canto
março de 2010 / 11ª edição
da
liberdade
Atriz Sophia Bisilliat fala
sobre o documentário
“Entre a Luz e a Sombra”
créditos: SERT
Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo
Realizada
3ª
edição
da Feira Cultural na
Penitenciária Guarulhos I
Reciclagem e Educação
Ambiental são temas de
palestra na PFC
Programa Pró-Egresso
Lançado pelo Governo de SP, o Pró-Egresso vai permitir
inscrição de egressos e adolescentes que cumprem
medida sócio-educativa no mercado de trabalho
Adaptação da obra “Auto
da Barca do Inferno” é
apresentada em Sorocaba
Editorial
CANTO
da
LIBERDADE
H
á um belo e conhecidíssimo poema de Carlos
Drummond de Andrade, “Cortar o Tempo”, que
exalta o idealizador deste acontecimento. De início já
explica “quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que
se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou
a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão”. É
verdade. Ao longo dos doze meses, qualquer ser humano
pode chegar a este limite e, se titubear, pode até entregar
os pontos diante das inúmeras adversidades.
Mas, o novo ano sempre chega e com ele o espírito de
renovação e o bálsamo da esperança. Assim também
com relação ao trabalho desenvolvido pela FUNAP.
Mesmo com os diversos obstáculos – que não são poucos
– como a questão orçamentária, redução do quadro de
funcionários, crescimento da população carcerária e a
construção de novas unidades prisionais, a missão desta
Fundação instituída há mais de três décadas não pode
ser desvirtuada.
Por isso, apresentamos em destaque nesta primeira
edição de 2010 do “Canto da Liberdade” o Programa
Pró-Egresso. Lançado em dezembro de 2009 pelo
Estado de São Paulo, encerrou o ano como combustível
para novas e positivas perspectivas para um dos maiores
obstáculos enfrentados pelos egressos: a recolocação no
mercado de trabalho.
Outros temas são abordados nesta edição e prevalecem
os relacionados à cultura. Não à toa. Acreditamos que
através do estímulo à leitura, das mais variadas atividades
culturais, como as apresentações teatrais na Penitenciária
de Sorocaba II e na Penitenciária de Guarulhos, podese constatar que é possível a transformação de quem
realmente almeja mudanças.
Finalizamos com uma história de superação de alguém
que já passou pelo Sistema Prisional e conseguiu, por
meio da Educação e do Trabalho, total recuperação.
É o caso do Prof. Edris Queiroz que hoje contrata
reeducandos que cumpriram pena ao seu lado.
Como já dizia o filósofo grego Epicuro “o impossível
reside nas mãos inertes daqueles que não tentam”.
Continuaremos tentando em 2010!
Boa leitura!
Lúcia Casali de Oliveira - Diretora Executiva
Participe do Canto
Olá a todos os leitores do Canto da Liberdade! Estamos de
volta com mais uma edição e sua carta será sempre bem-vinda.
Participe!
“Quando faço ‘minhas artes’, minha maior intenção é
diminuir a ‘escuridão’ que existe aqui dentro, neste lugar
tão ‘negro’. Quando vejo rostos sorrindo, enxergo luzes nos
sorrisos e o som das risadas são músicas que animam um
pouco o meu ser.”
Joel da Silva Gonçalves - Penitenciária de Sorocaba II
“É tão fácil deixar de sonhar... Porque ir atrás do que
acreditamos requer atitude. É tão fácil só criticar... Porque
melhorar requer aprendizado. É tão fácil cultivar o medo...
Porque enfrentar o desconhecido requer coragem. É tão
fácil desistir... Porque ir adiante requer luta. É tão fácil
largar... Porque insistir requer perseverança. É tão fácil
acusar... Porque ouvir requer compaixão. É tão fácil deixar de
acreditar... Porque crer requer fé! É tão fácil morrer... Porque
viver requer vida!”
Djalma Tadeu Ribeiro
Penitenciária de Avaré II
EXPEDIENTE
FUNAP - Fundação “ Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel”
Presidente: Arthur Allegreti Jolly
Diretora Executiva: Lúcia Maria Casali de Oliveira
Chefe de Gabinete: Rosália Maria Andreucci Naves Andrade
“Não tenho um caminho novo; o que tenho de novo é o jeito
de caminhar”.
Rosemar Braz Martins – Penitenciária de Serra Azul I
“Sem educação, o criminoso só conhece e respeita uma razão:
a violência”.
Maria de Fátima de Jesus - Penitenciária Feminina de Sant´Anna
“O doente necessita de remédio, não de alguém que lhe agrave
as feridas. Quem está prestes a cair num precipício precisa de
alguém que lhe estenda a mão, não de alguém para empurrálo definitivamente. O criminoso não deixa de ser um doente
social, alguém que precisa ser cuidado”.
Lucas Romão da Silva - Penitenciária de Valparaíso
“Somente vivendo aqui nesse lugar a gente pode compreender
o ser humano”.
Gilson Barbosa Buriti – Penitenciária de Álvaro de Carvalho
Escreva-nos sempre! Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - FUNAP
A/C COMUNICAÇÃO
R. Dr. Vila Nova, 268 - Vila Buarque - São Paulo / SP / CEP: 01222-020
Jornalista: Joyce Malet Kassim Vitorino (MTB 50973)
Estagiária de Jornalismo: Verônica Gallo Petrelli
Diagramação: João Carlos Marcondes da Silva
Colaboradores: Regionais São Paulo/Vale; Grande São Paulo/Litoral;
Campinas/Sorocaba; Presidente Prudente; Bauru; Ribeirão Preto; Araçatuba.
Extramuros
CANTO
da L I B E R D A D E
DASPRE comemora 1º aniversário com Bazar de Natal
L
ançada em 08 de dezembro de 2008
pela FUNAP, a DASPRE - grife de
artesanato confeccionado pelas presas de
São Paulo - chega ao 1º aniversário com
muitos motivos para comemorar.
E a festa de comemoração ocorreu em
dezembro de 2009, com coquetel que
reuniu servidores, amigos e contou
ainda com a presença do Secretário da
Administração Penitenciária, Lourival
Gomes, acompanhado pelo Secretário
Adjunto, Cláudio Tucci Junior. Mesmo
com o temporal que castigou a cidade
de São Paulo, a Loja “Do Lado de Lá”
registrou um público considerável e as
vendas foram positivas.
O catálogo de produtos da DASPRE
está cada dia mais diversificado e não
para de crescer. São mais de 100 itens
entre acessórios de decoração, utilidades
domésticas e mimos que agradam todos
os gostos e idades, como os cachorrinhos
que viram travesseiros, sucesso de vendas
desde o lançamento, com mais de 1.000
itens vendidos.
Todos os produtos da DASPRE são
vendidos na loja “Do Lado de Lá”, onde
também podem ser encontrados artigos
Algumas caixas decorativas de Natal confeccionadas pelas presas
produzidos por reeducandos de todo o
sistema prisional paulista. A DASPRE,
no entanto, é a grande atração da Loja
que já faturou mais de R$ 100.000,00, um
patamar jamais alcançado pela Fundação
com artigos artesanais.
Mesmo com a forte chuva que atingiu a cidade de São Paulo, a Loja “Do Lado de Lá” recebeu a visita de muitos convidados
Idealizada para proporcionar oportunidade
de trabalho e geração de renda às presas do
Estado de São Paulo, a DASPRE já assistiu
mais de 300 detentas e a reincidência tem
sido zero. Atualmente, são quatro oficinas
de artesanato: na Penitenciária Feminina
da Capital, duas oficinas na Penitenciária
Feminina de Sant´Anna e uma na própria
sede da FUNAP, onde presas em regime
semiaberto, da Penitenciária Feminina do
Butantã, trabalham como costureiras e
artesãs.
Das participantes, 3 já conquistaram
a liberdade mas continuam o trabalho
com a DASPRE, agora na condição de
autônomas contratadas pela FUNAP,
tornando-se multiplicadoras do Projeto.
Atualmente, cerca de 70 mulheres estão
participando das oficinas, onde aprendem
não só um ofício para exercerem uma
profissão além das grades, mas também
regras de convivência e de conduta.
Além de terem o reconhecimento de seu
trabalho, todas recebem bolsa no valor
de ¾ do salário mínimo vigente, mais
vales transporte e refeição (para presas
em regime semiaberto) além do direito
ao benefício da remição de pena (a cada
três dias de trabalho é reduzido um dia no
tempo da condenação).
Todas receberam a certificação da
SUTACO (Superintendência do Trabalho
Artesanal nas Comunidades), que faz com
que as reeducandas sejam reconhecidas
como profissionais de artesanato quando
saírem da penitenciária, podendo
reconstruir suas vidas por conta própria.
Como resultado deste trabalho sério
desenvolvido pela DASPRE, o projeto
foi recentemente certificado pelo Prêmio
Fundação Banco do Brasil de Tecnologia,
premiação que tem por finalidade
reconhecer “produtos, técnicas ou
metodologias reaplicáveis, desenvolvidas
na interação com a comunidade e
que representem efetivas soluções de
transformação social”.
A venda destes produtos socialmente
corretos é a garantia da expansão do
projeto e da oportunidade de um futuro
melhor para aquelas que estão aguardando
a tão sonhada liberdade. A proposta da
FUNAP é levar este projeto às demais
unidades femininas ainda em 2010.
CANTO
da
LIBERDADE
Entenda o que é o Pró-Egresso
econquistar a liberdade é,certamente,
o principal objetivo de quem está
cumprindo pena ou aguardando pela
sentença. Talvez, apenas o medo e a
incerteza de como será o recomeço do
outro lado das muralhas sejam maiores
que este anseio. A liberdade traz consigo
o peso da responsabilidade. E a liberdade
pós-cárcere exige uma responsabilidade
ainda maior.
Em recente artigo publicado pelo jornal
O Estado de S. Paulo, o advogado e
professor Miguel Reale Junior destacou
que o condenado, ao ingressar no
cárcere, passa por um “choque da
prisonização” que, segundo ele, significa
a perda da individualidade e da própria
identidade. Na verdade, este processo é
bem complexo e até mesmo paradoxal.
Se de um lado representa a ruptura com
a sociedade e muitos dos seus vínculos,
por outro, representa uma forçada e
necessária inclusão.
Evidente que preparar o retorno
do indivíduo que passou por esta
prisonização é parte essencial no
processo de reintegração social. Para
isto, a FUNAP atua há mais de três
décadas
nas
unidades
prisionais
paulistas, visando à educação, promoção
cultural e profissionalização de milhares
de reeducandos. Em contrapartida,
a maneira como este reeducando for
recepcionado pela sociedade será
também determinante nos índices de
reincidência criminal.
Pensando neste tenso e intenso retorno,
o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
lançou, em 2009, a campanha “Começar
de Novo” que visa sensibilizar a população
para a necessidade de recolocação, no
mercado de trabalho e na sociedade, dos
presos libertados após o cumprimento
de penas.
créditos: SAP
R
Programa lançado pelo Governo do Estado de São Paulo
para empregar egressos
Momento da assinatura do Decreto Nº55.126/09 que institui o Programa de Inserção de Egressos do
Sistema Penitenciário no Mercado de Trabalho - PRÓ-EGRESSO e dá providências correlatas
Em São Paulo, o governo estadual lançou
em 07 de dezembro de 2009 o programa
de inserção de egressos do sistema
penitenciário no mercado de trabalho: o
Pró-Egresso e o Pró-Egresso Jovem, este
voltado para adolescentes que cumprem
medida sócio-educativa.
PRÓ-EGRESSO
O Pró-Egresso é uma parceria entre
as secretarias estaduais do Emprego
e Relações do Trabalho (SERT), da
Administração Penitenciária (SAP)
e da Justiça e da Defesa da Cidadania
(SJDC). De acordo com o programa, os
órgãos estaduais poderão agora exigir
que 5% do número total de vagas das
empresas vencedoras das licitações de
obras e serviços seja destinado aos exdetentos. Em cerimônia realizada no
Palácio dos Bandeirantes, o Sindicato
das Empresas de Asseio e Conservação
no Estado de São Paulo (SEAC) já
anunciou a abertura de 1.000 vagas para
estes egressos. À ocasião, o governador
José Serra afirmou que o programa parte
de uma premissa fundamental que é a
crença na possibilidade de recuperação
das pessoas. Revelou ainda acreditar na
possibilidade de recuperação de cada
indivíduo que esteja cumprindo sua pena.
“Esse é um bem que a gente faz para
as pessoas e um bem para a sociedade,
porque nós vamos diminuir a taxa de
reincidência ao crime”, completou.
O principal objetivo do Pró-Egresso é
estimular a inclusão na sociedade e no
mercado de trabalho de egressos das
penitenciárias paulistas e da Fundação
Casa, por meio de programas da
Secretaria do Emprego e Relações do
Trabalho, como o Emprega São Paulo
(intermediação de mão-de-obra) e o
CANTO
da
créditos: SAP
Secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes,
ressaltou a relevância do Programa no processo de ressocialização
mencionado pelo secretário foi o Projeto
Carpe Diem, no CDP de Sorocaba, que
visa, na prática, separar o preso primário
dos que são acusados de crimes mais
graves.
BENEFICIADOS
- Egressos do sistema penitenciário: exdetentos que saíram do sistema carcerário
há no máximo um ano ou estejam em
liberdade condicional;
- Liberados definitivos lato sensu:
cumpriram a pena e estão em liberdade
há mais de um ano;
- Em situação especial de cumprimento
de pena: casos como os de detentos que
cumprem pena em regime semiaberto
ou aberto; que foram beneficiados pela
suspensão condicional da pena; que
foram condenados a penas alternativas;
- Anistiados, agraciados, indultados,
perdoados judicialmente: aqueles cuja
punibilidade foi declarada extinta;
- Adolescentes que estejam cumprindo
ou já cumpriram medida sócio-educativa
na Fundação Casa.
empresa vencedora de licitações contrate
um número mínimo de egressos para
realizarem os trabalhos. Na obra ou
serviço que necessitar de um contingente
créditos: SAP
Programa Estadual de Qualificação
Profissional (PEQ).
O secretário desta Pasta, Guilherme
Afif Domingos, afirmou que facilitará a
qualificação profissional e a reinserção dos
egressos no mercado de trabalho. “Vamos
trabalhar e demonstrar à sociedade e aos
empresários em geral que o preconceito
contra essas pessoas é injusto, pois o grau
de recuperação é de 85 a 90% quando
lhes é dada oportunidade”, ressaltou.
Já o secretário da Administração
Penitenciária, Lourival Gomes, falou
sobre a preocupante evolução do número
de presidiários do sistema penitenciário
paulista e reforçou o papel da SAP
e da FUNAP em projetos que têm
por finalidade a reintegração social.
Um exemplo inédito e bem sucedido
LIBERDADE
COMO VAI FUNCIONAR
Secretaria do Emprego e Relações do
Trabalho (SERT)
O papel da SERT no Pró-Egresso será
captar vagas no mercado de trabalho
paulista para inseri-las no Emprega São
Paulo e fazer, nos Postos de Atendimento
ao Trabalhador (PATs), a inscrição
dos egressos. Esses cadastros também
poderão ser feitos em unidades da
Coordenadoria de Reintegração Social
e Cidadania.
Os cadastros conterão histórico das
aptidões e qualificações profissionais
e pessoais dos egressos, além de
informações sobre cursos e atividades
que tenham desenvolvido. A SERT vai
oferecer também aos egressos, em 2010,
vagas em cursos gratuitos do Programa
Estadual de Qualificação Profissional
(PEQ).
Secretaria da Administração Penitenciária
(SAP)
A SAP vai identificar, por meio dos
atendimentos realizados nas unidades da
Coordenadoria de Reintegração Social e
Cidadania, os usuários que estão dentro
do perfil estabelecido pelo Pró-Egresso
e inscrevê-los no Emprega São Paulo ou
encaminhá-los para PATs.
A Secretaria também acompanhará
o desempenho dos beneficiários do
programa junto às empresas e vai
disponibilizar espaços adequados para
o desenvolvimento de cursos do PEQ e
demais programas para recolocação dos
ex-detentos.
Vagas destinadas aos egressos em contratos
públicos
Os órgãos estaduais poderão exigir que a
Governador José Serra falou sobre iniciativas bem sucedidas na
contratação de presos e egressos por algumas Prefeituras
mínimo de 20 trabalhadores, a exigência
é que a empresa destine até 5% das
vagas. Quando forem necessários entre
seis e 20 trabalhadores, a contratada
deverá destinar pelo menos uma vaga a
um egresso. Para até cinco trabalhadores
será facultativa a contratação de pessoas
nessa situação.
Os órgãos da administração pública
que aderirem ao Pró-Egresso deverão
encaminhar, além dos documentos
exigidos na fase de habilitação, carta de
compromisso afirmando sua disposição
em contratar os beneficiários do PróEgresso.
Os beneficiários do Pró-Egresso
também poderão ser inseridos em
outros programas da SERT: Programa
Emergencial de Auxílio Desemprego Frente de Trabalho (PEAD); Aprendiz
Paulista; Jovem Cidadão; Time do
Emprego; Programa de Apoio à Pessoa
com Deficiência (PADEF); Banco
do Povo Paulista (BPP); Programa
Estadual de Desburocratização (PED);
Superintendência do Trabalho Artesanal
nas Comunidades (SUTACO); e
Comissão Estadual de Emprego.
O cantar da liberdade, com esta iniciativa
pioneira do Estado de São Paulo, poderá
ser diferente. O Pró-Egresso propõe
transformar obstáculos em novas e
promissoras oportunidades.
Intramuros
A
CANTO
da L I B E R D A D E
Feira Cultural na Penitenciária de Guarulhos I
traz dicas de prevenção contra tabagismo e DSTs
diretoria de educação da Penitenciária
de Guarulhos I realizou em novembro
de 2009 a 3ª Feira Cultural e Ciências, que
acontece anualmente e é organizada por
funcionários e reeducandos. Nesta edição,
o tema escolhido para o evento foi “Saúde,
Tabagismo e DST”. Artesanato, poesias,
contos, música, ciências da natureza, biologia
e saúde foram algumas das modalidades
abordadas nas apresentações.
A feira foi realizada com a cooperação da
Prefeitura de Guarulhos; Cooperativa de
Catadores de Materiais Recicláveis de
Guarulhos (Coop Reciclável) e o Instituto
de Biologia Marinha e Meio Ambiente
(IBIMM), que cedeu aos alunos da unidade
prisional materiais para exposição e também
os auxiliou na preparação das aulas.
Com a capela lotada, reeducandos e convidados
assistiram a uma peça teatral que tratava do vício
do tabagismo. Os atores (todos reeducandos)
não se intimidaram com a plateia e mostraram
todo seu talento, com performances e atuações
dignas de profissionais das artes cênicas. Após
a apresentação, todos receberam os parabéns
do público.
uso de tabaco durante a gravidez. Outro
projeto bem interessante foi apresentado pelo
reeducando Marcelo da Conceição. Consistia
créditos: SAP num dispositivo que, por meio da cabeça
de uma caveira, mostrava a quantidade de
fumaça que permanece no pulmão humano
após o fumo. O aparelho, confeccionado
pelos próprios presos, demonstrou como o
algodão - que representou o órgão pulmonar
- fica amarelo após a ingestão da nicotina.
Na sala cultural havia apresentações
musicais interpretadas pelos reeducandos.
Ao lado, um espaço chamava a atenção
dos visitantes: era a Sala de Terapias
Alternativas, onde foram aplicadas técnicas
de auriculoterapia, acupuntura, reiki etc.
A peça apresentada sobre os malefícios do tabagismo passou
O diretor da unidade, Antônio Samuel de
informação com muito talento e bom humor
Oliveira Filho, ressaltou a importância dessas
Várias salas foram preparadas para as iniciativas: “Esse evento faz tanto a população
exposições, todas relacionadas ao tema da carcerária quanto as pessoas que vêm colaborar
feira. Em uma delas, os visitantes tiveram terem uma nova consciência sobre o sistema
acesso a frascos contendo embriões humanos, prisional. Assim, a sociedade recebe o egresso
todos mortos devido a suas mães terem feito com outro olhar”, relata o diretor.
Reciclagem e Educação Ambiental inovam na tarefa de educar para a vida
N
os dias 5 e 6 de novembro de
2009, o Sistema Penitenciário
Paulista deu mais um grande passo no
aprimoramento da Educação de Jovens
e Adultos (EJA). Trata-se da realização
da palestra e de atividades desenvolvidas
em torno do tema: RECICLAGEM
e
EDUCAÇÃO
AMBIENTAL,
ministrada pela voluntária da ONG
“SOS Mata Atlântica”, Clélia Martins
Rossi.
A proposta foi elaborada em conjunto
com a Diretoria de Educação da
Penitenciária Feminina da Capital, a
Organização Não Governamental e a
Supervisão Regional da FUNAP. “A
atividade foi muito produtiva e a palestra
proporcionou às alunas, funcionários
administrativos e agentes penitenciários
a conscientização dessa problemática tão
evidente em nossa realidade e por que
não dizer no mundo todo”, afirmou o
supervisor da Regional Capital e Vale do
Paraíba, José Roberto Costa.
Num segundo momento da atividade,
Reeducandas atentas para elaboração de cartazes com mensagens
sobre preservação ambiental
foram formados subgrupos
incitar reflexões, discussões
elaboração de cartazes que
trabalhados posteriormente em
para
e a
serão
salas
de aula, objetivando contemplar os
conteúdos planejados com as turmas de
Alfabetização e Ensino Fundamental.
Estes trabalhos foram coordenados pelas
alunas do Projeto de Olho no Futuro,
que tem por objetivo proporcionar
formação para sentenciadas com vocação
para ensinar as demais colegas, além de
representar uma nova possibilidade de
trabalho quando em liberdade.
A participação e o interesse demonstrados
pelas alunas foi o ponto alto da atividade,
principalmente quando lhes foram
apresentadas peças artesanais produzidas
a partir de embalagens plásticas.
Atividades como as desenvolvidas na
Penitenciária Feminina da Capital
demonstram que é possível conciliar
temas atuais à grade curricular,
levando conhecimento e despertando a
curiosidade das alunas. Teoria e prática
unidas em prol do meio ambiente!
Oportunidade
CANTO
da L I B E R D A D E
Superação para além das muralhas
U
ma pessoa que realmente deu a volta
por cima e, além de aproveitar as
ocasiões, soube oferecer oportunidades
aos demais colegas privados de liberdade.
Essa é uma das características marcantes
de Edris Queiroz, professor, coordenador e
um dos idealizadores do IBIMM (Instituto
de Biologia Marinha e Meio Ambiente),
que é uma ONG sem fins lucrativos com
visibilidade nacional e internacional, de
interesse multidisciplinar.
Edris cometeu delitos quando ainda era
jovem. Depois de abandonar a vida do crime
e começar a estudar para mudar seu caminho,
uma denúncia anônima colocou-o atrás das
grades por cinco anos. Mas nem por causa
disso ele desanimou. “Graças aos estudos e
à unidade prisional que possuía uma escola,
vi minhas chances novamente aparecerem.
Assim, descobri que eu tinha uma força
interior muito grande e não ia deixar aquele
lugar acabar com minha vida”, declara Edris.
Então, o atual professor (que hoje possui
Cultura
A
mestrado na área de Valores Humanos)
começou a perceber que várias pessoas
não tinham oportunidades ao saírem
da penitenciária. “Muitos reeducandos
voltavam para a cadeia, reincidiam no
crime. Conversando com eles em sala de
aula (eu era monitor de educação), muitos
comentavam que não encontraram nenhum
apoio da sociedade e o preconceito era muito
grande. Pensei que podia fazer alguma coisa
a respeito”, conta Edris. Foi quando surgiu a
ideia de criar o IBIMM.
Hoje, o instituto conta com três egressos e
três reeducandos no rol de funcionários, e
Edris pretende aumentar para dez o número
de vagas para os sentenciados.
Um dos trabalhadores presos, Lúcio César
do Amaral, do regime semiaberto, reconhece
a relevância do IBIMM em sua vida
profissional. “A grande importância deste
instituto neste momento tão importante
da minha vida é o apoio, o incentivo e o
emprego. Dificuldades todos vão enfrentar,
mas com apoio será muito mais fácil superar
os obstáculos”. Lúcio foi colega de Edris na
Penit. de Guarulhos I e hoje já tem uma
vaga garantida no instituto, cuja sede é em
Mairiporã. Para o reeducando Lúcio, a
educação é fundamental na ressocialização
do indivíduo.
Perguntado sobre suas realizações no
instituto de biologia, Edris comenta que
todos no IBIMM trabalham sério; cada
um tem seu papel e não existe preconceito.
São jovens, universitários, professores,
reeducandos e egressos trabalhando todos
unidos e de forma harmoniosa. E ele ainda
deixa uma mensagem para aqueles que
estão em busca da liberdade sem estigmas:
“Pensamos que todo mundo olha para nós e
vê que está escrito em nosso rosto que somos
ex-presidiários, mas não é bem assim. Existe
preconceito, mas o maior preconceito é
nosso mesmo, está dentro da gente. Quando
assumimos que erramos, podemos dar a volta
por cima e sermos vitoriosos”, conclui.
Adaptação da obra de Gil Vicente é apresentada na Penitenciária de Sorocaba II
já tradicional apresentação de final
de ano na Penitenciária de Sorocaba
II, mais uma vez, surpreendeu a todos os
convidados. Não apenas pela reconhecida
qualidade artística dos participantes,
tampouco pela estrutura técnica, mas pela
criativa adaptação realizada na obra “Auto
da Barca do Inferno”, consagrado texto
do poeta e dramaturgo português, Gil
Vicente.
Toda essa liberdade artística ficou por
conta do monitor de projetos Joel da
Silva Gonçalves, que por meio do Projeto
Teatro “Magia do Riso” mantém vivos
talentos que não podem ser enterrados.
A FUNAP colaborou com a aquisição
de figurinos, montagem do cenário e
maquiagem. Parceiros locais contribuíram
com equipamentos de som e iluminação, e
a Universidade de Sorocaba (Uniso) ficou
responsável pelo registro da apresentação.
Joel confidencia que tamanha ousadia só foi
possível graças ao brilhantismo da equipe.
De fato, reunir personagens tão singulares
como o diabo e seu “fiel” companheiro, o
Joel Gonçalves agradece o apoio de todos os colaboradores
envolvidos na realização do evento cultural
Banqueiro Dantas, o anjo e sua imutável
expressão, o judeu, o louco e a dupla caricata
do promotor e do juiz, não poderia resultar
em tarefa fácil.
O monitor orientador da FUNAP,
Giuliano Verga, acompanhou de perto todo
o processo de preparação e montagem da
peça. E gostou do resultado. “O espetáculo
superou todas as expectativas, considerando
que o lapso de tempo entre a concepção do
projeto e a apresentação da peça foi menor
que três meses”, revelou Verga.
O fato que une os artistas é que, mesmo
durante o cumprimento de suas penas,
o talento e amor pela arte não se
esvaeceram.
A plateia teve momentos de reflexão,
surpresas e boas risadas. Até um truque
com fogo foi realizado durante a
apresentação, com as devidas precauções de
segurança. O desfecho não poderia ter sido
mais surpreendente e a mensagem final
causou um certo desconforto aos atentos
ouvidos: “em breve estaremos tendo uma
conversinha sobre as coisas que andam
fazendo!”. Fecharam-se as cortinas.
canto
entrevista
A
mor e dedicação à arte. Expressões
corporais, teatro, música, shows,
festivais e desfiles. Na lembrança
de muitos reeducandos do extinto
Carandiru, talvez sejam esses os
fragmentos de memória: uma pessoa
que dedicou os melhores anos de sua
vida do lado de lá da Casa de Detenção.
Sempre por e pela arte. Conheça Sophia
Bisilliat, personagem retratada em
“Entre a Luz e a Sombra”, documentário
considerado “um dos cinco melhores do
ano” pelo renomado diretor Fernando
Meirelles.
CL - O que você achou do resultado
final do documentário?
SB
- Foi um trabalho de muita
dedicação por parte da produtora Luciana
Burlamaqui. As pessoas que entendem de
cinema acham que foi muito bem editado,
apesar de ser um pouco longo. Eu acho
que mostrou, dos quatro personagens
retratados, um encantamento e um
desencantamento por parte de cada um,
em relação ao sistema e em relação a um
monte de outras coisas. Do meu trabalho
foi mostrado apenas uma faceta, um breve
período, a ponta de um iceberg.
CL
- Quando o sistema prisional
despertou o seu interesse?
SB
- Eu tinha vinte anos e era atriz.
Como à época ensaiava em Santana,
passava por metrô na frente do Carandiru
e falava comigo mesma: “meu Deus,
eu quero conhecer aí dentro; quero de
alguma maneira conhecer e fazer alguma
coisa”. E foi aí que brotou a ideia. Na
verdade, me identifico muito com o
Dr. Dráuzio Varella, com a questão da
curiosidade. O trabalho começou só com
o teatro, com uma equipe da própria
FUNAP, e depois eu passei a trabalhar
de forma mais autônoma. Tudo se iniciou
em Taubaté, depois a gente veio para São
Paulo e começou a atuar no Carandiru.
A gente ia todos os dias para a unidade,
ficávamos das 9h às 19h, saíamos de lá à
noite... E eu sempre fui muito apaixonada
por aquilo. Lá comecei a ver os talentos,
fiz até um desfile dos travestis...
8
CL - Foi aí que descobriu o trabalho
da l i b e r d a d e
Por e pela Arte
da dupla 509-E?
SB
- Certa vez pensei em fazer um
Festival de Música. Então, fiz cartazes
divulgando o evento, dizendo que quem
tivesse qualquer tipo de música deveria se
inscrever. Apareceu um monte de gente,
acho que mais de duzentas duplas. Foi
uma loucura! Tinha de tudo: sertanejo,
forró, axé, rap, rock, samba... Foi aí que eu
conheci a dupla e falei: “vocês são bons”.
Foi o que mais me chamou a atenção
naquele dia. Aí, os dois do 509-E (que
na época não eram 509-E ainda) me
procuraram para ver a possibilidade de
levar um show do Racionais lá dentro.
Infelizmente, não consegui ajudá-los.
Mas, conheci o dono de uma gravadora e
na hora eu pensei: “esta é a chance deles,
“Lá era possível ver a complexidade do ser humano. A arte
desabrocha pessoas que todo mundo tem dentro de si”
é a hora!”. O dono da gravadora foi até
o presídio e aí começou toda a história.
De fato, aquilo tudo estourou! Foi uma eles tinham a necessidade de que a gente
fosse. E aquilo ia desabrochando dentro
loucura!
deles, ia descortinando. Pessoas que eram
CL - O Poder Judiciário colaborou muito rudes e que, por dentro, eram
bastante...
flores, mas também eram capazes de fazer
SB - Muito! O trabalho cresceu demais absurdos, de matar não só um, mas vários.
e muito rápido. Infelizmente, teve uma Lá era possível ver a complexidade do ser
entrevista que não deveria ter acontecido humano. A arte desabrocha pessoas que
e aí nunca mais eles puderam sair. Mas todo mundo tem dentro de si.
aquela foi uma oportunidade de se CL - E você continua com trabalho
mostrar um outro lado bem interessante voluntário no sistema?
da cadeia que poucos conheciam.
SB - Não. Eu parei quando o Carandiru
CL - Qual a importância da arte num acabou. Sinto que cumpri uma etapa e
ambiente como uma unidade prisional? que foi bacana. Uma etapa que valeu e
SB - Eu acho que a arte é mais um pronto, acabou.
trabalho, mais uma ocupação, mais uma CL - E os trabalhos voluntários em
maneira de se expressar. Porque muita comunidades, nas favelas?
gente, mesmo fora das prisões, não
se encaixa nos padrões e fica mesmo SB - Sim. Sempre me preocupei muito
à margem. Quando eu comecei com com as pessoas simples. Tanto os presos
o teatro, eu sabia que eles não iriam como as pessoas que vivem em favelas e
ser atores. Talvez, mas não era este o em manicômios são indivíduos que me
propósito. Era uma maneira de dirigir intrigam muito.
uma atenção exclusiva a eles. O maior CL - E o que é, para você, viver “entre
problema, não só do sistema, mas também a luz e a sombra”?
da periferia, é que eles não são vistos. São
oprimidos, escondidos debaixo do tapete. SB - Eu acho que eu sempre consegui
Acho que este é o maior problema. E o permear muito bem entre um lado e o
fato de ter um grupo ou pessoas que vão outro. Sempre tive muita facilidade de ser
até os presos e se preocupam com eles a mesma pessoa em uma favela, em um
é uma coisa importantíssima. E a gente morro, em uma quebrada e ser a mesma
percebia que, quanto mais a gente ia, mais em uma festa super badalada.
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