O desenvolvimento da literacia: E quando as crianças formulam um princípio
explicativo novo?
Coordenador: João Rosa
Escola Superior de Educação de Lisboa
O impacto do ensino de estratégias morfológicas no desenvolvimento da escrita:
um estudo de intervenção
Fátima Pires e João Rosa
Escola Superior de Educação de Lisboa
Resumo
O objectivo deste estudo é avaliar o impacto de uma intervenção baseada na aprendizagem
de regras morfológicas na melhoria da correcção da escrita de palavras que terminam nos
morfemas ou em formas homófonos “-esa”/”-eza” e “-ice”/”-isse”, em alunos do 3º, 4º e 6ºanos.
Participaram neste estudo alunos de 6 turmas (N=130), duas de cada ano de escolaridade,
de um agrupamento de escolas público. De cada turma seleccionaram-se aleatoriamente 5
rapazes e 5 raparigas que fizeram parte do Grupo Experimental (N= 60). Os restantes fizeram
parte do Grupo de Controlo (N= 70).
Aos 130 alunos, foi aplicado um pré-teste que consistia numa tarefa de escrita de palavras,
ditadas no contexto de frases. Nesta tarefa tinham que escrever palavras terminadas em
“-esa”/“-eza” e “- ice” /”-isse, tais como camponesa, tristeza, tolice ou fugisse. Foram
também avaliados em tarefas de Consciência Morfológica (Analogia de Palavras, Analogia
de Frases, Interpretação de Pseudo-palavras com contexto e Interpretação de Pseudo-palavras
sem contexto) para assegurar que quaisquer diferenças em correcção, na tarefa de escrita, não
seriam explicáveis por diferenças, à partida, de consciência morfológica. Todas as crianças
realizaram ainda uma prova de Raciocínio Aritmético (WISC III), para testar a especificidade
da intervenção.
A intervenção foi realizada com o Grupo Experimental, em duas sessões de 90 minutos e uma
terceira sessão com 30 minutos. Durante as sessões de intervenção, as crianças, em pequenos
grupos, realizaram diversos exercícios de explicitação das regras morfológicas subjacentes
à discriminação dos morfemas, tendo-se tomado o cuidado de não usar nesses exercícios
quaisquer palavras que constavam na tarefa de escrita.
Finalizada a intervenção com o Grupo Experimental todos os participantes repetiram a mesma
tarefa de escrita.
Testou-se a hipótese de que os alunos conseguem escrever com maior correcção palavras
que terminam em morfemas homófonos, após terem aprendido estratégias morfológicas que
tornam a sua discriminação completamente previsível.
Os resultados mostraram que a intervenção teve um impacto específico e muito significativo
na melhoria das competências de escrita das crianças e que esse desenvolvimento não poderia
ser explicado por quaisquer diferenças de partida em consciência morfológica.
Conclui-se que, em situações em que a criança não pode apelar a quaisquer instrumentos
de análise fonológica (dado que há mais do que um padrão de escrita para o mesmo som) a
explicitação de regras morfológicas fornece à criança um instrumento de pensamento que
ela pode usar produtivamente em novas situações. O estudo indica ainda que é importante
considerar a implicação destes resultados na introdução, em contexto escolar, do ensino de
estratégias morfológicas.
4º Encontro de Investigação e Formação
Centro Interdisciplinar de Estudos Educacionais
Escola Superior de Educação de Lisboa
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Coordenador: João Rosa Escola