Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Peniche
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Peniche
Colegas autarcas
Senhores Convidados
Minhas senhoras, meus senhores
Celebramos hoje, mais uma vez, o aniversário de uma das datas mais
marcantes do nosso país: a revolução democrática do 25 de Abril de
1974.
Este dia marcou o fim de uma longa e tenebrosa ditadura que durou 48
anos e que se tornou numa das mais longas ditaduras na história da
Europa contemporânea. Uma ditadura mesquinha que amordaçou a
liberdade dos cidadãos portugueses, que impôs o medo e a tortura,
condenando gerações ao silêncio oprimido, ao exílio e à guerra.
Apesar de já terem passado 35 anos após essa data, importa não
esquecer que o fascismo existiu e que foi uma realidade em Portugal. E
que a liberdade e a democracia, bens preciosos como o ar que
respiramos, nem sempre existiram.
O 25 de Abril não surgiu do acaso ou de um acidente mas sim da
resistência e da insubmissão de milhares de portugueses que nunca
baixaram os braços nem calaram a sua voz em prol da liberdade e da
democracia.
Este dia, para além de servir para comemorar dignamente e com
solenidade essa data, serve, sobretudo, para relembrar e homenagear
esses milhares de portugueses, das mais diversas proveniências
ideológicas, que lutaram para que Portugal fosse o país livre e
democrático que hoje é.
Em especial importa relembrar todos aqueles que nas prisões, na
deportação e no exílio, pagaram com elevado sacrifício a luta pela
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liberdade bem como os militares de Abril que, com a sua coragem e
idealismo, conseguiram derrubar o regime ditatorial então existente.
Estes homens que nos devolveram a liberdade e a democracia
mereciam, certamente, um elevado reconhecimento por toda a sociedade
portuguesa, o que nem sempre tem acontecido.
Alguns dos responsáveis pelo 25 de Abril já faleceram. Outros capitães
do 25 de Abril encontram-se agora perto dos setenta anos. Importa, pois,
que se preste homenagem a esses homens enquanto estão vivos.
O ano passado esteve em Peniche Otelo Saraiva de Carvalho que,
durante uma tarde de sábado, nos animou com as peripécias
relacionadas com a concretização do 25 de Abril. Foi um momento
inesquecível, mas que infelizmente poucos assistiram. E é essa memória
viva dos que participaram nesse heróico acto que importa dar a conhecer
aos mais novos.
Devia-se aproveitar melhor a memória viva desses intervenientes e dar a
conhecer a todos os cidadãos esses momentos heróicos da história
portuguesa, contados na primeira pessoa, enquanto tal é possível, pois
daqui a poucos anos, alguns já não estarão entre nós.
Os capitães do 25 Abril deram ao povo português uma lição e um
exemplo de cidadania, de ética e de valores morais que serão, sempre,
uma referência para todos.
Nos nossos dias, em que a crise económica assumiu uma predominância
exagerada, a crise de valores morais a que se assiste na nossa
sociedade é, certamente, a principal causa não só dos problemas
económicos como sociais.
A criação de objectivos desmesurados associada a pagamentos de
salários principescos e exorbitantes aos gestores das grandes empresas
mundiais criaram verdadeiros elefantes com pés de barro que ao menor
balanço caíram rotundamente no chão, acarretando com essa queda
milhões de trabalhadores que foram para o desemprego e milhares de
empresas que foram para a falência.
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Essa falta de valores morais e de ética dos gestores das grandes
empresas privadas encontra-se, infelizmente, também presente em
muitos decisores políticos.
Muitos gestores públicos e muitos responsáveis autárquicos continuam a
gerir as despesas dos seus órgãos, sem a menor preocupação de
efectuar uma gestão parcimoniosa, esbanjando dinheiro que é de todos
nós e comprometendo, muitas vezes, as gerações futuras, com
empréstimos excessivos. Não se pode continuar, pacificamente, a
aumentar, todos os anos, os orçamentos públicos com despesas
acessórias e que nada contribuem para o bem estar e o desenvolvimento
da sociedade.
Também muitos agentes políticos e muitos outros que não sendo
políticos actuam como tal, utilizam os meios judiciais e os órgãos de
comunicação social para fazer politica e criar falsas acusações contra os
adversários políticos, apenas com o intuito de os destruir na praça
pública e desta forma, ganhar eleições.
Outros agentes políticos, na tentativa vã de ganhar e manter o poder
politico, “convidam” (entre aspas pois a expressão correcta é forçam)
elementos de outras forças politicas a fazer parte das suas listas para
querer demonstrar, de forma artificial, que as suas listas são abrangentes
e que até os militantes de outros partidos fazem parte delas.
Esses “convites” são feitos a pessoas que estão ou a trabalhar em
órgãos dependentes desses decisores políticos ou que têm familiares
próximos que dependem da renovação do seu contrato por esses
decisores políticos. A sua recusa em participar nessas listas acarretaria,
necessariamente, a não renovação do seu contrato.
Isto, meus senhores, não é, seguramente, democracia.
De igual forma, o comportamento de alguns deputados na Assembleia da
República e
na
nossa
Assembleia Municipal são
tudo
menos
democráticos. O insulto gratuito e a chacota de quem intervém é uma
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manifestação de falta de espírito democrático e de não saber conviver
com quem pensa diferente de nós.
Apesar destas breves apontamentos negativos que aqui referi e que não
traduzem qualquer desencantamento da minha parte com a democracia,
mas tão somente, a referência a situações pontuais, o 25 de Abril valeu
certamente a pena.
E a democracia é precisamente isso, ou seja, a possibilidade de
podermos expressar livremente as nossas ideias e criticar, de forma livre,
as atitudes de que discordamos.
Mas sobretudo a democracia é sabermos respeitar aqueles que têm
ideias diferentes das nossas.
É pois, com a plena convicção que o sistema democrático nascido com o
25 de Abril é, seguramente, o melhor regime político que existe no
mundo, que saúdo a revolução dos cravos, hoje aqui solenemente
celebrada por todos nós, com um muito obrigado a todos aqueles que
permitiram a nossa vivência em liberdade.
Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!
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