O Homem e seu Tempo
Ubiratã Ferreira Freitas1
Palavras-chave: Homem, tempo, história
Resumo
O homem participando em seu tempo, a sua trajetória de vida, sua
necessidade de existência produz a sua história. Uma história que fica marcada
no mundo. Mas marcada aonde? No tempo; Mas o que é o tempo? Em
diversos povos ou civilizações, o conceito de tempo muda de acordo com a
evolução de cada processo que se constrói em um tempo linear. A construção
do pensamento humano, em um estado de origem está definida em um lugar
temporal da mente; esse espaço tem arestas que possibilita enumerar em um
aspecto de tempo sua realização no viver do homem.
ABSTRACT
The man in its time, its trajectory of life, its necessity of existence produces its
history. A history that is marked in the world. But marked where? In the time;
But what it is the time? In diverse peoples or civilizations, the dumb concept of
time in agreement with the evolution of each process that if constructs in a
linear time. The construction of the human thought, in an origin state is defined
in a secular place of the mind; this space has edges that it makes possible to
enumerate in a time aspect its accomplishment in the life of the man.
Key-Word: Man, time, history
1
Professor Licenciado em História pela ULBRA Gravataí; Pós- Graduando no Curso de Filosofia da
PUCRS; Mestrando bolsista Capes no curso do PPGH, Mestrado em História da UPF, Universidade de
Passo Fundo. Artigo apresentado para a disciplina do mestrado – Teorias da História.
A alienação no homem a terra quando teve a necessidade de produzir
seu alimento, trouxe consigo um momento de transformação na vida cotidiana
das tribos nômades. Estando vagando em grupos por territórios diversos atrás
de comida; essas tribos perceberam que tinham a necessidade de modificar o
meio, seu modo de vida, seu evento. Foi através das transformações dentro de
uma realidade que se apresentou, que o desenvolvimento necessário para
ávida humana na terra teve que mudar.
Essa mudança essencial com as realizações feitas pelos homens fez da
Mesopotâmia – “terra entre dois rios" –, não ser o local de um só país nem de
um só povo. Mas já no Neolítico, a região começou a ser progressivamente
ocupada por povos nômades, que no processo de adaptação às enchentes dos
rios – Tigre e Eufrates – iniciaram a construção de barragens e canais.
Surgiram nesse período algumas casas permanentes, com vários cômodos, e
templos.
A
contagem
do
tempo
é
essencialmente
uma
conceitualização da estrutura social, as de referências sendo uma
projeção, no passado, das relações presentes entre grupos sócias.
Não apenas povos primitivos, mas civilizações relativamente
avançadas atribuíram diferentes graus de significação ao modo
temporal de existência e valorização mais ou menos a perspectiva
temporal. Em suma, o tempo, em todos os seus aspectos, foi
considerado de muitas maneiras conceitualmente distintas
2
(WHITROW, 1993. p. 23).
O efêmero e sua existência dentro do espaço de tempo, a busca de uma
eternidade constante que tenta elucidar um sentido da experiência do tempo e
da história. A história é uma idéia de tempo, pois opera em categoria de
maturidade de uma base cultural. A história não começa junto com o homem,
mas a partir dele, ou seja, de sua idéia de tempo.
O tempo como referencia de vida. O homem não consegue desligar-se
do tempo, ele tenta burlar a natureza para não ver o tempo. Dentro da
concepção de tempo o estudo histórico coloca o homem em um tempo
passado, elevando-o há um tempo presente na concepção da história.
Para Walter Benjamim o materialismo histórico tem um valor de
elemento de origem de produção humana, com uma visão não linear de tempo,
2
WHITROW G. J. O Tempo na História. São Paulo: Jorge Zaar. 1993.
que explora períodos do tempo verificando lacunas de produção onde gerou e
percebe o tempo como um momento único.
A experiência temporal é mais um elemento que distingue a história da
singularidade tornando-a uma pluralidade de acontecimentos. O uso da
memória no presente, ou seja, o passado que sabemos e reproduzido no
presente, então, “tempo presente”.
No Ocidente a cultura de se falar em história é mais aceitável que no
oriente. As bases culturais ocidental é a causa grega, pois surge com todo o
seu contexto clássico. Também por acomodação temporal, onde se transforma,
ou seja, as rupturas sociais dentro da idéia de História.
Na história das idéias, o objetivo tem como a ruptura, o surgimento de
novas idéias, de novos acontecimentos. As idéias movem as ações – idéias de
democracia só prosperam com novas idéias, ou com rupturas que surgem no
decorrer do processo democrático. A diferença em certos conceitos difere de
alguns pressupostos como um “ciclo ou uma ruptura temporal”.
O tempo cíclico é visto como uma forma de construção temporal, onde
na antiguidade se apresentava como possibilidade de formação de dinastias,
reinos, verificação da natureza. Já a ruptura, se apresenta como uma quebra
de paradigma começa um encontro com o novo.
Na Idade Média, o embrião do capitalismo já está inserido no
pensamento religioso com Max Weber em sua Ética Protestante, no período do
medievo as idéias do renascimento, já estavam engendradas no movimento do
pensamento medieval.
Segundo J. G. Whitrow:
Muitos de nós temos, intuitivamente, a impressão de que o
tempo prossegue para sempre, por conta própria, sem ser em nada
afetado por qual quer outra coisa, de tal modo que, se toda a
atividade fosse subitamente interrompida, ele ainda seguiria em
3
frente, sem qualquer interrupção (WHITROW, 1993, p. 15).
A história das idéias considerada o conceito de ruptura ou quebra de
paradigma. Para Thomas Kuhn a idéia de validade de conhecimento, ou seja,
matriz disciplinar.
3
Idem, p. 15.
As Revoluções Científicas não é uma grande mudança, mas sim mais
uma nova concepção paradigmática que cria novos valores e agrega uma
maneira de conceito. Sendo esses modelos representativos de pensamentos e
conhecimentos. Quando se fala de história de idéias, falamos de idéias
paradigmáticas de mudanças.
Essas mudanças são na verdade, paradigmas construídos para
fomentar o entendimento da funcionalidade do tempo. Ivan Domingos (1996)
define em sua obra, o tempo dividido em dos tempos dentro do processo de
memória coletiva; um tempo „profano‟ e outro „sagrado‟, mas ambos dependem
de três fatores: realidade, continuidade e reversibilidade.
Ainda o autor define outras três notas do tempo, sendo eles o mito, o rito
e o próprio tempo. Para o mito o tempo não é real, pois não possui alma, não
tem um corpo concreto, mas possui a representatividade, essa sendo temporal
a seu tempo, ultrapassa os limites do desconhecido e se efetiva através da
crença.
O rito busca se efetivar através dos deuses; esse aplicado como ato de
sacrifício tenta tangir em um tempo esperado, o resultado que vai desencadear
uma realidade de tempo concreto que pode ser classificado como tempo
profano em seu conjunto de atos próprios.
Segundo Domingues:
Assinalar que é através da força mágica do rito que esse
tempo primordial é reatualizado e fica assegurada a continuidade do
mundo do tempo. Tão forte é essa necessidade, que os deuses têm
suas forças exauridas em seu esforço de criar o mundo e de nele
terem de intervirem a todo o instante, ao fim de cada ciclo, no começo
de cada ano, sob pena de o mundo desaparecer, e suas forças não
4
renovadas ou reanimadas (DOMINGUES, 1996, p. 23).
O tempo é uma realidade concreta e afeta os homens e as coisas. Para
François Dosse (2003),5 Aristóteles entende que, o tempo esta fora da
consciência do homem, e somente vai fazer parte quando for articulado em um
modo narrativo. Para falar sobre o tempo Aristóteles estrutura a maneira de
4
DOMINGUES, Ivan. O Fio e a Trama: reflexões sobre o tempo e a história. São Paulo:
Iluminuras, 1996.
5
DOSSE, François. A História. São Paulo: EDUSC, 2003.
compor a parte do entendimento do tempo, e usa a poética em primeiro plano
“a imitação e representação”.
Paul Ricoeur encontra três formas de „mimésis‟
6
e define como pivô
da configuração poética; cada forma mimesis tem sua funcionalidade no
conjunto da estrutura que Aristóteles criou partindo da poética para
compreensão do tempo.
Em primeiro, a dimensão temporal em forma de inteligibilidade dentro
do plano das estruturas da pré-compreensão do mudo. Em segundo, fatores
heterogêneos de caráter dinâmico que vai operar em forma de configuração. E
em terceiro, surge à reconfiguração dessa configuração onde o mundo do texto
é o mesmo mundo do leitor, ou seja, como diz Ricoeur, “o tempo de agir é o
tempo de sofrer”.
Segundo Santo Agostinho existe um paradoxo completo, nítido e
abstrato, onde ele coloca a questão o que é o tempo? “se ninguém me
pergunta, eu o sei; mas se me perguntam e eu quiser explicar, já não o sei
mais” Dosse (2003). 7
A conceitualização de Santo Agostinho é entendida no tempo por meio
do presente, onde o presente do passado é a memória, sendo essa adquirida
pela visão que dá uma possibilidade de esperança, então, para o
entendimento, somente há futuro e passado no presente.
Para Dosse (2003), “entre o tempo cósmico e o tempo íntimo situa-se o
tempo recontado pelo historiador”; ou seja, o tempo presente, esse que o
historiador de seu próprio tempo, busca encontrar para se localizar e entender
o tempo passado. Em busca dessa verdade, surgem “os tempos de
reconfiguração”, esses que se manifestam através de “arestas”, sendo elas as
possibilidades temporais que vai viabilizar uma nova leitura do tempo.
O tempo calendário une o tempo vivido ao cósmico, perfaz uma
humanização de tempo vivido. Para a Micro História, o tempo pode ser visto
pelo processo documental, onde através desse, as possibilidades de encontrar
fragmentos do cotidiano do homem ou da sociedade, pode permitir na
observação do tempo passado, em uma interpretação no presente, é ainda
comparar as realidades que foram constituídas tais informações.
6
7
Mimesis para Aristóteles significa um desdobramento da presença à maneira platônica.
DOSSE, François. A História. São Paulo: EDUSC, 2003.
Para Dilthey a questão do tempo na história se distingue das “ciências
da natureza”, sendo assim, nesse sentido, surgem duas epistemologias. A
primeira a própria do mudo físico; e a segunda, de um mundo psíquico.
Segundo a visão de Dilthey, Dosse (2003) define: “O nó central do
problema, ou seja, que a vida só entende vida pela mediação das unidades de
sentido que se elevam acima do fluxo histórico”.
Gadamar entende que para compreensão do tempo em história, os
processos de transmissão de conhecimentos se dão através do tempo. Ou
seja, o passado e o presente, pois ambos estão ligados em linearidade
temporal. Segundo Dosse (2003) “A distância temporal não é um obstáculo a
ser ultrapassado [...]. Na realidade, importa ver na distância temporal uma
possibilidade positiva e produtiva, oferecida a compreensão”.
Assim, pensar na exterioridade e interioridade faz um pensamento de
se perceber de dentro e de fora. Esse pensamento de tempo, não vai
necessariamente, ser um tempo passado, mas poderá ser um tempo narrado.
Descartes cria o paradigma do pensar, em sua maneira de ver o
mundo e sua existência. Usa uma linguagem de entendimento do mundo – o
que os homens dizem sobre o mundo – buscando se colocar sobre
questionamentos presentes e orientados por sua necessidade de saber o que
realmente é em meio ao mundo.
Aristóteles em outro conceito de tempo usa a matemática para definir
uma conceitualização plausível para o entendimento do tempo, tias como o
movimento entre números. Ou seja, o espaço entre um número e outro, é um
termo temporal, ou o tempo em si, pois não preenche nada, é o vazio.
A estratégia que se experimenta em forma de experiências sobre o
tempo, tem a necessidade a necessidade da relação do humano. A natureza
não narra sua própria história, ela vive na história; já experimentar o tempo, é
experimentar o humano. O tempo tem um conceito de duração e é uma maracá
do humano, esse humano acima de sua existência natural.
A identidade como representação do tempo narra e traça uma linha de
entendimento sobre o objeto de estudo. O equilíbrio entre a tensão das partes,
está no humano que se mantém entre os dois pólos, sendo eles o efêmero e a
hermenêutica.
Na modernidade a idéia de tempo muda em busca de uma idéia de
lucro, onde o indivíduo se manifesta da forma que “um dia melhor amanhã”,que
através de pressupostos como instinto e hábito é a realidade social, fazem o
tempo presente. Em primeiro o instinto que se apresenta com reação autônoma
e que não pressupõe o tempo; em segundo o hábito que da alternativa
sofisticada e trabalha em uma rotina de controle, é a organização da vida
humana.
O aceso ao tempo pelo homem é uma forma numeralizanda para obter
seu conhecimento. Essa relação nos dá uma conexão ao tempo, perfaz frações
de segundos que, viabiliza o entendimento e compreensão do tempo.
A experiência cultural do tempo é coletiva, essa coletividade é que vai
ser analisada em primeiro no período arcaico, pois é na pré-história que surge
a coletividade, e nesse período as enfermidades não se transformam em
efêmero.
Na cultura arcaica não se tem uma linha de tempo, mas uma
circularidade de tempo. Onde o tempo é determinado de um registro legitimado
do tempo. Na ciência arcaica, o ritual se associa com a natureza, tempo
sagrado, tempo profano. Os dois tempos se completam, e não podem ficar
separado, pois os dois se completam se fundem.
A concepção de tempo no medievo é movida pelo ritmo da natureza,
onde os horários dos relógios fabricados a base d‟água, eram imprecisos, pois
não regulavam de acordo como a realidade natural. O homem tenta controlar o
tempo, mas não precisa controlar o homem em um progresso de relação de
trabalho.
Com a idéia de ciência, o pensar em um futuro é que move a
moralidade. O processo não significa uma passagem do bem para o melhor,
mas uma forma de racionalização em busca do controle e, em um momento de
irracionalização do homem. Essa idéia de ruptura surge na Idade Média, para
significar ou ameaçar os domínios de poder do cosmos, suje então, o novo, as
bifurcações e as quebras de paradigmas empregados pela ordem social
religiosa.
A idéia de tempo do conhecimento na história, a linearidade temporal.
São as idéias compatíveis e estruturais de uma visão do conhecimento sobre o
tempo. Para o historiador, um linear de tempo compreende uma ligação de
causas/efeito, que entrelaçam um ao outro. Sobre as fretas do tempo, sendo
ele linear o que passou é um tempo que será revisto em um presente pelo
historiador. Existem as frestas do tempo que estão sendo revistas e estudadas.
A tarefa do historiador é resusitar os fragmentos das ruínas do tempo.
Bibliografia
DOSSE, François. A História. São Paulo: EDUSC, 2003.
DOMINGUES, Ivan. O Fio e a Trama: reflexões sobre o tempo e a história. São Paulo:
Iluminuras, 1996.
ROSSI, Paolo. Naufrágio sem espectadores: idéias de progresso. São Paulo: UNESP,
2000.
TROMBETA, Gerson Luís. As Frestas do Tempo e a Concepção de História em
Walter Benjamim. Bibliografia incompleta.
WHITROW G. J. O Tempo na História. São Paulo: Jorge Zaar, 1993.
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O Homem e seu Tempo Ubiratã Ferreira Freitas Palavras