Seminário Nacional Rádios Públicas e III Encontro Nacional das Rádios Públicas.
O LapCom da UnB (Laboratório de políticas de comunicação) e a ARPUB, em parceria com as
Rádios EBC e apoio da Fundação Ford, promoveram em Brasília, nos dias 22 e 23 de outubro, o
Seminário Nacional Rádios Públicas,juntamente com o III Encontro Nacional das Rádios Públicas.
O seminário teve por objetivo oferecer subsídios à formulação de propostas de políticas públicas
a serem apresentadas na I Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM), de 14 a 17 de
dezembro em Brasília.
Os professores responsáveis pelas pesquisas “Rádio Digital” e “Rádios Públicas”, Carlos
Eduardo Esch e Nélia Del Bianco, apresentaram o relatório preliminar desses estudos. O
diagnóstico, baseado nas respostas de 50 emissoras de um total de 76 filiadas à ARPUB,
explorou dimensões como infraestrutura, nível de digitalização, interação com audiência,
posicionamento frente a implantação do rádio digital, gestão de pessoal e financeira e visão de
futuro dessas rádios.
O relatório trouxe dados até então esperados, enquanto outros surpreenderam. Das rádios que
participaram da pesquisa, a maioria afirma ter algum tipo de dificuldade na gestão. Por estarem
vinculadas as regras do serviço público para contratação de pessoal e gastos com manutenção,
36% consideram a gestão das emissoras burocrática e lenta. Situação que permite as rádios terem
maior autonomia na gestão do conteúdo e programação, relativa capacidade para administrar
funcionários e pouca autonomia financeira. Entre elas, 16% disseram não ter autonomia
financeira.
Em media, 60% das emissoras têm um orçamento anual inferior a 300 mil reais, a maior parte
advém de fundos da administração pública direta ou indireta ou fundação gestora. Recursos que
são considerados insuficientes por 84% dos pesquisados. Por falta de investimento, as emissoras
não conseguem ampliar infraestrutura ou atualizar equipamentos. A maior parte do orçamento é
aplicado na folha de pagamento de pessoal e somente 30% é destinado à produção de conteúdo.
Embora se critique a falta de verba, em 72% das emissoras não há formas alternativas para
captação de recursos por falta de pessoal qualificado na área.
Outro aspecto que preocupou os pesquisadores é a existência de 51% dessas rádios funcionando
com transmissor valvulado que não permite migração para a tecnologia digital. O conhecimento
que gerentes e técnicos possuem sobre o rádio digital foi considerado introdutório ou básico
(76%) sendo de menos de um quarto acham que estão bem informados (26%). Esse resultado
demonstra que esta tecnologia ainda precisa ser mais divulgada. Das emissoras que não possuem
informação, 50% delas têm oferecido visitas técnicas a outras emissoras para os técnicos obterem
informações sobre rádio digital.
Observou-se que 80% das emissoras respondentes possuem planos para digitalizar o sistema de
transmissão e apenas 10% das emissoras possuem um plano em processo de elaboração. Essas
emissoras acreditam que com a implantação do digital haverá melhoria sonora (33,58%) e
aumento da oferta adicional de produtos e conteúdos (21,64%). Mais de 70% das emissoras de
rádio possuem menos de 500 mil reais para investir na adaptação ao novo padrão de transmissão,
mostrando baixa capacidade de investimento. Para reverter a situação 32,5% das emissoras
defendem a isenção fiscal na compra de equipamentos.
Modelo de rádio pública
Modelos, especificidades, conteúdos e formas de gestão das rádios públicas foram discutidos pela
mesa redonda mediada pelo professor Carlos Eduardo Esch e composta pela professora e
pesquisadora de jornalismo da UERJ, Sônia Virgínia Moreira, a professora e pesquisadora da
UFSC, Valci Zuculoto, o diretor da ARPUB, Orlando Guilhon (EBC) e o seu vice-presidente,
Mário Sartorello (IRDEB).
Os expositores apontaram suas observações em busca do conceito de “rádio pública” aplicado à
realidade brasileira. Sugeriram ferramentas de controle público e social – como audiências
públicas, pesquisas de opinião e conselhos; diversidade na programação - valorizando o regional
e também o universal; estratégias de atuação intra e entre emissoras – como uso de banco de
dados comum e eventos regulares; construção de uma memória própria.
O debate levantou pontos abordados pelos componentes da mesa, como a diferença entre o
jornalismo e o jornalismo que deveria ser feito nas rádios públicas. “O jornalismo se prende ao
factual. Nós, das rádios públicas, poderíamos fugir um pouco disso”, justifica Sônia Virgínia
Moreira ao sugerir a produção e veiculação de documentários radiofônicos, rádio revista e outros
formatos.
Quanto à programação musical, Mário Sartorello não acredita que a rádio pública deva ter uma
programação específica. “O que pode existir é um diferencial no tratamento daquelas músicas
que são sucesso nas rádios comerciais”, defende.
As trocas de experiências e a satisfação com o encontro encerraram os debates que contou com
a participação de pesquisadores, alunos e gestores de 47 emissoras públicas.
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Seminário Nacional Rádios Públicas e III Encontro Nacional