OFIDISMO: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, CLASSIFICAÇÃO E SOROTERAPIA
Shirlei Santos Ferreira*
Ana Márcia Chiaradia Mendes Castillo**
RESUMO
Neste trabaho são expostas as características peculiares dos gêneros botrópico,
crotálico e laquético, suas manifestações clínicas nas vítimas, a assistência e
soroterapia implementadas e os cuidados de enfermagem específicos para cada um
desses ofidismos. Com o objetivo de distinguir os tipos de ofidismo pelo tipo de
serpente, pelas manifestações clínicas da vítima e pelo soro a ser utilizado, optou-se
pelo método exploratório de revisão de literatura – foram revistos 8 artigos
científicos, 8 capítulos de livro e a Ficha de Investigação de Acidentes por Animais
Peçonhentos do SINAN/MS. Os dados compilados culminaram em um fluxograma
de acesso rápido que poderá ser instrumento no manejo dos acidentes ofídicos
pelas equipes de saúde.
Palavras-chave: Ofidismo, Bothrops, Crotalus, Laquesis, Manifestações Clínicas,
Soroterapia, Cuidados de Enfermagem, Revisão de Literatura.
*Especialista em Emergência em Enfermagem
Atualiza Pós-graduação
E-mail: [email protected]
** Enfermeira doutoranda em enfermagem do trabalho e orientadora do trabalho
Atualiza Pós-graduação
E-mail: [email protected]
1 INTRODUÇÃO
Os acidentes ofídicos também representam sério problema de saúde pública
nos países tropicais pela freqüência com que ocorrem e pela morbi-mortalidade que
ocasionam. Ocorrem em todas as regiões e estados brasileiros e é um importante
problema de saúde quando não se institui a soroterapia de forma precoce e
adequada.
Animais peçonhentos são àqueles que possuem glândulas de veneno
comunicáveis com dentes ocos, ferrões ou aguilhões por onde o veneno
passa, de modo que esses animais injetam veneno ativamente com
facilidade. Os acidentes por animais peçonhentos no Brasil, de acordo com
estatísticas do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas,
ocupam o segundo lugar nas intoxicações humanas, sendo apenas
ultrapassados pelos medicamentos (PINHO, 2004).
Segundo o Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais
Peçonhentos (MS, 2001), o Brasil tem um coeficiente de aproximadamente 13,5
acidentes ofídicos/100.000 habitantes, geralmente relacionados a fatores climáticos
e ao aumento da atividade humana nos trabalhos no campo.
As
serpentes
peçonhentas
são
providas
de
glândula
produtora
e
armazenadora de veneno. Os venenos (peçonhas) inoculados desencadeiam
reações características de sua natureza e a identificação das serpentes e das
manifestações clínicas que causam em suas vítimas corroboram no manejo
adequado para cada caso clínico.
Jorge (2001), Ribeiro (2006) Apud Acidentes com Serpentes Peçonhentas
expõe que
... é suficiente que se conheça o gênero a que pertence a serpente, para
que se possa tomar medidas terapêuticas fundamentais em caso de
acidente, visto que as manifestações apresentadas pelo acidentado são
características de cada gênero, com relativamente poucas diferenças entre
as espécies.
A sistematização da assistência nos acidentes ofídicos faz-se imprescindível
no diagnóstico e tratamento dos mesmos. Embora existam dados compilados sobre
esta temática e uma equipe de suporte no Centro de Informações Antiveneno
vinculado à Secretaria de Saúde da Bahia (CIAVE/SESAB), que atende às dúvidas
dos profissionais de saúde 24 hs por dia, inclusive nos finais de semana e feriados,
observações empíricas das práticas diárias elucidam que muitos profissionais de
saúde ainda desconhecem questões básicas dos acidentes ofídicos, o que evidencia
a importância desse estudo para a prática profissional vinculada aos acidentes
ofídicos.
Apesar da importância dos acidentes ofídicos para a saúde pública de
vários países latino-americanos, aspectos relacionados à pesquisa
epidemiológica, ao acesso ao tratamento e a qualificação de profissionais
de saúde ainda são negligenciados pelas políticas públicas nacionais
(GUTIÉRREZ ET AL APUD WALDEZ, 2009)
Gutiérrez et Al apud Waldez (2009) destaca ainda “...variação sazonal na
distribuição de acidentes ofídicos relacionados ao clima, especialmente com a
estação das chuvas e a temperatura, as mesmas variáveis que determinam os
padrões agrícolas anuais.”
O incremento dos acidentes ofídicos coincide com o deslocamento do
trabalhador rural para as atividades do campo conotando acidente de
trabalho aos acidentes ofídicos. A inclusão de acidente ofídico na lista de
doenças ocupacionais e a sua adequada vigilância poderiam representar
um avanço em saúde pública (LEMOS, 2009).
Ainda segundo o Manual supracitado, a maioria dos envenenamentos ofídicos
registrados no Brasil (1990-1993: 73,1%) são causados por serpentes do gênero
Bothrops que atingem principalmente o pé e a perna, seguidos da mão e antebraço
das vítimas, evidenciando a importância da utilização de equipamentos individuais
de proteção como sapatos, botas e luvas de couro para a redução em grande parte
desses acidentes.
Brazil & Campbel apud Lemos (2009) destacam que “... o uso de
equipamentos de proteção específicos, como perneiras, botas de cano alto, luvas ou
instrumentos para retirar entulhos e remover o mato, como enxadas e pás, poderiam
evitar cerca de 50 a 75% dos casos”.
A identificação das serpentes peçonhentas é essencial no diagnóstico e
tratamentos dos acidentes ofídicos e faz-se necessária em grande amplitude na área
da saúde. Entretanto, o próprio Manual evidencia que as equipes de saúde, com
freqüência considerável, não recebem informações desta natureza nos cursos de
graduação ou no decorrer da atividade profissional.
No Brasil, a fauna ofídica de interesse médico está representada pelos
gêneros Bothrops (incluindo Bothriopsis e Porthidium), Crotalus, Lachesis, Micrurus
e por alguns da Família Colubridae (MS, 2001), entretanto, são mais comuns
acidentes ofídicos pelos gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis, os quais serão
objeto de estudo desse trabalho.
O presente estudo irá expor as características peculiares desses gêneros,
suas
manifestações
clínicas
nas
vítimas,
a
e
assistência
e
soroterapia
implementadas e os cuidados de enfermagem específicos para cada gênero. Terá
como base a revisão de textos científicos relacionados que, culminarão em um
fluxograma científico de pesquisa rápida na assistência dos acidentes ofídicos.
Reinterando a importância do conhecimento na prática das equipes de saúde
para a conduta adequada nos acidentes ofídicos, este estudo tem como objetivo:
- Distinguir os tipos de ofidismo pelo tipo de serpente, pelas manifestações
clínicas da vítima e pelo soro a ser utilizado;
Para atingir o objetivo mencionado optou-se pelo método exploratório de
revisão de literatura.
“As revisões bibliográficas, normalmente apresentadas na forma de artigos
longos, trazem um resumo da literatura especializada sobre determinado tema”
(VIEIRA; HOSSNE, 2001). Entretanto, é importante destacar que a revisão de
literatura ou revisão bibliográfica não é uma mera compilação de dados. Trata-se de
uma visão abrangente não de todos os achados mas dos achados relevantes,
resumindo o que é, realmente, de interesse sobre determinado tema.
“Uma boa revisão bibliográfica exige muita leitura, boa redação e, sobretudo,
bom conhecimento na área específica do tema, além de competência para discutir e
criticar” (VIEIRA; HOSSNE, 2001).
A escolha dos trabalhos a serem revistos é fundamental para uma revisão de
literatura relevante, uma vez que “o status da publicação reflete diferenças reais na
qualidade metodológica” (VIEIRA; HOSSNE, 2001).
No presente estudo, foram pesquisadas as bases de dados eletrônicas de
livre acesso e os títulos de estudo que contemplassem a temática. Após a leitura
exaustiva dos títulos e resumos dos artigos encontrados na base de dados da
Scielo, foram selecionados 08 artigos. Nesta seleção, o critério de inclusão foi a
existência de abordagens relacionadas aos objetivos do estudo, sendo, por fim,
selecionados os artigos mencionados, 07 capítulos do Manual de Diagnóstico e
Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos (MS, 2001), 01 capítulo do livro
Rotinas em Pronto-Socorro (NASI, 2005) e a Ficha de Investigação de Acidentes por
Animais Peçonhentos do SINAN (MS, 2001).
Os dados compilados culminaram em um fluxograma de acesso rápido que
poderá ser instrumento no manejo dos acidentes ofídicos pelas equipes de saúde.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 TIPOS DE SERPENTES
Compreendendo a importância da distinção das serpentes peçonhentas das
não peçonhentas, a descrição das mesmas iniciará o estudo.
Lemos et Al (2009) destaca a importância de que se conheça o gênero a que
pertence a serpente para que se possa tomar medidas terapêuticas fundamentais
em caso de acidente.
As serpentes peçonhentas dos gêneros Bothops, Crotalus e Lachesis
possuem dentes inoculadores bem desenvolvidos e fosseta loreal, um
orifício situado entre o olho e a narina, sendo um órgão termorreceptor que
indica que a serpente é peçonhenta (por isso é também conhecida por
“serpente de quatro ventas”) (PINHO, 2001)
A presença da fosseta loreal, orifício situado entre o olho e a narina nas
serpentes peçonhentas indica os gêneros Bothops, Crotalus e Laquesis, as quais,
além desse órgão sensorial termoreceptor, são providas de dentes inoculadores
bem desenvolvidos e móveis situados na porção anterior do maxilar. Na distinção
dos gêneros, temos a cauda lisa no gênero bothrops, o Guizo ou chocalho no
gênero Crotalus e as escamas eriçadas no gênero Lachesis.
2.1.1 Bothrops
De
acordo
com
Pinho
(2001)
“As
serpentes do
gênero
Bothrops
compreendem cerca de 30 espécies, distribuídas por todo o território nacional”.
As espécies do gênero Bothrops são conhecidas popularmente por jararaca,
ouricana,
jararacuçu,
urutu-cruzeira,
jararaca-de-rabo-branco,
malha-de-sapo,
patrona, surucucurana, combóia, caiçara, dentre outras. Habitam preferencialmente
ambientes úmidos como matas, áreas cultivadas e locais de proliferação de
roedores.
2.1.2 Crotalus
“As serpentes do gênero Crotalus estão representadas no Brasil por apenas
uma espécie, a Crotalus durissus” (PINHO, 2001).
O gênero Crotalus abriga várias subespécies. São popularmente conhecidas
por cascavel, cascavel-quatro-ventas, boiceninga, maracombóia, maracá, dentre
outras. São encontradas em campos abertos, áreas secas, arenosas e pedregosas;
raramente, na faixa litorânea.
2.1.3 Laquesis
“As serpentes do gênero Laquesis pertencem à espécie L.muta. É a maior
das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m de comprimento e
possue cauda com escamas eriçadas” (PINHO, 2001).
O gênero Laquesis compreende apenas duas subespécies. São conhecidas
popularmente por surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga, malha-de-fogo, etc.
Habitam áreas florestais e algumas enclaves de matas úmidas do Nordeste.
O fluxograma I demonstra as características peculiares das serpentes
peçonhentas, sugerindo a distinção dos gêneros Bothrops, Crolatus e Laquesis.
Fluxograma I
SERPENTE
POSSUE FOSETA LOREAL
NÃO POSSUE FOSETA LOREAL
NÃO PEÇONHENTA
PEÇONHENTA
CAUDA LISA
CAUDA COM
GUIZO OU
CHOCALHO
CAUDA COM
ESCAMAS
ARREPIADAS
BOTHROPS
CROTALUS
LAQUESIS
Jararaca, ouricana,
jararacuçu, urutucruzeira, jararacade-rabo-branco,
malha-de-sapo,
patrona,
caiçara
surucucurana,
combóia, etc.
Cascavel,
cascavel-dequatro-ventas,
boiceninga,
maracombóia,
maracá, tec.
Surucucu,
surucucu-pico-dejaca, surucutinga,
malha-de-fogo
2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E SOROTERAPIA
Ao abordar os acidentes ofídicos, Lemos et Al (2009) destaca que “o
diagnóstico é feito, em geral, através dos sinais e sintomas apresentados pelo
paciente em conseqüência das atividades tóxicas causadas pela inoculação da
peçonha”.
O conhecimento da composição dos venenos e seus principais efeitos sobre
o organismo humano permitem ao médico reconhecer o gênero da serpente
responsável pelo acidente e selecionar a soroterapia adequada, mesmo na
ausência da serpente (LEMOS et Al, 2009), portanto, uma assistência
médica eficiente pode vir a modificar o curso clínico dos envenenamentos
graves (RIBEIRO et Al, 1998).
2.2.1 Bothrops
A maioria se não todas as manifestações clínicas que ocorrem decorrentes de
ofidismo pelo gênero Bothrops são conseqüências de distúrbios de coagulação,
estes, ocasionam aumento do Tempo de Coagulação ou incoagulabilidade
sanguínea e plaquetopenia que ocasionam lesões locais como edema, bolhas e
necrose. São também comuns manifestações de dor, equimose e sangramentos
locais.
“O envenenamento por Bothrops pode levar a intensa inflamação na região da
picada, com grande destruição tecidual, o que, muitas vezes, se complica com
infecção por bactérias provenientes do próprio veneno da serpente” (RIBEIRO et Al,
1998).
Além da sintomatologia local, podem ocorrer também sangramentos à
distância (gengivorragias, epistaxes, hematêmese, hematúrias). Podem ainda
ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial e, raramente, choque.
Baseando-se nas manifestações clínicas e visando orientar a terapêutica a
ser utilizada, os acidentes botrópicos são classificados em leve, moderado e grave
pelo manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos
como segue no quadro abaixo.
Quadro I
Acidente botrópico
Classificação quanto à gravidade e soroterapia recomendada
Classificação
Manifestações e tratamento
leve
Locais
. dor
. edema
. equimose
ausentes
ou
discretas
Sistêmicas
. hemorragia grave
. choque
. anúria
ausentes
moderada
grave
evidentes
intensas**
ausentes
presentes
normal ou alterado
normal ou alterado
Tempo de Coagulação (TC)*
Soroterapia (nº ampolas)
SAB/SABC/SABL***
normal ou
alterado
2-4
4-8
12
intravenosa
Via de administração
* TC normal: até 10 min; TC prolongado: de 10 a 30 min; TC incoagulável: > 30 min.
** Manifestações locais intensas podem ser o único critério para classificação de gravidade.
*** SAB = Soro antibotrópico/SABC = Soro antibotrópico-crotálico/SABL = Soro antibotrópico-laquético.
(FONTE: MS, 2001)
Embora incomuns, complicações locais como síndrome compartimental,
abcesso e necrose, e complicações sistêmicas como choque e insuficiência renal
aguda podem ocorrer, o que reintera a importância do acompanhamento da
evolução de cada caso clínico utilizando-se de exames complementares (Tempo de
Coagulação, Hemograma, Sumário de Urina), os quais precisam ser interpretados
por profissional competente e complementados à clinica do paciente.
É válido destacar que, após 24horas de instituição da soroterapia, se o
Tempo de Coagulação permanecer alterado, está indicada dose adicional de 2
ampolas antiveneno, segundo o manual do ministério da saúde referenciado.
Ribeiro et Al (1998) sugere que o tratamento tardio seja fator de mau
prognóstico, o que é plenamente explicável, pois o soro neutraliza o veneno e,
portanto, deve ser administrado antes que ele tenha desenvolvido a sua ação.
O fluxograma II destaca as características dos acidentes botrópicos.
Fluxograma II
BOTHROPS
TC OU INCOAGULABILIDADE SANGUÍNEA
PLAQUETOPENIA
LOCAL
Edema
Bolhas
Necrose
Dor
Equimose
Sangramento
Síndrome Compartimental
Abcesso
SISTÊMICA
Choque
IRA
2.2.2 Crotalus
Os acidentes crotálicos, embora menos freqüentes no Brasil do que os
acidentes botrópicos, merecem importância médica por apresentar o maior
coeficiente de letalidade devido à freqüência com que evolui para Insuficiência Renal
Aguda. Ribeiro et Al (1998) reforça o conhecimento da maior letalidade do acidente
crotálico em relação ao botrópico.
O veneno crotálico possue três ações principais (neurotóxica, miotóxica e
coagulante). A ação neurotóxica causa bloqueio muscular e é responsável pelas
parestesias motoras; a ação miotóxica produz lesões de fibras musculares
esqueléticas (rabdomiólise) e, a ação coagulante ocasiona incoagulabilidade
sanguínea, produzindo manifestações hemorrágicas discretas.
Nos acidentes crotálicos as manifestações locais são pouco importantes e as
manifestações sistêmicas gerais decorrem, em sua maioria, do medo e da tensão
emocional desencadeadas pelo acidente. As manifestações sistêmicas neurológicas
decorrem da ação neurotóxica do veneno (fácies miastênica, dificuldade de
deglutição, diminuição reflexo do vômito, alterações do paladar e olfato). As
manifestações sistêmicas musculares (mialgias generalizadas, mioglobinúria)
evidenciam necrose muscular e, os distúrbios de coagulação são evidenciados por
gengivorragia.
Baseando-se nas manifestações clínicas e visando orientar a terapêutica a
ser utilizada, os acidentes crotálicos também são classificados em leve, moderado e
grave pelo manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais
peçonhentos como segue no quadro abaixo.
Quadro II
Acidente Crotálico
Classificação quanto à gravidade e soroterapia recomendada
Classificação (Avaliação Inicial)
Manifestações e tratamento
leve
Fácies miastêmica/
Visão turva
ausente ou
tardia
moderada
grave
discreta ou
evidente
evidente
Mialgia
Urina vermelha
marrom
Oligúria/Anúria
Tempo de Coagulação (TC)
Soroterapia (nº ampolas)
SAC/SABC*
discreta
intensa
presente
ausente
pouco evidente
ou
ausente
ausente
normal ou
alterado
normal ou
alterado
presente ou
ausente
normal ou
alterado
5
10
20
ausente ou
discreta
ausente
Via de administração
Intravenosa
* SAC = Soro anticrotálico/SABC = Soro antibotrópico-crotálico.
(FONTE: MS, 2001)
A principal complicação dos acidentes crotálicos é a Insuficiência Renal
Aguda, esta, como relatado anteriormente, é a causa principal da maior letalidade
dos acidentes crotálicos, sendo necessário, no acompanhamento dos casos, a
realização de exames que revelem os valores CK, LDH, AST, ALT, os quais
geralmente estão elevados. Tempo de Coagulação, Hemograma e Sumário de Urina
também são necessários. Entretanto, níveis de Uréia, Creatinina, Àcido Úrico,
Fósforo, Potássio (elevados nos acidentes crotálicos) e Calcemia (diminuídos nos
acidentes crotálicos) são os melhores marcadores da fase oligúrica da Insuficiência
Renal Aguda.
A Insuficiência Renal Aguda é considerada a principal causa de óbito tanto no
acidente botrópico quanto no crotálico, mas a letalidade no acidente por Crotalus é
descrita como maior pelos estudiosos.
O fluxograma III destaca as características dos acidentes crotálicos.
Fluxograma III
CROTALUS
AÇÃO NEUROTÓXICA
AÇÃO MIOTÓXICA
BLOQUEIO MUSCULAR
RABDOMIÓLISE
PARALISIAS MOTORAS
AÇÃO COAGULANTE
INCOAGULABILIDADE SANGUÍNEA
MANIFESTAÇÕES HEMORRÁGICAS DISCRETAS
LOCAL
SISTÊMICA
PARESTESIA
INSUFICIÊNCIA
RENAL AGUDA
EDEMA DISCRETO
ERITEMA
2.2.3 Laquesis
Existem poucos casos de acidentes laquéticos relatados na literatura; estudos
sugerem que eles são raros inclusive na região Amazônica, local mais propício para
a habitação desse gênero. Entretanto, esses mesmos estudos destacam a pouca
popularização e os poucos estudos ofídicos nestas áreas.
O manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos
descreve as ações do veneno (ação proteolítica – lesão tecidual, ação hemorrágica
e ação neurotóxica) sumariamente, elucidando a semelhança das manifestações
clínicas locais dos acidentes botrópicos e dos acidentes laquéticos, nestes últimos
havendo predominância do edema. Entretanto, o manual supracitado destaca a
hipotensão arterial, o escurecimento da visão, a bradicardia, as cólicas abdominais e
a diarréia (síndrome vagal) enquanto manifestações sistêmicas que podem auxiliar
na distinção entre os acidentes botrópicos e os acidentes laquéticos.
Tempo de Coagulação, hemograma, dosagens de uréia, creatinina e
eletrólitos são exames laboratoriais que também auxiliam no diagnóstico diferencial.
Os acidentes laquéticos têm poucos casos estudados, portanto, a sua
gravidade é avaliada pelos sinais locais e pela intensidade das manifestações vagais
como segue no quadro abaixo.
Quadro III
Acidente laquético
Tratamento específico indicado
Manifestações e
Soroterapia (nº de
tratamento
ampolas)
Poucos casos estudados.
Gravidade avaliada pelos
sinais locais e intensidade
das manifestações vagais
(bradicardia,
hipotensão
arterial, diarréia)
Via de administração
10 a 20
SAL ou SABL*
Intravenosa
* SAL - Soro antilaquético/SABL = Soro antibotrópico-laquético.
(FONTE: MS, 2001)
O fluxograma II destaca as características dos acidentes laquéticos.
Fluxograma IV
LAQUESIS
Ação proteolítica
( lesão tecidual)
Ação Coagulante
Ação Hemorrágica
Ação Neurotóxica
2.3 CUIDADOS DE ENFERMAGEM
2.3.1 Bothrops
Manter elevado e estendido o segmento picado;
Controlar / Aliviar a dor;
Controle hídirico / Balanço hidoreletrolítico (diurese entre 30 a 40ml/hora no
adulto e 1 a 2ml/kg/hora na criança);
Hidratar de acordo como o controle hídrico;
Observar evidências de infecção e sua evolução;
Atentar para exames que isolem bactérias de material proveniente das lesões
de modo a identificar a ANTIBIOTICOTERAPIA NECESSÁRIA, atentando-se ao
cloranfenicol sensível à maiora das bactérias mais comumentes freqüentes nestas
lesões, que dependendo da evolução, poderá ser utilizada a associação
clindamicina com aminoglicosídeo;
Observar se há síndrome compartimental atentando-se para a fascionomia
que não deve ser retardada, quando condições de hemostasia do paciente permite,
e, para isso, utilizando da transfussão sanguínea de plasma puro congelado ou
creoceptado.
Observar áreas necrosadas delimitadas e sinalizar debridamento das
mesmas;
Considerar a necessidade de cirurgia reparadora nas perdas extensas de
tecidos e sinalizar a importância de preservar o segmento acometido.
2.3.2 Crotalus
Observar se há complicações locais. Sinalizar aos pacientes que parestesias
locais são reversíveis após algumas semanas;
Atentar para hidratação e controle hídrico uma vez que a insuficiência renal
aguda é a principal complicação desse tipo de acidente.
2.3.3 Laquesis
Atentar para hipotensão arterial, escurecimento da visão, bradicardia, cólicas
abdominais e
diarréia
uma vez que a síndrome vagal dintingue os acidentes
laquéticos dos acidentes botrópicos.
3 CONCLUSÃO
O conhecimento ampliado dos acidentes ofídicos podem contribuir para uma
prática de saúde diferenciada de modo que os quadros e fluxogramas apresentados
quando implementados como fonte de pesquisa nos acidentes ofídicos possam
contribuir no prognóstico das vítimas.
Este estudo ampliou os conhecimentos das autoras e o seu conteúdo,
particularmente, os quadros e fluxogramas poderão propiciar um precoce e correto
encaminhamento dos que são acidentados por serpentes pelos profissionais de
saúde, “diminuindo a mortalidade e inutilidade temporária causadas por essa
condição” (PINHO, 2001).
Embora tenham sinais e sintomas similares, os ofidismos podem ser melhor
encaminhados se houver conhecimento adequado dos profissionais de saúde, uma
vez que os mesmos podem ser diferenciados por suas peculiaridades tanto quanto
as características das serpentes quando da sintomatologia desencadeada pelas
mesmas.
Dessa forma, a difusão da temática abordada neste estudo faz-se
imprescindível para o manejo adequado dos acidentes ofídicos pelos profissionais
de saúde.
OFIDISMO: CLINICAL MANIFESTATIONS, CLASSIFICATION AND
SOROTERAPIA
Shirlei Santos Ferreira*
Ana Márcia Chiaradia Mendes Castillo**
ABSTRACT
In annuities were exposed the peculiar characteristics of the genera Bothrops,
Crotalus and laquético, its clinical manifestations in the victims, antivenom therapy
and implemented assistance and nursing care specific to each of these snakes.
Aiming to distinguish the types of snakes by the type of snake, the clinical
manifestations of the victim and the serum to be used, we opted for exploratory
method of literature review - were revised 8 papers, 8 book chapters and Sheet
Investigation of Venomous Bites SINAN / MS. Data compiled culminated in a quick
flowchart that may be instrumental in the management of snakebites by health
teams.
Keywords: snakes, Bothrops, Crotalus, Lachesis, Clinical Manifestations, serum
therapy, Nursing, Literature Review.
* Specialist in Emergency Nursing
Graduate Updates
E-mail: [email protected]
** Nurse doctorate in nursing work and guiding the work
Graduate Updates
E-mail: [email protected]
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