Atuação da fisioterapia no follow-up do Bebê de Risco
Izabel pereira garcia
[email protected]
Dayana priscila maia mejia
Pós-graduação em fisioterapia neurofuncional - Faculdade Sul-Americana/FASAM
Resumo
Com o surgimento de novas tecnologias e capacitação profissional reduziu-se o índice de
mortalidade de bebês de risco, porém o índice de morbidade cresceu. Com isso surgiu o
follow-up, que é o acompanhamento multidisciplinar do bebê de risco, com o intuito de
detectar possíveis alterações e intervir precocemente. Sendo a fisioterapia grande
facilitadora do desenvolvimento motor, este estudo teve o objeto de descrever o que é o
follow-up do bebê de risco e seus objetivos, descrever como a fisioterapia atua e suas
justificativas fisiológicas e funcionais para inclusão dessa no follow-up com os efeitos da
precocidade. Foi realizada revisão bibliográfica de artigos, publicações e literatura
envolvendo de assuntos como follow-up, neurodesenvolvimento infantil e fisioterapia
neurológica. Os resultados evidenciaram a grande importância da fisioterapia para o
desenvolvimento cerebral e consequentemente para a prevenção e minimização de desvios
do desenvolvimento motor normal sendo imprescindível a sua inclusão na equipe do followup do bebê de risco.
Palavras Chaves: Follow-up; Fisioterapia; Estimulação precoce
1.
Introdução
Com o surgimento de novas tecnologias e maior capacitação da equipe técnica
multidisciplinar, o índice de mortalidade dos recém-nascidos diminuiu consideravelmente, e
isso aumentou a sobrevida de bebês de risco. As unidades de terapia intensiva neonatais
contam, nos últimos tempos, com um suporte de aparelhos, medicamentos e profissional que
juntos proporcionam condições de sobrevivência do bebê de risco.
Considera-se como fator de risco toda a sorte de eventos negativos da vida, e que, quando
presentes, aumentam a probabilidade dos indivíduos de apresentar problemas físicos, sociais e
emocionais (YUNES & SZYMANSKI, 2001). Segundo o comitê de follow-up da Sociedade
de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ), citado por Penalva no novo manual de
follow-up, são considerados recém-nascidos de risco os RN com asfixia perinatal, prematuro,
problemas neurológicos, pequeno para idade gestacional, hiperbilirrubinemia, policitemia
sintomática, uso de ventilação mecânica ou O2 com concentração superior a 40%, infecções
congênitas, malformações congênitas e síndromes genéticas.
Ainda segundo Penalva, o comitê da SOPERJ considera que a queda da mortalidade desses
tipos de RN não favoreceu a queda da morbidade. Aumentou-se o risco de lesões
neurológicas, como a paralisia cerebral, alteração da audição e visão, distúrbios intelectuais,
entre outras. Quanto maior o número de fatores atuantes, maior será a possibilidade do
comprometimento do desenvolvimento:
“o que acentua os efeitos destes fatores é a quantidade e a associação,
mais do que a natureza dos mesmos, sendo que o bebê pré-termo, com
baixo peso, em ambiente físico inadequado, com pais de baixa
escolaridade, tem mais chances de apresentar atrasos no
desenvolvimento do que o bebê pré-termo em ambiente físico
adequado e com pais de maior escolaridade” (LINHARES et al., 2004;
FIGUEIRAS et al., 2005).
Em um estudo realizado por Campos et. al (2010) no qual comparou-se o desenvolvimento
motor de um grupo de 30 bebês pré-termo com o desenvolvimento motor padrão estabelecido
pela literatura foi verificado que todos eles apresentaram atraso das etapas do
desenvolvimento motor.
Por esse motivo, surgiu, então, a necessidade de acompanhamento desses bebês no intuito de
detectar precocemente distúrbios do desenvolvimento global, fornecendo assim a terapêutica e
ou intervenção que forem necessárias o mais precoce possível, diminuindo a gravidade das
sequelas neuropsicomotoras. Com isso em 1960 surgiu o termo follow-up nos EUA e foi
difundido no campo da medicina. Segundo o dicionário Oxford, a tradução do termo significa
seguir, acompanhar. Ou seja o acompanhamento do desenvolvimento de bebês de risco.
“Considerando o impacto das aquisições motoras do primeiro ano de
vida no prognóstico do desenvolvimento global da criança, o
acompanhamento de tais aquisições nessa faixa etária é de grande
importância, em termos preventivos, assim como a intensidade do
desenvolvimento linguístico característico do segundo ano de vida
justifica o acompanhamento evolutivo nesta faixa etária” (MANCINI
MC, TEIXEIRA S, ARAÚJO, LG, et.al. 2002).
No manual de boas práticas de Humanização na Atenção e na Gestão do Sistema Único de
Saúde - Humaniza Sus (2006), são considerados também objetivos do follow-up, além da
detecção dos desvios normais do desenvolvimento:

Planejar e realizar ações terapêuticas correspondentes

Desenvolver ações preventivos-educativas com a família

Desenvolver o ensino e a pesquisa nessa área.
Este acompanhamento é realizado por uma equipe multidisciplinar, para um atendimento mais
específico em cada área, objetivando o desenvolvimento da criança como um todo. Para o
comitê da SOPERJ em Penalva, uma equipe ideal seria composta por pediatra, enfermeira,
fisiatra, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, psicopedagogo,
neurologista, oftalmologista, otorrino, psicólogo, ortopedista, entre outros. Porém essa
composição pode variar entre cada instituição. Esses profissionais podem atender em um
mesmo lugar ou em instituições diferentes, porém com um único objetivo, e não há relatos de
prejuízos aos resultados finais se no último caso.
Os atendimentos geralmente são coordenados pelo pediatra e iniciam logo após a alta
hospitalar, geralmente no sétimo dia após alta, na consulta com o pediatra. Na uti esses bebês
são triados através do diagnóstico clínico ou apresentação clínica não-desejada. O pediatra,
então, coordena o fluxo das consultas com os demais profissionais da equipe.
O acompanhamento no follow-up, na maioria dos programas, ocorre até os dois anos, quando
não há alteração do desenvolvimento motor ou outra condição clínica que necessite a
continuidade do acompanhamento.
A fisioterapia como grande instrumento facilitador do desenvolvimento motor tem uma
participação funcional na equipe do follow-up. Com isso, este trabalho tem os objetivos de
descrever o que é o follow-up do bebê de risco e seus objetivos, descrever como a fisioterapia
atua e suas justificativas fisiológicas e funcionais para inclusão dessa no follow-up com os
efeitos da precocidade.
2.
Método
Foi realizada uma revisão bibliográfica das publicações, artigos e literatura relacionados aos
temas follow –up, bebês de risco, desenvolvimento motor normal e seus desvios, avaliação de
recém nascidos, neurologia infantil e fisioterapia neuropediatrica. As bibliografias
selecionadas compreenderam o período de 1996 a 2012 e foram extraídos do banco de dados
eletrônicos e revistas eletrônicas.
3.
Resultados
Um dos profissionais comuns em várias equipes do follow-up é o fisioterapeuta. O papel do
fisioterapeuta na equipe multidisciplinar é de grande importância, principalmente no que se
refere à avaliação e tratamento dos atrasos motores (CAMPOS, 2010). Quanto ao tratamento,
a intervenção precoce tem sido uma das abordagens mais utilizadas no atendimento de bebês
nascidos pré-termo (FORMIGA, PEDRAZZANI & TUDELLA, 2004 em CAMPOS 2010).
Ao ser detectado atraso, alteração ou qualquer fator que possa prejudicar o desenvolvimento
sensório-motor normal, esse bebê deverá ser encaminhado ao serviço de fisioterapia. O bebê
pode chegar ao serviço de fisioterapia encaminhado pela pediatria, neuropediatria ou por
outros terapeutas que já o acompanha.
Antes de iniciar a fisioterapia, o bebê é encaminhado ao serviço de neuropediatria para
avaliação, acompanhamento e concluir diagnóstico clínico. Muitos casos não tem o
diagnóstico fechado e isso não impede o início da fisioterapia.
A fisioterapia, como parte da equipe do follow-up, tem como alvo central o desenvolvimento
sensório-motor normal e todas as suas ações visam a normalidade desse ou a redução das
interferências dos desvios anormais na funcionalidade, garantido uma melhor qualidade de
vida do bebê.
Após avaliar o desenvolvimento motor das crianças junto com outros membros da equipe, a
fisioterapia poderá atuar através da estimulação precoce ou da intervenção precoce.
As avaliações fisioterapêuticas devem obedecer a critérios objetivos e não apenas impressões
subjetivas. Para isso, são usados instrumentos como a Bayley Scales Infant Development III
(BSID)- Escala de Desenvolvimento Infantil de Bayley- , Alberta Infant Motor Scale (AIMS)
e o Teste de Denver. As duas primeiras são utilizadas em estudos brasileiros.
A escala Bayley III é ideal para uso de suspeita de atraso do desenvolvimento motor precoce
em criança de 1 mês a 42 meses de idade e tem como benefícios a determinação de pontos
fortes, pontos fracos e competências para que os pais e os profissionais possam planejar
adequadamente para a criança e alinha com os requisitos "IDEA" para apoio e intervenção
(IDEA é a Legislação dos EUA para educação especial na primeira infância). É excelente para
uso em equipes interdisciplinares e permite um maior envolvimento do cuidador em itens do
teste. A escala Bayley III é a versão mais atual, 2006, das escalas sendo que foi criada a
primeira versão por Nancy Bayley e colaboradores em 1933. É uma escala confiável e
precisa, sendo uma das melhores escalas para se avaliar o desenvolvimento infantil. É
utilizada em vários trabalhos científicos. Esta escala é subdividia em cinco domínios:
cognição, linguagem (comunicação expressiva e receptiva), motor (grosso e fino), socialemocional e componente adaptativo. Os três primeiros domínios são observados com a
criança em situação de teste e os dois últimos são observados por meio de questionários
preenchidos pelos pais ou cuidadores. A desvantagem dessa escala e que a mesma só pode ser
aplicada por profissionais especializados e treinados e o examinador deve ser cauteloso na
aplicação da mesma em RN pré-termo.
A escala de Alberta avalia o desenvolvimento motor amplo espontâneo de crianças desde o
nascimento até os 18 meses, servindo consequentemente para o controle do mesmo e
sinalizando atraso. É útil também para avaliar os resultados da intervenção. Os itens avaliados
são os padrões motores e as posturas dentro dos critérios de alinhamento postural,
movimentos antigravitacionais e superfície de contato. Essa escala é bastante usada no Brasil.
O Teste de Denver Foi desenvolvido por Frankenburg e Dodds em 1967. É usado para
crianças de 1 a 6 anos. Esse foi revisado em 1992 resultando em Teste de Denver II e pode ser
aplicado por vários profissionais de saúde. Nesse é avaliado motricidade grossa, motricidade
fina-adaptativa, comportamento pessoal-adaptativa e linguagem. Essa escala apenas classifica
a criança em “de risco” ou “normal” não sendo eficaz no diagnóstico precoce do atraso.
Quando o bebê tem fatores de risco, porém na avalição fisioterapêutica não apresenta atraso
ou desvios do desenvolvimento sensório-motor normal é indicado a estimulação precoce.
A estimulação precoce consiste em estimular sensorial e motoramente o bebê que não
apresenta desvios do desenvolvimento motor de forma natural. Pode ser realizada pelos pais,
através da psicomotricidade realizada com um profissional especializado e pela fisioterapia
convencional.
O fisioterapeuta orienta aos pais a forma de carregar, posicionar, brincar e estimular o
sensório e as etapas do desenvolvimento motor para que assim possa fornecer estímulos
positivos durante a sua rotina diária.
O brincar permite a sensação de movimentos e também da estimulação sensorial. A forma de
carregar funciona como um grande aliado da estimulação pois permite a exploração do meio,
e o posicionar estimula a organização do esquema corporal, integração dos reflexos primitivos
e reações de endireitamento.
A fisioterapia convencional estimulará as etapas do desenvolvimento motor normal de forma
dinâmica e interativa visando a realização ativa dessas dentro do padrão de movimento de
qualidade.
Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade, os bebês de risco e em fase de
desenvolvimento tem indicação para a psicomotricidade, que deve ser realizada por
profissional habilitado. Essa visa o movimento humano organizado e integrado e
desenvolvimento intelectual.
Em um trabalho realizado no qual os pais executaram um programa domiciliar que incluía
uma variedade de técnicas de estimulação tátil e vestíbulo-cinestésica como massagem,
movimentos de embalar e abraçar, os efeitos a curto prazo compreenderam o maior ganho de
peso, melhor maturação neurológica e desempenho no teste manual de Bayley (WILLRIC,
2007).
Fonte: Novo Manual do Follow-up
Figura 1: Maneira de carregar a criança, estimulando-a
Os pais devem participar ativamente desse momento. Por isso, é de estrema relevância
envolve-los nesse processo, enfatizando a importância da família como um todo no
desenvolvimento do bebê, explicando a importância dessa estimulação no desenvolvimento
cerebral. Deixando-os cientes do processo de maturação cerebral é uma maneira de agregá-los
nas fases do acompanhamento e fidelizando-os no programa de follow-up.
Fonte: Novo Manual do Follow-up
Figura 2: Modos de estimulação sensorial e do alinhamento corporal pelos pais
Fonte: Novo Manual do Follow-up
Figura 3: Modos de estimulação do apoio do antebraço e controle cervical
Além disso, orientamos os pais sobre alguns sinais desfavoráveis ao desenvolvimento, para
que seja um complemento nas avaliações futuras.
Nos casos de estimulação precoce, não são realizados atendimentos fisioterapêuticos com
grande frequência. Porém são necessárias avaliações com uma periodicidade até a fase de
deambulação para que além de assegurar o acompanhamento do desenvolvimento sensóriomotor, é útil para orientar a estimulação por conta dos pais, de acordo com as progressões das
fases do desenvolvimento. Essas avaliações podem ser mensais, bimestrais ou semestrais,
dependendo dos fatores de risco e da qualidade dos resultados obtidos na avaliação inicial e
anteriores.
Se durante as avaliações periódicas forem observados atrasos e/ou sinais patológicos, deverá
ser realizada, então, a intervenção precoce com atendimentos fisioterapêuticos semanais.
Segundo Flehmig (2005) e Lopes & Lopes (1999) os critérios para o reconhecimento precoce
dos desvios do desenvolvimento e presença de anormalidades são:

Alterações do tônus.

Reações posturais deficientes ou ausentes

Reações de equilíbrio deficientes ou ausentes.

Padrões posturais tônicos

Persistência de reflexos primitivos

Assimetria de movimentos

Tremores, entre outros
A SOPERJ no novo manual do follow-up,considera os seguintes critérios como sinais
sugestivos de disfunção neuromotora:

Comportamento estereotipado, pobreza de movimentos ou movimento excessivo e
desorganizado.

Irritabilidade ou choro extremos, não sorri aos três meses

Controle pobre de cabeça depois dos três meses de idade, controle e alinhamento
pobres de cabeça

Persistente elevação da cintura escapular, protração (ombros para frente) ou retração
escapular

Hiperextensão da cabeça

Usa somente um lado do corpo ou apenas os braços para se arrastar

Hipotonia: dificuldade de se manter nas posturas, de acordo com sua faixa etária; não
se senta sem apoio aos 8 meses; com "postura de sapo" dos membros inferiores

Hipertonia: Pernas ou braços rígidos pelo aumento do tônus; pode ser observada pela
dificuldade de repousar o corpo sobre uma superfície de suporte ou pela pobreza /
dificuldade de realizar movimentos ativos ou passivos

Extensão incompleta do quadril, a pélvis se mostra persistentemente deslocada
anteriormente ou posteriormente

Tônus de eixo diminuído (cabeça e tronco) combinado com um tônus distal
aumentado: mãos persistentemente fechadas em pronação e rotação interna dos braços

Padrão extensor pronunciado das pernas; com adução e dedos do pé em garra

Dificuldades de alimentação devido a sucção e deglutição deficientes, projeção de
língua, reflexo de vomito exacerbado
Quando na avaliação fisioterapêutica é detectado atraso e desvios do desenvolvimento motor
ou sinais de anormalidade, como especificados acima, ou, além disso, quando o diagnóstico
clínico predispõe a esses dois fatores, é realizada o que chamamos de intervenção precoce.
Vale ressaltar que a presença de apenas um sinal não é o suficiente para que se conclua
alteração neurológica.
Intervir precocemente nos sinais de anormalidades já presentes e nos que irão e/ou poderão
aparecer. Intervenção precoce inclui todo o tipo de atividades, oportunidades e procedimentos
destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências
significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo (DUNST &
BRUDER, 2002 em CAMPOS 2010).
Willrich (2007) relata em seu trabalho o resultado do ensaio clinico randomizado realizado
por Lekskulchai (2004). Nesse foi verificado o desempenho motor de crianças prematuras
após um programa de intervenção fisioterapêutica realizado durante a fase hospitalar
associada a intervenção dos pais e foi constatado resultados positivos ao serem comparados
com um grupo controle.
Ao iniciar a intervenção precoce, o fisioterapeuta deve traçar os objetivos gerais e os
específicos, assim como os de curto e longo prazo.
O método mais utilizado no caso da intervenção precoce é o conceito bobath. Esse método
baseia-se na inibição de padrões tônicos patológicos e facilitação das reações posturais e de
equilíbrio do desenvolvimento motor normal através dos pontos chaves.
Outros métodos também são utilizados como o Reequilíbrio toraco-abdominal e a facilitação
neuromuscular proprioceptiva.
Um método recentemente criado e que vem dia-a-dia ganhando espaço é o método Cuervas
Medeck, CME. Esse é uma abordagem fisioterapêutica utilizada para crianças a partir de 3
meses que possuem alteração no desenvolvimento motor normal causado por síndrome que
atingem o sistema nervoso central e que não são degenerativas. Compreendem oito semanas
de tratamento diário onde busca atingir pelo menos três objetivos proposto após uma
avaliação especifica do método que contém 41 itens. São mais de 600 exercícios. O
princípio fundamental do CME é baseado no fato de que crianças que possuem
comprometimento no seu desenvolvimento precisam reforçar seu potencial de recuperação
natural. Expõe a criança aos efeitos da gravidade com apoio distal progressivo. A cooperação
do paciente não é requisito para a realização desta terapia. Esta propriedade do Sistema
Nervoso Central continua a propulsar o processo de desenvolvimento mesmo após a sequela
ter se instalado.
Assim como no caso da estimulação precoce o fisioterapeuta também orienta aos pais a forma
de carregar, posicionar, brincar e estimular o sensório e as etapas do desenvolvimento motor
para que as funções e atividades trabalhadas na fisioterapia sejam incentivadas durante a sua
rotina diária. O manuseio da criança é importantíssimo. A escolha dessas orientações é
baseada no padrão patológico que a criança apresenta, com o intuito de não favorecer esse
desvio e sim o padrão mais fisiológico. Mais uma vez devemos envolver os pais nesse
processo pois a fisioterapia, por mais intensa que seja, será prejudicada uma vez que o tempo
em que a criança fica sob os cuidados dos pais é maior.
Com isso são orientadas e cobradas, sucessivamente, as formas de carregar e posicionar a
criança. Acrescentando que a execução dessas de forma correta interfere diretamente na
prevenção da instalação de contraturas e deformidades.
Fonte: Novo Manual do Follow-up
Figura 04: Forma de carregar uma criança com hipotonia
Campos (2010) através dos resultados de sua pesquisa do atraso do desenvolvimento motor
em bebês pré-termos relata que o inicio precoce da intervenção continua sendo o mecanismo
mais seguro para a determinação de um diagnóstico e, consequentemente, tratamento precoce,
e que o fisioterapeuta é capacitado para proporcionar uma contribuição inestimável nesse
sentido, aplicando conhecimentos teóricos e suas habilidades de forma individualizada,
habilitando a criança no sentido de favorecer seu desenvolvimento.
Fonte: Novo Manual do Follow-up
Figura 05: Forma de carregar uma criança com hipertonia
4.
Discussão
A fisioterapia é um componente de extrema importância para atingir o resultado de um
follow-up de um bebê de risco. Através da fisioterapia consegue-se facilitar a maturação
neurológica, o que é alcançado com a estimulação precoce, e causar alterações benéficas
quando houver desvios, no caso da intervenção precoce. Com isso a intervenção precoce da
fisioterapia é necessidade básica de uma criança com alteração do desenvolvimento motor.
De acordo com Flehming (2005) “ ... nesta fase precoce, tem as medidas fisioterapêuticas
efeito mais complexo e global do que se consegue após a diferenciação ulterior de segmentos
cerebrais particulares, mesmo com aparelhagem mais vultosa”.
Com a detecção e consequente intervenção precoce das crianças com desvio do
desenvolvimento há um menor índice de sequelas sensórios motoras, melhor qualidade de
vida e talvez maior funcionalidade, ou seja, melhora do prognóstico dessas crianças.
Há várias justificativas fisiológicas e funcionais para o início precoce da intervenção da
fisioterapia.
Yacovlev e cols (1967) em Araújo (2002), afirma que o processo de formação dos elementos
da maturação neurológica é maior nos primeiros três anos de vida, principalmente no primeiro
ano. Nesse período ocorrem a maturação das conexões sinápticas e da mielinização. Os comandos para as áreas estimuladas tornam-se mais numerosos e as sinapses mais estáveis, o
que é expresso clinicamente pela aquisição progressiva de movimentos e posturas normais ou
próximos ao normal.
Outro fator importante e base das terapias é a neuroplasticidade que é conceituada pela
capacidade do sistema nervoso tem de readaptar-se às mudanças nas condições do ambiente.
“É possível identificar mudanças morfológicas: alteração do trajeto de
fibras nervosas, uma nova configuração da árvore dentritica do
neurônio ou uma alteração no número de células e mudanças
funcionais ligadas à atividade sináptica de um determinado circuito ou
determinado grupo de neurônios” (LENT, 2004).
Essa é maior nos primeiros anos de vidas, primeiros 12 a 18 meses, o que otimiza os ganhos
no desenvolvimento e quebra de padrões patológicos.
Consequentemente quanto mais precoce a intervenção, menores serão as repercussões no
sistemas sensórios-motores, sendo algumas até reversíveis, já que o sistema nervoso é
passível de alterações. E essas são guiadas pelo tipo e qualidade de estímulos, favorecidos
pela realização da fisioterapia.
Outro fator considerável é que o a fisioterapia, ao fornecer estímulos sensoriais e motor das
etapas do desenvolvimento motor, estimula o aprendizado dos movimentos, já que este
acontece pela vivencia da sensação do movimento. E isso permite à criança a construção de
padrões sensoriais-motores básicos que são necessários para a produção de movimentos de
qualidade e, consequentemente, com funcionalidade. Ou seja, quando a criança com alteração
neurológica é desprovida dessa terapia, ela vivencia apenas o padrão patológico que além de
restrito, não permite a construção do padrão de movimento desejado, não sendo, portanto,
funcional.
Os estímulos externos são influenciadores do desenvolvimento cerebral tanto de forma
positiva quanto negativa. Um bebê de risco tem na sua maioria estímulos negativos devido as
intercorrências e injurias sofridas, o que transmite informações inadequadas para um
desenvolvimento cerebral. Um bom desenvolvimento cerebral é influenciado por estímulos de
qualidade e adequados para idade. E a fisioterapia, mais uma vez, é um grande instrumento
para alcance este objetivo.
Koldewijn et al. em Freitas et. al. (2010) observaram, em seu estudo de acompanhamento com
prematuros de muito baixo peso, que a participação dessas crianças em um programa de intervenção foi correlacionada com um melhor desempenho nas escalas cognitiva, motora e de
comportamento na avaliação realizada pela BSDI II aos seis meses de idade corrigida.
Além disso a criança adquiri sua independência e capacidade de adapta-se ao meio através das
aquisições motoras, fase por fase. E mais uma vez a fisioterapia objetiva essas aquisições
visando a maior independência possível da criança.
A fisioterapia através da sua competência em favorecer e promover estímulos favoráveis ao
desenvolvimento motor deve ser incluída sempre no grupo de follow-up do bebê de risco.
Esse conjunto de benefícios repercuti na vida familiar, na sociedade e nos custos e deveres do
governo. Quanto mais incapacitada a criança for mais gasto ela terá e mais custos para o
governo. Deve-se portanto ser parte de políticas públicas nacionais.
Flehming (2005) afirma que, baseada na sua experiência, não podemos ficar inativos nessa
situação deixando de intervir e ficando à espera da evolução patológica. Não podemos deixar
que os pais sejam os primeiros a detectar os sinais patológicos, pois nesse caso as alterações
já estão evidentes e ao invés de proporcionarmos um tratamento precoce ótimo iremos
trabalhar já com as compensações existentes, o que acarretará mais despesas e interferências
nos resultados
Grandes capitais brasileiras já possuem juntos às maternidades ou em instituições com
atendimento pediátrico, o serviço de follow up. Porém ainda é desproporcional ao número de
bebês com fatores de risco. Formiga et al. (2004) em Campos (2010), afirmam que a
intervenção precoce apresenta bons resultados, mas na prática, muitos bebês são
encaminhados tardiamente às instituições, já apresentando algum tipo de deficiência, tornando
a intervenção mais restrita, sem alcançar o objetivo de prevenir alterações patológicas no
desenvolvimento. Mais um motivo para que a fisioterapia seja incluída na rotina de
acompanhamento de bebês de risco.
5.
Considerações Finais
A fisioterapia exerce papel importante no grupo de follow-up, seja através da estimulação
sensório-motora precoce ou da intervenção precoce. É capaz de favorecer e modificar a
maturação neuronal, facilitando a vida do bebê de risco em seu seio familiar e na sociedade e
principalmente com a sua funcionalidade individual. Constitui um direito desses bebês e um
dever do Estado proporcional o acesso desses ao serviço de fisioterapia precocemente, pois
precocemente o cérebro tem sua capacidade de adaptação maior. Porém esse recurso ainda é
limitado visto que é comum as crianças iniciarem a intervenção tardiamente e já com
alterações instaladas o que reduz a probabilidades de aquisições funcionais e
consequentemente, uma maior independência. Com isso a fisioterapia deveria ser incluída na
rotina de acompanhamento de um bebê de risco.
Bibliografia
ALVES FILHO, N. Manual de Perinatologia, Rio de Janeiro: Medsi, 1995.
ARAÚJO, Maria das Graças Melo. Avaliação Clínica-Neurológica de recém-nascidos
Subnutridos e Normais e seu desenvolvimento. São Paulo: Atheneu, 2002.
BARBOSA, Genário Alves. Estimulação Precoce: Fundamentos e Aspectos Psico-Sociais.
João Pessoa: Unimed, 1998.
BEE, Hellen; BOYD, Denise. A Criança em Desenvolvimento. Porto Alegre: ArtMed, 1996.
BOBATH, Karel. Bases Neurofisiológicas para o Tratamento da Paralisia Cerebral. São
Paulo: Manole, 1990.
BORGNETH, Lívia. Novo Manual do Follow-up do Recém Nascido de Alto Risco.
Disponível em http://www.sbp.com.br/followup. Acesso em: 20 de fevereiro de 2014.
CAMPOS, Amanda Martins; OLIVEIRA, Thalita Galdino; URZÊDA, Renan Neves;
KAYENNE, Cibelle Martins; FORMIGA, Roberto. Desenvolvimento motor e pessoalsocial de crianças nascidas pré-termo participantes de um programa de intervenção
precoce.
Revista
Digital
Buenos
Aires
2010.
Disponível
em
http://www.efdeportes.com/efd140/criancas-nascidas-pre-termo.htm. Acesso em: 27 de
Julho de 2014 às 21:06.
CORIAT, Lydia. Maturação Psicomotora no Primeiro Ano de Vida da Criança. São
Paulo: Cortez e Moraes LTDA, 1997.
CUEVAS, Ramón. Método Cuevas Medek. Disponível em www.cuevasmedek.com
acessado em 01 de setembro as 14:00.
FERNANDES, Luciana Volpiano; GOULART, Ana Lucia; SANTOS, Amélia Miyashiro
Nunes dos; BARROS, Marina Carvalho de Moraes; GUERRA, Camila Campos;
KOPELMAN, Benjamin Israel. Avaliação do neurodesenvolvimento de prematuros de
muito baixo peso ao nascer entre 18 e 24 meses de idade corrigida pelas escalas Bayley
III. Jornal de Pediatria (RJ), vol. 88, nº 6, Porto Alegre, Nov./Dec. 2012. Disponível em
www.sicelo.com.br. Acessado em 25 de Setembro de 2014 ás 21:37.
FINNIE, Nancie. O Manuseio em Casa da Criança com Paralisia Cerebral. São Paulo:
Manole, 2000.
FLEHMIG, Inge. Texto e atlas do Desenvolvimento Normal e seus Desvios no Lactente:
Diagnóstico e Tratamento Precoce do Nascimento até o 18º mês. São Paulo: Atheneu,
2005.
FORMIGA, Cibelle Kayenne Martins Roberto; LINHARES, Maria Beatriz Martins Linhares.
Avaliação do Desenvolvimento Inicial de Crianças Nascidas Pré-Termo. Revista Escola
de Enfermagem USP, vol.43, no.2 São Paulo, Junho 2009. Disponível em www.scielo.br.
Acessado em 17 de Setembro às de 2014 Às 22:13.
FREITAS, Marcia de; KERNKRAUT, Ana Merzel; GUERRERO, Simone Maria Amadio;
AKOPIAN, Sonia Teresa Gaidzakian; MURAKAMI, Sandra Harumi; MADASCHI, Vanessa;
RUEG, Danielle; ALMEIDA, Cristiane Isabela de; DEUTSCH, Alice D´Agostini.
Acompanhamento de Crianças Prematuras com Alto Risco para Alterações de
Crescimento e Desenvolvimento: Uma Abordagem Multiprofissional. Einstein. 2010; 8(2
Pt 1):180-6. Disponível em www.marilia.unesp.br. Acesso em 15 de Setembro de 2014 ás
14:32.
GOLDBERG, Sant AV. Desenvolvimento Motor Normal. In: Tecklin JS. Fisioterapia
Pediátrica. São Paulo: Artmed; 2002.
GOLINELEO, Maria Tereza Baldessar. Novo Manual do Follow-up do Recém Nascido de
Alto Risco. Disponível em http://www.sbp.com.br/followup. Acesso em: 20 de fevereiro de
2014.
GUTIERREZ, Juliana. Teste de Bayley. Disponível em http://www.clinicaludens.com.br.
Acessado em 29 de Agosto de 2014 ás 22:05.
HASSANO, Alice Y. S. Desenvolvimento Neuropsicomotor no Primeiro Ano de Vida.
Revista de Pediatria SOPERJ, número atual: 12 (Suppl 1).1 – 11. Disponível
em http://revistadepediatriasoperj.org.br. Acesso em 20 de Setembro de 2014 ás 16:07.
LEMOS, Mônica de Lima; VEIGA, Sérgio Henrique; MARINHO, Rosângela Cândido;
DIAS, Rita de Cássia; MACRI, Fernanda dos Reis. Seguimento do Recém-Nascido de Risco
(follow-up). Capítulo do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, editado por Paulo R.
Margotto, 2a Edição, 2004. Disponível em www.paulomargotto.com.br/documentos. Acesso
em 20 de Setembro de 2014 ás 17:34.
LENT, Roberto. Cem bilhões de Neurônios, Conceitos Fundamentais de Neurologia. Rio
de Janeiro: Atheneu Rio, 2010.
LOPES, Sonia Maria B.; LOPES, José Maria de A. FOLLOW-UP do Recém-Nascido de
Risco. Rio de Janeiro: Medsi, 1999.
MADASCHI,Vanessa; PAULA, Cristiane Silvestre. Medidas de avaliação do
desenvolvimento infantil: uma revisão da literatura nos últimos cinco anos. Caderno de
pós graduação em Distúrbios do Desenvolvimento Infantil da Universidade Presbiteriana
Mackenzie,
São
Paulo,
v.11,n.1,
p52-54,
2011.
Disponível
em
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao. Acesso em 20 de Setembro de 2014 às 14:
45.
MANCINI, Marisa C.; TEIXEIRA, Silvana; ARAÚJO, Louise G. de; PAIXÃO, Maria Lúcia;
MAGALHÃES, Lívia de Castro; COELHO, Zélia Araújo Cotta; GONTIJO, Ana Paula
Benseman; FURTADO, Sheyla Rossana Cavalcanti; SAMPAIO, Rosana Ferreira;
FONSECA, Sérgio Teixeira. Estudo do Desenvolvimento da Função Motora aos 8 e 12
Meses de Idade em Crianças Pré-termo e a Termo. Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.60 no.4 São
Paulo Dec. 2002. Disponível em www.scielo.com.br. Acesso em 01 de Setembro de 2014 as
22:30.
MARGOTTO, PAULO. Assistência ao Recém-Nascido de Risco. 2004.
PENALVA, Olga. Novo Manual do Follow-up do Recém Nascido de Alto Risco.
Disponível em http://www.sbp.com.br/followup. Acesso em: 20 de fevereiro de 2014.
POLÍTICA Nacional de Humanização. Boas Práticas de Humanização na Atenção e na
Gestão do Sistema único de Saúde, Humaniza SUS – Centro de Referência em
Desenvolvimento Infantil Fênix. Brasília Ministério da Saúde:2006.
RODRIGUES, Olga Maria Piazentin Rolim. Escalas de Desenvolvimento Infantil e o Uso
com Bebês. Educar em Revista, Curitiba, n. 43, p. 81-100, jan- mar 2012, editora UFPR.
Disponível em ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/educar/article. Acessado em 20 de Setembro
2014 às 14:15.
ROSA NETO, Francisco; CAON, Giane; BISSANI, Clarice; SILVA, Cristiane Alves da;
SOUZA, Melissa de; SILVA, Lirez. Características Neuropsicomotoras de Crianças de
Alto Risco Neurológico Atendidas em Um Programa de Follow-up.Pediatr.mod; 42(2):7985, mar.-abr.2006.Dsiponivel em www.bireme.br. Acesso em 21 de Julho de 2014 ás 23:15.
SANTORO JUNIOR, Mario. O Bebê de Risco. Brasil Medicina.com. Disponível em
http://www.brasilmedicina.com.br/especial/pedi_t2s1.asp. Acesso em: 23 de Julho de 2014 ás
14:27.
SAUAIA, Naíme Diane; SILVA, Holanda; FILHO, Fernando Lamy; GAMA, Mônica Elinor
Alves; LAMY, Zeni de Carvalho; PINHEIRO, André do Lago; SILVA, Diego Nascimento
Instrumentos de Avaliação do Desenvolvimento Infantil de Recém-Nascidos
Prematuros. Rev. bras. Crescimento Desenvolvimento Humano, vol.21 no.1 São Paulo 2011.
Disponível em www.journals.usp.br. Acessado em 20 de Setembro de 2014 ás 19:20.
SHCOLNIK, D. Acompanhamento de Bebês de Alto risco e a Prevenção dos Distúrbios
do Desenvolvimento Neuropsicomotor. Revista Fisio & Terapia. 1998;8(1):18-9.
SHEPHERD, Roberta B. Fisioterapia em Pediatria. São Paulo: Santos, 1996.
SILVA, Ricardo Nunes Moreira. Métodos de Avaliação do Desenvolvimento. Disponível
em http://www.sbp.com.br/follow_up/desenv_motor.html. Acesso em: 20 de abril de 2014 as
19:30.
SOCIEDADE Brasileira de Psicomotricidade. Psicomotricidade. Disponível
www.psicomotricidade.com.br. Acessado em 25 de Setembro de 2014 às 19:15.
em
WILLRICH, Aline; AZEVEDO, Camila Cavalcanti Fatturi de; FERNANDES, Juliana
Oppitz. Desenvolvimento Motor na Infância: Influências dos Fatores de Risco e
Programas de Intervenção. Revista Neurociências 2009;17,51-56.Disponviel em
www.revistaneurociencias.com.br. Acessado em 01 de Setembro de 2014 ás 21:45.
ZONTA, Marise Bueno, RAMALHO JUNIOR, Amancio, SANTOS, Lucia Helena Coutinho.
Avaliação Funcional na Paralisia Cerebral. Acta Pediátrica Portuguesa. 2011(42)1:27-32.
Disponível em http://actapediatrica.spp.pt/article/viewFile/4153/3090. Acesso em: 21 de
Julho de 2014 as 22:25.
Download

Atuação da fisioterapia no follow-up do Bebê de Risco