Instrumentos de avaliação neuropsicológica em uso no Brasil: lacunas e demandas para a pesquisa
setembro/2014
Instrumentos de avaliação neuropsicológica em uso no Brasil:
lacunas e demandas para a pesquisa
João Carlos Alchieri
Beatriz Mendes e Madruga – [email protected]
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal-RN, 05 de agosto de 2013
Resumo
Esse trabalho parte de pesquisa em andamento no nível Mestrado, pelo Programa de PósGraduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pesquisa-se
bilinguismo infantil e seus efeitos cognitivos, e esse panorama sugeriu a discussão e
apontamento acerca das lacunas em testes neuropsicológicos com as quais se depara ao
fazer pesquisas relacionadas. Partindo dos descritores “bilingualism+children+cognitive
effects” e “bilingualism+children+neuropsychological test/test”, e de sua busca nas bases de
dados PsycINFO e PubMed Medline, chegou-se ao resultado de dezoito testes e técnicas
neuropsicológicas mencionados nos resumos dos trabalhos encontrados. Fez-se consulta no
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), onde, dos dezoito testes
mencionados, somente dois constavam no locutório, oferecendo parecer favorável para uso
no Brasil. Reconhece-se a amplitude do procedimento dito avaliação neuropsicológica, e
dessa área enquanto recente na atuação e na pesquisa em psicologia, mas evidencia-se em
igual modo a necessidade por mais pesquisas sobre instrumentos de avaliação
neuropsicológica.
Palavras-chave: Avaliação neuropsicológica. Instrumentos. Psicometria. Bilinguismo.
1. Introdução
O presente trabalho insere-se no escopo de temas relacionados à Neuropsicologia,
abordando diretamente testes e técnicas de teor neuropsicológico. A Neuropsicologia é um
campo do conhecimento que estuda as relações entre o funcionamento do sistema nervoso
central, as funções cognitivas e o comportamento, e tem hoje grande aplicabilidade em
pesquisa e área clínica (COSENZA; FUENTES; MALLOY-DINIZ, 2008).
A avaliação neuropsicológica investiga as funções cognitivas e o comportamento, e o
faz aplicando técnicas de entrevistas, exames quantitativos e qualitativos das funções
componentes da cognição (MÄDER-JOAQUIM, 2010). Em se tratando das técnicas
quantitativas, testes e técnicas neuropsicológicas são tidos como artifícios a partir dos quais se
pode extrair dados sobre o desempenho do indivíduo, no que disser respeito ao seu
comportamento e/ou à sua cognição. Os instrumentos diferenciam-se principalmente de
acordo com a faixa etária, pois só faz sentido interpretar o desempenho de escores brutos de
algum avaliando quando podemos compara-lo com demais pessoas de mesma classificação
etária (CUNHA, 2000). Assim, há testes neuropsicológicos voltados para infância, idade
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adulta, velhice.
A produção de testes psicológicos e neuropsicológicos envolve um longo percurso de
obediência e conformidade às ditas normas psicométricas, normas capazes de garantir a
validade do instrumento, sua fidedignidade, confiabilidade, e geral adequação do material
para a população de destino (URBINA, 2007), tratando-se de procedimento com etapas bem
definidas e procedimentos rigorosos (PAWLOWSKI; TRENTINI; BANDEIRA, 2007). A
adaptação desses testes para países e/ou culturas distintas também se orienta por regras
rígidas, obedientes às técnicas de normatização e à aplicação em novas amostras (CUNHA,
2000).
Desse modo, para fazer pesquisas em Neuropsicologia e em suas áreas correlatas, é
necessário apropriar-se de tais testes e técnicas, bem como estar atento às suas normatizações
anteriores, à sua adequação ao público etário, e às demais características psicométricas
exigidas quando de sua construção.
Ao ser então iniciada pesquisa de mestrado pautada sobre a avaliação de funções
cognitivas, esse um dos aspectos mais visados e estudados pela avaliação neuropsicológica
(CUNHA, 2000), houve necessidade impreterível de buscar testes e técnicas apropriadas para
esse fim. As funções em estudo são as ditas funções executivas, as quais serão avaliadas em
crianças sob educação bilíngue.
1.1. Bilinguismo e seus aspectos cognitivos
O bilinguismo é um fenômeno que vem sendo estudado na literatura internacional
especialmente a partir do século XX, e que tem sido alvo de muitas pesquisas relacionadas. O
principal teor dessas pesquisas é o da busca por vantagens e déficits associados ao fenômeno
(BIALYSTOK; BARAC, 2013), e, em anos mais recentes, as discussões levantadas centramse ainda mais nas vantagens e peculiaridades da condição.
Por ser fenômeno frequente e comum (GROSJEAN, 2013), especialmente em período
de globalização de culturas e informações, as pesquisas têm discutido diversas facetas do
bilinguismo: como quando produto de imigração, produto de país bilíngue, ou consequência
de uma educação bilíngue. E, ainda mais, têm discutido as vantagens cognitivas que têm sido
observadas em bilíngues em várias faixas etárias. As vantagens mais referenciadas dizem
respeito aos aspectos cognitivos: comunicar-se em dois ou mais idiomas, com frequência,
pode acarretar benefícios para as funções executivas e para a consciência metalinguística, por
exemplo (BIALYSTOK; BARAC, 2013). Dados empíricos têm mantido esforços para
discutir os benefícios das funções executivas (CARLSON; MELTZOFF, 2008), e achados
empíricos bastante consistentes têm apontado com maior especificidade para os construtos
atenção seletiva e inibição (BIALYSTOK, 2009).
As funções executivas são definidas amplamente na literatura, e são, em geral,
usualmente referidas como aquelas responsáveis por direcionar comportamento a metas,
resolver problemas (MALLOY-DINIZ; SEDO; FUENTES; LEITE, 2008), planejar, tomar
decisões (BRENTANO, 2011). Componentes como controle inibitório, atenção seletiva,
memória operacional, flexibilidade cognitiva são apontados enquanto partes integrantes do
construto maior funções executivas; além de demais elementos, também referenciados:
planejamento, tomada de decisões, categorização, fluência (MALLOY-DINIZ et al., 2008).
Para os autores Hamdan e Pereira (2009), funções executivas podem ser
compreendidas como um resultado da operação constituída por vários processos cognitivos,
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organizados para a realização de uma tarefa em particular. Para eles, o controle executivo
pode ser entendido como um sistema que coordena esses processos cognitivos.
O bilinguismo aparece comumente associado a esses processos integrantes das funções
cognitivas em razão principalmente da prática frequente em usar duas línguas, ou mais que
duas (caso do multilinguismo, especificamente). Pereira (2012) comenta demais pesquisas
que justificam as mudanças cognitivas decorrentes do bilinguismo: bloquear um idioma e
ativar outro em um contexto de conversação demanda grande ativação da memória de
trabalho, o que acarretaria vantagens no processamento de funções executivas como a atenção
seletiva, o controle inibitório, e a flexibilidade cognitiva (BIALYSTOK; CRAIK; LUK, 2008;
GREEN; BAVELIER, 2003; GREEN, 1998; PEAL; LAMBERT, 1962, apud PEREIRA,
2012).
Tais aspectos cognitivos são, nas pesquisas, avaliados via instrumentos selecionados
para esse fim. Esses instrumentos incluem atividades diversas, consoantes ao funcionamento
cognitivo demandado para a função sob avaliação; assim como incluem, com frequência,
instrumentos neuropsicológicos adequados em função cognitiva, idade, e contexto sóciocultural. Essa pesquisa bibliográfica pautou-se, então, sobre a busca de instrumentos de
avaliação neuropsicológica capazes de auxiliar no rastreio e avaliação das ditas funções
executivas na população sob estudo: crianças em educação bilíngue, alunas de escolas
bilíngues em Natal-RN, ditos bilíngues consecutivos de infância (MARCELINO, 2009).
A literatura internacional aparece enquanto principal fonte para estudos sobre o
bilinguismo. Já na literatura nacional, puderam-se observar estudos ainda incipientes nessa
temática, principalmente dizendo respeito às funções cognitivas associadas ao sujeito
bilíngue. Essa diferença entre os dois corpos bibliográficos direcionou a pesquisa por
instrumentos neuropsicológicos, principalmente os voltados para as funções executivas.
Nesse contexto, houve dificuldade de encontrar os mesmos instrumentos e técnicas
usados com certa unanimidade no exterior; e a dificuldade de pouco encontrar instrumentos
cuja literatura nacional apontasse, coesamente, para seu uso. Há relativa escassez de técnicas
disponíveis para uso no Brasil, ao mesmo tempo em que a literatura é pulverizada nessa área;
denota-se pouco consenso sobre instrumentos “padrão ouro” para uso em avaliação e
pesquisa, especialmente no que diz respeito às funções executivas, e voltados para a infância.
A literatura apresenta mais instrumentos isolados, ao invés de baterias, ou blocos previamente
fixados voltados para a avaliação do funcionamento executivo.
Ademais, os autores que realizam pesquisas com o bilinguismo e seus aspectos
cognitivos relacionados usualmente apontam para a necessidade de ampliar o escopo de
pesquisas similares. Carlson e Meltzoff (2008) consideram a urgente necessidade de
investigar e discutir as funções executivas dos bilíngues; Pereira (2012) afirma que estudos
brasileiros sobre o efeito do bilinguismo na dinâmica cerebral ainda está em número bastante
reduzido; e Brentano (2011) chama a atenção para um aspecto ainda mais específico do
fenômeno, o bilinguismo escolar. A lacuna de instrumentos configura-se até como
consequência previsível de considerações como essas, as que exigem mais pesquisas.
Assim, diante dessa configuração, considerei como importante problema de pesquisa
as lacunas e demandas por instrumentos de avaliação neuropsicológica no Brasil, dizendo
respeito à faixa etária infantil, e aos aspectos cognitivos associados ao bilinguismo. Evidente
que essa problemática aparece como pontual, fazendo referência a um tema de pesquisa
específico, mas encontra respaldo em demais trabalhos acadêmicos da Neuropsicologia, os
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quais apontam para problemas similares quanto às lacunas de testes formais (SALLES;
FONSECA; CRUZ-RODRIGUES; MELLO; BARBOSA; MIRANDA, 2011; BORGES;
TRENTINI; BANDEIRA; DELL’AGLIO, 2008; PAWLOWSKI et al., 2007).
Partindo de um delineamento referenciado nas pesquisas com crianças bilíngues, esse
trabalho fará a comparação entre testes e técnicas referenciados e utilizados com grande
frequência no exterior, e a disponibilidade e adequação desses mesmos instrumentos para uso
no Brasil. Uma breve contextualização anterior e mais generalizada sobre a neuropsicologia,
seus instrumentais, e as pesquisas brasileiras associadas faz-se, então, necessária.
1.2.Avaliação Neuropsicológica Infantil no Brasil: pesquisas e desafios
A avaliação neuropsicológica infantil lida com desenvolvimento de aspectos
biológicos e cognitivos, e com a relação entre a cognição, ensino formal, estilos de interação
familiar e cultura (SALLES et al., 2011). Conserva os mesmos objetivos e práticas da
avaliação neuropsicológica, quais sejam: basear-se sobre a análise funcional dos processos
cognitivos, e na compreensão multidimensional dos prejuízos cognitivos (BORGES et al.,
2008). Entretanto, pede por óbvias diferenças em testes e técnicas adequados à faixa etária
(CUNHA, 2000), bem como por metodologias flexíveis e adequadas.
Autores brasileiros têm divulgado o panorama referente à lacuna de instrumentais
específicos, principalmente quando da realização de pesquisas com construção de
instrumentos (SALLES et al., 2011), e ao discutir os procedimentos psicométricos envolvidos
nessa construção (PAWLOWSKI et al., 2007). Assim como levantam essa discussão ao fazer
revisões sistemáticas sobre áreas relacionadas à neuropsicologia (BORGES et al., 2008;
ZIMMER; JOU; SEBASTIANY; GUIMARÃES; BOECHAT/ SOARES; BELMONTE-DEABREU, 2008)
Alguns autores trazem a reflexão sobre as Resoluções recentes do Conselho Federal de
Psicologia e seu consequente impacto na pesquisa, construção e adaptação de instrumentos na
Avaliação Psicológica e na Avaliação Neuropsicológica (PAWLOWSKI et al., 2007;
BORGES et al., 2008). A criação do sistema de avaliação de testes psicológicos (Resolução nº
2/2003) e a regularização da Neuropsicologia como área de especialidade da Psicologia
(Resolução nº2/2004) já apontaram, à época, a necessidade da maior oferta de instrumentos
adequados para uso, que, segundo esses autores, ainda se mantém.
Essas amplas exigências deparam-se, nas pesquisas relacionadas, com a escassez de
instrumentos neuropsicológicos disponíveis no Brasil hoje (PAWLOWSKI et al., 2007), e, em
adição, com a carência de instrumentos neuropsicológicos voltados para a população infantil
(SALLES et al., 2011).
Assim, determinadas necessidades de avalição quanto a aspectos do desenvolvimento,
somadas à inexistência de instrumentos capazes de realizar a diagnose adequada, leva-nos a
pensar na realização de esforços comuns para determinar áreas com prioridade na pesquisa
acadêmica. Assim como nos conduz a refletir sobre quais testes ou técnicas devem centrar-se
enquanto objeto de investigação, e de maior volume de pesquisas relacionadas.
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2. Método
A revisão de literatura realizada deu-se nas bases de dados PsycINFO e PubMed. Em
cada uma delas, fez-se duas buscas distintas, que foram cruzamentos entre os seguintes
descritores: “bilingualism” + “children” + “cognitive effects”; “bilingualism” + “children” +
“neuropsychological test/tests”. Em ambas as bases, estreitou-se a busca por materiais
publicados apenas nos últimos dez anos (2003 a 2013); e não se restringiu a pesquisa para
título, resumo, ou demais itens que especializasse a busca. Optando apenas pelos descritores e
pela data de publicação, foram analisadas as publicações resultantes.
Foram lidos os resumos das publicações encontradas, selecionando para uma leitura
detalhada posterior aqueles que fizessem menção ao uso de testes e técnicas
neuropsicológicas. Pesquisas cujo teor fosse teoria e discussão, como de aspectos conceituais
do bilinguismo, por exemplo, foram descartadas.
Na sequência, foi feito um breve levantamento dentre os resumos sobre aqueles onde
constassem títulos de testes ou técnicas neuropsicológicas. Para então elencar-se quais foram
os testes citados, e então partir para a terceira etapa da pesquisa: consultar o Sistema de
Avaliação de Testes Psicológicos, o SATEPSI. Não foram considerados para fins de análise e
consulta ao Satepsi os resumos que apenas mencionassem o uso de instrumentos, sem
especifica-los, assim como não foram considerados os que mencionassem e/ou comentassem
sobre exercícios usados para a pesquisa. Testes neuropsicológicos formais e técnicas
neuropsicológicas de nomenclatura específica foram os selecionados para análise final e
consulta ao sistema.
No Satepsi, observou-se se os testes e técnicas resultantes do levantamento se
encontravam disponíveis para uso no Brasil. Foram consultadas as listas: testes psicológicos
aprovados para uso; testes desfavoráveis; testes psicológicos sem a avaliação do Conselho;
testes não psicológicos.
3. Resultados
Na base de dados PsycINFO, para a busca com os cruzamentos “bilingualism” +
“children” + “cognitive effects”, com trabalhos publicados entre 2003 e 2013, houve um total
de 92 resultados. Desses, 34 trabalhos apresentavam, em seus resumos, uso de testes ou
técnicas neuropsicológicas, ou de tarefas de cunho similar. Desses 34 trabalhos, 13 (treze)
resumos citavam, explicitamente, testes neuropsicológicos utilizados na pesquisa. Os testes
neuropsicológicos que apareceram nesses 13 trabalhos foram: Simon Task (03); Stroop Task
(02); Dimensional Change Card Sort Task (03); Luria’s Tapping Task; Wellman and Liu’s
Scale; Weschler Primary and Preschool Scale of Intelligence; NEPSY Developmental
Neuropsychological Assessment; Standard Deese-Roediger McDermott False Memory Task;
Differential Ability Scales (DAS); Attention Network Task.
Ainda na base de dados PsycINFO, mas para os descritores “bilingualism” +
“children” + “neuropsychological test”, foram encontrados 07 (sete) resultados, considerando
também o período entre 2003 e 2013. Desses 07 resultados, 04 (quatro) trabalhos citam testes
neuropsicológicos em seus resumos, quais sejam: Weschler Abreviated Scale of Intelligence;
Wisconsin Card Sorting Task; Stroop Task; Weschler Primary and Preschool Scale of
Intelligence; NEPSY Developmental Neuropsychological Assessment; Trail Making Test;
Dimensional Change Card Sort Task (DCCS).
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Na base de dados PubMed Medline, fez-se a busca para os descritores “bilingualism”
+ “children” + “cognitive effects”; para essa, foram encontrados 18 (dezoito) resultados, 04
(quatro) dos quais fazendo menção direta a testes neuropsicológicos em seus resumos. Os
testes referenciados nos resumos dos trabalhos foram: Arizona Cognitive Test Battery;
Luria’s Tapping Task; Opposite World’s Task; Stroop Task; Simon Task.
Em mesma base, PubMed Medline, os resultados para a busca “bilingualism” +
“children” + “neuropsychological tests” foram de 26 (vinte e seis) publicações resultantes, em
total. Dessas, 08 (oito) faziam menção direta a testes neuropsicológicos no resumo de seus
trabalhos. Os testes referenciados nessa busca foram: Peabody Picture Vocabulary Test IV;
Expressive One Word Picture Vocabulary Test and Preschool Language Scale IV; GoldmanFristoe Test of Articulation; Arizona Cognitive Test Battery; Wechsler Abbreviated Scale of
Intelligence; Wisconsin Card Sorting Task; Stroop Task (02); Dimensional Change Card
Sorting Task; Trail Making Test; Wechsler Primary and Preschool Scale of Intelligence;
NEPSY Developmental Neuropsychological Assessment; Simon Task.
As quatro buscas distintas correspondem, em conjunto, à seguinte lista de testes
mencionados: Arizona Cognitive Test Battery; Attention Network Task; Differential Ability
Scale (DAS); Dimensional Change Card Sort Task; Expressive One Word Picture Vocabulary
Test and Preschool Language Scale IV; Goldman-Fristoe Test of Articulation; Luria’s
Tapping Task; NEPSY Developmental Neuropsychological Assessment; Opposite World’s
Task; Peabody Picture Vocabulary Test IV; Simon Task; Standard Deese-Roediger
McDermott False Memory Task; Stroop Task; Trail Making Test; Wechsler Abbreviated
Scale of Intelligence; Wechsler Primary and Preschool Scale of Intelligence; Wellman and
Liu’s Scale; Wisconsin Card Sorting Task. Um total de 18 (dezoito) diferentes.
Em consulta ao Satepsi, na lista de testes com parecer favorável e disponíveis para
uso, seguindo conformidade com Resolução nº 002/2003 do Conselho Federal de Psicologia,
somente dois dos testes supracitados constavam nessa listagem: Teste Trilhas Coloridas (Trail
Making Test) e Wisconsin Card Sorting Task (WCST).
4. Discussão
Reconhece-se a avaliação neuropsicológica enquanto um compêndio de técnicas
diversas, com o fim único da avaliação, e não enquanto apenas um compêndio de testes. A
autora Mäder-Joaquim (2010) esclarece que constam na avaliação neuropsicológica as
técnicas de entrevistas, os exames quantitativos e qualitativos; e que fazem parte desse tipo de
avaliação tanto os testes formais quanto os exercícios.
Os testes seriam métodos estruturados previamente, aplicados com instruções
específicas, que acompanham normas derivadas de uma população anteriormente estudada; os
exercícios são métodos de exploração, os quais abordam as etapas necessárias sobre o
desempenho de determinada função (MÄDER-JOAQUIM, 2010). Reconhece-se, desse modo,
que a avaliação neuropsicológica não centra-se sobre os testes, mas sim sobre um conjunto
maior e também flexível de técnicas diversas; e que tanto testes quanto exercícios são valiosos
para uma avaliação, não tendo sido encontrada uma preferência absoluta sobre o uso de testes
formais em avaliação neuropsicológica.
Entretanto, reitera-se a reflexão sobre o dado quantitativo encontrado, ao buscar, no
SATEPSI, os testes e técnicas formais resultantes da busca desse presente trabalho, sabendo
ser o SATEPSI um site fonte de consulta importante e constante para a prática da avaliação
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psicológica e neuropsicológica. Enquanto faz-se reflexão sobre esses dados, que conduzem a
questões práticas, especialmente, também surgem questionamentos que atentam para suas
implicações em pesquisa, visto ser esse o motor propulsor das buscas feitas.
Os autores Mendonça, Azambuja e Schlecht (2008) fazem uma discussão sobre a
Neuropsicologia no Brasil onde citam o seguinte dado: de acordo com dados expostos da 59ª
Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em relação ao
número de artigos brasileiros publicados, a psicologia e a psiquiatria foram as áreas que mais
cresceram quando são comparados os últimos dois triênios (2001-2003 e 2004-2006). O
progresso científico na Psicologia não é discreto. Os mesmos pesquisadores apontam o
avanço contínuo na Neuropsicologia em demais áreas, como reabilitação cognitiva e educação
(MENDONÇA, AZAMBUJA, SCHLECHT, 2008). Esse mesmo avanço acompanha as
resoluções formais do Conselho Federal de Psicologia, como a 002/2003, que criou o sistema
de avaliação de testes psicológicos, e a 002/2004, a qual estabelece a Neuropsicologia como
uma especialidade da Psicologia (PAWLOWSKI et al., 2007; BORGES et al., 2008).
O avanço na pesquisa em Psicologia, o avanço na Neuropsicologia enquanto área de
especialização da psicologia, e também na pesquisa em Neuropsicologia, não são percursos
antigos, mas, sim, de últimas décadas. Entretanto, eles obedecem a avanços significativos, que
ganham grandes progressões ao longo dos anos. A recência das datas poderia justificar certa
incipiência de testes, e materiais em fase de construção, adaptação, ou demais fases da
pesquisa psicométrica. Entretanto, o volume e a velocidade de pesquisas na área denotam que
há grande contingente de pesquisadores voltados para a avaliação neuropsicológica e para
suas áreas correlatas. Mas a pesquisa centrada nos instrumentos parece estar ocupando menor
espaço, e produzindo lacunas.
Assim, a despeito de reconhecer que técnicas de entrevista e exercícios são também
parte integrante e importante da avaliação (MÄDER-JOAQUIM, 2010), os testes e técnicas
formais devem ocupar maior lugar nas pesquisas confeccionadas. Isso porque a restrita
quantidade de instrumentos impõe limites ao exame neuropsicológico em si mesmo (SALLES
et al., 2011), seja em prática profissional ou em pesquisa. Em seguida, testes psicológicos
fornecem medidas objetivas, e, por consequência, podem fornecer parâmetros para a
avaliação e a reabilitação, por exemplo (CAMARGO; BOLOGNANI; ZUCOLO, 2008). E,
assim como os testes em separado, as baterias fixas de avaliação neuropsicológica são
apontadas enquanto importantes e necessárias para a pesquisa na área, e por motivos
similares: permitem a organização criteriosa de dados e torna viável a visão comparativa de
casos (MÄDER-JOAQUIM, 2010).
A grande discrepância encontrada nos testes relacionados às buscas dessa pesquisa e aos
testes disponíveis para uso encontrados na lista do SATEPSI é evidenciada para áreas
específicas em pesquisa: o bilinguismo infantil e seus efeitos cognitivos relacionados; o
bilinguismo infantil e os testes neuropsicológicos usados em suas pesquisas. Entretanto, essas
buscas apresentaram número considerável de publicação resultante, e, se atentarmos para
outras buscas relacionadas (como somente “bilingualism” acompanhado de “cognitive
effects”), vê-se um volume muito representativo dessas buscas nas pesquisas em ciências
psicológicas, especialmente em contexto acadêmico internacional. Apesar de funcionar como
um recorte, como buscas pontuais, elas são representativas do ponto de vista acadêmico, em
volume e história de pesquisas.
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É possível reconhecer, assim, que apesar de atuar enquanto funil para a pesquisa geral
em instrumentos neuropsicológicos disponíveis para uso no Brasil, as buscas realizadas para a
pesquisa no bilinguismo apresentaram resultados representativos de um quadro maior, já
evidenciado pelo de autores aqui citados, que é o da parca oferta de instrumentos
neuropsicológicos em contexto brasileiro (SALLES et al., 2011; BORGES et al., 2008;
PAWLOWSKI et al., 2007). E, por isso, convém dizer e concordar com os pesquisadores
referenciados, que, a despeito do avanço considerável em Neuropsicologia no Brasil, a
pesquisa, a produção e a adaptação de instrumentos tem volume inferior (PAWLOWSKI et
al., 2007); ainda é ínfima diante das necessidades em pesquisa e prática.
5. Conclusões
A pesquisa que subjaz esse trabalho encontra-se em andamento; centra-se em
bilinguismo infantil e suas consequências cognitivas, que serão mensuradas via instrumentos
de cunho neuropsicológico. A busca em duas bases de dados, valendo-se de dois diferentes
cruzamentos entre descritores relacionados à pesquisa subjacente, indicou um total de dezoito
testes neuropsicológicos diretamente mencionados em referências internacionais. Desses,
somente dois constavam no SATEPSI, locutório responsável pela consulta de testes com
parecer favorável pelo CFP.
As buscas que guiaram o trabalho aqui exposto mostram um recorte representativo e
um exemplo de dificuldades capazes de surgir quando da pesquisa em avaliação
neuropsicológica, e também quando da prática nessa mesma área. Reconhece-se o
procedimento de avaliação na Neuropsicologia como composto por outras técnicas e também
por exercícios e tarefas de cunho exploratório, ao mesmo tempo em que se leva em
consideração a recência da área enquanto especialidade da Psicologia. Entretanto, a pesquisa
em instrumentos não parece prosseguir de acordo com as demais pesquisas em
Neuropsicologia. É reconhecida a necessidade de maior investigação e produção nessa área,
visando ampliar a quantidade disponível de testes neuropsicológicos formais para uso no
Brasil.
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