PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 1 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 17 h
O GLOBOO
• SUPLEMENTO
GLOBO ESPECIAL
SUPLEMENTO ESPECIAL
Domingo, 9 de outubro de 2011
Rio de Janeiro
Custódio Coimbra
CARIOCA
ABENÇOADO
Idade maravilhosa, cheia de encantos. Aos 80 anos, o
Cristo, redentor e fraterno, derrama generosamente sua
eterna bênção sobre a Guanabara, como se o tempo não
passasse. A estátua de concreto armado revestida de pedra-sabão
— o mesmo material que Aleijadinho usava nos seus profetas —
é hoje querida como um ser de carne e osso. Ganhou alma, alma
carioca. Do alto dos seus 38 metros sobre os 710 do Corcovado,
abraça e protege a cidade olímpica, tentando livrá-la de suas mazelas. Lá de cima, sob o seu olhar, o Rio se mostra grande, silencioso, e todas as diferenças desaparecem. Concebido como um
símbolo da Igreja, hoje ele pertence a todos, de todos os credos.
E, dia após dia, olha por nós, abençoados cariocas.
ESCRITURA DE 1925
PROVA QUE A ESTÁTUA
É NOSSA • Página2
AS DIFICULDADES DA
CONSTRUÇÃO NO TOPO
DO MORRO• Página3
O SIMBOLISMO
DOS BRAÇOS
ABERTOS • Página8
AS PRÓXIMAS
REFORMAS NO
CORCOVADO • Página9
OS DETALHES
E AS CURIOSIDADES
DA OBRA • Pôstercentral
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PÁGINA 2 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 18 h
cristo 80
redentor ANOS
2
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
Reprodução/ Acervo Arquidiocese do Rio
AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
Marc Ferrez/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles
PROJETOS ESPECIAIS
Reprodução/ Acervo Arquidiocese do Rio
PÁGINAS DA
Reprodução/ Acervo Arquidiocese do Rio
escritura em
que o autor do
projeto e
construtor do
Cristo, Heitor
da Silva Costa,
cede os direitos
sobre a obra
para a Igreja
O CORCOVADO, ainda sem o monumento
ao Cristo Redentor, em foto de Marc Ferrez
de 1886: no alto do morro havia um
mirante chamado Chapéu do Sol
ELE É CARIOCA
Em sua edição vespertina das 18h, no dia 12
de outubro de 1931, a notícia da inauguração
da maravilha de 1.145 toneladas, revestida
por pequenos triângulos de pedra-sabão,
ocupava toda a primeira página do GLOBO. A
manchete do jornal reproduzia as palavras
do então cardeal-arcebispo do Rio, dom Sebastião Leme, ao
aspergir água-benta na base do monumento: “Christo reina,
impera e livrará o Brasil de todos os males”. Com a presença de Getúlio Vargas, chefe do governo provisório, a solenidade foi o ponto alto de uma intensa programação, que
começou no dia 4 e só acabou na noite de 12 de outubro,
quando o Cristo foi iluminado, entrando definitivamente
para a história da cidade. Uma das sete novas maravilhas
do mundo, a estátua de 30 metros de altura, erguida em concreto armado sobre um pedestal de oito metros no alto do
Corcovado, 710 metros acima do nível do mar, faz 80 anos
nesta quarta-feira, mais brasileira e carioca do que nunca.
Afinal, o Cristo foi imaginado em 1921 para festejar o centenário da Independência do Brasil (1922), mas o prazo exíguo impediu que ficasse pronto a tempo. Foram cinco anos
para obter autorizações, escolher e detalhar o projeto. E
mais cinco para erguer a estátua. Ele foi construído com dinheiro dos brasileiros, arrecadado através de uma campanha liderada por dom Sebastião Leme, considerado “a alma
do monumento”. Documentos inéditos obtidos pelo GLOBO
e fotos da época mostram que a construção seguiu a concepção do engenheiro e arquiteto carioca Heitor da Silva
Costa. O projeto original, escolhido em concurso promovido pelo Círculo Católico — associação que reunia leigos católicos — apresentava o Cristo segurando o globo terrestre
na mão direita e uma cruz na esquerda, mas foi modificado
pelo próprio Silva Costa, a pedido da Igreja.
Os cuidados da Igreja para
resguardar direitos sobre o
Cristo levou à elaboração de
uma escritura pública. É o documento, assinado por Silva
Costa em cartório, em 26 de junho de 1925, que, segundo a diretora jurídica da Arquidiocese
do Rio, Claudine Milione Dutra,
põe por terra o pleito de parte
da família do escultor francês
Paul Landowski — um dos colaboradores do monumento —
que reivindica na Justiça direitos sobre a imagem do Cristo.
Na cláusula segunda da escritura, o construtor cede os direitos autorais do projeto à Comissão do Monumento ao Cristo
Redentor, sucedida pela Ordem
Arquidiocesana do Cristo Redentor e pela Mitra Episcopal do
Rio. A cláusula seguinte trata da
contratação do escultor: obrigava Silva Costa a obter a transferência dos direitos autorais de
Landowski para a comissão, sob
pena de rescisão do contrato.
— Os direitos morais daqueles que colaboraram na constru-
Em escritura registrada em cartório,
autor do projeto do Cristo cedeu à
Igreja os direitos autorais da obra,
reivindicados também por franceses
da em pequenas peças, permitiu ver seu sonho concretizado.
Símbolo inconteste da cidade
a ampliação da estátua para o
modelo final, reproduzido em 16 do Rio de Janeiro, o Cristo foi
eleito, em 2007, uma das sete
quilômetros de plantas.
Embora o Cristo e o Corcova- novas maravilhas do mundo. E
do pareçam inseparáveis, o mo- hoje figura ao lado da Grande
numento poderia estar hoje no Muralha da China; da cidade healto do Pão de Açúcar, se tivesse lenística de Petra, na Jordânia;
da cidade inca
prosperado a
de Machu Picprimeira su chu, no Peru;
gestão do geda pirâmide de
n e r a l P e d ro
Chichen Itzá,
Carolino Pinto
no México; do
de Almeida,
Coliseu, em
numa assemRoma; e do Taj
bleia do CírcuMahal, na Ínlo Católico. Podia. Há cinco
deria ter sido
anos, ele é
construído aintambém um
da no Morro
santuário.
de Santo Antô— Hoje, o
nio, no Centro.
Cristo integra
Com a escolha
as forças tudo Corcovado, Heitor da Silva Costa, o construtor
rística, ecolóo mirante cogica e religionhecido como
Chapéu do Sol, que ficava no al- sa — diz o padre Omar Rapoto do morro, precisou ser rema- so, reitor do santuário.
Para o arcebispo do Rio, dom
nejado para uma área próxima.
Na década de 40, a estrutura foi Orani Tempesta, 80 anos depois
de sua inauguração, a simbolodesmontada e removida.
Nos mapas do século XVI, o gia do monumento mudou:
— Uma coisa era o período
morro onde foi erguido o Cristo
era chamado de Pináculo da pós-Primeira Guerra Mundial.
Tentação, termo criado por na- Hoje, há preocupação com a
vegadores em alusão ao monte violência, a inconstância. No
onde o demônio teria tentado Je- dia 12, vamos recordar que,
sus pela segunda vez. O nome neste mundo de tantas conatual surgiu no século XVIII. O trovérsias, de tamanha viopadre lazarista francês Pierre lência, temos alguém que é
Marie Boss, que aportou no Rio colocado no alto do Corcovaem 1859, foi o primeiro a lançar a do, num sinal de acolhimento,
ideia de um Cristo no Corcova- de vida, de salvação e de
do. No livro “Corcovado, a mon- preocupação com o outro. ■
tanha de Deus”, Jorge Scévola de
Semenovitch conta que, nos úlO GLOBO NA INTERNET
timos anos do Império, Boss leConfira o especial sobre os 80
vou a sugestão à princesa Isabel.
anos do Cristo
oglobo.com.br/rio/cristo-80-anos
O padre morreu em 1916 sem
“
Se são grandes as
dificuldades que
enfrentamos, maior
será a fama dessa
obra colossal.
A PRIMEIRA PÁGINA do GLOBO no dia da inauguração do Cristo
ção estão preservados. Porém,
os outros direitos foram cedidos
à Arquidiocese — diz Claudine.
O Cristo é resultado de um
trabalho de equipe. Silva Costa é
autor do projeto e construtor.
Os desenhos levam a assinatura
do pintor e gravurista Carlos
Oswald. O engenheiro Heitor Levy foi o mestre geral. Pedro Fernandes Vianna da Silva, homem
de confiança da igreja, ficou responsável pela fiscalização.
Em 1924, com desenhos, estudos e maquete nas mãos, Silva
Costa esteve na Alemanha, na
Itália e na França. Optou por
contratar Landowski. Ainda em
Paris, escolheu Albert Caquot
para os cálculos estruturais.
Esculpidos em tamanho natural por Landowski na França, os
moldes da cabeça e das mãos foram enviados ao Brasil em pedaços. No sítio de Levy, em São
Gonçalo, foram transformados
em peças de concreto. Para Landowski, foi encomendada ainda
uma maquete de gesso com quatro metros de altura, que, corta-
a
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 3 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 18 h
AS ESCADAS internas
usadas para a manutenção
do Cristo: monumento,
construído em concreto
armado e revestido com
pedra-sabão, tem 38 metros
de altura, o equivalente a
um prédio de 13 andares
cristo 80
redentor ANOS
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DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
VIA CRUCIS
ATÉ VIRAR
MARAVILHA
Polêmicas, mudanças no projeto e
dificuldades para erguer estátua no
alto do Corcovado marcaram a obra
Custódio Coimbra
Uma obra de engenharia, arquitetura e escultura.
Nessa ordem. Assim o arquiteto e engenheiro Heitor da Silva Costa, autor do projeto e construtor,
destacava a importância do rigor matemático na
obra do Cristo Redentor, cuja altura (38 metros,
com o pedestal) corresponde a um prédio de 13
andares. Em seus escritos, Silva Costa classifica o projeto como
ousado, tanto pela complexidade como pelo local, sujeito a fortes
ventos e descargas elétricas. A parte mais difícil, disse ele, foi a dos
braços, já que não havia no alto do morro área suficiente para
apoiar os andaimes. O platô tinha 15 metros de largura, metade da
distância entre as extremidades dos dedos. Apesar das condições
adversas, nenhum operário morreu durante a obra.
Sem falar que, na época, o acesso rodoviário ao Corcovado
não ia além das Paineiras. Não fosse o trenzinho, que entrou em
operação em 1885, o material, os engenheiros e os trabalhadores não teriam como subir.
O corpo e os braços do Cristo foram considerados por Silva
Costa como obra de engenharia e arquitetura; e as mãos e a cabeça, como escultura. A dureza do concreto armado foi quebrada
pelo revestimento em pedra-sabão, material usado por Aleijadinho em suas obras. A estátua é coberta por pequenos triângulos
(tesselas), que, juntos, formam um grande mosaico. O autor do
projeto buscou inspiração em duas fontes que viu na galeria Arcade, na Champs-Elysées, em Paris.
A pedido de dom Sebastião Leme, o monumento, que é oco, ganhou ao longo da obra um coração, que pode ser visto tanto por
fora como por dentro da estátua, outro detalhe que humanizou a
imagem. Tamanha importância foi dada ao coração que ele se tornou a única parte do monumento revestida internamente.
— A verba limitada definiu a
opção pelo concreto armado. O
método, aliado à concepção arquitetônica da estrutura, com
pilares, vigas e lajes, casca de argamassa armada e cabeça e
mãos pré-moldadas, viabilizou a
confecção do monumento. Essa
união de fatores foi o determinante para a resistência e a longevidade da estátua. Somado a
isso, o revestimento em pedrasabão contribui para a proteção
da estrutura. O custo de manutenção também é baixo — diz o
engenheiro Maurício Brayner,
que cursou MBA em gerência de
projetos na Fundação Getúlio
Vargas (FGV), tendo o Cristo como objeto de estudo.
A cada dia, Brayner observa
um detalhe novo no Cristo:
— Frequentemente me pergunto como eu faria essa obra
se tivesse recebido hoje a encomenda. As soluções que me vêm
à cabeça não fogem em quase
nada às utilizadas. Usaria a grua,
o elevador de carga, o plano inclinado (instalados no canteiro
de obras). Talvez utilizasse uma
bomba para levar o concreto até
o alto do morro. Mas provavelmente ficaria mais caro.
Além da difícil execução, a
obra foi marcada pela polêmica.
Elas começaram logo após o
concurso do Círculo Católico,
em que o projeto de Silva Costa
— o Cristo segurando na mão
direita o globo terrestre e, na esquerda, uma enorme cruz —
saiu vencedor. Foram derrotadas as propostas de Adolpho
Morales de Los Rios — uma capela sobre a qual ficava a imagem de Cristo de braços abertos — e de José Agostinho dos
Reis — uma imensa cruz, com
uma capela na base.
Escolha feita, obter a cessão
do terreno da União, no alto do
Corcovado, era o próximo passo. Apesar das críticas de protestantes e de representantes de
outras religiões, o então ministro da Fazenda, Homero Baptista, autorizou a transferência. Depois, voltou atrás, baseado em
parecer do então consultor-geral da República, Rodrigo Otávio, que alegava ser inconstitucional privilegiar uma religião.
Firme em seu propósito, a comissão encarregada de erguer o
monumento encomendou pareceres jurídicos a especialistas.
Numa outra frente, mulheres católicas lideraram um abaixo-assinado com 20 mil nomes em defesa da estátua. O documento foi
entregue ao então presidente
Epitácio Pessoa. Em seu livro
“Corcovado, a conquista da
montanha de Deus“, José Scévola Semenovitch conta que Pessoa se convenceu de que podia
aprovar a obra, pois os católicos
saíram na frente. “Se um representante de outra religião tivesse pedido antes a licença para a
construção de um de seus símbolos no alto do Corcovado, teria sido dada, do mesmo modo,
a autorização”, diz Scévola.
A autorização foi concedida
em fevereiro de 1922 e, em outubro do mesmo ano, lançada a
pedra fundamental da obra. Um escárnio, uma injúria. Obra da
ano depois, uma maquete do mais baixa vulgaridade, ela
projeto exposta na Chapelaria constituiria, pelo decorrer dos
séculos, uma
Wa t s o n , n o
verdadeira
Centro, abriu
imoralidade”,
nova polêmiafirmou ele.
ca. Para o poOs ânimos
vo, ele virou “o
se acalmaram
Cristo da boquando dom
la”, numa aluLeme pediu a
são ao globo
Silva Costa que
terrestre. As
fizesse um nocríticas vieram
vo projeto, no
também da
qual o Cristo
academia. Flefosse visto de
xa Ribeiro,
longe, e apreprofessor da
sentasse conEscola Nacioteúdo simbólinal de Belas
Artes, escre- Heitor Levy, mestre-geral das obras co mais forte.
Com o novo
veu artigo no
projeto pronto,
jornal “O Paíz”,
pedindo a dom Leme que não era preciso registrá-lo na Escola
permitisse a obra: “Como ex- Nacional de Belas Artes. Mais
pressão, a figura do Cristo é um uma dificuldade. A comissão en-
“
A inclemência do
vento era de desafiar
o mais destemido.
Ninguém poderia se
manter de pé sem se
agarrar a um esteio.
Reprodução/ Acervo Eloy D’Ecanio
carregada de analisar o requerimento de Silva Costa não concedeu o registro, e um dos três
membros, Morales de Los Rios
— que também concorrera —
acusou Silva Costa de plágio.
Alegou que a proposta vencedora fora inspirada no Cristo dos
Andes (inaugurado em 1904, na
fronteira entre a Argentina e o
Chile), e que a nova concepção
era uma adaptação do projeto
dele, apresentado no concurso.
O registro acabou sendo dado
por outra comissão.
Mais uma polêmica surgiu, e
bem no dia da inauguração. Estava tudo planejado para o Cristo ser aceso da Itália por Guglielmo Marconi, inventor do telégrafo sem fio. Uma das versões sustenta que o sinal teria
chegado fraco ou nem chegado.
E que o engenheiro Gustavo
Corção teria sido encarregado
Reprodução/ Acervo Eloy D’Ecanio
OPERÁRIOS se equilibram nos andaimes
durante a construção do monumento no alto
do Corcovado (ao lado); acima, amostra
do revestimento de pedra-sabão distribuída
como suvenir na festa de inauguração, em
12 de outubro de 1931
de ampliá-lo. Mas o historiador
Orlando de Barros, professor
da Uerj, garante que Marconi
conseguiu iluminar o Cristo a
partir de uma estação de rádio
em Coltano, pequena vila próxima a Pisa, na Itália. A informação consta de um capítulo do livro que Orlando lançará sobre
italianos ilustres no Brasil. Marconi teria acendido 16 refletores às 19h15m.
— No dia choveu, e o céu estava encoberto. O sistema funcionou. O problema foi que
quase não se viu o Cristo —
afirma o professor.
Polêmicas à parte, não fosse a
iniciativa de dom Leme de criar
a Semana do Monumento, de 2 a
9 de setembro de 1923, para coletas nacionais, o Cristo não teria saído do papel. Em circular
aos vigários, ele deu a orientação: “É preciso que se apele para
todas as bolsas e não nos contentemos com o vintém sempre
generoso do nosso grande e pobre povo”. Eles deveriam buscar
contribuições daqueles que pudessem doar quantia não inferior a dez mil réis. E deveriam levar o pedido pessoalmente.
Como só a metade do dinheiro foi arrecadada, foi necessária uma nova campanha.
O Cristo custou 2.500 contos
de réis, bem menos do que os
60.000 contos gastos com a Estátua da Liberdade (feita em
estrutura metálica), que, desde 1886, está na entrada do
porto de Nova York.
É difícil saber hoje quanto
custou o Cristo. O professor
Moacyr Alvim, da FGV, estima o
gasto entre R$ 4,85 milhões e R$
11,46 milhões, valores obtidos
por comparações com produtos
da cesta básica, pois, na época
da construção, não havia índices para medir a variação de
preços. O economista André
Furtado Braz, também da FGV,
chegou a R$ 9,5 milhões, após a
conversão de moedas e contas,
levando em consideração índices de inflação e de preços. ■
O GLOBO NA INTERNET
VÍDEO Assista ao vídeo com as
imagens do interior da estátua
oglobo.com.br/rio/cristo-80-anos
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
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redentor ANOS
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DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
Acervo Eloy D’Ecanio
O AUTOR do
projeto e
construtor Heitor
da Silva Costa,
com a neta Maria
Helena no colo
O MESTRE DE OBRAS Heitor Levy morou no Cristo
Reprodução da internet
Acervo família Vianna
Acervo Bel Noronha
OS CRIADORES
O FISCAL Pedro Fernandes Vianna da Silva
A grandiosidade do monumento e as dificuldades que tiveram
de ser vencidas para a execução da obra mudaram a vida
dos “criadores” do Cristo e de
suas famílias, que até hoje guardam, como relíquias, documentos, cartas, fotos, livros e recortes de jornais. Tão intenso
foi o seu envolvimento com o trabalho que o
engenheiro judeu Heitor Levy, mestre-geral da
obra, converteu-se ao cristianismo e concretou no coração do Cristo uma garrafa, onde
pôs um pergaminho com os nomes de seus ascendentes e descendentes. Já o engenheiro e
arquiteto Heitor da Silva Costa, autor do projeto e construtor, dedicou um livro de poemas
ao “Christo Redemptor”.
Silva Costa gostava de escrever. Em três
livros e em textos da edição especial da revista “O Cruzeiro”, de 10 outubro de 1931, o
engenheiro narra detalhes da construção.
— Ele conseguiu fazer uma obra extremamente complexa, cujo resultado final é de uma
simplicidade absurda. Isso é um mérito — orgulha-se Maria Izabel Seabra de Noronha, a cineasta Bel Noronha, bisneta de Silva Costa.
O baú dos Silva Costa é volumoso. Na pesquisa sobre o bisavô, Bel encontrou até originais de movimentos de caixa e balancetes da
Comissão do Monumento ao Cristo Redentor,
informando sobre pagamentos efetuados, compras, donativos e saldos depositados em bancos. Os nove anos de pesquisa resultaram em
dois documentários e numa exposição. Agora,
ela está concluindo o livro “Redentor — de braços abertos”, que será lançado em dezembro.
O que Silva Costa imaginava era levado para
o papel pelo pintor e gravurista Carlos Oswald,
católico fervoroso que nasceu em Florença, na
Itália, e aos 32 anos mudou-se para o Brasil. Foram desenhos e mais desenhos do primeiro
projeto e, depois, da concepção definitiva do
Cristo. Alguns dos estudos estão no acervo de
Maria Isabel Oswald Moreira, uma das três filhas do artista, que teve também quatro filhos.
— Papai pensou em fazer uma bainha grega na túnica do Cristo, que não foi aprovada
— revela dona Maria Isabel, de 92 anos.
Quando o pai trabalhou nos desenhos do
Cristo, Isabel era uma menina. Mas ela se recorda de Oswald falar sobre a importância do monumento para o Rio e de relatar a visita que fez
ao interior da estátua, durante a construção:
— Ele esteve na ponta de uma das mãos e
ficou com medo, porque era muito alto.
No dia da inauguração, Isabel estava na casa
da família, em Petrópolis, e perdeu a festa. Ela
resume numa só palavra as visitas que fez depois ao Corcovado: deslumbramento.
— O Cristo é muito o papai. É muito o desenho dele — acrescenta, emocionada.
Heitor Levy, que nasceu em
Trieste, na Itália, vindo para o
Rio em 1892, não arredou pé do
Corcovado ao longo dos cinco
anos de obras. Cinco anos, aliás,
em que operários e engenheiros
viveram momentos de perigo.
Apesar das dificuldades enfrentadas, relatadas numa carta
escrita por Levy em 1931, não
houve baixas durante a construção. Mas o próprio engenheiro
viu a morte de perto. Ao termi-
nar o revestimento de um dos
braços, um caibro sob seus pés
se rompeu: “De passagem para
o abismo, sou acolhido por um
braço generoso e possante, que,
com risco de acompanhar-me,
me detém na queda fatal. Os
meus pés procuraram em vão
um ponto de apoio. Nesse estado precário e desatinado, grito
em vão para que me larguem e,
depois de grandes esforços e
peripécias, conseguiram me sal-
Acervo da família Oswald
Reprodução do livro “O Cristo do Corcovado”
“
O ESCULTOR Paul Landowski fez a cabeça e as mãos
Como ninguém pode ir a Paris
sem subir ao alto da Torre
Eiffel, como não se pode entrar
no porto de Nova York sem se
avistar a Estátua da Liberdade,
não se poderá falar dentro em
breve da cidade do Rio sem
fazer referência ao Cristo.
O PINTOR e gravurista católico Carlos Oswald, num autorretrato
Acervo das famílias reúne
documentos, fotos, cartas
e até diários que revelam
histórias curiosas, como a
do mestre de obras que pôs
o nome dos parentes numa
garrafa e a concretou no
coração do Cristo Redentor
var”, conta Levy na carta.
Levy tinha o hábito de escrever atrás das fotos e fez anotações na edição especial de “O
Cruzeiro”. Sobre uma imagem
da festa de inauguração, puxou
uma seta e registrou: “Este operário me salvou quando caí do
andaime”. Além disso, assinalou
na revista modificações que fez
no projeto. Caso de uma intervenção para manter a cabeça do
Cristo ligeiramente inclinada.
O CALCULISTA Albert Caquot: colaboração francesa
Bem guardada também está
a planta do alto do Corcovado,
que teve de ser desenhada pelo engenheiro, já que o local
não fora mapeado pela prefeitura. O desenho original do
canteiro de obras, idealizado
por Levy, é outra relíquia, assim como pedras-sabão distribuídas no dia da inauguração.
— Foram cinco anos de dedicação, fé, paixão, amor e coragem — resume Eloy Homero
Heitor da Silva Costa, autor do projeto
Pinho D’Ecanio, bisneto de Levy que planeja montar um site
sobre o bisavô.
Como membro da Comissão
do Monumento ao Cristo Redentor, o engenheiro carioca Pedro
Fernandes Vianna Filho foi designado para uma função de inteira confiança da Igreja: a de fiscalização. Era ele que se responsabilizava, junto à Arquidiocese,
por resultados do trabalho, certificação de serviços prestados
e liberação de pagamentos.
— A participação de meu avô
foi de alma, de envolvimento total na construção desse monumento colossal — diz o neto
Aloysio Vianna da Silva.
Filho do fiscal, o engenheiro
Oscar Vianna da Silva também
entrou para a história do monumento. Apaixonado por cinema,
ele filmou numa Pathé Baby, máquina movida a manivela, as várias etapas da construção.
— Tio Oscar esteve presente
nos momentos mais importantes da obra, fazendo um trabalho amador — conta Aloysio.
Em seu diário, Paul Landowski, escultor francês de origem polonesa, também deixou
registrado o dia a dia em seu
ateliê de Paris. A cópia do documento, obtida e registrada
em cartório por Bel Noronha,
revela o valor acertado para
Landowski fazer os moldes em
gesso da cabeça e das mãos,
além da maquete de quatro
metros: 130 mil francos.
A firma francesa Pernald Considère et Caquot não existe
mais. Porém, a exemplo das famílias brasileiras, a École Nationale des Ponts et Chaussées, onde estudou o calculista do Cristo, Albert Caquot — um dos
mais respeitados profissionais
da Europa — ainda guarda relíquias como um rascunho dos
cálculos do monumento e uma
carta dele para Silva Costa. ■
O GLOBO NA INTERNET
VÍDEO Famílias falam das
contribuições dos antepassados
para a obra do Cristo. Assista
oglobo.com.br/rio
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 5 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 19 h
cristo 80
LYGIA MARIA:
“Eu escrevia
redentor ANOS
uma porção de
5
nomes, com
caneta, atrás
das pedrinhas”
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
Ana Branco
A professora de inglês e tradutora Maria Tereza
Sodré tinha apenas 10 anos quando embarcou
no trenzinho do Corcovado para assistir à festa
de inauguração do Cristo Redentor, acompanhada da família. Ela era uma criança, mas ainda se
recorda das plataformas da estação lotadas e da
pomposa cerimônia no alto do morro:
— Foi uma festa linda, emocionante.
Filha do cunhado do construtor, desde pequena ela ouvia falar da complexidade da obra, cuja execução acompanhou a partir das ruas do Leme, onde morava:
— É uma obra de engenharia maravilhosa, arrojada. Um trabalho
complicadíssimo. Os braços vão além do morro. Não havia onde botar os andaimes para sustentar a obra. Não sei como conseguiram
executar o serviço sem ter um suporte na terra para segurar os braços. Do ponto de vista da engenharia, é uma das coisas mais extraordinárias que já vi — ressalta Maria Tereza, aos 90 anos.
Após a inauguração do Cristo, ela perdeu as contas do número de visitas ao Corcovado. A explicação: o marido era advogado de empresas multinacionais e cabia a ela acompanhar
mulheres de estrangeiros em passeios pelo Rio.
MOSAICO DE
LEMBRANÇAS
Maria Tereza esteve na
festa de inauguração, e
Lygia ajudou a colar os
pequenos triângulos de
pedra-sabão que
revestem o monumento
MARIA TEREZA
Sodré tinha
dez anos na
época da
inauguração:
“Foi uma festa
linda,
emocionante”
Gabriel de Paiva
— Levei muitas senhoras canadenses e americanas ao Cristo. Era programa obrigatório. E
a vista do Rio, lá do alto, é uma
beleza — diz Maria Tereza.
Ela lembra que, na época da
construção, senhoras da sociedade se reuniam numa casa paroquial vizinha à igreja de Nossa Senhora da Glória, no Largo
do Machado, para colar pequenos triângulos de pedra-sabão
num papel especial, que era
aplicado no revestimento da
estátua. Mas ela era pequena
para participar do trabalho.
A caçula do grupo que passava as tardes colando pedrinhas
era dona Lygia Maria Ávila da
Veiga, na época com 16 anos.
Ela ia com a mãe:
— Eu escrevia uma porção de
nomes, com caneta, atrás das
pedrinhas. Coloquei nomes em
penca, mas não o meu. Escrevia
e colava uma pedrinha perto da
outra. Tinha que encaixar bem
direitinho, para não entrar água.
Fazia isso com uma facilidade
enorme, bem depressa.
Apesar de ser a única adolescente, Lygia se divertia:
— Era animado. Cada senhora levava alguma coisa para comer, e todo mundo conversava.
No dia 12 de outubro de 1931,
Lygia assistiu ao acendimento
dos refletores de um lugar privilegiado: a Casa de Saúde São
José, no Humaitá, onde o único
irmão, Fernando, estava internado, já que tinha sido operado
de apendicite na véspera.
— Minha mãe saiu do quarto
e, quando voltou, não nos encontrou. Ela levou um susto danado, com medo de que o Fernando tivesse saído andando.
Havia um enfermeiro, um alemão fortão, que pegou meu irmão no colo e o levou para ver
a iluminação. Vimos tudo de
baixo. Foi uma beleza. Ficou
claro logo. Para mim, foi muito
importante. Eu me lembrei das
coisas que tinha feito aqui embaixo, das pedrinhas que eu tinha colado — conta Lygia, orgulhosa de seus 96 anos. ■
O GLOBO NA INTERNET
VÍDEO Testemunhas contam
histórias sobre o Cristo. Assista
oglobo.com.br/rio
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cristo 80
redentor ANOS
6
UM ZEPPELIN cruza o céu da
Glória no início da década de
30; no sentido anti-horário,
cena do clássico “Limite”;
capa de “O País do Carnaval”,
de Jorge Amado; Noel Rosa; o
prefeito Pedro Ernesto; e a
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 6 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 19 h
Augusto Malta/ Acervo Museu da Imagem e do Som
PROJETOS ESPECIAIS
bela Carmen Miranda
Arquivo
Reprodução da internet
Divulgação/ Annemarie Heirich
Divulgação
NO RIO DE 1931,
Arquivo
NOEL E ZEPPELINS
Numa cidade cada vez mais cosmopolita, cariocas sambavam ao som de Noel Rosa, grudavam os ouvidos no
rádio e se rendiam ao talento da jovem Carmen Miranda, enquanto dirigíveis cruzavam os céus da cidade
O Cristo Redentor surgiu, em 1931, junto com
uma nova era para o Rio de Janeiro. Desde o ano
anterior, o então Distrito Federal era o centro da
ebulição política causada pela Revolução de 30.
Mas Getúlio Vargas não é o único responsável pelas mudanças. No campo social, o prefeito Pedro
Ernesto, que assume o cargo de interventor em setembro, promove profundas transformações nos campos da educação e da
saúde. O jeito afrancesado da cidade dá lugar a um estilo mais
cosmopolita. No rádio, uma jovem de 22 anos chamada Carmen
Miranda começa a chamar atenção.
O ecletismo dominante na arquitetura da República Velha cede
espaço ao art déco e ao modernismo. A aplicação do concreto armado facilita a construção de arranha-céus pela cidade. No campo
industrial, o Rio já perde para São Paulo, mas conserva o prestígio
político, como conta o historiador Orlando de Barros, professor da
Uerj. Um filme lançado dois anos depois da inauguração do monumento resume o espírito da época: “Voando para o Rio”, um
clássico de Hollywood, usa a cidade como cenário para a estreia
da dupla Ginger Rogers e Fred Astaire (pela primeira vez juntos no
cinema). Num dos números do musical, mulheres dançam em cima de aviões, tendo a paisagem carioca como pano de fundo.
— O Rio não era mais a cidade portuguesa do período colonial,
nem a francesa do Pereira Passos. Era uma cidade cosmopolita,
uma cidade do mundo, como era Nova York — diz Alberto Taveira,
arquiteto do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).
Na medida em que o Brasil rural ficava para trás, o Rio se urbanizava. O IBGE não tem dados da população na década de 30.
Mas, em 1920, os habitantes do então Distrito Federal somavam
pouco mais de um milhão: 1.157.873. Em 1940, já eram 1.764.141 —
um aumento de mais de 600 mil, ou de 52% em duas décadas.
NO DIA DA
inauguração do
monumento,
aviões da
Esquadrilha da
Fumaça fazem
exibições sobre
a estátua do
Cristo Redentor
Acervo do colecionador Fernando França Leite
Orlando de Barros afirma
que em 1931 o Rio vivia o clima
renovador da Revolução de 30.
Na administração do Distrito
Federal, Pedro Ernesto empreende a ampliação das redes públicas de saúde e educação.
— Ele (Pedro Ernesto) era médico de profissão e achava que a
saúde pública deveria ser tarefa
do estado. Ele tinha uma sensibilidade social muito grande,
construiu escolas em favelas —
conta o professor da Uerj.
Ao longo da década, também houve avanços na distribuição de eletricidade e nos
meios de transporte, que ganharam mais linhas de bondes. Em 1937, os trens suburbanos foram eletrificados.
A cidade despertava a curiosidade de estrangeiros, que
aproveitavam o desenvolvimento dos transportes para viajar.
Pouco antes da inauguração do
Cristo Redentor, o alemão DO-X,
maior hidroavião do mundo,
com três andares, fez escala no
Rio. Esquadrilhas italianas também cruzavam os céus. Como
os aviões, os zeppelins alemães construído em Santa Cruz para os dirigíveis, que fizeram
eram motivo de excitação.
Velocidade é uma das pala- dezenas de viagens ao Rio envras mais usadas para definir tre 1930 e 1937, como conta o
poeta Alexei Bueno, ex-diretor
a época.
— A aviação era heroica e do Inepac.
Na arquiteespetacular,
tura, um dos
altamente
símbolos da
performática.
década é o PaSignificava
lácio Gustavo
um prestígio
Capanema,
enorme para
um dos maros países —
explica Orlan- Por sobre o monumento cos do modernismo brasido de Barros. voltejam os aviões.
leiro, consNa edição
truído entre
de 3 de setem- É a homenagem
1936 e 1945.
bro de 1931, O das nossas águias,
— O Rio de
GLOBO noti- que deixaram o ninho,
1930 é uma
ciava: “De
capital onde
F r i e d r i s - pela madrugada, para
chshafen ao saudarem o Rei do Céu. desaparecem
os símbolos
Rio em cinco
O GLOBO de 12-10-1931
da Belle Épodias!”. O Graf
que, como a
Zeppelin, junto com o Syndicato Condor, arquitetura eclética e a literabatera todos os recordes com tura pré-modernista, substiuma viagem entre a Alemanha tuídas pelo dominante art dée o Brasil — de dirigível até co, pela arte e literatura moRecife, e de avião de Recife ao dernas e, enfim, pela arquiteRio. Um hangar foi depois tura moderna, cujo símbolo
“
maior é o magnífico edifício
do Ministério da Educação e
Saúde, atual Palácio Capanema — resume Bueno.
Os anos 30 começam com a
onda do rádio. Em 1931, Carmen Miranda, aos 22 anos, já
firmava seu nome como artista nacional. No ano anterior,
ela estourara com “Taí”.
— Os anos 30 são diferentes também por causa de uma
novidade, introduzida na década anterior, que se torna
avassaladoramente importante, que é o rádio — destaca
Orlando de Barros.
Mesmo depois do carnaval de
1931, cariocas continuariam
cantando o maior sucesso dos
dias de folia: “Com que roupa”,
de Noel Rosa. Já a literatura ganharia no mesmo ano a publicação do primeiro romance de Jorge Amado, “O País do carnaval”.
O filme “Limite”, de Mário Peixoto, exibido pela primeira vez em
17 de maio de 1931, no Cinema
Capitólio, na Cinelândia, entraria para a galeria de obras-primas do cinema nacional. ■
DE VOLTA, A ESQUADRILHA DA FUMAÇA
Festa dos 80 anos terá coro de vozes cantando ‘Ave Maria’ às 18h
Quem for assistir ao “Show
da Paz”, em comemoração aos
80 anos do Cristo Redentor, na
noite do dia 12, no Aterro do
Flamengo, deve vestir branco.
O pedido é dos organizadores
da festa. Chegar na hora marcada também é importante. O
reitor do Santuário do Cristo
Redentor, padre Omar Raposo,
avisa que o evento, num palco
armado junto ao Monumento
aos Mortos da Segunda Guerra
Mundial, começará às 18h em
ponto, com um coral de 500 vozes cantando “Ave Maria”.
Estão confirmadas 30 atrações, entre elas a cantora de jazz americana Stacey Kent. Vão
●
participar ainda do evento Beth
Carvalho, Elba Ramalho, Fernanda Abreu, Leila Pinheiro,
Marcos Valle, Miúcha, sambistas da Mangueira e da Beija-Flor
e Zeca Pagodinho, entre outros.
O padre Omar também vai cantar e tocar piano. O show será
gravado e distribuído pela gravadora EMI Music nos formatos
CD, DVD e blu-ray.
No alto do Corcovado, os
festejos vão começar ainda na
véspera do dia do aniversário,
às 22h, com uma vigília de 80
jovens da Pastoral da Juventude. Às 8h do dia 12, haverá
uma bênção aos visitantes.
Como na inauguração do mo-
numento, há 80 anos, aviões
da Esquadrilha da Fumaça vão
sobrevoar o Cristo Redentor.
Ainda no alto do morro, haverá missa celebrada pelo arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, e até um bolo com oito
metros de altura será repartido com os visitantes. No evento, serão inaugurados os bustos de Heitor da Silva Costa,
autor do projeto e responsável
pela obra do Cristo, e de dom
Sebastião Leme, arcebispo do
Rio que levou adiante a ideia
de construção da estátua.
Como parte das comemorações, hoje, a partir das 8h30m, é
a vez de a Praça da Apoteose, no
Sambódromo, receber o encontro “O Espírito sopra onde
quer”. Uma réplica do Cristo Redentor, medindo três metros de
altura, permanecerá no palco
durante todo o evento. Para entrar, basta levar um quilo de alimento não perecível. O encontro terá as presenças de padres
do Rio e do sacerdote da Canção Nova, padre Roger Luís. Haverá pregações, shows e a celebração de missa, às 16h30m,
presidida por dom Orani. ■
a
O GLOBO NA INTERNET
Veja a programação completa das
festividades
oglobo.com.br/rio
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 8 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 20 h
cristo 80
redentor ANOS
8
O CRISTO com a Lagoa ao fundo: “É o homem com a sua mais ampla
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
envergadura, pronto para o abraço”, diz o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho
Ivo Gonzalez/ 8-5-2007
Os olhos abertos, a face serena levemente inclinada para baixo, os braços estendidos. O
Cristo foi concebido tendo como simbologia a
redenção. Mas, do alto do Corcovado, o monumento em art déco — estilo que floresceu
depois da Primeira Guerra Mundial com uma
filosofia ligada à felicidade — parece olhar ternamente e
abraçar cariocas e visitantes. A imagem do acolhimento
acabou se sobrepondo à ideia de salvação, representada pela cruz, e ultrapassou as fronteiras do catolicismo.
— As mãos espalmadas significam a disposição para dar,
acolher, proteger. Os olhos abertos representam a permanente atenção sobre o Rio, sua gente e os que se aproximam
do Rio, uma vez que seu olhar se dirige à entrada da Baía de
Guanabara. Sua posição nas alturas é icônica: ele está acima
de tudo e de todos, garantindo-nos a vida e a provisão infinita de paz e harmonia. Em síntese, o Cristo Redentor é o
cartão-postal e o cumprimento de boas-vindas ao Rio, ao
Brasil — diz a semióloga Darcilia Simões, coordenadora do
Laboratório Multidisciplinar de Semiótica da Uerj.
Ao substituir o projeto original pelo atual modelo, o engenheiro e arquiteto Heitor da Silva Costa manteve a ideia
de redenção que constava da primeira proposta: “A cruz foi
armada, em meu segundo projeto, pelo tronco ereto e pelos
braços horizontais; desta forma, temos a cruz formada por
tua imagem, Jesus, e o mundo tem-no a seus pés, na cidade
e no oceano imenso a se perder de vista”, disse Silva Costa
num de seus escritos.
Para o arcebispo do Rio, dom
Orani Tempesta, hoje, assim como na época da construção, o
Cristo Redentor ainda lembra a
cruz, que é um sinal de salvação. No entanto, ele concorda
que os braços abertos acabaram mais caracterizados como
símbolo de acolhimento.
— Ser acolhedor faz parte
das culturas carioca e brasileira. Acolhemos todos que vêm
aqui — destaca dom Orani.
Reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo lembra que, embora em sua origem
os braços abertos do Cristo representem a cruz, a imagem —
que tem as chagas nas mãos —
não sugere sofrimento:
— O Cristo crucificado também é o Cristo ressuscitado.
Então, já há a vitória. Cristo
não está mais na cruz. Ele ressuscitou. A mensagem da ressurreição é a mensagem da esperança, da vitória, da certeza,
do acolhimento e do amor. Porque Cristo viveu e morreu de
braços abertos. A vida dele foi
uma vida machucada pela bondade, acolhendo a todos, recebendo a todos. No alto da cruz,
também estava de braços
abertos, e depois na ressurreição. A redenção é o movimento após a crucificação. Aliás,
toda crucificação é redenção.
A teóloga Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, afirma que os braços abertos —
que representam o Cristo ressuscitado — imprimem perfeitamente a mensagem de acolhida
e reconciliação entre o céu a terra. Para a teóloga, no alto do
Corcovado a imagem também
revela outros sinais.
— O fato de poder ser visto
de vários pontos da cidade faz
com que ele seja como um
guia. Quando está perdido, você olha na direção do Cristo e
consegue se orientar. Tem uma
simbologia bonita. O Cristo é a
luz do mundo, e tenho a sensação de ele estar ali nos guiando
— afirma Maria Clara.
Já Darcilia Simões explica que
a tradição cristã enriqueceu a
simbologia da cruz, que sempre
representou as direções.
— A configuração do Cristo
Redentor em forma de cruz
reúne a simbologia da orientação e da proteção — completa
a professora da Uerj.
O diretor de teatro Aderbal
Freire-Filho reforça a ideia do
Cristo como síntese do espírito carioca. No seu gesto mais
largo, a imagem ganha uma representação teatral, diz ele:
— É bom que não seja uma
cruz, que não sejam braços
ESTÁTUA “
PARA QUEM O LEITOR
ABRIRIA OS BRAÇOS
HUMANA
Especialistas afirmam que gesto e semblante
foram além da ideia original de redenção,
transmitindo a sensação ‘daquele abraço’
Ivo Gonzalez/ 8-05-2007
Eu abriria os braços para o
amor entre as pessoas, a
tolerância religiosa e sexual, a
solidariedade e a igualdade
que ainda insistem em fugir de
nós moradores desse lugar tão
espetacular que é o Rio.
Anderson Lima Dos Santos,
via Facebook
Eu abriria os braços para
abraçar a Guanabara e morrer
num pôr do sol.
Bruno Brasil, via Facebook
Eu abriria os braços para você,
meu Cristo Redentor, e juntos
abraçaríamos todos à nossa
volta em busca de paz!
Clivia Bulhões, via Facebook
Eu abriria os braços para minha
cidade inteira! Não existe
nenhum lugar no mundo tão
lindo! Rio de Janeiro...
@denisepazito, via Twitter
Eu abriria os braços para um
Brasil sem corrupção.
@MonickCamara, via Twitter
Eu abriria os braços para
educação e saúde de qualidade.
AS MÃOS espalmadas significam disposição para dar, acolher e proteger, segundo professora da Uerj
abertos à força, mas braços
abertos por querer. É o homem com a sua mais ampla
envergadura, pronto para o
abraço. Ele é um ator que
mostra que é maior do que o
palco. Por tudo isso, ele supera a visão puramente religiosa. As religiões são muito
cheias de amor, mas também
muito cheias de dores.
Aquele camarada prefere
ver como carioca.
Para Márcio Roiter, presidente do Instituto Art Déco
Brasil, o Cristo, considerado
o maior monumento art déco do mundo, não poderia
estar, no imaginário dos cariocas, ligado ao sofrimento
da crucificação.
— O art déco é o estilo do
bem, da comemoração do ser
humano, leve, iluminado. E o
Cristo está dentro dessa ordem
— destaca o presidente do instituto. — Tenho uma coleção de
cartazes que vendem passagens aéreas e o Cristo sempre
aparece nelas como a figura do
“welcome to Brazil”. Ele não é
só um símbolo da Igreja Católica, mas um símbolo de paz. ■
@bob_aee, via Twitter
Eu abriria os braços para
comemorar o aniversário do
meu, do nosso cartão-postal.
@xandyakko, via Twitter
Eu abriria os braços para um
mundo sem guerra, sem fome e
sem doença.
Cilene Duarte, via Facebook
PROJETOS ESPECIAIS
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PÁGINA 13 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 22 h
AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
cristo 80
redentor ANOS
9
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
A FUTURA estrutura
Divulgação/ Maurício Prochnik
envidraçada,
projetada para dar
mais conforto aos
visitantes (ao lado),
e o novo terminal do
trenzinho (abaixo)
SEMPRE
ABERTO A
REFORMAS
Divulgação/ Maurício Prochnik
Modernização do complexo turístico prevê ligação da torre de elevadores com os pontos de embarque e
desembarque, melhoria da acessibilidade e instalação de catracas para controle do número de visitantes
Aos 80 anos, o Cristo Redentor se encontra em
boa forma, mas seu entorno, nem tanto. A infraestrutura turística em volta do monumento
ainda é precária. Faltam banheiros, acessos para portadores de deficiência e pessoas com dificuldade de locomoção, posto médico e um sistema de controle do número de visitantes. Para preencher essas e outras lacunas, foi elaborado a pedido do Parque Nacional
da Tijuca, com apoio da Fundação Roberto Marinho, um anteprojeto arquitetônico que pretende repaginar todos os espaços
utilizados por cariocas e turistas que vão ao Cristo.
O estudo prevê uma construção envidraçada, em três níveis,
ligando os pontos de embarque e desembarque (do trenzinho e
das vans) à torre dos elevadores. Nesse grande corredor, cadeirantes poderão circular sem obstáculos, e serão implantados sanitários, uma loja, um pequeno café e um centro médico.
O subsolo ganhará salas administrativas, vestiário e refeitório
para funcionários. Autor da proposta, o arquiteto Maurício Prochnik incluiu a instalação de catracas eletrônicas no acesso ao
monumento, antes dos elevadores. Os equipamentos teriam como objetivo controlar o fluxo de visitantes, não permitindo
mais de 1.200 ao mesmo tempo. Este ano, o Cristo chegou a
receber, num único dia, 11 mil pessoas. Anualmente, cerca de
dois milhões de pessoas visitam o Parque Nacional da Tijuca,
sendo que 1,5 milhão tem como destino o Cristo.
Os esboços de Prochnik — responsável também pelo projeto das escadas rolantes e elevadores, em funcionamento
desde 2003 — levam em consideração a expectativa de aumento de visitantes no ponto turístico com os eventos internacionais que a cidade sediará, como a Copa de 2014 e as
Olimpíadas de 2016. Pelos cálculos da empresa Trem do
Corcovado, apenas nos últimos dois anos o movimento no
sistema aumentou 14%. Para atender à demanda crescente,
a concessionária planeja comprar quatro novos trens, fabricados na Suíça, que dobrariam a capacidade de transporte
de passageiros: de 300 para cerca de 600 por hora.
A aquisição dos trenzi- vestimento, que, segundo ele,
nhos, ao custo de R$ 64 mi- não teria impacto na tarifa (R$
lhões, está sendo negociada 43 a inteira e R$ 21 a meia):
— A viagem, que demora
com o Ministério do Planejamento. O governo federal pre- hoje 20 minutos, vai levar 13.
cisa bater o martelo sobre a Esses novos trens serão 30%
renovação do contrato atual, mais econômicos e terão espaque termina em 2013. O dire- ço para bicicleta, cachorro e
tor da empresa, Sávio Neves, patinete para quem quer ir até
diz que a concessão pode ser as Paineiras.
E l e re v e l a
ampliada em
que a empreoito ou 14
s a p re t e n d e
anos, depena i n d a re f o r dendo do fimar toda a esnanciamento.
tação do CosEle afirma esme Velho. O
perar uma
re s p o s t a d o Sim, aqui está o pedestal espaço seria
ampliado com
ministério até único no mundo!
a criação de
o fim de nomais um nível,
vembro, para Quando vem a estátua
ligado por esque as novi- colossal, imagem de
cadas rolandades postes.
sam ser inau- Quem me fez?
A proposta
g u r a d a s a n- Padre Boss (primeiro a sugerir
para o entort e s d a C o p a um Cristo no Corcovado), em 1903
no do Cristo
de 2014.
tem a aprovaOs novos
trens terão o mesmo tamanho ção do Instituto do Patrimôdas composições atuais, mas nio Histórico e Artístico Naganharão em velocidade e, por cional (Iphan), mas depende
isso, poderão levar 300 passa- de parceiros. O anteprojeto
geiros por hora — mesmo nú- ainda precisa ser transformero transportado pelas sete mado em projeto executivo,
composições em circulação, ad- o que pode levar um ano.
A construção contará com
quiridas na década de 80. O diretor da empresa Trem do Cor- um salão para os passageiros
covado lista as vantagens do in- que aguardam o trenzinho. As
“
Marcelo Carnaval/ 28-10-2008
Acervo de Eloy D’Ecanio
A CONSTRUÇÃO do mirante do Cristo, no início da década de 40
CRISTO ROSA: iluminação para campanha contra o câncer de mama
vans que fazem a ligação entre
as Paineiras e o alto do morro
ganharão um estacionamento
novo e organizado.
— O grande problema hoje
é a quantidade de pessoas
que visita o monumento. E a
tendência é aumentar. Essa
desorganização pode gerar
problemas de segurança —
afirma Prochnik.
A nova estrutura será localizada do lado norte, ficando
voltada para Santa Teresa.
Prochnik garante que a obra
não comprometerá a paisagem. Junto com a cafeteria,
que será remodelada, todas as
intervenções atingirão uma
área de cerca de 2.800 metros
quadrados no alto do morro.
— A iluminação não ofuscará o monumento e nem será vista de baixo — completa
o arquiteto, que considera
esta a maior obra na área da
estátua.
No dia 1 o- de março deste
ano, o Cristo Redentor passou
por sua última reforma, quando ganhou uma sofisticada iluminação concebida pelo artista plástico Peter Gasper. Na
época, foram instalados 300
projetores de LED no sistema
RGB (sigla em inglês para as
cores vermelho, verde e azul),
que são mais econômicos e
podem ser acionados até por
telefone celular. As cores têm
sido usadas em campanhas e
eventos especiais.
Embora inaugurado em
1931, somente no ano seguinte
o Cristo Redentor ganhou sua
primeira iluminação definitiva,
por iniciativa do GLOBO.
O mirante também demorou.
A estátua e a pequena capela
dedicada a Nossa Senhora Aparecida, encravada no pedestal
do monumento, foram entregues à população sem que as
escadarias e as muralhas de pedra tivessem sido concluídas. O
mirante e as novas escadarias
surgiram no início da década de
40. O projeto foi notícia do jornal “A Noite” quando apresentado por Heitor Levy, mestre de
obras do Corcovado, a Heitor
da Silva Costa, autor do projeto
e construtor do Cristo. Na reportagem, Levy dizia que o objetivo era descortinar o monumento desde a sua base. A obra
decretou o fim do tradicional
Chapéu do Sol, ponto de observação que, durante a construção do Cristo, havia sido remanejado para o lugar onde hoje
funciona um restaurante.
Em 1980, o monumento foi
reformado para a visita do
Papa João Paulo II, no dia 2
de julho. Dez anos depois, a
estátua passou por nova re-
cuperação, por meio de um
convênio entre a Mitra, a Rede Globo, a Shell, o Ibama, o
Sphan (que precedeu o
Iphan) e a prefeitura do Rio.
Em 2003, foi inaugurado o
sistema de escadas rolantes,
passarelas e elevadores de
acesso ao monumento, uma
parceria entre a Fundação
Roberto Marinho, a Mitra, o
Banco Real, a Gerdau, o Ibama e a prefeitura. No ano
passado, a estátua passou
por uma restauração promovida pela Vale, em parceria
com a Arquidiocese do Rio.
As obras incluíram a recuperação da estrutura interna,
a restauração do mosaico de
pedra-sabão, com a retirada
da pátina biológica (camada
de fungos e outros microorganismos) e a recomposição de
danos provocados por pequenas rachaduras. Também foram consertados os para-raios
localizados na cabeça e nos
braços do Cristo. ■
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 14 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 22 h
cristo 80
redentor ANOS
10
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
Ana Branco
Márcia Foletto
AS EMOÇÕES DE 3
MARIA ALZIRA (de chapéu, no
alto), Maria de Jesus (acima)
e Maria Lúcia (ao lado,
Ana Branco
enxugando as lágrimas):
encantamento na primeira
visita ao Cristo Redentor
MARIAS
Moradoras do Rio que só conheciam o Cristo à distância vão ao Corcovado pela primeira vez, a convite do
GLOBO, e se emocionam com o cartão-postal, além de ficarem encantadas com a vista estonteante da cidade
Da laje da sua casa, de onde
vê o Cristo diariamente, Maria
de Jesus estava certa de que a
estátua tinha nove metros:
— Falei em nove metros
achando que era bem menor.
No mirante do Corcovado,
Maria de Jesus tentou localizar
sua residência no mar de prédios e casas sob seus olhos:
— Quem chega para morar
nos Guararapes fica encantado com o Cristo.
De um metro e meio a dois
era a aposta de Maria Lúcia:
— Ele é muito grande! Jesus
amado!
Maria Lúcia perdeu até o
medo de altura quando se viu
cara a cara com o Redentor:
— Não quero saber de medo.
Quero é viver a felicidade — disse ela, que levou uma câmera fotográfica para registrar a visita.
Uma emoção mais que justificada. Maria Lúcia é tão católica que escuta diariamente,
na casa dos patrões, a Rádio
Catedral. Ao lado do radinho,
ela coloca garrafas de água:
— Só tomo essa água, que é
benta por padres nas suas orações na rádio. É um remédio —
disse ela, que ainda está refazendo a vida, depois de perder
quase tudo de sua casa, em Caxias, durante uma enchente, há
menos de dois anos.
No dia da visita ao Cristo, Caçula interrompeu mais cedo as
atividades no centro de convivência Emilien Lacay, programa
da Cruzada do Menor, em Jacarepaguá. Ela passou em casa para se arrumar e não esqueceu os
brincos nem o chapéu.
Caçula teve sorte. As bandas Groove e Allegro gravavam um clipe no Corcovado,
e ela aproveitou para ensaiar
alguns passos e acompanhar
o “Samba do Avião”. No fim
do passeio, quis visitar a capela de Nossa Senhora Aparecida. Beijou a imagem da santa e fez um pedido:
— Nossa Senhora, permita
que eu continue com pernas
para poder andar por aí.
Já Maria de Jesus, nascida
em Uruçu, a 600 quilômetros
de Teresina, está no Rio desde
1980. Até por ser quase vizi-
AFP/ Saul Loeb/ 20-3-2011
ALTAR DA
BARACK OBAMA,
presidente dos
EUA, com
Michelle e as
filhas Sasha e
Malia: neblina e
forte segurança
Reprodução do Youtube
O GLOBO NA INTERNET
VÍDEO Três Marias falam sobre
a visita ao Cristo. Assista
oglobo.com.br/rio
O DALAI LAMA na visita à estátua, pedida
por ele. Em respeito, o líder espiritual budista
tirou o boné vermelho com a palavra Rio
Geise Bastos/ 1-4-1991
Anibal Philot / 2-7-1980
FAMA
nha do monumento, sabe ensinar como chegar lá e até quanto custa o passeio ao Cristo:
— Vontade de ir nunca faltou. Mas é um passeio caro.
Normalmente é um ponto turístico muito movimentado.
Quando tem promoção (o projeto Carioquinha), a gente não
consegue ir. Fica cheio demais. São filas e mais filas.
São os braços abertos que
mais chamaram a atenção de
Maria de Jesus:
— É como se ele quisesse
abraçar todo mundo. ■
Ricardo Mello/ 5-6-1992
Maria Alzira, de 80 anos, mora na Cidade de Deus.
Outra Maria, a de Jesus, 54 anos, vive há 30 na Ladeira dos Guararapes, no Cosme Velho, caminho
do Corcovado. Também há 30 anos, mais uma Maria, a Lúcia, de 48 anos, chegou de Pernambuco para tentar a vida no Rio, morando hoje em Caxias.
No mês passado, as três Marias, todas com o sobrenome Silva, aceitaram convite do GLOBO e subiram pela primeira o Corcovado para
conhecer de perto o Cristo Redentor, que elas só viam de baixo.
— Ele é lindo. É uma emoção que nunca vou esquecer. Foi um
presente de 80 anos (ela fez aniversário em julho). Quero fazer 80
anos amanhã de novo — brincou Maria Alzira, conhecida como Caçula, por ser a mais jovem de dez irmãos.
Emocionada, Maria Lúcia, uma católica fervorosa, não conseguiu conter o choro ao se aproximar do monumento:
— Nem acredito que estou no Cristo. Meu Deus, é um sonho!
As dimensões do Cristo impressionaram as três. Nenhuma conseguiu prever o tamanho da estátua, que tem 30 metros de altura,
sem contar os oito de pedestal. Até chegar às Paineiras, Caçula
achou que o Cristo era do tamanho dela. Ou um pouco menor:
— Vamos chegando perto e ele vai crescendo, crescendo.
JIM CARREY com
a estátua ao
fundo, em junho.
Ator fez graça ao
filmar com celular
o Cristo e as
dezenas de fãs
O PAPA João Paulo II em 1980, na primeira vinda de um pontífice ao
A PRINCESA Diana posa para um batalhão
país. Aos pés do Cristo, ele abençoou a cidade. Em 1997, João Paulo
de fotógrafos no mirante: antes, paradinhas
II repetiria o gesto e diria: “Se Deus é brasileiro, o Papa é carioca”
de descanso na subida dos 215 degraus
PROJETOS ESPECIAIS
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●
AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
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cristo 80
HILLO
SANTANA
redentor ANOS
escala a via
11
conhecida
como K-2:
paisagem
deslumbrante
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
TODOS OS
CAMINHOS
LEVAM AO
CRISTO
Felipe Hanower
Deslizamentos são ameaça em
estradas de acesso ao monumento;
preço de ingresso ainda é obstáculo
para quem vai a pé ou de bicicleta
Gabriel de Paiva
Felipe Hanower
NA TRILHA
O TREM do
do Parque
Corcovado
Lage, setas de
passa pela
sinalização
malconservada
são pintadas
estação do
nas árvores
Silvestre
Para se chegar ao Cristo, o caminho pode ser longo, difícil e sinuoso. Mas a aventura
e as belas vistas do Rio compensam qualquer sacrifício de quem prefere atingir o
cume do Corcovado — a pé, de bicicleta ou até escalando. Além do trenzinho, cariocas e turistas têm à disposição outras rotas até o monumento. Mas, atenção, a
maior aventura pode estar reservada aos caminhos tradicionais: no caso dos acessos
rodoviários, para os que preferem ir de carro ou pedalando até as Paineiras, o problema são as quedas de barreiras. Apenas durante as chuvas de abril do ano passado, o Parque
Nacional da Tijuca registrou 283 pontos de deslizamento. Um ano e meio depois, ainda são visíveis
trechos com risco de desmoronamento nas estradas das Paineiras, do Sumaré e do Redentor.
Já a trilha Parque Lage-Corcovado é a opção mais usada pelos que gostam de caminhar e de ter
contato com a Mata Atlântica. Classificada de média dificuldade por guias experientes, a trilha é
considerada limpa e segura, apesar da sinalização ser apontada como deficiente pela própria chefe
do parque, Maria de Lourdes Figueira. Ela promete renovar todo o sistema — setas amarelas pintadas em árvores e antigas placas — no ano que vem. Até o Cristo, são quase duas horas de
caminhada em ritmo normal. Na subida, por vezes, surgem belas vistas da Lagoa.
O ponto alto da trilha é a paisagem vista da Curva do Ó, quando a trilha segue junto à estrada de
ferro. De um platô, é possível apreciar grande parte da Zona Sul. Sem falar nas pequenas quedas
d’água, que oferecem um pouco de refresco durante o passeio. O único porém é o barulho quase
incessante dos helicópteros — que, aliás, oferecem uma outra forma de se apreciar o monumento.
— Há uns três anos, a trilha ficou perigosa. Mas, de lá para cá, praticamente caiu a zero o número
de assaltos — diz o guia Carlos Alberto Vieira, do grupo “Amigos da Zona Oeste”.
Os aventureiros costumam
usar a via de escalada batizada de K-2 — alusão ao segundo pico mais alto do mundo,
no Himalaia — para chegar à
estátua. É a única maneira de
se chegar ao Cristo sem pagar.
Cariocas e turistas que sobem
a pé ou de bicicleta precisam,
necessariamente, ir até as Paineiras e comprar o ingresso
de R$ 25,75 (alta temporada)
e R$ 17,75 (baixa).
A obrigatoriedade é alvo de
reclamações e já foi questionada pelo Ministério Público
Federal (MPF). O procurador
da República Márcio Barra Lima recomendou ao Instituto
Chico Mendes (ICMBio) que
não fosse praticada mais a
“venda casada” no ingresso
de acesso ao Corcovado —
que inclui não só a entrada na
área do monumento, como o
transporte de van pela Bel
Tour Turismo, das Paineiras à
estátua. De acordo com o
“
A construção da estrada
de rodagem entre
as Paineiras e o topo
do Corcovado foi
efetivada contra
a opinião de muitos.
Jorge Scévola, autor de “Corcovado,
a conquista da montanha de Deus”
MPF, o ICMBio alega que o plano de manejo do parque não
prevê bilheteria para quem
chega a pé ou de bicicleta. O
procurador analisa uma solução para o problema.
A diretora jurídica da Arquidiocese do Rio, Claudine Milione Dutra, diz que a Igreja não
faz qualquer tipo de cobrança,
seja pelo uso da imagem, seja
pelo acesso ao monumento:
— Nenhum centavo do que
é cobrado pelo Parque Nacional da Tijuca, pelo trenzinho e
pelas vans vai para a manutenção do Cristo Redentor.
A solução para outro problema — os deslizamentos —
parece estar mais próxima. A
chefe do parque diz que espera iniciar ainda este ano, em
diferentes pontos, obras de
contenção e drenagem que totalizam R$ 10 milhões. O dinheiro, segundo ela, será liberado pelo Ministério da Integração Nacional.
No ano passado, os acessos
ao Corcovado — incluindo a
estrada de ferro — ficaram fechados por mais de três meses, em decorrência dos danos causados pelas chuvas.
— A gente tem um projeto
pronto, que está na Geo-Rio e
inclui contenção de encostas e
drenagem no Sumaré, na Es-
Felipe Hanower
ENCOSTA
PERIGOSA
na estrada
de acesso
ao Cristo
pelo Alto da
Boa Vista
trada do Redentor e na Estrada
das Paineiras — afirma Maria
de Lourdes, lembrando que algumas intervenções nos acessos foram feitas em 2010.
Ela promete lançar ainda este
mês um novo edital para exploração e recuperação do histórico Hotel Paineiras, uma das
construções abandonadas no
caminho para o Cristo. No ano
passado, foi lançado um edital,
mas não apareceram interessados. O plano de manejo do parque prevê ainda a transformação das ruínas do antigo Restaurante Silvestre num centro
cultural para a comunidade,
mas não há projeto nem prazo.
Outro imóvel antigo sem con-
servação é a estação Silvestre do
bondinho de Santa Teresa. A reforma do casarão, que é de propriedade privada, faz parte do
plano de revitalização do sistema. O Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), no
entanto, informa que falta detalhar a proposta e discutir a desapropriação do prédio. ■
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
cristo 80
redentor ANOS
12
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
CORDÃO OLÍMPICO quando o Rio foi escolhido,
NO DIA do padroeiro, em 2006,
em 2009, como sede dos Jogos de 2016
COM MÁSCARA de mergulho, durante a enchente que
castigou a cidade em abril de 2010
sofrendo com a onda de violência
OLHAI POR NÓS
Nas charges de Chico Caruso, um personagem do cotidiano da cidade
AGRADECENDO A
escolha como uma
das sete novas
maravilhas do
mundo, em julho
de 2007
— Brigado, gente!
CHARGE
INÉDITA, feita
especialmente
DE LUTO após o temporal que deixou
para o
mais de 900 mortos na serra, em janeiro
aniversário
de 80 anos
do Cristo
MATANDO MOSQUITO
da dengue na
epidemia do verão
de 2002
NA TENTATIVA, em vão, de se proteger
PREVISÃO DO TEMPO
dos temporais de janeiro de 1998
CHUVA DE
armas em
2002: guerra
entre a PM e
o tráfico na
Mineira
Instável, sujeito a rajadas
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
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cristo 80
redentor ANOS
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NA FOTO TIRADA
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
do Cosme Velho, o
Cristo e o
Corcovado
aparecem envoltos
num manto de
nuvens. “Acima de
Foto do leitor Paulo Sallorenzo
tudo, acima das
nuvens,
Foto da leitora Cristina Maranhão
abençoando o
povo carioca”,
afirma o leitor
Paulo Sallorenzo
EM DESTAQUE sobre o
“DO MEU APARTAMENTO
da janela do bondinho
(em Botafogo), debaixo do
Foto do leitor Mário Ferreira
relevo da cidade, visto
do Pão de Açúcar.
“Cristo, sempre de
braços abertos e
olhando por nós”, diz
o leitor Mário Ferreira
chuveiro, temos esta visão
alucinante”, conta a leitora
Zilea Reznik, cuja afilhada
aproveitou o visual para
eternizá-lo com um clique
A CADA OLHAR, UMA
emoldura o Cristo Redentor. Na visita às ruínas,
leitor ficou encantado com a imagem
Foto do leitor Marcio Schmidt Torres
Foto do leitor André Luís de Araújo
UMA DAS janelas do Forte São Luís, em Niterói,
ORAÇÃO
Das janelas ou das ruas, o Cristo
Redentor sob diferentes ângulos
e olhares de leitores do GLOBO
O FLAGRANTE de uma corrida aérea, em 2009,
clicado de uma varanda na Praça da Bandeira
Foto do leitor Pedro Henrique de Araújo
Foto do leitor Luiz Fernando Cardoso
DE SUA janela, em Botafogo, o leitor Luiz
O CRISTO em meio ao crepúsculo. A foto foi
Fernando flagrou o Cristo coroado pela lua
tirada em Botafogo, da casa do leitor, que
cheia, num dia de céu azul na cidade
agradece pelos 80 anos de proteção ao Rio
Foto do leitor Sérvulo Harris Torres
Foto do leitor Paulo Roberto de Oliveira
Foto da leitora Adriana Alves Scheliga
A LUA cheia parece rolar sobre a montanha:
A FAVELA EM primeiro plano, na foto tirada da
OPERÁRIOS TRABALHAM na fachada de um
“Cristo Redentor, da minha privilegiada janela!”,
Cidade Nova por Paulo Roberto: “Ele está de
prédio, tendo o Cristo ao fundo. Sérvulo Harris
diz Adriana Alves, que é moradora do Flamengo
braços abertos para todos do Rio”
tirou a foto da janela de um ônibus, em Botafogo
O SÍMBOLO DO RIO EM 80 CLIQUES
O GLOBO NA INTERNET
GALERIA Confira a exposição virtual com
fotos do Cristo
oglobo.com.br/rio/cristo-80-anos/exposicao
Custódio Coimbra/ 5-12-1992
Custódio Coimbra/ 25-11-2009
● A constante busca dos fotojornalistas
do GLOBO pelos melhores ângulos do
Rio não poderia deixar de fora a emblemática estátua do Cristo Redentor. Dos
arquivos do jornal, foram escolhidos 80
registros do monumento, em várias
épocas e situações, para compor uma
exposição virtual comemorativa dos 80
anos. Ela está no ar no ambiente especial criado no site do GLOBO para a comemoração do aniversário. No reflexo
de prédios, junto a uma solitária asadelta, ao lado da lua ou do sol, o Cristo
reina soberano pelas lentes da equipe.
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
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redentor ANOS
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DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
Divulgação/ Twentieth Century Fox
Divulgação/ Conspiração Filmes
Reprodução do Youtube
Divulgação
Camilla Maia/ 6-11-2001
NA TELONA: as
araras-azuis Blu e
Jade em “Rio”; no
sentido anti-horário,
Pedro Cardoso em
“Redentor”; cena de
“Roberto Carlos em
Ritmo de Aventura”;
cartaz de “2012”,
tomada de
“Amanhecer” e
bastidor de “O
Homem que Copiava”
ILUMINADO
Reprodução da internet
TAMBÉM
NAS TELAS
Cristo estrelou produções nacionais e estrangeiras; no catastrófico
‘2012’, cena de destruição da estátua causou mal-estar com Igreja
Um dos lançamentos mais
aguardados do ano, “Amanhecer”, que integra a série juvenil “Crepúsculo”, foi parcialmente rodado no Rio. No trailer já divulgado, o Cristo aparece numa tomada aérea.
O cineasta Carlos Saldanha
levou para a telona, em 2010,
um Cristo versão 3D na animação “Rio”. Quem viu o filme não
esquece as cenas das ararasazuis Blu e Jade sobrevoando o
Réplicas mundo afora
Estátua mais recente foi erguida em Lima, no Peru
A construção do Redentor, no Corcovado, deflagrou uma onda de Cristos mundo afora. O mais recente foi
inaugurado em junho, em Lima, no
Peru. A obra foi cercada de polêmica:
moradores e a prefeitura da cidade
reclamaram por não terem sido consultados sobre o projeto.
Em novembro de 2010, foi inaugurado
em Swibodzin, na Polônia, um monumento com 33 metros de altura. O Cristo
polonês foi apresentado como o maior
do mundo (a estátua, de braços abertos,
tem três metros a mais que a do Rio).
A história da imagem de Cristo Rei,
em Almada, Portugal, começou em
1934, com a visita ao Rio do cardeal patriarca de Lisboa, Dom Manuel Cerejeira. Ele levou a ideia para Portugal, mas
●
ela só seria concretizada em 1959.
Além do Peru, outros países latinoamericanos ganharam Cristos. Em 1995,
foi erguido um monumento na província
de Colón, na entrada do Canal do Panamá. Em Tuxtla Gutierrez, no México, está
em construção uma estátua de 64 metros
de altura, contando com o pedestal. Cuba
também tem seu Cristo. Ele foi inaugurado em Havana, em 1958, antes da revolução cubana. Confeccionado em mármore de Carrara, tem 20 metros de altura.
No Brasil há pelo menos 185 Cristos.
A conta é da empresa Trem do Corcovado, que, em 2004, organizou uma exposição sobre o tema. A maioria fica na
Região Sudeste: 130. No Estado do Rio,
há ao menos mais quatro estátuas: em
Areal, Friburgo, Itaperuna e Macaé.
Claudio Torres, o jornalista Célio
Rocha (Pedro Cardoso) acredita
ter recebido um chamado de
Deus, encarnado na estátua do
Cristo, e inicia uma cruzada para convencer um empreiteiro
corrupto a se arrepender. Numa
das cenas, o Cristo conversa
com o protagonista. Os produtores usaram uma maquete para
simular o inusitado diálogo.
Crítico de cinema e professor
da PUC, Miguel Pereira tenta explicar o fascínio pelo Cristo:
— Como o cinema é sagrado
e transporta a gente para outro lado, há uma adequação
perfeita com o Cristo.
A história da construção da
estátua, por si só, dá um filme.
Ou vários. A cineasta Bel Noronha — bisneta de Heitor da Silva
Costa, autor do projeto e construtor do Cristo — lançou os documentários “Christo Redemptor”, em 2005, e “De Braços
Abertos”, em 2008, frutos de
uma pesquisa de nove anos. ■
Bossa nova reverenciou estátua
O CRISTO de
Swibodzin
(acima), na
Polônia, é o
maior do mundo;
o de Almada (ao
lado), em
Portugal, ficou
pronto em 1959
● Um ano após a sua inauseus pés/ Abençoando os
guração, o Cristo Redentor seus fiéis/ Deus salve essa
já inspirava Vinícius de gente carioca/ Salve o Rio
Moraes. Em 1932, ele pu- de Janeiro/ A cidade que é
blicou na revista católica de todo brasileiro”. A inspi“A Ordem” seu primeiro ração vem da janela de sua
poema, “Transfiguração casa, no Jardim Botânico:
da Montanha”, em que
— Exceto por dois peexaltava o monumento.
ríodos em que vivi fora do
O poeta e compositor já país, sempre morei perto
revelava sua devoção à pai- do Cristo. Ele aqui abensagem carioca e ao Cristo, çoando é uma fonte de
característica recorrente inspiração constante.
na Bossa nova, gênero que
Outros compositores
ele imortalizaria, junto com também se inspiraram na
Tom Jobim. O
estátua, como
maestro é auGilberto Gil e
tor de duas
Cazuza em
obras em que
“Um trem padeclara seu
ra as estre amor ao símlas”: “Estrabolo carioca:
nho o teu
“Corcovado” Ele tinha nos olhos
Cristo, Rio/
( “ D a j a n e l a o paroxismo das
Que olha tão
vê-se o Corco- coisas doces
longe, além/
v a d o / O R e - Sua túnica tinha
Com os brad e n t o r q u e a alvura da neve
ços sempre
lindo”) e
abertos/ Mas
“ S a m b a d o E nos seus braços
sem proteger
Avião” (“Cris- abertos havia um
ninguém”.
to Redentor, grande abraço a toda Mas foi Noel
Braços aber- a humanidade.
Rosa quem
tos sobre a
protagonizou
Guanabara/ “Transfiguração da montanha”,
uma das hisEste samba é de Vinícius de Moraes
tórias mais
só porque,
curiosas. CoRio, eu gosto de você”).
mo conta o jornalista João
— A bossa nova sempre Máximo, seu biógrafo junto
se devotou à paisagem ca- com Carlos Didier, a rebelrioca. E o Cristo sempre dia de Noel fez com que ele
foi o símbolo maior, uma fosse o único de sua turma
referência de afeto à pai- do Colégio São Bento a não
sagem carioca — afirma o contribuir para a construpesquisador Ricardo Cra- ção da estátua.
vo Albin.
Em 1936, no entanto, ele
O compositor e cantor faria uma referência poétiFrancis Hime mostra a sua ca ao Cristo em “Cidade
veneração em “Gente Cario- Mulher”: “Cidade de amoca”, uma de suas três úni- res sem pecado/ Foi junticas letras: “A graça/ Do nho ao Corcovado/ Que
Cristo Redentor/ A cidade a Jesus Cristo nasceu”.
“
Reprodução/ Acervo Fernando França Leite
Mas o imbróglio foi resolvido com a retratação do estúdio Columbia Pictures — que
informou à Igreja não ter intenção de desrespeitar o símbolo
— e com a retirada da imagem
do Cristo da capa do DVD.
—A grande preocupação
da Igreja é que não haja a deturpação do símbolo religioso — explica a diretora jurídica da Arquidiocese do Rio,
Claudine Milione Dutra.
monumento de asa-delta.
Muitos anos antes, “Roberto
Carlos em Ritmo de Aventura”
(1968), de Roberto Farias, mostrava o Rei pilotando um helicóptero pela cidade. Uma das
cenas mais marcantes do longa-metragem é a que mostra o
cantor sobrevoando o Cristo.
Em 2003, dois sucessos do cinema brasileiro terminam aos
pés do monumento. "O homem
que copiava", de Jorge Furtado,
é rodado quase todo o tempo
em Porto Alegre, com exceção
do final, quando ocorre o encontro entre Sílvia (Leandra Leal) e
Paulo (Paulo José) no alto do
Corcovado. No mesmo lugar, foram gravadas as últimas cenas
de "O caminho das nuvens", de
Vicente Amorim. O filme conta a
trajetória de Romão (Wagner
Moura) e sua família, que chegam ao Rio em busca de emprego após pedalarem quilômetros
de bicicleta desde a Paraíba.
Em “Redentor” (2004), de
AP/ Pawel Kalinowski
Se antes de 1931 o Corcovado já era alvo constante
de fotógrafos e artistas plásticos, com a inauguração do Cristo Redentor ele se transformou num cenário de cinema, dando asas à imaginação de profissionais do mundo inteiro. Em “Interlúdio” (1946),
do mestre do suspense Alfred Hitchcock, a estátua é
vista da janela do avião que traz os personagens de Ingrid Bergman
e Cary Grant ao Rio. Curioso é que a dupla não esteve aqui — as
paisagens foram inseridas através da técnica de back projection.
Hollywood levaria o monumento para a telona outras vezes.
No apocalíptico “2012”, de Roland Emmerich, a estátua é destruída numa catástrofe que varre do mapa outras construções
famosas mundo afora. A cena gerou polêmica com a Igreja Católica, que não gostou do uso da imagem do Cristo no filme.
Declarações de amor
em prosa e verso
PROJETOS ESPECIAIS
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 19 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 24 h
BELEZA EM 360 GRAUS
cristo 80
redentor ANOS
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Editoria de arte/Fotomontagem de André Mello e Alvim
Monumento está de frente para a Baía de Guanabara porque, segundo o autor e
construtor, é desse lado que o Corcovado se apresenta ‘em sua forma mais elegante’
DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
Ilhas
Cagarras
IPANEMA
LEBLON
Cantagalo
Do
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Jardim
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Morro dos
Cabritos
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Lagoa Rodrigo
de Freitas
Pedra da
Gávea
SUL
LESTE (Frente)
Dona
Marta
Enseada de
Botafogo
Praia do
Flamengo
LARANJEIRAS
oglobo.com.br/rio/cristo-80-anos/foto360/
Se
rra
NORTE
Centro
Um giro de 360º do alto da estátua
(braço esquerdo)
NITERÓI
a
O GLOBO NA INTERNET
Pico do
Andaraí
Icaraí
Mirante
Dona Marta
Charitas
Sumaré
Parque Nacional da
Floresta da Tijuca
OESTE (Costas)
Fortaleza de
Santa Cruz
Pão de
Áçucar
Piratininga
Pedra
Bonita
Cemitério
São João
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(braço direito)
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a
C
a
rio
ca
Maracanã
CAJU
BAIXADA
EXPEDIENTE
REPORTAGEM: Ludmilla de Lima e Selma Schmidt • EDIÇÃO: Adriana Oliveira e Paulo Marqueiro • INFOGRAFIA: Alvim e Renato Carvalho, com colaboração de Michelle
Rodrigues e Kamilla Pavão• PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Telio Navega • PESQUISA: Elisiário de Souza Lima e Paulo Luiz Carneiro
●
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cristo 80
redentor ANOS
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DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011
AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 20 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 24 h
A TROCA
MARIA PAULA, de
Ana Branco/ 2-10-2011
PROJETOS ESPECIAIS
de alianças do
casal Márcia e
Fábio, os
primeiros a se
8 anos, filha
adotiva de Elba
Ramalho, com os
padrinhos e o
padre Omar, na
casar no santuário
hora do batismo
do Cristo, em
2008
OREDENTOR
COMO PADRINHO
Capela de Nossa Senhora Aparecida,
localizada aos pés do Cristo, é cada vez mais
procurada para batizados e casamentos
Álbum de Família/ Ricardo Gomes
Simone Marinho
A CAPELA em homenagem a Nossa Senhora Aparecida
— Aquele é o lugar mais bonito do Rio. De lá se vê o Rio
inteiro. Como cristãos, era o
lugar mais perto do céu e junto do maior crucifixo do mundo — afirma Fábio, de 45 anos,
explicando a escolha pelo casamento no Cristo.
Márcia pediu autorização
ao Parque Nacional da Tijuca e
subiu de carro. Mas muitas
noivas vão mesmo é de trenzinho, junto com os convidados,
às vezes em vagão enfeitado.
Outras acabam indo de van.
Santuário há cinco anos, o
Cristo passou a ser bem mais do
que um ponto turístico, numa
área privilegiada por belezas naturais. Lá são celebrados casamentos, batizados e missas, em
geral pelo padre Omar Raposo,
reitor do santuário.
— Damos bênçãos em sete
idiomas — conta o padre Omar,
acrescentando que o Cristo também tem sido procurado por
muitos peregrinos e religiosos.
O casamento de Fábio e
Márcia foi destaque até no
“New York Times”. Um ano depois, o casal reafirmou seus
votos numa missa de ação de
graças na mesma capela.
Juliana Glasman de Moraes e
Roberto de Moraes, ambos de
32 anos, subiram de trem para a
hora do “sim”, em 1 o- de outubro
de 2010. O evento foi, de fato,
uma cerimônia em família: Ivan
e Fernanda Londres, irmã de Roberto, selaram a união no mesmo ato religioso. As noivas, de
branco, foram a sensação no
trajeto até o Cristo.
— As pessoas no trenzinho
Era uma terça-feira de verão, fim de tarde e aniversário do
publicitário Fábio Marinho Leite Calderano. Depois de uma
chuva rápida, um arco-íris de 180 graus iluminou o céu, enquanto convidados chegavam de trenzinho para assistir ao
casamento com a relações-públicas Márcia, aos pés do Cristo Redentor. Como para reverenciar a noiva, surgiu uma névoa, que logo desapareceu. Eles foram os primeiros a se casar, em 19 de
fevereiro de 2008, na pequena capela consagrada a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, construída dentro do pedestal do monumento. A
igrejinha tem capacidade para apenas 22 pessoas sentadas e dez em pé.
Não por acaso, a cerimônia se estendeu para o mirante.
perguntavam se era uma gra- tal. A névoa foi um diferencial:
vação de novela — lembra a nas fotos, parece que estávamos
dentista Juliana, que agora flutuando, acima das nuvens.
O lugar foi
pensa em baescolhido tamtizar o filho
bém pela canCaio, de 3 metora Elba Rases, no mesmalho para o
mo lugar.
batismo da fiRoberto,
lha Maria Pauque é adminisla, de 8 anos, e
trador, e Julia- Tive muitas graças
do amigo Luiz
na não cogita- com Nossa Senhora.
Henrique Agra
vam se casar
no religioso. Como filha, me coloco d e O l i v e i r a ,
domingo pasHoje, a dentis- muito debaixo do
sado:
ta agradece à
— O Cristo é
insistência da manto dela.
maior que tosogra, Maria Elba Ramalho, cantora
dos nós, não
Célia Moraes.
só na imagem,
— Depois da
cerimônia, a gente fez uma pre- mas também no amor e na paz.
Devotos de São Judas Tadeu,
ce do lado de fora da capela junto com os turistas. Foi alegria to- cuja igreja é no Cosme Velho,
“
Marcelo de Mello Tavares e
Cristina Maia de Mello Porto
também optaram pelo Corcovado para batizar, em março, o filho Lucas, que fez 1 ano na
quarta-feira passada.
— Achamos o lugar abençoado. E, de lá, se tem uma
das mais belas vistas do mundo — afirma Cristina.
A capela abre diariamente
das 9h às 18h. Mateus, filho caçula do governador Sérgio Cabral e de Adriana Anselmo, foi o
primeiro a ser batizado no Corcovado, em agosto de 2007.
— A nossa luta, em 2007, pela
eleição vitoriosa do Cristo Redentor como uma das sete novas maravilhas do mundo marcou a virada do Rio. No mesmo
ano, o batizado do meu filho Mateus inaugurou a capela. São
dois momentos inesquecíveis
da minha relação com a principal atração turística do Rio. Que
o nosso Cristo continue nos
abençoando — diz Cabral.
O agendamento de cerimônias no Cristo deve ser feito pelo telefone 3874-1568. Não há
doação mínima para celebrar
batizados. Nos casamentos, a
taxa é de cerca de R$ 2 mil, incluindo a ornamentação e toda
a celebração. A cerimônia é
gratuita para noivos carentes.
Como regra, o acesso ao Corcovado é limitado ao trenzinho
e a vans — estas partem das
Paineiras. Algumas noivas pedem autorização ao parque para que o carro delas chegue até
o alto. Uma exceção que custou R$ 1 mil a Márcia Leite Calderano. ■
Download

cristo