um Humanismo visa
recuperar a pessoa humana dos danos causados pelo dogmatismo, idealismo, legalismo moral.
Desnudou os atos humanos e avaliou-os cruamente.
“Afinal, para que serve a liberdade senão para engajar-se?” (GILES, 1975, p. 289).
A liberdade encerra vários dramas. Toda liberdade de escolha é escolha de alguma coisa.
Sartre coloca-se em defesa do engajamento: devemos nos entregar à ação prática para alargar
o horizonte dos possíveis de cada homem livre. O homem existe com outros homens e, este é
o seu inferno. Minha liberdade é afrontada por outras liberdades. O outro ameaça minha
sobrevivência em um campo de escassez e, no entanto, dele necessito para minha vida – ação
comum contra o prático-inerte. O paradoxo da liberdade se encontra em abrir mão da
liberdade individual, comprometendo-me, engajando-me, participando do grupo para defender
a liberdade individual, uma vez que o compromisso e o engajamento são parâmetros para
garantir a liberdade individual. Eu só me comprometo para garantir a minha liberdade
individual.
A realidade humana é uma liberdade em situação. Cada indivíduo, através da escolha
original e dos seus projetos, é o único responsável pelo que faz de si, a partir do que foi feito
dele. O homem é um ser inacabado, sempre liberdade, atividade projetiva, práxis constituinte.
As teses ontológicas de O Ser e o Nada encontram correspondência na Crítica da
Razão Dialética, em que Sartre demonstra de que modo os homens lutam entre si, ou
conjugam esforços segundo a liberdade de sua práxis, nunca por causa de estímulos sociais ou
econômicos. Tudo o que se passa na atividade humana encontra sua própria explicação na
própria atividade humana.
O empenho de nosso filósofo, ao longo do desenvolvimento de sua filosofia, está na
existência do individuo concreto. Muitas questões continuam abertas, mas é certo que a
incompletude pertence à própria condição do pensamento contemporâneo e os problemas
deixados em aberto por Sartre não são só problemas dele, mas questões que integram a
própria consciência filosófica do nosso tempo, por abarcar a situação humana por inteiro
(PERDIGÃO, 1995).
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A Importância da Escolha: Liberdade e Responsabilidade