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ARTIGO _____________________________________________________________
Educação física escolar: um estudo da prática pedagógica no ensino
médio
Wernher Szubris
Graduado em Educação Física - FCARP/M
Márcia C. R. S. Coffani
Graduada em Educação Física e Mestre em Educação (UFMT), Professora do Departamento de Educação
Física – FCARP/MT e Pesquisadora Integrada do COEDUC/UNEMAT.
Resumo
Este trabalho de cunho monográfico teve como tema de estudo a prática
pedagógica do professor de Educação Física no Ensino Médio, no município de
Indiavaí-MT. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativo­
interpretativa. Os dados oriundos de observações participantes e entrevistas
semi-estruturadas foram coletados com as alunas da Escola Paulino Modesto.
O estudo assegurou o olhar sobre as práticas corporais que mobilizadas,
vivenciadas e manifestas no espaço quadra-aula, expressaram os saberes
aprendidos e ensinados no cotidiano das aulas de Educação Física e o pensar
das perspectivas curriculares manifestas pelas práticas pedagógicas docentes
que tem direcionado a formação do aluno.
Palavras-chave: Prática Pedagógica; Ensino Médio; Educação Física.
Abstract
This job was to issue stamp monographic study of the teaching of Professor of
Physical Education in High School, in the municipality of Indiavaí-MT. This is a
search for quality-interpretative approach. The data from participants
comments and semi-structured interviews were collected with the students of
the School Paulino Modesto. The study said the look on the practices that
mobilized body, experienced and clear-classroom block in space, expressed
the knowledge learned and taught in the daily classes of Physical Education
and think of the prospects for clear curricular teaching faculty who has
directed the formation of student.
Key Words: Teaching; High School; Physical Education.
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Introdução
Esta investigação teve como foco de discussão o papel curricular, pedagógico e
educativo assumido pela Educação Física Escolar, no Ensino Médio, no município de
Indiavaí-MT. Buscou-se investigar como a prática pedagógica do professor influencia
na importância dada e percebida pelas alunas à Educação Física, enquanto
componente curricular, do Ensino Médio, com a intenção de compreender se essa
mesma prática docente contribui para afirmação do papel da Educação Física, como
uma disciplina curricular da educação escolarizada básica no Brasil.
Para tanto foi necessário retratar como o professor de Educação Física
desenvolve sua prática pedagógica, no Ensino Médio; compreender como os alunos
percebem a importância da Educação Física, no Ensino Médio, da Escola Estadual de
Primeiro e Segundo Graus Paulino Modesto, no município de Indiavaí-MT; e avaliar
como a prática pedagógica do professor interfere na importância atribuída à Educação
Física, no Ensino Médio.
A pesquisa identificou que a prática pedagógica do professor é um fator
relevante para a afirmação da disciplina de Educação Física como componente
curricular na visão das alunas. Outro aspecto identificado é a necessidade de
mudanças nessas aulas para que sejam atualizadas com os interesses e necessidades
do jovem do Ensino Médio. Esse fato implica na mudança de atuação do professor e
nas condições de ensino oferecidas pela escola.
História da educação física no ensino médio no brasil
Segundo Barni e Schneider (2003) a educação nada mais é que um processo
que atua na formação da pessoa, está presente em todas as sociedades humanas e é
inerente ao homem como ser social e histórico. Sua existência está fundamentada na
necessidade
de
“formar”
as
gerações
mais
novas,
de
transmitir-lhes
os
conhecimentos, valores e crenças e de dar lhes possibilidades para novas realizações.
Destaca-se que o conceito de educação está sujeito à evolução histórica,
variando conforme o modo de existir e de pensar, dos diversos povos nas diferentes
épocas. Assim, as diferentes sociedades e culturas construíram diferentes processos
de educação, baseados em conceitos e valores muitas vezes contraditórios e
incompreensíveis.
Quanto à construção da Educação Física como elemento do currículo básico
educacional brasileiro, pode-se dizer que o seu surgimento e ordenamento recebeu
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uma forte influência do modelo de educação escolarizada do corpo, processado pelas
mudanças sócio-econômicas e culturais na Idade Moderna, ocorridas dentro das
sociedades do ocidente, em especial, as européias.
Essas mudanças determinaram o surgimento da escola como instituição
responsável por transmitir aos novos descendentes conhecimentos e valores da
sociedade daquele momento. Um novo modelo de educação processado a nível
escolar deveria então ser implantado, pelo qual se pretendia muito mais que apenas
instruir as crianças: era preciso educá-las nas boas maneiras e dar-lhes uma
profissão. À escola, agora, caberia a missão de operar uma verdadeira revolução nos
costumes, sob o ponto de vista moral.
Segundo Barni e Schneider (2003) a Educação Física foi implantada no
currículo escolar brasileiro em 1882, com o parecer de Rui Barbosa, ficando sob forte
influência militar nas décadas finais do século XIX e nas primeiras do século XX. Neste
momento, o professor assumiu o papel de instrutor e o aluno de recruta. Nas aulas
eram enaltecidas as questões da disciplina, da obediência e subordinação às ordens
por parte dos alunos.
Por isso, talvez seja tão comum ver ainda hoje, os alunos correndo em
volta da quadra na forma de filas e em pequenos pelotões, aprendendo a marchar,
exercitando-se através de polichinelos ou flexões de braços, pois com raras exceções,
ainda se reproduz esse modelo pedagógico da Educação Física.
Aos poucos se configura duas importantes correntes pedagógicas que
influenciaram a Educação Física Escolar de forma absoluta e que para Oliveira (1998)
marcaram a evolução da área no Brasil, são elas: a médica e a militar.
A primeira por intermédio de diversas teses da faculdade de medicina,
onde o tema era a educação física. E a segunda, a partir de 1858, onde
os exercícios físicos tornaram-se obrigatórios nas escolas militares, o
que acabou servindo como meio de divulgação das atividades físicas
(OLIVEIRA, 1998, p. 53).
A Educação Física no Brasil, em suas primeiras tentativas para compor o
universo escolar, surge como promotora da saúde, da higiene física e mental, da
educação moral e de regeneração ou reconstituição da raça (SOARES, 2004). Assim,
no Brasil, a Educação Física na escola recebeu influências da área médica, pautadas
nas áreas da higiene, saúde e eugenia, dos interesses militares e do nacionalismo.
Também sob essa influência, os conteúdos de ensino da Educação Física, até os anos
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de 1960, foram centrados nos movimentos Ginásticos Europeus, em especial, da
Escola Francesa.
Em suma,
A Educação Física no Brasil desde o século XIX, foi entendida como um
elemento de extrema importância para forjar daquele indivíduo “forte”,
“saudável”, indispensável à implementação do processo de
desenvolvimento do país que, saindo de sua condição de Colônia
Portuguesa, no início da segunda década daquele século, buscava
construir seu próprio modo de vida. Contudo, esse entendimento, que
levou por associar a Educação Física à Educação do Físico, à Saúde
Corporal (CASTELLANI, 1988, p. 39).
No ponto de vista de Oliveira (1998) o método de ensino da Educação
Física, compreendia um conjunto de exercícios, cuja prática racional e metódica, fosse
suscetível de fazer o homem atingir o mais alto grau de aperfeiçoamento físico
compatível com a sua natureza.
Castellani (1988) registra que:
Nessa fase os exercícios eram para os ambos os sexos onde os
estudiosos pensavam em se formar tanto os homens e mulheres fortes
e saudáveis na eugenia da raça brasileira como diz o autor, é o
revigoramento do povo, por sábia política de educação e defesa
sanitária da cultura atlética (CASTELLANI, 1988, p. 56).
A organização da cultura escolar deveria cultivar um corpo belo, forte,
saudável, higiênico, ativo, ordeiro, racional, em contraposição àquele considerado
feio, fraco, doente, sujo e preguiçoso. Para essa “educação physica” das crianças, em
sentido alargado, muitos dispositivos foram mobilizados. O primeiro deles foi a
construção de prédios próprios para as escolas, imponentes, majestosos, higiênicos e
assépticos - os grupos escolares, considerados templos do saber.
A partir do início do século XX, a presença da Educação Física na escola
brasileira, desperta interesse em relação ao valor dos exercícios físicos para os
jovens. Castellani (1988) diz que:
Todos reconhecemos os benefícios dos exercícios físicos em qualquer
idade desde devidamente adaptados. Por isso, a obrigatoriedade da
educação física se ajusta bem aos cursos de nível médio que, de
conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases, se destinam à formação
do adolescente. Ultrapassada essa faixa de formação, a prática de
exercícios físicos já deve ser um hábito agradável e saudável,
resultante de um processo formativo (CASTELLANI, 1988, p. 117).
A partir dos anos de 1980, em função de um novo cenário político, o modelo de
esporte de alto rendimento pautado como objetivo e conteúdo da Educação Física
Escolar, passa a ser criticado e como alternativa surgem novas formas de se pensar a
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Educação Física, ou seja, novas tendências pedagógicas, como: psicomotricidade,
construtivista, desenvolvimentista, críticas, saúde renovada, entre outras.
Paralelamente, o Ensino Médio passa por mudanças profundas no que diz
respeito à discussão das suas funções e o caráter terminal, diretamente voltado ou,
para a formação de técnicos de nível médio ou, para o ensino preparatório para a
Universidade. Darido et al (2005) ainda mencionam que o Ensino Médio no Brasil está
vivendo uma explosão de crescimento. De 1987 a 1997 o número de alunos
matriculados no Ensino Médio dobrou, passando de 3,2 milhões para 6,4 milhões. Dois
fatores, de acordo com o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), explicam este crescimento: a maior exigência do mercado de trabalho
e a melhoria (ainda que em escala reduzida), do sistema público escolar brasileiro.
A reforma curricular do Ensino Médio nos anos de 1990 e 2000 se pautou
numa nova compreensão do papel da escola, na formação e atuação de seus agentes
sociais, que colocam a necessidade de outros parâmetros para a formação dos
cidadãos, não mais compatíveis com a visão tecnicista sobre trabalho, defendida nas
décadas de 1970 e 1980. De acordo com os PCNEM (1999, p. 15) “A formação do
aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a
preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às
áreas de atuação”.
Essa compreensão da função e do papel do Ensino Médio relaciona-se ao
seu ordenamento legalmente instituído pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, nº. 9.394, promulgada em 1996. Nela, afirma-se que a Educação Básica
tem por finalidade “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável
para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em
estudos posteriores” (Art. 22, LDBEN, nº. 9.394/96).
Há que se dizer ainda que conforme registram as Orientações Curriculares
para o Ensino Médio (OCEM, 2006) o Congresso Nacional aprovou um documento para
a Educação Física no Brasil, que altera sua legitimidade no Ensino Médio, em especial,
no período noturno. Trata-se do Decreto-Lei nº. 10.793/03, que isenta da prática da
Educação Física vários alunos e alunas julgados ora como incapazes, ora como
privilegiados. Entre os alunos “dispensados” encontram-se os trabalhadores com
jornada superior a seis horas; mulheres com prole; maiores de 30 anos; pertencentes
ao serviço militar e portadores de deficiência. O Decreto em questão pressupõe um
padrão de corpo que exclui justamente as adversidades de trajetórias de vida dos
alunos que freqüentam a escola.
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Esses são aspectos da história de implantação do Ensino Médio no Brasil
que na realidade não conseguiu nem como propedêutico ou técnico profissionalizante
atender com qualidade a formação do aluno. No caso da disciplina de Educação Física
a situação é mais grave, pois a mesma acabou refém da vontade dos alunos de
freqüentarem as aulas ou simplesmente abandoná-las.
Longe de ter se tornado um consenso, a Educação Física foi e é, ao longo da
história da educação brasileira, palco de debates, conflitos e negociações acerca do
seu papel na escola. Para Barni e Schneider (2003) é momento da Educação Física
Brasileira rever qual é o seu papel na sociedade, devendo repensar o seu papel nas
escolas a partir do ordenamento da LDBEN n. 9.394/96. O autor alerta que:
Sabe-se que a Educação Física, pouco a pouco, tem buscado o seu
lugar ao sol dentro da escola como uma fonte de conhecimento
necessária para a construção de um novo cidadão mais completo, mais
integrado e consciente de seu papel na sociedade a qual pertence. Com
este trabalho, busca-se abrir os olhos, tanto dos profissionais da
Educação Física como dos profissionais das demais áreas do
conhecimento, para que possam ver o grande valor da Educação Física
para os alunos e a sua colaboração para uma educação total do homem
(BARNI e SCHNEIDER, 2003, p. 2).
Segundo Darido et al (2005) é nesse movimento de confrontos e tensões
que é necessário discutir como a Educação Física permanecerá enraizada nas novas
maneiras de organização escolar que estão sendo praticadas.
Dessa forma investigar a prática pedagógica do professor no contexto das
aulas de Educação Física no Ensino Médio representa um esforço para compreender as
dificuldades e as possibilidades de legitimação da área nesse período de estudo.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo interpretativo.
Os dados
oriundos de observações participantes in loco e entrevistas semi-estruturadas foram
coletados na Escola Estadual Paulino Modesto, na cidade de Indiavaí–MT. Os sujeitos
da pesquisa foram as alunas, do Ensino Médio, da rede pública de ensino desse
município.
Análise de dados
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As falas das alunas entrevistadas demonstram que conceituar a disciplina de
Educação Física não é algo muito certo e definido, os argumentos são diversos e
controvertidos.
Quadro 1 – conceito de educação física
BENEDITA
A gente brinca, faz exercícios, não têm assim o que é um momento de
fazer Educação Física.
CÁSSIA
(...) primeiro que a Educação Física tem que ter uma coisa bem animada.
SILVANA
Eu acho que Educação Física faz parte da nossa disciplina como as
outras.
NÚBIA
O que entendo sobre Educação Física que é forma de melhoria de vida,
de saúde, tanta coisa, tem gente que faz educação que faz Educação
Física por gosta mesmo, tem gente que faz por causa da saúde, então
tem várias formas.
Isso pode representar uma falta de uma compreensão mais profunda e
apurada sobre o objeto de ensino e a função da disciplina na formação escolar do
aluno. Foi possível perceber esse aspecto a partir da fala de Silvana que diz:
Eu acho que educação física faz parte da nossa disciplina como
as outras (SILVANA).
Por que há dúvidas em conceituar a Educação Física como uma disciplina
escolar? A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96 muito bem
resolveu esse caráter duplo que a área carregava consigo há anos. No texto legal
dessa Lei menciona-se que a Educação Física é um componente curricular da
Educação Básica, fato esse que difere da perspectiva de uma prática pela prática que
historicamente acompanha essa área.
É instigante perceber que não é da Lei que realmente se precisa para
afirmação dessa disciplina no currículo escolar, mas de trabalhos pedagógicos com
objetivos claros e metodologias de ensino adequadas que possam permitir aos alunos
a compreensão da Educação Física, enquanto elemento do currículo escolar, tal como
as demais disciplinas. Atenta-se que para isso é necessário que a área diga muito
claramente: Para quê? Por quê? e Como? É possível promover a formação básica do
aluno no campo das práticas corporais.
Um outro aspecto percebido nas falas é que ajudou nessa compreensão
sobre a falta de clareza do papel da Educação Física na formação do aluno do Ensino
Médio está ligado as falas das alunas Benedita e Cássia, conforme trechos abaixo
transcritos:
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A gente brinca faz exercícios não têm assim o que é um
momento de fazer Educação Física (BENEDITA).
(...) primeiro que a Educação Física tem que te uma coisa bem
animada (CÁSSIA).
Entendeu-se que a aula de Educação Física ou mesmo a disciplina em si está
ligada a um certo brincar descompromissado, um momento de lazer, de diversão. É
claro que trabalhar com o corpo em movimento pela via do lúdico é sempre muito
mais envolvente podendo ser até mais produtivo. Contudo, se tratam de vias
metodológicas de trabalho não podendo ter fim em si mesma como parecer ser a
compreensão das entrevistadas.
É comum a agregação de brincar e Educação Física e não temos nada
contra esse fato. Mas a perspectiva que elegemos para esse trabalho é de que o
brincar no espaço escolar precisar ser preenchido de objetividade para que não perca
a função de ensino. Acreditamos ainda que a Educação Física pode e deve utilizar do
processo lúdico para empreender suas estratégias de ensino, mas, sem que isso se
torne o único objetivo ou conteúdo da aula.
Já a fala de Núbia nos revelou um conceito talvez mais apurado do que seja
a Educação Física e suas funções, conforme fala abaixo:
O que entendo sobre Educação Física que é forma de melhoria de
vida, de saúde, tanta coisa, tem gente que faz educação que faz
Educação Física por gosta mesmo, tem gente que faz por causa da
saúde, então tem várias formas (NÚBIA).
Foi possível perceber que a Educação Física foi apresentada na fala da
entrevistada numa perspectiva de prática para saúde. Essa é uma velha idéia que
acompanha a área desde seus primórdios. Parece ser fruto de uma tendência médicohigienista que ganhou diversas roupagens, mas que ainda impera como sendo a causa
primeira da Educação Física.
Destaca-se ainda que, essa idéia de Educação Física e Saúde são
atualmente divulgadas constantemente nos meios de comunicação de massa, criando
adeptos da atividade física e negando o sedentarismo. Contudo, há que se dizer que
discutir saúde é muito mais do que apenas prescrever um receituário de exercícios
físicos, mas avaliar as condições de vida das pessoas. Não basta apenas dizer para o
indivíduo que faça Educação Física, pois esse é um fator que colabora, mas que não
determina totalmente ou individualmente as condições de saúde dos indivíduos.
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Os saberes da Educação Física a serem tratados no Ensino Médio precisam
preparar os jovens para uma participação política mais efetiva no que se refere à
organização dos espaços e recursos públicos de prática de esporte, ginástica, dança,
luta, jogos populares, entre outros. Diferente dessa perspectiva, o que se viu é uma
repetência de atividades lúdicas, da fase infantil e que não se refere aos interesses e
necessidades dos jovens estudantes do Ensino Médio, conforme falas abaixo:
Quadro 2 – Conteúdos aprendidos em aulas de educação física no ensino médio
BENEDITA
Não muita coisa, a gente só brinca, não faz exercícios, só brinca de
queimada, bola essas coisas assim normal.
CÁSSIA
Primeira coisa a gente se alonga como se, por exemplo; chutar uma
bola, bate numa bola de vôlei e joga basquete a coisa assim.
GEOVANA
No momento a gente só faz brincadeira queimada, a gente brinca de
queimada e só, alonga.
NÚBIA
Aqui agora você até mesmo viu com nós, lá na aula passada lá, não tem
quase material então a gente aprende bem pouco, na parte de
alongamento a gente aprende alguma coisa, algumas brincadeiras.
Foi possível perceber que as aulas de Educação Física em nada traziam de
inovação, curioso ou instigador para as alunas, conforme a observação abaixo
registra.
CENÁRIO 1 Quando a professora chega, as alunas já estavam esperando no portão da escola. Esperaram uns 20 minutos dentro do horário de aula. De certa forma a professora participava junto com as alunas. As aulas iniciavam sempre com um breve alongamento,
dividia as equipes, sempre às mesmas brincadeiras e os mesmos alongamentos. Outro fato é a falta de materiais e espaços físicos adequados, pois quando
Benedita diz “bola”, é uma “bola” murcha utilizada pra brincar.
Núbia deixa clara a falta de compromisso pedagógico com a aula de
Educação Física do Ensino Médio, seja por falta de material, espaço físico ou atuação
mais aplicada da professora:
Aqui agora você até mesmo viu com nós, lá na aula passada, não
tem quase material então a gente aprende bem pouco, na parte
de alongamento a gente aprende alguma coisa, algumas
brincadeiras (NUBIA).
As alunas querem que tenha atividade desportiva em suas aulas de
Educação Física onde possam criar e desenvolver habilidades e trabalhar o lúdico. As
atividades esportivas consistem de acordo com Orientações Curriculares para o Ensino
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Médio (2006), numa forma de motivação para o aluno voltar nas próximas aulas, por
praticarem esportes por gosto, não por serem obrigados a participarem das aulas.
Talvez a professora da escola-campo tenha vontade de ensinar outros
conteúdos e desenvolver uma outra prática pedagógica, mas a estrutura física
precária e a falta de materiais pedagógicos influenciam em suas aulas. Portanto, não
cabe a professora a responsabilidade total pela qualidade da aula, pois a escola
também tem sua participação direta na prática pedagógica dessa professora.
Ficou claro que não é possível que a Educação Física no Ensino Médio se
restrinja ao jogar queimada, pois é necessário que o conteúdo da aula seja relevante
para formação do aluno, ou seja, que seja um conteúdo que trate das necessidades e
interesses do jovem que é o aluno freqüentador do Ensino Médio.
Quanto à prática pedagógica do professor é preciso que desenvolva uma
didática atualizada com o público alvo, mas que diferente disso o que foi possível
perceber na pesquisa é que o professor reproduz atividades da fase infantil das alunas
que já são adolescentes/jovens.
Quanto às atividades presentes nas aulas de Educação Física, as alunas
disseram que têm as brincadeiras como uma rotina das aulas. Brincam duas até três
vezes a mesma brincadeira e vão sentar e conversar, pois são duas horas de aulas,
que se tornam cansativas.
Quadro 3 – As
BENEDITA
SILVANA
NÚBIA
atividades presentes nas aulas de educação física no ensino médio
Brinca de queimada e futsal.
Joga bola, corre, ficamos sentadas conversando.
Brinca de queimada, rouba bandeira, fazer alongamento e só.
Certamente pelas brincadeiras serem rotineiras, as aulas de Educação Física
ficam sem aquele gostinho de quero mais, as alunas não vêem a hora de acabar a
aula. Parece que aos poucos vão perdendo a vontade de participar das aulas e quando
vão à aula já sabem do que vão brincar.
As alunas têm o dever de ir às aulas, o professor de ministrar as aulas e
administração da escola de apoiar o professor com orientações, materiais e
equipamentos pedagógicos, para serem explorados pelos alunos. Infelizmente, não se
percebeu essa dinâmica na escola investigada e sentiu-se que aquelas alunas vão
terminar o Ensino Médio sem saber para que serve a Educação Física em suas vidas.
Dessa forma a professora não consegue atingir um bom desempenho, pois
a brincadeira é lúdica até um certo ponto. As práticas manifestas nas aulas que se
restringiram as brincadeiras estão aquém do nível de aprendizagem desses alunos. No
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caso dessas aulas as brincadeiras de queimada e rouba-bandeira observadas se
tornaram uma rotina sem fundamentação.
No momento as aulas de Educação Física se encontram defasadas com as
atividades fora das orientações curriculares devendo buscar novas alternativas
metodológicas de trabalho, conforme as indicações das próprias aulas:
Quadro 4 – indicações de mudanças para aulas de educação física no ensino médio
BENEDITA
A gente pará um pouco de brincar como joga bola assim e ter umas
coisas diferentes. Eu acho que não devia só brincar e joga bola, fazer
exercícios sei lá, coisas assim de Educação Física.
CÁSSIA
Material para ter aula de Educação Física, há está faltando tudo.
SILVANA
O professor venha a fazer mais brincadeiras é fazer mais, há interagir
mais com os alunos.
GEOVANA
Tem que ter rede, é material, bola não tem, bolas de basquete, de vôlei,
de futsal, tudo.
NÚBIA
Acho que a mudança devia ser na escola que a escola tinha que adquirir
mais material que a gente não tem material para realizar as aulas de
Educação Física e a criatividade do professor manda muito, né (risadas).
De acordo com a fala de Silvana é possível analisar que:
O professor venha a fazer mais brincadeiras é fazer mais, há
interagir mais com os alunos (SILVANA).
Há uma vontade de mudança dessas aulas para que sejam mais interativas
e interessantes. O que necessariamente significa uma prática pedagógica do professor
mais participativa, contextualizada e comprometida com os alunos.
Conclusão
Espera-se que a partir da socialização desse trabalho se contribua para a
formação do professor de Educação Física.
Nesta pesquisa trabalhou-se com o
objetivo principal de compreender como a prática pedagógica do professor, no Ensino
Médio, influencia a percepção da Educação Física, como componente curricular, pelos
alunos. Além de retratar essa prática foi possível perceber os diversos aspectos que
influenciam de forma direta a atuação do professor como a falta de estrutura física e
material para ocorrências dessas aulas.
Há que se dizer que se percebeu que a prática pedagógica do professor é
um fator decisivo para tornar a aula e até mesmo a disciplina de Educação Física
interessante e importante para os alunos. Para isso, destaca-se que o professor
precisa direcionar sua prática pedagógica para o ensino de conteúdos e aplicação de
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metodologias de ensino que atendam a realidade da escola e aos interesses e
necessidades do alunado.
Por outro lado, o trabalho da professora investigada na pesquisa sugere
uma falta de compromisso pedagógico no emprego de conteúdos atualizados e
necessários para formação do aluno do Ensino Médio. Esse fato pode aparecer como
um
agravante
ou
um
aspecto
negativo
da
pesquisa,
mas,
diferente
disso
compreendemos que esse não é um caso isolado, mas uma realidade da escola
pública brasileira que precisa não só de equipamentos, como também, de profissionais
motivados para o trabalho pedagógico, uma situação influenciada por vários fatores.
Portanto, é importante ao abordar a prática pedagógica não responsabilizar o
profissional por toda culpa, mas estar atento aos aspectos que influenciam sua
ocorrência.
Por fim, para provocar essas mudanças é preciso que esse professor esteja
atualizado com as coisas do seu tempo, que entenda que a cada turma e nível de
ensino precisamos de uma prática pedagógica diferenciada e que possa ensinar
conteúdos e não atividades aos alunos.
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Campinas.
SOARES, Carmem Lucia. Educação Física: Raízes Européias e Brasil. Campinas:
Autores Associados, 2004.
Endereço
Professora Mestre Márcia C. R. da Silva Coffani
Faculdade Católica Rainha da Paz
Departamento de Educação Física
Rua: Niterói, 914 – Jardim Popular I
São José dos Quatro Marcos – MT
CEP 78.285-000
Telefone: (065) 9989-3876
E-mail: [email protected]
Data de recebimento: 24/ 01//09
Data de aceite: 18/03/09
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