Evolvere Scientia, V. 3, N. 1, 2014
ARTIGO
Evolvere Scientia
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
TEMÁTICA DOMINANTE NAS PINTURAS RUPESTRES DO SERROTE DO MORRINHO, NO
MUNICÍPIO DE SENTO SÉ - BA
Morgana Cavalcante Ribeiro1*, Celito Kestering2
1
Universidade Federal do Vale do São Francisco, 64.770-000 São Raimundo Nonato, PI, Brasil.
*Email: [email protected]
Resumo: Objetiva-se com esse trabalho apresentar os resultados da pesquisa que se fez no conjunto de
pinturas rupestres do Serrote do Morrinho, em Sento Sé – BA, para reconhecer atributos da identidade
de grupos que ocuparam a região do Submédio São Francisco no período pré-colonial. Inicialmente,
caracterizou-se a área, com a descrição de aspectos geológicos, geomorfológicos e ambientais para
desvendar parte do contexto com qual se relacionaram os grupos que realizaram as pinturas rupestres.
Posteriormente, classificaram-se as pinturas com os parâmetros da cognoscibilidade e da temática.
Pelo parâmetro da cognoscibilidade dominante, relacionada com longo tempo e amplo espaço,
classificam-se conjuntos de registros rupestres em tradições. Pelo critério da temática dominante,
relacionada com um espaço geográfico regional, filiam-se conjuntos de figuras rupestres em
subtradições. Observações preliminares permitem propor, em nível hipotético, que as figuras do
Serrote do Morrinho, por serem majoritariamente reconhecíveis e apresentarem dominância temática
diferente da que compõe a Subtradição Sobradinho, pertençam à Tradição São Francisco e a uma
subtradição a ser determinada.
Palavras-chave: Pintura rupestre, Serrote do Morrinho, Cognoscibilidade, Temática.
Abstract: We intend with this work presents the results of research that was done in the set of cave
paintings of Serrote do Morrinho, in Sento Sé – BA municipality, to recognize attributes of the identity
of groups that occupied the region of Lower Basin of San Francisco River in the pre-colonial period.
First time, we characterized the area, with the description of geological, geomorphological and
environmental aspects to unravel part of the context in which related groups which performed the cave
paintings. Subsequently, the paintings were classified with the parameters of knowability and
thematic. The dominant parameter of knowability, related to long time and large space, classified sets
of records in rock traditions. By the criterion of the dominant theme, related to a small geographical
area, affiliate themselves sets of figures in rock subtraditions. Preliminary observations allow us to
propose, in the hypothetical level, the figures of Serrote do Morrinho, being present mostly
recognizable and different thematic dominance from composing the sub-tradition Sobradinho, belong
to Tradition San Francisco and at a sub-tradition to be determined.
Keywords: Rock paintings, Serrote do Morrinho, Knowability, Theme.
1
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1
busca dessas civilizações perdidas, o prefácio
INTRODUÇÃO
da arqueologia brasileira e nordestina foi
Os estudos em Arqueologia procuram
permeado de fantasia.
resgatar e preservar os fragmentos vestigiais do
A aurora de uma arqueologia acadêmica
passado seja ele recente ou remoto. Para isso,
em terras brasileiras aconteceu com a vinda de
os arqueólogos utilizam a cultura material
pesquisadores estrangeiros. Esses pioneiros
sobrevivente à ação deletéria do tempo para
formaram
reunir o máximo de informações possíveis
brasileiros que prosseguiram com a pesquisa
acerca de grupos pretéritos.
científica.
uma
geração
de
profissionais
Integrando parte dessa materialidade,
Esta pesquisa foi desenvolvida na Área
existem as pinturas rupestres que surgiram pela
Arqueológica de Sobradinho, no município de
primeira vez no registro arqueológico há mais
Sento Sé – Bahia, com o objetivo de contribuir
ou menos 40-30 mil anos, quando o Homo
para o reconhecimento de
sapiens surgiu e a mente humana começou a
identidade dos grupos que ocuparam a região
florescer em meio aos novos domínios
do Submédio São Francisco no período pré-
cognitivos que passaram a fluir livremente
colonial. Quer-se levantar dados referentes aos
(MITHEN, 2002, p. 251).
atributos de identidade dos grupos pré-
Segundo
Hernando
(2002),
com
o
coloniais
com
o
intuito
atributos
de
de
subsidiar
surgimento do Homo sapiens e a chamada
professores da rede pública e privada para
Revolução do Paleolítico Superior, os grupos
elevarem a autoestima coletiva da população
humanos desenvolveram uma ferramenta de
local, fundamental para o desenvolvimento
sobrevivência extremamente útil e versátil que
regional.
não existe em nenhuma outra espécie animal: a
As pesquisas arqueológicas na área de
capacidade de representação e utilização de
Sobradinho – BA começaram na década de
símbolos.
1970,
Assim,
as
pinturas
rupestres
com
o
Projeto
Sobradinho
de
serviram como um meio de comunicação para
Salvamento Arqueológico. Esse projeto foi
indivíduos
condições
realizado em toda a área de inundação da
ambientais extremamente adversas (MITHEN,
Barragem, num raio de 4.214 km², bem como
2002, p. 255).
na área de segurança e suas adjacências. Esse
que
viveram
em
No Brasil, as primeiras inscrições vistas
trabalho foi realizado por Valentin Calderón e
em rochedos foram atribuídas a grandes
sua equipe, entendendo-se que a cultura
civilizações, tais como os fenícios, que teriam
material da área da represa era importante para
aportado no Novo Mundo. Na concepção dos
a compreensão da vida dos grupos pré-
colonos portugueses, os nativos indígenas
coloniais que habitaram a região. Os primeiros
seriam desprovidos de aptidões intelectuais
sítios arqueológicos com registros rupestres na
suficientes para realizarem tais grafismos. Em
região
de
Sobradinho
foram,
assim,
2
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identificados durante essas atividades, sendo
Em 2013, Lima Filho propôs, em nível
caracterizados pela equipe como sítios com
preliminar e hipotética, algumas fronteiras da
arte parietal.
subtradição Sobradinho, definida por Kestering
Mesmo o tempo sendo abreviado para as
(2007).
O presente trabalho de pesquisa foi
atividades de salvamento, a equipe conseguiu
identificar e salvar um número considerável de
desenvolvido
vestígios arqueológicos. Segundo Kestering
localizado no município de Sento Sé – BA.
(2001), durante a realização dos trabalhos de
Nessa feição de relevo, foram identificados
campo a equipe de Calderón visitou os locais
três sítios arqueológicos, um desses sítios, um
que
de
matacão1, possui pinturas rupestres, dispostas
cerâmica e artefatos da indústria lítica em
em quatro painéis. O matacão está sofrendo
superfície.
desplacamento causado pela oscilação térmica
poderiam
apresentar
Quando
fragmentos
identificava
vestígios
no
Serrote
do
Morrinho,
a
que decorre, principalmente das mudanças de
demarcação da área, gerava plantas, fazia o
temperatura entre o dia e a noite. As pinturas
registro fotográfico para coletá-los em seguida.
estão bastante desgastadas por causa da sua
Confirmada a área como local de ocupação,
exposição ao sol, ao vento e à chuva. Além
realizava-se
disso, há raízes de xiquexique (Cephalocereux
arqueológicos,
a
a
equipe
escavação
realizava
de
algumas
gounellei), urina e fezes de mocó (Kerodon
sondagens.
Finalizadas as atividades do Projeto
rupestris) muito próximas às pinturas.
Sobradinho de Salvamento Arqueológico,
A relevância dessa pesquisa reside na
nenhuma outra pesquisa foi realizada na região
importância de complementar e enriquecer o
até Kestering (2001) iniciar o trabalho de
banco de dados acerca do período pré-colonial
caracterização dos registros gráficos pré-
do Vale do São Francisco além de contribuir
coloniais no Boqueirão do Riacho São
no reconhecimento da identidade dos grupos
Gonçalo. Essa pesquisa culminou com a
que habitavam o Submédio São Francisco em
dissertação de mestrado intitulada Registros
períodos anteriores à colonização.
Rupestres
na
Área
Arqueológica
de
Sobradinho.
Kestering (2007) ampliou seu trabalho
definindo uma subtradição para os registros
rupestres
dessa
área
arqueológica,
2
a
Iniciou-se
Subtradição Sobradinho. Essa pesquisa rendeu
uma tese de doutorado intitulada Identidade
PROCEDIMENTOS TEÓRICOS
METODOLÓGICOS
bibliográfico
a
pesquisa
referente
aos
com
E
estudo
conceitos
de
dos grupos pré-históricos de Sobradinho–
BA.
1
De acordo com a escala granulométrica de
Wentworth, matacão é a maior dimensão de
fragmentos de rocha.
3
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atributos,
tradição
e
subtradição,
identificação de grafismos reconhecíveis, que
cognoscibilidade e temática com vistas à
não
representam
adoção de parâmetros para o reconhecimento
considera-se unidade gráfica um signo ou todo
dos grupos pré-coloniais que ocuparam o
o conjunto de signos e espaços vazios de um
Submédio São Francisco.
painel,
enquanto
realidades
não
conhecidas,
são
identificadas
ocorrências de figuras semelhantes em outros
painéis. Eles são reconhecíveis, por isso, nas
2.1 Conceitos
recorrências.
Entende-se
a
Temática é o germe a partir do qual se
A
podem desenvolver diferentes composições
cognoscibilidade depende da relação dialógica
para representar realidades pertencentes ao
entre o sujeito cognoscente e o objeto
mundo
cognoscível. Existem objetos que, por sua
reconhecimento é possível na peculiaridade
natureza (essência ou estrutura) e por seus
das
atributos
facilmente
conhecíveis caracterizam-se pela representação
identificados. Outros dependem do conjunto de
de expressões corporais ou atributos de
conhecimentos, da capacidade de percepção ou
identidade, como ornamentação, forma e
do grau de aprimoramento técnico do sujeito
tamanho.
cognoscente.
caracterizam-se pela presença de elementos
qualidade
do
como
que
cognoscibilidade
é
(aparência)
cognoscível.
são
material
formas.
As
Nas
ou
imaginário.
temáticas
figuras
das
Seu
figuras
reconhecíveis,
básicos (signos e significantes, geométricos ou
Todo o conhecimento envolve a relação
não) e seu agenciamento nas unidades gráficas.
direta do sujeito cognoscente com algum
Pelo critério da temática dominante,
objeto (a relação de conhecer diretamente
ou, conversamente, de apresentação de um
objeto a um sujeito cognoscente), mesmo
que esse conhecimento seja por descrição de
outro objeto (HUSSELL, 1964).
relacionada
regional,
parâmetro
da
cognoscibilidade
filiam-se
um
espaço
conjuntos
geográfico
de
figuras
rupestres em subtradições. A temática refere-se
a preferências nas formas que os autores de
uma
Pelo
com
sociedade
utilizavam
para
pintar
diferentes arranjos que compõem os painéis.
dominante, relacionada com longo tempo e
amplo espaço, classificam-se conjuntos de
pinturas
em
tradições.
Identifica-se
a
2.2 Metodologia
cognoscibilidade dominante pela segregação
figuras
Fez-se uma pesquisa imagética com base
conhecíveis e reconhecíveis. São conhecíveis
nas pesquisas anteriores realizadas na região.
as figuras que representam realidades do
(KESTERING, 2007 e LIMA FILHO, 2013).
mundo conhecido pelo pesquisador. Para a
Complementaram-se os estudos com atividades
qualitativa
e
quantitativa
de
4
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
de campo, oportunidade em que se fez
prospecção2 intensiva e sistemática no Serrote
do Morrinho, para identificação de sítios
arqueológicos. Na oportunidade, fez-se um
levantamento fotográfico das pinturas e de
aspectos relevantes do ambiente para se
desvendar a paisagem com a qual conviveram
os grupos pré-coloniais que as realizaram.
As imagens das pinturas e do contexto
ambiental foram feitas com câmaras digitais e
a
localização
geográfica
dos
sítios
arqueológicos foi definida com a utilização de
GPS
Garmin
Etrex.
Para
facilitar
a
visualização e análise das pinturas, fez-se a
vetorização
das
imagens
no
software
GIMPPortable.
Fonte: Kestering, 2007, p. 86
Em laboratório, fez-se o reconhecimento
Durante esta pesquisa buscou-se segregar
do padrão de cognoscibilidade e das temáticas
dominantes para aferir se correspondiam à da
Subtradição
Sobradinho
(Fig.
1).
Na
oportunidade, sistematizaram-se os dados para
que outros estudantes do Curso de Arqueologia
e Preservação Patrimonial possam utilizá-los
na elaboração de monografias e outros
trabalhos acadêmicos de pesquisa.
Figura 1 – Temática dominante da Subtradição
Sobradinho
atributos da identidade dos grupos précoloniais do Vale do São Francisco pela
identificação do padrão de cognoscibilidade e
da
temática
dominante
no
Serrote
do
Morrinho, no município de Sento Sé – BA.
Em toda extensão do Vale do Rio São
Francisco, existem vestígios que comprovam
intensa ocupação humana no período précolonial. Em muitos suportes de rochas
existem painéis de pintura e de gravura
rupestre e, nos terraços fluviais antigos,
encontram-se
indústria
lítica
vestígios
e
arqueológicos
cerâmica.
Expostos
da
à
degradação física, química e biológica, as
pinturas e gravuras deterioram-se e dispersamse os outros vestígios arqueológicos. Perdem2
se, assim, muitas informações básicas que
Segundo Bicho (2006) prospecção arqueológica
constitui-se como uma atividade executada em
campo com o objetivo de reconhecer e ∕ ou
localizar sítios arqueológicos.
poderiam contribuir para a construção do
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conhecimento científico a respeito do período
pré-colonial do Submédio São Francisco.
3
O SERROTE DO MORRINHO
O Serrote do Morrinho está localizado
junto ao povoado de Morrinhos, no município
de Sento Sé – BA, região Noroeste do Estado
da Bahia, Submédio São Francisco (Fig. 2 e 3).
Fonte: Lima Filho (2013, p. 141)
Está a, aproximadamente, 7 km a sudoeste
As rochas que compõem o Serrote do
povoado de Piçarrão, a 58 km a oeste da cidade
Morrinho pertencem ao grupo geológico
de Sobradinho e a 100 km da atual sede do
Metagranitóides de Regime Transcorrente da
Município de Sento Sé. Fica a 15 km a
Tectogênese Transamazônica (Fig. 5). As
sudoeste da unidade de pesquisa de Kestering
rochas Metagranitóides jazem sobre o conjunto
(2007) e a 5 km a oeste da unidade de pesquisa
de rochas plutônicas e metaplutônicas muito
de Lima Filho (2013) (Fig. 4).
antigas de origem ígnea, magmática ou
Figura 2 – Serrote do Morrinho
eruptiva.
A
ocorreu
no
Tectogênese
Proterozóico
aproximadamente,
Transamazônica
Inferior,
dois bilhões
de
há,
anos,
quando começavam a parecer no planeta as
primeiras formas de vida unicelular avançada e
multicelular.
Figura 5 – Esboço geológico do Serrote do
Morrinho
Fonte: Acervo pessoal dos autores
Figura 3 – Localização do Serrote do Morrinho
Fonte: Google Earth (2013), modificado pelos
autores
Figura 4 – Definição preliminar e hipotética do
território ocupado pelos autores das
figuras da Subtradição Sobradinho
Fonte: Angelim (1997), modificado pelos autores
Nessa feição de relevo, identificaram-se
três
sítios
arqueológicos,
quais
sejam:
Morrinho 1 (código 028.1), Morrinho 2
(código 028.2) e Morrinho 3 (código 028.3).
6
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
3.1 Sítio arqueológico Morrinho 1
O sítio Morrinho 1 é um lugar plano, com
solo arenoso e vegetação rala. Nele houve uma
roça onde se plantava mandioca, feijão,
melancia e milho. É multicomponencial, ou
seja, possui vestígios pré-coloniais (artefatos
Foto: Acervo pessoal dos autores
líticos e pinturas rupestres) (Fig. 6 e 7),
Figura 9 – Fragmento de cerâmica
coloniais e/ou pós-coloniais (fragmentos de
louça, cerâmica, vidro e metal) (Fig. 8 a 11).
Figura 6 – Artefato lítico pré-colonial (núcleo)
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 10 – Fragmento de vidro
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 7 – Pilão em matacão e percutor
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 11 – Fragmento de metal
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 8 – Fragmento de louça
Foto: Acervo pessoal dos autores
3.2 Sítio arqueológico Morrinho 2
7
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
O sítio Morrinho 2 é um afloramento de
metagranito porfirítico onde se esculpiu e se
O sítio Morrinho 3 é constituído de um
utilizou uma base fixa de pilão em rocha (Fig.
matacão em que se identificaram quatro
12 e 13).
painéis de pinturas rupestres, com um total de
Figura 12 – Sítio arqueológico Morrinho 2
nove figuras de temáticas variadas (Fig. 14).
Figura 14 – Sítio arqueológico Morrinho 3
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 13 – Pilão em rocha
Foto: Acervo pessoal dos autores
Por se constatar que todas as figuras
rupestres identificadas eram reconhecíveis,
concluiu-se que elas foram feitas por membros
de um grupo pré-colonial diferente daquele que
realizou as pinturas da Tradição Nordeste,
dominantes na região Sudeste do Piauí. LéviStrauss (1989) caracterizaria o grupo autor
Foto: Acervo pessoal dos autores
como membros de uma sociedade quente.
Hernando
No município de Sento Sé é comum
encontrarem-se bases de pilão, esculpidas em
matacões ou fixas em afloramentos rochosos.
Normalmente eles situam-se próximo a fontes
de água ou no leito dos riachos, junto a solos
(2002)
reconhecê-los-ia
como
membros de uma sociedade metafórica. Por ser
dominante no Vale do Rio São Francisco,
classifica-se, preliminar e hipoteticamente,
esse grupo de pinturas na Tradição São
Francisco.
agricultáveis onde, no período pré-colonial,
entre outras culturas se plantava milho.
Calderón et al. (1977, p. 35) afirmaram que
“este cereal, como base alimentar, era pilado,
moído ou triturado e utilizado de diversas
maneiras na alimentação”.
3.3 Sítio arqueológico Morrinho 3
As pinturas rupestres do Morrinho 3
representam
temáticas
variadas.
Foram
pintadas com tinta vermelha e com pincéis de
largura média.
4
ANÁLISE DAS PINTURAS
8
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
Fonte: Acervo pessoal dos autores
Das nove figuras que compõem os quatro
Figura 18 – Painel 04
painéis do sítio arqueológico Morrinho 3 (Fig.
15 a 18), 7 (77,78%) representam temáticas
recorrentes e 2 (22,22%), não-recorrentes. São
distribuídas as figuras de recorrência temática
(RT) em cinco conjuntos (Fig. 19 a 24). Foram
constatadas duas temáticas não recorrentes
NR-57 e NR-583.
Figura 15 – Painel 1
Fonte: Acervo pessoal dos autores
Figura 19 - Temáticas recorrentes
Fonte: Kestering, 2011, p. 144
Figura 16 – Painel 2
Fonte: Os autores
Figura 20 – Temática dominante (RT-16) com base
em Kestering (2007) e Lima Filho
(2013)
Foto: Acervo pessoal dos autores
Figura 17 – Painel 3
Fonte: Os autores
Figura 21 – Temática dominante (RT-21) com base
em Kestering (2007) e Lima Filho
(2013)
3
As duas figuras não recorrentes (NR-57 e NR-58)
não foram identificadas nas pesquisas de
Kestering (2007) e Lima Filho (2013).
9
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
Fonte: Os autores
Figura 22 – Recorrência temática (RT-17), com
base em Kestering (2007) e Lima
Filho (2013)
Fonte: Os autores
Figura 25 – Figura não recorrente (NR-57)
Fonte: Os autores
Fonte: Os autores
Figura 26 – Figura não recorrente (NR-58)
Figura 23 – Recorrência temática (RT-22) com base
em Kestering (2007) e Lima Filho
(2013)
Fonte: Os autores
Fonte: Os autores
Figura 24 - Recorrência temática (RT-75) com base
Lima Filho (2013)
4.1 Discussão
10
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
Não se constatou predominância da
se localizam ao sul do povoado de Piçarrão, no
temática representada por traços contínuos, em
Município de Sento Sé – BA, onde se
diagonal ascendente e descendente, quando
estendem os metagranitos da Tectogênese
horizontais, ou da esquerda para a direita e
Transamazônica,
vice-versa, quando verticais, logo, as pinturas
registros gráficos abundantes nas rochas
rupestres
metassedimentares da Chapada Diamantina do
do
Serrote
do
Morrinho
não
pertencem a Subtradição Sobradinho.
relacionando-as
com
os
entorno.
Com esta pesquisa quis-se sensibilizar a
5
sociedade na visualização do papel social do
CONSIDERAÇÕES FINAIS
arqueólogo, pois na busca da identidade de
grupos pré-coloniais, esses profissionais têm a
Os resultados da pesquisa permitem propor,
tarefa de resgatar a autoestima coletiva dos
em nível hipotético e preliminar, que as
sertanejos para edificar com eles o futuro da
pinturas do Serrote do Morrinho, por serem
região Nordeste do Brasil (KESTERING).
majoritariamente reconhecíveis, pertençam à
Tradição São Francisco e, por apresentarem
REFERÊNCIAS
dominância temática diferente da que compõe
a Subtradição Sobradinho, pertençam a uma
subtradição a ser definida.
Pondera-se que a pesquisa limitou-se a uma
única feição de relevo onde as rochas que
ANGELIM.
Luiz
Alberto
Programa
Levantamentos
de
Aquino.
Geológicos
Básicos do Brasil Petrolina: Folha SC. 24-VC. Escala 1/250.000. Brasília: CPRM, 1997.
serviram de suporte para a realização das
pinturas
rupestres
são
constituídas
de
BICHO,
Nuno
Ferreira.
Manual
de
metagranitos da Tectogênese Transamazônica,
arqueologia pré-histórica. Lisboa, Portugal:
diferentes das rochas metassedimentares da
70 Compêndio, 2006.
Chapada Diamantina, Formação Tombador,
onde Kestering (2007) identificou a temática
CALDERÓN,
dominante da Subtradição Sobradinho. A
Dulce Bandeira de Ataíde; SOARES, Ivan
identificação
Dorea Cancio. Relatório das atividades de
de
dominâncias
temáticas
Valentim;
JÁCOME,
diferentes, relacionadas com suportes de
campo
estrutura geológica também diferente sugere a
Salvamento Arqueológico, 1977.
do
Projeto
Sobradinho
Yara
de
ocorrência de uma subtradição que não a de
Sobradinho. Para que essa se comprove
GOOGLE
demandam-se outras pesquisas na região.
Geographer. Maplink / Tele Atlas. 2013.
Recomenda-se que se analisem as pinturas e
Acesso: 20 Jan 2013.
EARTH.
US
Depto
State
gravuras de todos os sítios arqueológicos que
11
Evolvere Science, V. 3, N. 3, 2014
HERNANDO, Almudena. Arqueología de la
Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Identidad. Madrid: Akal, 2002.
2007.
HUSSELL, Beltrand. Nosso Conhecimento
LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento
do Mundo Exterior. São Paulo: Nacional,
Selvagem. Campinas, SP: Papirus, 1989.
1964.
LIMA FILHO, Sebastião Lacerda de. Pintura
KESTERING, Celito. Registros Rupestres na
Rupestre:
Área Arqueológica de Sobradinho. Recife:
Subtradição Sobradinho – BA. Laranjeiras:
UFPE (Dissertação de Mestrado), 2001.
UFS,
definição
2013.
das
Dissertação
fronteiras
(Mestrado
da
em
Arqueologia) – Programa de Pós-Graduação
______. Patrimônio Arqueológico de Sento Sé
em Arqueologia e Interfaces Disciplinares,
– BA. 2011 (Prelo).
Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras,
2013.
______.
Identidade
dos
grupos
pré-
históricos de Sobradinho-BA. Recife: UFPE,
MITHEN, Steven J. A pré-história da mente:
2007. Tese (Doutorado em Arqueologia) –
uma busca das origens da arte, da religião e
Programa de Pós-Graduação em Arqueologia,
da ciência. São Paulo: Editora UNESP, 2002.
12
Download

temática dominante nas pinturas rupestres do