Entrevista com Neide Rodrigues Gomes, coordenadora
das atividades de Carnaval do Museu da Língua
Portuguesa
Neide Rodrigues Gomes é arte-educadora, presidente da comissão paulista de folclore,
escritora e responsável pelo carnaval de rua do Museu da Língua Portuguesa.
Confira a entrevista feita por e-mail para o site da EFAP:
Como surgiu a ideia das oficinas de bonecões no Museu da Língua Portuguesa?
Fui procurada pela diretoria do Museu da Língua Portuguesa há seis anos, quando começamos
a desenvolver as oficinas de confecção dos bonecões. Quando eles estão prontos, desfilam nas
ruas nos dias de Carnaval. O objetivo dessas atividades é proporcionar outra opção de lazer
para as famílias, além dos desfiles nos sambódromos. As crianças também gostam muito de
participar, por ser um exercício lúdico. Incentivamos os pais a levarem seus filhos para a festa.
Qual é a origem dessa tradição?
0s Bonecos de Rua e Bichinhos de Saia são uma tradição europeia que chegou ao Brasil com os
colonizadores, tendo sido registrada por inúmeros viajantes em seus diários de viagens. A
tradição nos diz que as máscaras e as figuras horripilantes tenham vindo da Comédia Del Arte
e do Carnaval renascentista. Quando cristãos eram impedidos de brincarem durante o Entrudo
por proibição da Igreja... Mas o desejo da folia era muito grande, assim as máscaras passaram
a ser utilizadas, escondendo quem estava atrás delas.
Em que contexto histórico o Carnaval está inserido?
O Carnaval está inserido no calendário litúrgico. Depois do nascimento de Cristo, vem o
Carnaval que era chamado de Entrudo, que significava o dia que antecedia entrar na quaresma
(para o gregos, “Carnavalis”), que era o dia que deveriam comer carne; depois seria 40 dias de
jejum de carne. Sendo uma tradição muito antiga, o Carnaval já faz parte de nossa herança
cultural, ele está no mundo inteiro com as mais diversas características, e no Brasil é o único
no qual se festejam quatro dias ou mais.
Qual a importância de se manter as tradições carnavalescas? Como você vê esse movimento
de resgate dos blocos de rua?
Os blocos estão voltando, até porque, nos sambódromos tanto no Rio como em São Paulo, a
capacidade é restrita para mais ou menos 50 mil pessoas, e em cidades grandes como São
Paulo e Rio, a população quer divertimentos. Assim, o carnaval de rua ou de blocos está
tomando conta das periferias e também dos centros urbanos.
Cada região brasileira tem um tipo de carnaval? Qual a relevância do Carnaval como evento
folclórico?
Cada Estado do Brasil tem o seu Carnaval, depende da tradição de cada um; é muito difícil
você explanar sobre o Brasil; é muito grande, seria preciso uma tese.
Podemos chamar de folclore o carnaval de rua feito espontaneamente. O carnaval das grandes
cidades são espetáculos que não pertencem mais ao folclore, são os chamados eventos de
massa da mídia, onde tem patrocinadores fortíssimos e a televisão comanda.
Os bonecões de Olinda têm sua técnica própria, hoje completamente modernizada; já são
esculpidos através de imagens projetadas por computadores, descaracterizando totalmente o
artesanato do qual eram feitos no passado. Na Bahia, em algumas cidades do Recôncavo
baiano, temos a brincadeira do Zambiapunga, que são grupos de mascarados que saem em
algumas datas específicas em comemoração aos santos padroeiros. Brincando também no
Carnaval, confeccionadas com formas de cimento revestidas de papietagem, são grotescas e
têm como objetivo principal assustar as crianças, que fogem de medo. Em São Paulo, mais de
trinta cidades têm os Bonecos de Rua como atração em seus carnavais e em outras festas
tradicionais.
Na cidade de Joanópolis, por volta de 1985, em pesquisa realizada para dissertação de
Mestrado (ECA/USP) sobre o desenvolvimento do turismo nos municípios de pequeno porte,
constatamos que no final do século XIX havia no Bairro dos Pretos, onde encontramos a
segunda maior queda d’água do Estado de São Paulo, a “brincadeira de boi”, durante os
festejos em homenagem a São João (padroeiro do município) e esse boi era feito com um jacá
de bambus, com papel-jornal e cola de farinha de trigo. À vista de que o Boi ficava muito
pesado e em pouco tempo era consumido por fungos e cupins, ao longo do tempo essa
tradição desapareceu, ficando apenas em relatos orais.
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Leia a entrevista com Neide Rodrigues Gomes, professora