Inclusão digital de deficientes visuais através de Projeto
Comunitário, Santana do Livramento (2013)
Eduardo Bueno Simões Pires1, Aline da Cunha Simões Pires2
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Instituto de Informática – Universidade da Região da Campanha (URCAMP)
Santana do Livramento, RS – Brazil
Faculdade de Informática – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS) – Porto Alegre, RS - Brazil
[email protected] , [email protected]
1. Introdução
O uso do computador e demais tecnologias se faz indispensável no século XXI. É
infinito o universo que surge com o desenvolvimento da computação e seus derivados.
Porém, apesar de todas as vantagens conquistadas, é imprescindível destacar que uma
parcela da população não tem acesso a estas tecnologias.
Apesar das dificuldades, como problemas sociais, aspectos físicos, que acabam
por gerar a exclusão digital, existe uma preocupação por parte do governo, de ONGs ou
mesmo de voluntários em amenizar tais problemas. Estas ações visam diminuir o
abismo entre as pessoas, oportunizando uma maior inclusão digital e,
consequentemente, social. Neste sentido, é importante analisar de que forma ocorre este
processo e quais são os reais resultados alcançados.
Esta pesquisa tem como foco os deficientes visuais da cidade de Santana do
Livramento. A ideia é apresentar de que forma o trabalho está sendo desenvolvido junto
à comunidade santanense e quais foram os resultados atingidos até o presente momento.
Para facilitar o entendimento, dividiu-se o texto em três partes. A primeira
apresenta uma breve discussão teórica sobre o tema acessibilidade digital. Após, será
apresentada a metodologia utilizada no desenvolvimento do trabalho com os deficientes
visuais. E, por fim, serão apresentados os resultados parciais do trabalho, analisando as
principais dificuldades encontradas pelos alunos e professor, os pontos positivos do
projeto e as expectativas em relação ao projeto em desenvolvimento.
A pergunta norteadora desta pesquisa é: Quais estratégias de inclusão podem ser
empregadas a fim de garantir a efetiva inclusão social dos deficientes visuais? A fim de
responder a essa pergunta, formulou-se o objetivo geral, que tem como proposta analisar
de que forma estas ações com TA (Tecnologias Assistivas) podem garantir a efetiva
inclusão social dos deficientes visuais. A partir do objetivo geral, foram formulados os
específicos: promover a inclusão social dos cidadãos deficientes visuais de Santana do
Livramento; oferecer, através de cursos de informática, oportunidade para que o público
possa ser inserido no mundo digital.
2. Referencial teórico
Quando se fala em inclusão digital, é importante entender dois conceitos: inclusão
digital e social. Vivemos hoje na sociedade do conhecimento e a verdadeira inclusão
digital, segundo Elzirik (2005), ocorre quando se consegue levar às pessoas a
informação, possibilitando a utilização da tecnologia como instrumento de
transformação social.
De Luca (2004) expressa a apropriação da tecnologia de forma consciente,
tornando possível ao indivíduo decidir quando, como e para que utilizá-la. Martini
(2005) afirma que inclusão digital objetiva tão somente o uso livre da tecnologia da
informação como forma de ampliar a cidadania e combater a pobreza, além da inserção
na sociedade da informação e o fortalecimento do desenvolvimento local. Moreira
(2006) defende que a inclusão social proporciona às populações excluídas as
oportunidades necessárias para se viver com qualidade através de acesso a bens
materiais, educacionais e culturais.
As ações do governo no programa Sociedade da Informação visam diminuir a
exclusão digital. Entretanto, Lemos (2007) argumenta que a grande questão é lidar com
altos índices de pobreza e analfabetismo no Brasil. O desenvolvimento das tecnologias
se dá cada vez mais rápido e o abismo entre incluídos e excluídos tende a aumentar.
Muito se tem discutido sobre a importância de transformar nossa sociedade em
uma sociedade inclusiva. A ideia é que a mesma reconheça a diversidade das pessoas
com deficiência, a importância de sua autonomia e independência individuais
[CAMPOS 2006]. E esta é a proposta deste projeto comunitário, garantir que a inclusão
seja de fato concretizada.
3. Metodologia
Este artigo surge a partir de uma experiência de vida, a prática de trabalho voluntário
junto a Escola Estadual de Educação Básica General Neto que abrange os deficientes
visuais de Santana de Livramento e Rivera (Uruguai). Aqui será apresentada a
metodologia, ou seja, a forma como este trabalho está sendo realizado.
São duas turmas beneficiadas, uma com crianças e adolescentes e a segunda com
adultos, esta conta com duas alunas uruguaias. Realizam-se duas aulas semanais no
laboratório de informática do colégio supracitado. Este conta com computadores
desktops e notebooks normais, sem nenhuma adaptação, e impressoras em Braille.
Desta forma, para que os alunos possam ter contato com estas máquinas, é
necessário conhecer muito bem o teclado. O processo é muito lento, mas
imprescindível, uma vez que a manipulação do mouse está descartada. O objetivo é
proporcionar o reconhecimento das teclas alfanuméricas e teclas com funções especiais.
Esta é uma das etapas do aprendizado.
Ao conhecer o teclado e se familiarizar com ele, os alunos passam para outra
etapa. Eles começam a “ler” a tela. Isto é feito através do uso de um sistema chamado
DOSVOX. Este se comunica com o usuário através de um sintetizador de voz
[BORGES 2013]. As grandes vantagens do DOSVOX são que, além de ser gratuito e de
fácil manipulação, ele conta com vozes muito próximas da voz humana, o que gera
maior conforto ao usuário. Outro ponto positivo é que o DOSVOX pode ser executado
em Microsoft Windows 95 ou superior e a plataforma mínima é o Pentium 133. A única
exigência é que a máquina possua uma placa de som ou mesmo a disponibilidade de
som “on-board”. Ele também roda em Linux, sistema operacional open source.
Para que a leitura possa ser realizada no DOSVOX, o arquivo que está sendo
lido deve encontrar-se no formato TXT. Mas o uso do sistema não se resume à leitura
de textos. É possível também ter um pouco de diversão, pois o sistema disponibiliza um
número considerável de jogos tornando o uso do computador mais interessante para
crianças e adolescentes.
Após a assimilação do uso do teclado e utilização do sistema DOSVOX para
realizar a leitura da tela e jogar, chega o momento tão esperado pelos alunos, navegar na
internet. Esta parte do trabalho ainda não foi desenvolvida, porém a escolha do software
já foi feita. Será utilizado o NVDA e o treinamento já está sendo feito, através do uso
dos atalhos, pois sem o domínio total destes fica difícil a utilização do mesmo.
O NVDA é um software livre, gratuito e foi desenvolvido por um australiano. A
sigla NVDA – Non Visual Desktop Access – significa, em português, “Acesso NãoVisual ao Ambiente de Trabalho”. O objetivo deste programa é ler a tela do Windows.
Ao contrário do DOSVOX, este possui um maior número de recursos, sendo possível
ler tabelas e páginas da web, pois aceita formatos diferentes do TXT. Por sua utilização
ser um pouco mais complexa, exigindo novos comandos, optou-se por utilizá-lo em um
segundo momento, quando o aluno já está familiarizado com o computador e o teclado.
Apesar da escolha já ter sido feita, é interessante apresentar mais alternativas.
Outros leitores utilizados são: Virtual Visio, Windows Eyes e Jaws for Windows. Este
último é o mais utilizado no mundo. Ele é um software proprietário e por este motivo
foi descartado. Muitos alunos não teriam condições financeiras de adquirir
posteriormente e o NVDA possui os requisitos necessários.
Após esta breve apresentação da metodologia, da forma como o projeto está
sendo desenvolvido, faz-se necessário analisar os resultados obtidos até o presente
momento, bem como as expectativas em relação ao futuro do projeto.
4. Resultados Parciais
Desenvolver um trabalho junto aos deficientes visuais apresenta muitos desafios. Eles
sentem de formas diferentes e, a simples visualização de uma imagem se faz impossível.
Neste sentido, é necessário apresentar-lhes um mundo novo através da síntese de voz
nas máquinas. Até o presente momento, o trabalho está sendo muito gratificante e os
alunos estão assimilando as informações de forma muito positiva.
Como foi dito anteriormente, o trabalho iniciou-se com o conhecimento do
teclado, periférico utilizado pelos deficientes visuais. Este primeiro contato foi possível
graças à utilização do DOSVOX. É interessante destacar que os alunos são bastante
independentes e buscam aprender sem auxílio.
A turma de adultos não está tendo grande dificuldade, pois muitos já tinham
conhecimento prévio do teclado e os que não o possuíam, aprenderam muito rápido. O
fato de duas alunas serem uruguaias não traz grandes problemas, pois o contato com o
português para elas é diário.
Quando foi observado o domínio da utilização do teclado partiu-se para a etapa
seguinte com os adultos. Eles estão aprendendo os comandos(atalhos) do software
NVDA. Alguns estão apresentando dificuldades em gravar os atalhos, mas estão
aprendendo e bastante motivados para partir para o próximo passo, navegar na internet.
A turma de crianças e adolescentes apresenta uma realidade diferente. A
dificuldade com o teclado é visível, visto que muitos ainda estão sendo alfabetizados.
Como nesta turma o foco é outro, eles estão utilizando o computador para
entretenimento, principalmente jogos. Estão muito motivados em aprender algo a mais.
Estes foram os resultados obtidos até o presente momento. Como o objetivo do
projeto é gerar inclusão digital e social, espera-se que os alunos apresentem mais
intimidade com as máquinas, vindo a utilizá-las para os mais variados fins. Almeja-se
que as crianças consigam aprender o máximo possível, visto que o DOSVOX apresenta
muitos jogos educativos. E que, no futuro possam ter contato com um novo mundo, o da
internet. O objetivo aqui é que elas observem que podem realizar muitas atividades em
um computador e que não é a deficiência que irá reduzir as suas possibilidades.
Quanto aos adultos, espera-se que eles aprendam o quanto antes os atalhos do
NVDA, para que possam fazer pesquisas na internet, utilizar as redes sociais e ter
contato com o mundo todo. A partir da realização destas atividades, os adultos poderão
se preparar melhor para o mercado de trabalho e observar que não são suas limitações
físicas que irão barrá-los no futuro.
5. Referências
Borges, A. (2013) “Projeto Dosvox”. Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ –
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro.
Disponível
em:
http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/. Acesso em 13 de jun. de 2013.
Campos, M. B. (2006) “Promoção da acessibilidade na Web como recurso para inclusão
e permanência de acadêmicos com necessidades educacionais especiais, 2006”. In
Proceeding of the 17 Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, SBIE’06.
Brasília, Brasil (2006), 11 – 120 http://ceie-sbc.educacao.ws/pub/index.php/
sbie%20/article/view File/471/457
De Luca, C. (2004) “O que é inclusão digital?” In.: Cruz, R. O que as empresas podem
fazer pela inclusão digital. São Paulo: Instituto Ethos.
Elzirik, M. F. (2005) “Inclusão digital: tecendo redes afetivas/cognitivas”. Rio de
Janeiro: DP&A.
Martini, R. (2005) “Inclusão digital & inclusão social. Revista Inclusão Social”.
Brasília: IBICT, v. 1, n. 1, 2005.
Moreira, I. DE C. (2006) “A inclusão social e a popularização da ciência e tecnologia no
Brasil”. Revista Inclusão Social. Brasília: IBICT, v. 1, n. 2, 2006.
Lemos, A. (Org). (2007) “Cidade digital: portais, inclusão e redes no Brasil”. Salvador:
EDUFBA.
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