UNIJUÍ- UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
DHE - DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
ENVELHECER: O QUE É E COMO PENSÁ-LO
Santa Rosa, dezembro de 2014
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UNIJUÍ –
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
DHE - DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
ENVELHECER: COMO É E COMO PENSÁ-LO
Acadêmica: Ednamar Jehle de Souza Bordin
Orientadora: Lala Catarina Lenzi Nodari
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial para conclusão do curso de formação de
psicólogo.
Santa Rosa, dezembro de 2014
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Desejo que você, sendo jovem,
não amadureça depressa demais
e, sendo maduro, não insista em rejuvenescer;
e que, sendo velho, não se dedique ao desespero.
Por que cada idade tem seu prazer e sua dor
e é preciso que eles escorram entre nós
(Victor Hugo, 1802-1885)
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo tratar do envelhecimento na
contemporaneidade. São analisadas, primeiramente, as representações sociais da
velhice e o papel do idoso nas diversas sociedades ao longo da história da
humanidade e na história da psicanálise e as relações entre produção social e o valor
atribuído ao envelhecimento. A velhice na atualidade é analisada, especificamente no
contexto brasileiro, e são investigadas questões acerca da posição do idoso na
sociedade, as representações sociais sobre a velhice, a visão que os jovens tem do
velho, como o velho vê seu corpo e a visão da psicanálise sobre a velhice e como ela
atua. É discutida a inversão da pirâmide etária no Brasil como argumento utilizado
pelos estudiosos do envelhecimento para justificar a relevância de seus esforços
teóricos. A psicanálise no envelhecimento é discutida e são analisadas questões
referentes à pouca produção científica nesta área. No contexto da recente constituição
da psicologia do envelhecimento são apresentadas as noções de desenvolvimento
humano que desfavoreceram o interesse dos psicólogos acerca do tema da velhice.
É apresentada a perspectiva do curso de vida no campo da psicologia do
desenvolvimento, como marco teórico inicial, que criou um contexto mais propício aos
primeiros estudos que contemplaram a velhice como fase do desenvolvimento
humano. A noção de velhice bem-sucedida, baseada em uma perspectiva do curso
de vida é abordada e são discutidas as implicações de tal noção na produção da
psicologia acerca do envelhecimento. É ressaltada a carência de estudos em
epistemologia e é apontada a urgência de esforços reflexivos que modifiquem o
panorama atual da produção de conhecimento acerca do envelhecimento humano.
Palavras-chave: Envelhecimento, Sociedade Contemporânea, Psicanálise
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................6
CAPÍTULO I – Aspectos Históricos, Sociais e Políticos sobre o velho..............8
1.1 – O velho na história cultural da humanidade ................................................8
1.2 – Aspectos sociais da velhice ........................................................................14
1.3 - As políticas públicas existentes para o idoso ..........................................18
CAPÍTULO 2 – O envelhecimento na contemporaneidade ................................23
2.1- Um olhar sobre o que é envelhecer .............................................................24
2.2 – O corpo físico no envelhecimento ..............................................................25
2.3 – A morte e o morrer para o velho .................................................................28
2.4 – A elaboração do luto ....................................................................................30
CAPÍTULO 3 – A psicanálise e o envelhecimento ..............................................33
3.1 - Idade e psicanálise........................................................................................34
3.2 – O corpo velho................................................................................................36
3.3 – O velho é sempre o outro.............................................................................39
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................43
REFERÊNCIAS .......................................................................................................45
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INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional tem sido observado, em âmbito global, na
contemporaneidade. Isso parece ocorrer devido aos avanços nos conhecimentos da
medicina e da biotecnologia, da descoberta de novas medicações, das políticas de
vacinação em massa, do controle de muitas doenças infectocontagiosas fatais,
sobretudo a partir da descoberta dos antibióticos; da diminuição das taxas de
fecundidade; da queda da mortalidade pela ampliação de redes de abastecimento de
água e esgoto, alterando não apenas indicadores demográficos como a expectativa
de vida, mas principalmente o próprio limite do tempo de vida.
Sabemos que o envelhecimento é um processo fisiológico natural, mas
encontramos diferenças no ritmo e forma de atuação do tempo em cada indivíduo. A
ciência médica, em geral, faz uso de uma tecnologia que avança a passos largos,
debruçando-se em pesquisas para melhorar e reformular novas vacinas e drogas,
criando meios de aumento da expectativa de vida indicando que os indivíduos poderão
chegar aos 100 anos, se não houver nenhuma intercorrência importante no curso da
vida, abreviando sua existência. O stress, porém, assim como as doenças
degenerativas, violência urbana, trânsito agressivo e a poluição, entre outras
questões, surgem como fatores negativos para esse aumento dos anos de vida.
O homem moderno rejeita o envelhecimento e tudo o mais que o acompanha:
perda da mobilidade física, tônus muscular, audição, visão e demais doenças
crônicas, pois se preocupa com a preservação da liberdade individual e da
independência física e cognitiva, e a manutenção da autonomia moral e social. Ou
seja, todos querem envelhecer com autonomia e dignidade, negando ser portador de
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doenças debilitantes, negando, muitas vezes, auxilio no uso de medicação contínua,
para diversos tipos de enfermidades, pois esta postura gera dependência, que é tudo
que o idoso não quer.
As questões levantadas no presente trabalho surgem da falta de estudos
epidemiológicos acerca da produção do envelhecimento humano e a ausência de um
esforço reflexivo dos teóricos em relação à demanda que tomaram pra si, que é a
construção de um campo de saber específico que contemple a velhice. É importante
o tratamento de tais questões em um trabalho de conclusão de curso, especificamente
voltada para o tema, porque o estudo acrítico do envelhecimento tem produzido um
cenário obscuro no campo da investigação acerca da velhice e tem fortalecido um
olhar preconceituoso sobre os velhos na atualidade.
O primeiro capítulo propõe um apanhado sobre o envelhecimento ao longo da
história da humanidade, bem como uma visão social do velho e as políticas públicas
relacionada a eles. São abordadas as diferentes representações acerca da velhice ao
longo do tempo e o papel do idoso nas mais diversas sociedades, a fim de delimitar
variáveis comuns na determinação do destino do velho em uma comunidade.
O segundo capítulo trata da velhice na contemporaneidade, especificamente no
contexto brasileiro, e o modo como a velhice é representada na sociedade. Quando
tratamos do envelhecimento, pretendemos reconhecer no corpo o que lhe é possível,
as limitações provenientes da velhice. A velhice é uma das etapas que faz parte do
processo de vida, assim como o nascimento, o crescimento, a reprodução e a morte,
comuns a todos os seres vivos.
O terceiro capítulo trata da psicanálise e do envelhecimento. O envelhecimento
é um processo intrínseco ao ser humano e que apenas uma parte da população
conseguirá alcançar esta fase, surgindo então, um grupo com características próprios
e que ficam isolados da sociedade. O surgimento da Psicanálise na nossa cultura,
sem dúvida alguma, introduziu uma nova forma de apreender o ser humano. Os sinais
da velhice sinalizam a finitude. Pode-se assegurar que numa sociedade que escolhe
a juventude como modelo, trabalhar com o fim da vida transforma-se em um interdito.
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CAPÍTULO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E POLÍTICOS
1.1 - O velho na história cultural da humanidade
A intenção de pesquisa em elaborar um trabalho acerca da história da
velhice busca dar conta desse processo e foi quando verificamos que os trabalhos
científicos que falam da velhice ao longo da história da humanidade são muito
escassos, visto que o tema não parece ter sido de interesse para as sociedades,
durante muitos séculos.
As primeiras abordagens científicas sobre a velhice começam a surgir no
século XVI e cientistas como Bacon e Descartes
já se preocupavam em analisar
aspectos referentes ao envelhecimento. Porém, foi Jean Marie Charcot, médico
francês, em 1867, foi o primeiro a apresentar um trabalho científico sobre o idoso. Seu
Estudo Clínico sobre a senilidade e doenças crônicas destaca a importância dos
estudos sobre o envelhecimento, tendo como centro do estudo suas casas e
consequências para o organismo humano.
Simone de Beauvoir, foi uma das primeiras estudiosas a perceber e tentar
desfazer as dificuldades em se definir as representações sobre a velhice na sociedade
contemporânea.
Na obra de Simone de Beauvoir, A Velhice: realidade incômoda, temos uma
visão abrangente das condições dos velhos ao longo da história da humanidade.
Sabe-se que a autora é citada em vários trabalhos a respeito do envelhecimento
humano. Segundo Siqueira, Botelho & Coelho (2002), há uma estimativa de que este
trabalho conste em 8 de 10 trabalhos realizados sobre o envelhecimento, produzidos
nos últimos vinte anos do século XX. Beauvoir é uma pioneira no estudo sobre o
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envelhecimento humano. Pela falta de material sobre o assunto, sua obra foi muito
citada no início desse trabalho.
Encontramos relatos sobre velhos numa sociedade milenar, a China, onde os
velhos foram elevados a uma condição muito privilegiada. Nesta sociedade, a
qualificação e a responsabilidade das pessoas, se elevava de acordo com os anos de
vida, portanto, na extremidade dessa pirâmide social encontravam-se os idosos. E
essa
posição superior, refletia-se na família. Toda a casa devia obediência ao
homem mais idoso e sua autoridade não diminuía com a idade. Essa autoridade
associada à velhice era justificada pela sabedoria adquirida com o tempo, de acordo
com Confúcio (551a.C. – 479 a.C). Na literatura chinesa, portanto, a velhice nunca é
colocada como algo ruim.
Porém, a realidade acerca da questão do envelhecimento no ocidente,
traça um triste quadro. Beauvoir (1990) cita em sua obra, o primeiro texto dedicado
à velhice, escrito 2500 a.C por Ptah-hotep, filósofo e poeta egípcio,
Como é penoso o fim de um velho! Ele se enfraquece a cada dia; sua
vista cansa, seus ouvidos tornam-se surdos, sua força declina; seu coração
não tem mais repouso; sua boca torna-se silenciosa e não fala mais. Suas
faculdades intelectuais diminuem, e lhe é impossível lembrar-se hoje do que
aconteceu ontem. Todos os seus ossos doem. As ocupações que antes
causavam prazer só se realizam com dificuldade, e o sentido do paladar
desaparece. A velhice é o pior dos infortúnios que pode afligir um homem. O
nariz entope, e não se pode sentir nenhum odor. ( PTAH-HOTEP – citado
por BEAUVOIR (1990, p114 ).
Os versos de Ptah-Hotep mostram a face cruel do processo de envelhecimento,
comentando a velhice de um modo
desfavorável, desolado e até depressivo. Essa
triste descrição da velhice será observada em todas as épocas. Ainda hoje essas
ideias, mitos e preconceitos que datam de tempos antigos, persistem.
Considerando o povo judeu, o respeito pelos idosos pode ser visto através da
Bíblia. No Livro do Eclesiástico (Antigo Testamento) diz: “Obrigações dos filhos” e nele
há recomendações quanto ao zelo que deve ser dado aos idosos: “Meu filho, cuide de
seu pai na velhice, e não lhe abandone enquanto ele viver. Mesmo que ele fique
caduco, seja compreensivo e não o desprezes, enquanto você está em pleno vigor,
pois a caridade feita ao pai, não será esquecida.” (Livro do Eclesiástico, 3: 12,13,14).
De acordo com Beauvoir (1990), nos relatos bíblicos que revelam os princípios
do povo judeu, a velhice é retratada como uma benção e os homens idosos como
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pessoas a quem se deve respeito. O homem mais velho, na Palestina, governava a
família enquanto sua saúde era boa.
Os mandamentos de Deus exigem que filhos honrem pai e mãe. Se um filho se
recusa a obedecer ao pai e se todas as tentativas para fazê-lo ceder forem vãs, o pai
– diz o Deuteronômio ( 21:18 a 21)– deverá levá-lo aos anciãos de sua cidade: “E
todos os homens da cidade o apedrejarão e ele morrerá” (BEAUVOIR, 1990, pg.115).
Na Grécia Antiga, não se observa um tratamento diferenciado para com os mais
velhos. Nota-se que a velhice era uma etapa da vida temida pelos gregos,
principalmente pela civilização helênica onde a força física, característica dos jovens,
era muito valorizada. No entanto, a velhice estava associada à ideia de honra, o que
pode ser verificado mediante o fato de o rei ser assistido por um conselho de anciãos,
a Gerúsia. Era composto por 28 esparciatas com mais de 60 anos, os gerontes, com
função vitalícia. Fiscalizavam a administração e decidiam sobre a maior parte dos
assuntos do governo, mesmo que esse conselho tivesse apenas um papel consultivo,
como alertava Homero na sua obra “A Ilíada”.
É que nessa época, século IX, a coragem física e valores guerreiros
desempenhavam um papel essencial, como constata-se na obra supracitada de
Homero, de maneira que a velhice e a morte eram evocadas de forma a induzir a uma
aceitação deliberada da condição humana, de acordo com Braunstein e Pépin (2001).
Portanto a velhice era associada à experiência, à arte da palavra e à autoridade, mas
era reconhecida a fragilidade física do idoso.
Segundo Àries (1981), a idade avançada, não deixava de ser prestigiada na
Grécia, pela falta da força física pois, os gregos não confiavam nos jovens para os
negócios públicos, lembrando os conselhos de anciãos. Além de mestres, possuíam
o poder de avaliar e decidir qual recém nascido devia nascer ou morrer. Mesmo
quando a idade mínima para fazer parte do conselho fosse 30 anos, como em Atenas,
para fazer parte da assembleia num tribunal de arbitragem era necessário ter mais 60
anos.
Quando a Grécia viveu um regime feudal no período do século V da era Cristã,
o papel dos velhos tornou-se mais honroso do que eficiente. Neste período, a
propriedade era definida pelas forças das armas, que era atribuído aos jovens. Os
velhos passaram a ser vistos de outra maneira quando foi instaurado o regime de
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propriedade, garantida não mais pela força, mas sim pela lei que possibilitou aos
idosos acumularem mais riqueza que os jovens e, portanto, ocuparem um alto nível
social.
Em Esparta a velhice era honrada. Os homens de 60 anos ou mais, liberados
de suas obrigações militares estavam predestinados a manter a ordem que lhes fora
imposta, ou seja, manter o status quo da sociedade oligárquica, opressiva e estática,
por isso eles eram encarregados de formar a juventude e nelas inculcavam o respeito
à idade avançada.
Platão, aos 80 anos, em sua obra As Leis, insiste nas obrigações dos filhos
para com os velhos pais, com quem devem falar com respeito colocando suas
riquezas e sua própria pessoa à disposição deles. Presta-se um culto aos
antepassados mortos; o futuro ancestral já é sagrado: “Não podemos possuir nenhum
objeto de culto mais digno de respeito do que um pai ou um avô, uma mãe ou uma
avó oprimida pela velhice” (BEAUVOIR, 1990, pg. 136)
Aristóteles, filósofo grego e discípulo de Platão, por sua vez, afirmava que alma
e corpo estão unidos, e a degradação do corpo interfere negativamente no espírito. O
lugar dos velhos, então, não seria à frente da Pólis. Com a decrepitude do organismo,
todo tipo de atributos ruins surgia, e a experiência de vida, enaltecedor para Platão,
servia apenas para transformar o homem em um ser amargo e vil, paralisado no tempo
por experiências do passado. (BEAUVOIR, 1990).
Em A retórica, Aristóteles pinta a juventude com as cores mais alegres: calorosa,
apaixonada, magnânima – e a velhice apresenta-se, para ele, em todos esses pontos,
como o contrário: “Porque viveram inúmeros anos, porque muitas vezes foram
enganados, porque cometeram erros, porque as coisas humanas são, quase sempre
más, os velhos não tem segurança em nada, e seu desempenho em tudo está aquém
do que seria necessário”. (BEAUVOIR, 1990, pp.136-137).
Ainda citando Beauvoir (1990), a autora diz que, entre os romanos, a relação do
velho com a sociedade se dá pela posse da propriedade. Enquanto proprietários, a
propriedade privada era garantida por lei e, assim, eram respeitados. E, foram os ricos
proprietários fundiários, que haviam chegado ao fim de suas carreiras de magistrados,
que detiveram o poder. Eles compunham o senado, a mais importante instituição de
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poder; cujo nome deriva de “senex”, que significa idoso, valorizando, desse modo, a
experiência destes cidadãos.
Esta situação privilegiada dos velhos afirma-se no interior da família, onde o
poder é dado ao pai. A ele são conferidas todas as decisões. Ele tem os mesmos
direitos sobre as pessoas do que sobre coisas: matar, mutilar e vender. O regime
republicano fracassa a partir dos Gracos – família da antiga República Romana que
se destacou nas lutas sociais, durante o século II a.C. - e o senado perde pouco a
pouco, seus poderes que passam às mãos dos militares, ou seja, de homens jovens.
Cícero, que era senador, compõe, aos 63 anos, uma defesa da velhice para reforçar
a autoridade do senado que estava abalada. Ele chama de preconceitos, as ideias
que se tem da velhice, mas reconhece que, em geral ela é detestada.
O cristianismo, que se expandiu pelo ocidente com a queda do mundo antigo,
assumiu novos aspectos entre os povos convertidos e teve sua essência solidária
modificada. Inicialmente dirigido aos mais humildes, o cristianismo incorporou os
valores clássicos, em geral desfavoráveis aos idosos. Embora tenha criado os asilos,
no século IV, a Igreja Católica não fez muito pela condição dos velhos nessa época.
Na Alta Idade Média os jovens estavam no controle. Até os papas eram jovens e,
invariavelmente, obedientes à aristocracia. (BEAUVOIR, 1990).
Beauvoir (1990), relata que instaurada a sociedade feudal, sendo a relação de
vassalo e senhor normatizada na obrigação dos vassalos entregarem aos senhores
uma parte da produção, o desgaste físico fazia com que os idosos passassem suas
obrigações aos filhos. Do século X em diante, o modelo de jovem cavaleiro, heroico e
bravo, foi bastante cultuado. Fora do campo a situação do idoso não era muito
diferente que a dos camponeses. Muitos encontravam a subsistência como mendigos.
A situação dos velhos, em todos os setores da sociedade parece, portanto,
como extremamente desfavorecida. Tanto entre os nobres quanto entre os
camponeses, a força física prevalecia: os fracos não tinham lugar. A
juventude constituía uma classe de idade de considerável importância.
(BEAUVOIR, 1990, p. 162)
É possível verificar a associação entre velhice e sabedoria também na descrição
das idades da vida, apresentada por Áries (1981), em que as idades são
representadas no século XVI, de acordo com as funções sociais. Em uma pintura no
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Palácio dos Doges, residência oficial de 120 doges que governaram Veneza, de 697
a 1797 d.C., isso pode ser visto:
“Primeiro, a idade dos brinquedos: as crianças brincam com um cavalo de
pau, uma boneca, um pequeno moinho ou pássaros armados. Depois, a
idade da escola: os meninos aprendem a ler ou seguram um livro e um estojo;
as meninas aprendem a fiar. Em seguida, as idades do amor ou dos esportes
da corte e da cavalaria: festas, passeios de rapazes e moças, corte de amor,
as bodas ou a caçada do mês de maio dos calendários. Em seguida, as
idades da guerra e da cavalaria: um homem armado. Finalmente, as idades
sedentárias, dos homens da lei, da ciência ou do estudo: o velho sábio
barbudo vestido segundo a moda antiga, diante da escrivaninha, perto da
lareira” (ARIÈS, 1981)
Com o término do período da Idade Média e o renascimento do comércio, a
burguesia prosperou e as relações de poder se modificaram. A força física deixou de
ser uma condição de prosperidade para o homem.
De então em diante, a propriedade funda-se em contratos, e não na
força física: aparece então o tipo tradicional do mercador, avesso à violência.
Podem-se estocar as mercadorias e o dinheiro. Essa transformação modifica,
nas classes abastadas, a condição dos velhos: através da acumulação de
riquezas, eles podem tornar-se poderosos. Há mais preocupação com eles.
(BEAUVOIR,1990, p. 175).
O Renascimento marcou o início da Idade Moderna. O amor pelo corpo jovem
passou a ser muito cultuado. As representações dos velhos mostram um profundo
desprezo pelo corpo envelhecido da mulher e sua sexualidade lhe é negada, tida como
ridícula. Há um consenso na literatura de que os idosos devem comportar-se de uma
determinada maneira para que seja possível manter alguma dignidade na época da
decrepitude, e, afastar-se dos prazeres carnais e deixá-los aos jovens é um dos
princípios a serem seguidos. (BEAUVOIR, 1990).
Do antigo Egito ao Renascimento, vê-se que o tema da velhice foi quase
sempre tratado de maneira estereotipada; mesmas comparações, mesmos
adjetivos. A velhice é o inverno da vida. A brancura dos cabelos e da barba
evoca a neve, o gelo: há uma frieza do branco à qual se opõem o vermelho –
o fogo, o ardor – e o verde, cor das plantas, da primavera, da juventude. Os
clichês se perpetuam, em parte porque o velho sofre um imutável destino
biológico. Mas também, não sendo um agente da História, o velho não
interessa, não nos damos ao trabalho de estudá-lo em sua verdade.
(BEAUVOIR, 1990, p. 200).
Beauvoir (1990), ressalta que na nova sociedade industrial, a condição do idoso
rico e do idoso miserável eram absurdamente desiguais, uma vez que para os mais
velhos que tinham dinheiro, os anos vividos eram valorizados e conferiam mais
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prestígio aos indivíduos, enquanto os idosos miseráveis formavam a categoria mais
sofrida e desprezada dentre os proletários.
Antigos operários reduzidos à indigência e a vagabundagem, velhos
camponeses tratados como bichos, os velhos pobres situam-se no mais baixo
nível da escala social. São os velhos das classes superiores que ocupam o
cume. A oposição é tão flagrante que se poderia quase pensar que se tratava
de duas espécies diferentes. As mudanças econômicas e sociais, tão
nefastas para uns, favoreceram, ao contrário, os outros. (BEAUVOIR, 1990,
p. 242).
Mas o interessante é que hoje, já não tem sentido a imagem da decrepitude do ancião
vista nos séculos XVI e XVII. O ancião desapareceu, como diz Áries (1981), foi
substituído pelo “homem de certa idade”, e por “senhores ou senhoras bem
conservadas”. Segundo o autor, “a ideia de conservação substituiu a ideia ao mesmo
tempo biológica e moral da velhice”, associada à fragilidade e à sabedoria.
Algumas dificuldades encontradas na velhice diminuíram no século XX. Com o
avanço da medicina e da farmacologia muitos transtornos causados pelo
envelhecimento do organismo diminuíram. Contudo, Beauvoir (1990) aponta que as
representações sociais da velhice modificaram-se novamente. A função da
experiência, do acúmulo dos anos de vida, mudou. A figura do homem mais velho,
mais vivido, que antes representava segurança e estabilidade, passou a evocar uma
ideia que caiu em desuso. Tal fenômeno vem se assegurando ao longo dos anos e o
idoso é, cada vez mais, excluído da sociedade de consumo visto que há o retorno ao
culto do corpo jovem.
1.2- Aspectos sociais da velhice
A velhice não pode ser compreendida apenas no âmbito das modificações
fisiológicas decorrentes da idade. Bosi (1994) afirma que “além de ser um destino do
indivíduo, a velhice é uma categoria social. Tem um estatuto contingente, pois cada
sociedade vive de forma diferente o declínio biológico do homem” (p.77). As pessoas
e os seus comportamentos não são, em si mesmos, bons ou ruins; é a sociedade que
lhe estabelece um valor.
Nos dias de hoje, o idoso ocupa uma posição que deve ser entendida em termos
da função que o indivíduo “improdutivo” possui dentro de uma sociedade de consumo.
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Se ele não produz mais, mas acumulou riqueza durante anos, certamente sua
qualidade de vida é diferente daquele idoso que não possui bens ou vive de sua
pequena aposentadoria. O idoso rico pode ocupar uma posição social de prestígio.
No entanto, o idoso pobre aumenta a quantia daqueles que necessitam de serviços
de saúde e previdência do Estado.
O envelhecimento, atualmente, é visto como um problema a ser resolvido. É
um problema para o Estado, é um problema para a família. E é sobre o prisma da
negatividade que a pessoa idosa é abordada, uma vez que a inversão da pirâmide
etária no Brasil é um indicativo de grande ameaça ao desenvolvimento do país.
Beauvoir (1990) aponta que as sociedades capitalistas:
“...levam em consideração quase que exclusivamente o interesse da
economia, isto é, do capitalismo, e não o das pessoas. Eliminados cedo do
mercado de trabalho, os aposentados constituem uma carga que as
sociedades baseadas no lucro, assumem mesquinhamente” (p.277).
Como já foi exposto, observa-se no Brasil uma perspectiva baseada nas visões
negativas relacionadas à velhice como sendo uma fase improdutiva, que gera
dependência, isolamento e desvalorização social. Mas, concomitante com as ideias
negativas, existem as visões positivas, que se direcionam à sabedoria e à dignidade,
como preconiza o Estatuto do Idoso, Capítulo VI em seu Art. 26, que “o idoso tem
direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas,
intelectuais e psíquicas.” Sabe-se que estes ideais estão extremamente ligados a
fatores sócio culturais e históricos do indivíduo dentro de uma visão contemporânea.
Goldman (2003) afirma que:
O envelhecimento como um processo complexo que ocorre em cada pessoa,
individualmente, mais condicionado a fatores sociais, culturais e históricos,
que vão rebater na sociedade como um todo, envolvendo os idosos e as
várias gerações (p. 71)
Cabe dizer que não se pode estabelecer um caráter generalista sobre a velhice
e o processo de envelhecimento. Beauvoir nos coloca que:
A velhice aparece como uma espécie de segredo vergonhoso, do qual é
indecente falar (...). Com relação às pessoas idosas, essa sociedade não é
apenas culpada ou criminosa. Abrigada por traz de mitos da expansão e da
abundância trata os velhos como pária (1990).
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A partir dessas colocações, pode-se entender que a idade biológica condiz ao
estado corporal de desenvolvimento ou de degeneração física. Este termo é usado
para descrever o estado geral do corpo de uma pessoa. Mas também é usado como
termo específico: idade fisiológica (estrutura óssea, constituição corporal).
O envelhecimento social da população traz modificação da condição do velho e
no relacionamento que ele mantém com outras pessoas em função de uma crise de
identidade, provocada pela falta de papel social, o que levará o velho a perda de sua
autoestima, mudança de papéis na família e na sociedade. Desse modo, entende-se
que:
Com a longevidade a pessoa idosa, deverá se adequar a novos papéis;
aposentadoria, já que nos dias atuais, ao aposentar-se, ainda restam para a
maioria alguns anos de vida; por isso, devem estar preparados para não
acabarem isolados, deprimidos e sem rumo. No decorrer dos anos as perdas
são diversas, que vão da condição econômica, a decisão de parentes e
amigos, da independência, da autonomia e diminuição de contatos sociais,
que se tornam reduzidos em função de suas possibilidades peculiares,
distâncias, vida agitada, falta de tempo, circunstâncias financeiras e a
realidade da violência na rua. (STUART-HAMILTON, 2002, p.22).
A maneira com que os idosos vivenciam a velhice é diferente entre eles. O
modo como são tratados pela sociedade, pelos familiares, depende de um conjunto
de condições. O fator econômico influencia profundamente as relações do meio com
o indivíduo idoso. As condições de saúde fazem a diferença quando se classifica o
idoso
em dependente ou independente. No entanto, existe no senso comum
simbolismos a respeito do idoso, que circula nos meios de comunicação e nos
anúncios de comerciais.
O velho representa, por esse prisma, um conjunto de atribuições e
modificações negativas que estão ligadas ao conceito de velhice. O que prevalece é
de que a velhice é um declínio, sendo marcado pela decrepitude do organismo e pela
perda. É o tempo da falta e da perda dos papéis sociais que tem valor na sociedade
moderna. A velhice é o oposto do que se deseja na atualidade, que é a inventividade
e o dinamismo, valores de uma sociedade pautada na produtividade e que são
atribuídos à juventude.
No imaginário social o velho está inteiramente associado à estagnação e perdas
que levam a ruptura e ao isolamento; inflexibilidade proveniente da adesão de valores
ultrapassados e imutáveis que também levam ao isolamento social; imagem negativa
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do aposentado, significando um final de vida, falta de capacidade pessoal e a exclusão
da rede produtiva; pessoa que necessita de cuidados, sem força, sem vontade, sem
vida, doente, incapacitada e que por todos esses motivos fez opção pela passividade.
Persistindo na representatividade negativa da velhice, aos idosos são
atribuídas as características ruins do pior estágio da vida como doenças crônicas, a
dependência, a incapacidade física e mental. O grupo que forma a parte dominante,
os jovens, se afirmam como o que há de melhor em seu todo e estigmatiza e exclui
os diferentes, não por suas características individuais, mas por pertencerem ao grupo
dos diferentes que são considerados inferiores, os idosos.
Destarte, desabilita-se o idoso que vai cair na estigmatização e legitimar as
várias apreensões que lhe são imputadas além de atribuir-lhe a responsabilidade por
sua exclusão. Essa representação generaliza-se num processo comum e que é
individual: o processo do envelhecimento. Cada velhice tem suas particularidades
que se origina da história de vida de cada um, das opções feitas, dos acidentes, do
presente, das possíveis doenças e do contexto social que o indivíduo está inserido.
Importante colocar que surge na sociedade contemporânea uma visão
diferenciada a respeito do idoso. Inicia-se um processo de valorização desse
indivíduo, a partir de uma nova concepção do que é ser idoso, não levando em conta
apenas o lado negativo dessa fase da vida. O aumento de desemprego de pessoas
em idade produtiva, leva a uma valorização dos idosos pelos benefícios
previdenciários que está associado a este idoso e que, muitas vezes, é a única fonte
de renda familiar.
Destarte, os movimentos que se organizam em torno do idoso indicam mudanças
radicais no envelhecimento que deixam de ser compreendida como decadência física,
perda de papéis sociais e isolamento. O número de programas para o idoso, no Brasil,
como grupos de convivência, as escolas abertas, as universidades, cresceu
consideravelmente. Então, observa-se que a etapa mais avançada da vida vem sendo
considerada como um dos momentos mais favoráveis para novas conquistas.
Encorajando a busca da auto expressão e a explosão de identidades de um
modo que era exclusivo da juventude, esse movimento está abrindo espaço
para que a experiência de envelhecimento possa ser vivida de maneira
inovadora (BORGES & COIMBRA, 2008, P. 28).
17
1.3
As políticas públicas existentes para os idosos.
De acordo com o último senso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), realizado em 2010, o alargamento do topo da pirâmide etária pode ser
observado pelo crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou
mais, que era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em
2010. A projeção do instituto é de que em 2020 eles serão 30 milhões e representarão
13% da população total. Até o ano 2025 para 18,8%. Os grupos etários de menores
de 20 anos já apresentam uma diminuição absoluta no seu contingente. Entre os
idosos, o segmento que mais cresce é o dos mais velhos: no grupo com 75 anos ou
mais.
O crescimento absoluto da população do Brasil nestes últimos dez anos se deu
principalmente em função do crescimento da população adulta, com destaque
também para o aumento da participação da população idosa. O crescimento no
número de idosos atraiu a atenção da sociedade, assim como ocorreu na Europa na
época da Revolução Industrial. Os idosos ganharam visibilidade por se tornarem
numerosos e onerosos para o Estado. Haddad (1986) apontou que o crescimento do
número de idosos produz “o aparecimento da população como objeto de
adestramento político e moral, matriz da produção de ideologias, inclusive as de
natureza médica” (p. 18).
São indiscutíveis os dados demográficos. A população mundial está
envelhecendo e está ocorrendo como nunca proporção nunca vista na história da
humanidade. Cada vez mais se percebe o aumento da população de pessoas idosas
enquanto há a diminuição dos nascimentos. As pessoas estão vivendo mais,
tornando-se longevos e até centenários.
Estima-se que o ser humano “esteja programado” para
viver entre 110 e
120 anos. Seu ciclo vital atinge maturidade biológica, o auge da vitalidade, por volta
dos 25, 30 anos. Dos 25 até os 40 anos o indivíduo pode ser considerado um adulto
inicial; até 65 anos, adulto médio ou de meia idade, dos 65 até 75 anos, adulto tardio
na velhice precoce, e desta idade em diante, vem a chamada velhice tardia
(PALACIOS, 2004).
18
Os números da Organização Mundial de Saúde mostram que países asiáticos
como China, Índia, Indonésia, bem como Estados Unidos e Brasil são países com o
maior crescimento do número de idosos no mundo. O Japão apresenta um número
expressivo de idosos se considerarmos a proporcionalidade entre jovens, adultos e
idosos. Na maior parte do mundo desenvolvido, o envelhecimento da população foi
um processo gradativo que acompanhou o crescimento sócio-econômico e está em
crescimento há décadas.
O processo de envelhecimento no Brasil é um fenômeno relativamente recente
na população. Não são muitos os estudos realizados sobre este tema, no entanto, os
existentes indicam que o processo de envelhecimento da população brasileira causa
danos irreversíveis pela ausência de uma política que trate a prevenção da saúde dos
idosos e as poucas condições socioeconômicas e culturais que os idosos passam em
períodos anteriores da vida, o que leva os idosos a pouca ou nenhuma qualidade de
vida saudável.
A Lei Federal nº 8.842 da Política Nacional do Idoso de 1994, em seu Art.3º
menciona “A política nacional do idoso reger-se-á pelos seguintes princípios:
I-
A família, a sociedade e o estado tem o dever de assegurar ao idoso
todos os direitos da cidadania, garantindo a participação na comunidade, defendendo
sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;
II-
O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral,
devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos;
III-
O idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza.
Ainda que o envelhecimento da população seja considerado como uma vitória
social muito importante do último século, é observado que ele promove grandes
desafios para as políticas públicas. O principal é garantir o desenvolvimento social e
econômico de forma continuada, baseado em valores capazes de garantir um patamar
mínimo a subsistência da dignidade humana (CAMARANO; PASINATO 2004).
Devido a esse fenômeno, em 2050, o Brasil será formado por uma sociedade
mais envelhecida que a Europa, onde a mudança etária foi mais lentamente associada
ao desenvolvimento econômico e social e mesmo assim foi incapaz de transformá-la
19
numa sociedade justa para todos. O Brasil possui uma repartição injusta tanto nos
serviços sociais quanto de renda, fato põe em cheque a capacidade brasileira em lidar
com essa nova realidade. (WONG; CARVALHO, 2006).
No âmbito do envelhecimento da população, vários fatores se correlacionam. Os
de maior importância são os ligados a saúde e a previdência social que apresentam
maiores desafios para o estado. Segundo as proposições do Branco Mundial, o Brasil
está apresentando a “crise da velhice”, através do aumento da expectativa de vida,
provocando grandes pressões no sistema de previdência social podendo colocar em
perigo não exclusivamente a economia dos idosos, mas também o desenvolvimento
do próprio país. (SIMÕES, 1997).
A aposentadoria tem como teorema garantir os direitos de inclusão do idoso na
sociedade democrática brasileira, porém ela no ponto de vista econômico, não admite
um atendimento de forma satisfatória necessidade de sobrevivência, principalmente
dos mais pobres que se destacam por ter um envelhecimento, em geral com
patologias associadas, necessitando de maior procura por recursos tanto por parte do
Estado e sociedade civil, quanto da família (FERNANDEZ; SANTOS, 2007).
Veras (2003) salienta que em um país como o Brasil, com uma grande
quantidade de pobres de várias idades, associado a uma política de saúde que se
assemelha ao caos, e com benefícios da previdência pequenos, a assistência social
praticamente inativa e com um áspero preconceito contra os idosos, é fácil pressupor
as dificuldades enfrentadas por estes idosos, principalmente aqueles mais pobres,
vivenciam. Tem-se notado divergências entre as classes políticas quanto à aprovação
de leis exclusivas da população idosa em países desenvolvidos, pois as políticas
apropriadas para remediar problemas primários de saúde assim como mercado de
trabalho e educação, ainda não foram vencidas, e já tem manifestado problemas de
envelhecimento populacional a resolver, como a seguridade social, o uso do tempo
livre e a saúde (BENEDETTI et al., 2007).
A inquietação sobre esse assunto tem-se notado nas discussões nacionais e
internacionais, como Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, a Primeira
e a Segunda Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, Congresso Mundial sobre
o Envelhecimento, as inúmeras declarações da Organização Mundial da Saúde
(OMS), ONU, Sociedade Brasileira de Geriatria Gerontologia, Centro de Controle e
20
Prevenção de Doenças, entre tantos outros. Essas organizações têm como objetivo a
criação de ações e programas de iniciativa da sociedade civil ou governamental, para
reservar recursos financeiros para ter como resultado um envelhecimento com
qualidade (BENEDETTI et al., 2007).
O Brasil apresenta vários avanços principalmente com a Constituição de 1988,
existem outras criações com marcos bastantes importantes como, por exemplo, a
criação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) que tinha como propósito
garantir os direitos sociais dos idosos, promovendo sua autonomia, participação na
sociedade e sua integração. Criação da Política Nacional do Idoso consolidou
diferentes conquistas como: Tanto a sociedade como a família e o estado devem
assegurar os direitos ao idoso quanto à vida, direitos de bem-estar, defender a
dignidade do idoso, garantia da participação na sociedade, direito da cidadania, direito
ao alimento; à cultura; à educação; ao lazer e esporte; ao trabalho e a
profissionalização; à assistência social e a previdência; ao transporte e habitação,
entre outros. (BRASIL, 1993; BRASIL, 1994).
Os direitos sociais dos idosos de forma mais específica foram garantidos pelo
Estatuto do Idoso, criado pela Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Esse estatuto
obriga a sociedade a criar melhorias para promover a autonomia, integração e
participação real dos idosos na sociedade, e sugere mudanças necessárias de ações
políticas (FERNANDES; SANTOS, 2010).
No contexto desse Estatuto, os principais direitos do idoso encontram-se no
artigo 3º, o qual afirma:
“É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária”.
Na Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, a Portaria n. 399/GM, de
22 de fevereiro de 2006, sobre o pacto de saúde, e a Portaria Nº 2.528 de 19 de
outubro de 2006, aprovou a atualização da Política Nacional do Idoso. São exemplos
de vitórias que continuam acontecendo.
Essa política está direcionada por cinco princípios:
21
1. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os
direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua
dignidade, bem estar e o direito à vida;
2. O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser
objetivo de conhecimento e informação para todos;
3. O idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
4. O idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem
efetivadas através dessa política;
5. As diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições
entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos
e pela sociedade em geral na aplicação dessa lei.
As mulheres correspondem a dois terços da população acima dos 75 anos no
Brasil. As mulheres possuem a vantagem da longevidade, mas são vítimas frequentes
de violência familiar e de discriminação no acesso à educação, salário, educação,
alimentação, trabalho significativo, assistência à saúde, medidas de segurança social
e poder político. Essas desvantagens significam que as mulheres, mais que os
homens, tendem a ser mais pobres e apresentarem mais deficiências em idades
avançadas.
É evidente a presença cada vez maior de idosos na sociedade, mas também é
evidente os inúmeros problemas de ordem social, econômica e ética que esta nova
realidade traz. Se considerarmos um sucesso as políticas sociais e públicas e das
práticas de desenvolvimento social e econômico, por outro há um sentimento de
despreparo para que as dificuldades referentes aos idosos sejam enfrentadas.
22
CAPÍTULO 2- O ENVELHECIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE.
O envelhecimento é um processo que acompanha o indivíduo do nascimento até
morte e a velhice é um momento específico deste processo marcado por diferentes
mudanças, sejam elas físicas, funcionais ou psicossociais.
Dentre os fatores relacionados à velhice está a questão do tempo, o tempo que
passa. Ou como cantou Cazuza, “o tempo não para, não para não...”. Existe um tempo
cronológico que vai nos marcando com os aspectos da duração limitada da vida. O
tempo cronológico marca que envelhecer é talvez o tempo que precisamos para
descobrir pacientemente, dia após dia, do começo ao fim de nossa vida, como
demonstrar, no dia a dia, os nossos sentimentos.
A presença do homem no mundo é física. No processo do envelhecimento, o
corpo assume papel predominante pois é nele que se dão as mudanças, não só na
aparência, como nas suas funções, o que faz com que a velhice seja temida.
Barreto, em seu livro Admirável mundo velho, fala que neste período onde se
vê o aumento da “esperança de vida”, como expectativa de vida no que se refere à
duração desta e se percebe a “desesperança na vida”, enquanto sentimento de velho,
é necessário que se acabe com o silêncio em torno da velhice e cita Beauvoir:
É exatamente esta a razão pela qual estou escrevendo este livro: quebrar a
conspiração do silêncio. Como observa Marcuse, a sociedade de consumo
substitui uma consciência infeliz por uma consciência feliz, e reprova todo e
qualquer sentimento de culpa. É necessário turvar semelhante tranquilidade
que, no respeitante às pessoas idosas, deixa de ser apenas culpada para se
tornar criminosa. Acobertada pelos mitos da expansão e da abundância, a
sociedade trata os velhos como párias. (BARRETO apud BEAUVOIR, 1970,
p.6)
O
envelhecimento
é
caracterizado
pelas
perdas,
desinvestimentos
e
investimentos objetais. A velhice impõe, pois, o luto dos objetos perdidos e a criação
23
de novas vestimentas para o desejo a partir dos traços marcados por cada indivíduo.
(MUCIDA, 2006).
2.1 – Um olhar sobre o que é envelhecer
O envelhecimento da população é um fenômeno demográfico que foi percebida
a muito tempo nos países desenvolvidos.
De todos os fenômenos contemporâneos, o menos contestável, o de marcha
mais segura, o mais fácil de ser previsto com grande antecedência e talvez o
mais pejado de consequência é o envelhecimento da população.
(BEAUVOIR, 1990, p. 247)
“Envelhecer, é entrar pouco a pouco, por patamares, no isolamento. Tudo
começa muito tempo antes da entrada na idade avançada”, coloca Olievenstein, e
prossegue
Começa desde o fim da lua de mel da juventude, do fim das provas triunfantes
do corpo. Não se sobe mais a escada de quatro em quatro degraus. Simples
desaceleração, no início, o envelhecimento nos leva insensivelmente a nos
arrastar na retaguarda[...] (2001, p. 11)
A importância do corpo no processo de envelhecimento, pode ser evidenciado
pelo que ele representa. Bernard (1995) chama de ambivalência do corpo o fato dele
representar a vida e suas possibilidades infinitas, e ao mesmo tempo, proclamar a
morte futura e a finitude existencial. São as duas faces do corpo, de um lado a face
dinâmica, ávida de desejos, e de outro, a face da temporalidade, da fragilidade e do
desgaste. Quando tratamos do envelhecimento, pretendemos reconhecer no corpo o
que lhe é possível, as limitações provenientes da velhice.
A velhice é considerada uma etapa, assim como a infância e a juventude, e é
nela que se concentra o momento mais dramático de mudança de imagem corporal,
porque é difícil aceitar uma imagem corporal envelhecida em uma sociedade que tem
como referência a beleza da juventude.
24
Olievenstein, aponta que conhecemos os sintomas e as crueldades do
envelhecimento.
O que é menos conhecido, ou o que é mais escondido, é o começo. Não o
fantasma do começo, mas o começo objetivo, o nascimento da velhice. O que
nos interessa aqui, não é a velhice, é o seu nascimento, seus sinais
imperceptíveis ou isolados, o olhar, inicialmente surpreso, que lançamos
sobre nós mesmos, que vai tornar-se nosso juiz de paz (2001 p.13).
Barreto (1992, p. 25), aponta que os velhos do século XXI já nasceram.
Tem hoje 20, 30, 40 anos ou mais. São trabalhadores, estudantes, donas de casa
...ficam noivos, casam, tem filhos assistem televisão, leem jornal, estão nas redes
sociais... votam, tomam decisões políticas.... A autora traz diversas questões, entre
elas que ideias sobre os velhos são assimiladas por esses jovens? Como a velhice é
pensada e vivida hoje? Como é sentida? Qual a sua representação no imaginário dos
jovens e dos próprios velhos?
A velhice é um destino singular, onde cada um envelhece a seu próprio modo,
pois cada um inscreverá algo que lhe é próprio, ou seja, o escrito será reinscrito e
reatualizado a partir dos traços de cada um. Os traços não são, pois, perdidos, são
reinscritos (MUCIDA, 2006).
Um aspecto interessante no processo de envelhecimento é a visão que a pessoa
idosa tem de si mesma. Na verdade, o sujeito vê sua velhice pelo olhar do Outro, ou
pela imagem que o Outro faz dele, assim “velho” é sempre o outro. (MUCIDA, 2006).
É importante mencionar que para o idoso tornar-se protagonista de um
envelhecimento saudável, é importante a sua participação como principal beneficiário
neste processo. Sendo que o próprio idoso consiga visualizar seus potenciais e suas
limitações e, assim, estruturar sua própria vida. Se observa que o processo de
envelhecimento tem suas particularidades, envolvendo assim, de forma significativa
os aspectos biopsicossociais. Portanto, o envelhecimento é um estado final do
desenvolvimento, que todo o indivíduo sadio e que não sofreu nenhum acidente vai
atingir.
2.2 – O corpo físico no envelhecimento.
25
Retrato
Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo,
assim triste, assim magro, nem estes olhos tão
vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas, e
frias, e mortas; eu não tinha este coração que nem
se mostra.
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão
certa, tão fácil:
_ Em que espelho ficou perdida a minha face?
Tempos depois Cecília Meireles dirá: “Se algum de nós avistasse o que
seríamos com o tempo, todos nós choraríamos, de mútua pena e susto imenso”
(BARRETO, 1992, p. 113)
A velhice é uma das etapas que faz parte do processo de vida, assim como o
nascimento, o crescimento, a reprodução e a morte, comuns a todos os seres vivos.
Mas nem por isso ela é aceita, e tão pouco justificada, assim como é difícil aceitar a
morte. E a velhice acontece no corpo, mas em que corpo se não sabemos defini-lo,
se não o conhecemos, se não sabemos ouvi-lo? É difícil estabelecer se o centro da
questão é a velhice ou o é o corpo. Mas a certeza está, como diz Beauvoir (1990), em
que ela é vivida no corpo, e uma vez que sabemos que a velhice o habita, este
estranho nos inquieta.
" ...é uma surpresa, um assombro, perceber- se velho. O espelho mostra o
que os outros percebem, mas a pessoa reluta em aceitar a mudança em si
própria. Dessa forma, velho é sempre o outro [...]. O susto que o idoso leva ao
se perceber velho relaciona-se ao descompasso entre o que o espelho lhe
mostra, ou seja, um corpo envelhecido, com rugas e cabelos brancos, e a
vivência interna íntima, subjetiva, que tem a ver com sua história pessoal, que
nem sempre está de acordo com o que os olhos veem. ( BEAUVOIR,1990, p.
35)
Freud relata sua estranheza na velhice com a sua própria imagem:
Estava eu sentado sozinho no meu compartimento no carro leito, quando um
solavanco do trem, mais violento do que o habitual, fez girar a porta do toalete
anexo, e um senhor de idade de roupão e boné de viagem, entrou. Presumi
que ao deixar o toalete, que ficava entre os dois compartimentos, houvesse
tomado a direção errada e entrado no meu compartimento por engano.
26
Levantando-me com a intenção de fazer-lhe ver o equívoco, compreendi
imediatamente, para espanto meu, que o intruso não era se não o meu próprio
reflexo no espelho da porta aberta. Recordo-me ainda que antipatizei
totalmente com a sua aparência (FREUD, 1919, p. 265).
Guimarães Rosa faz uma reflexão sobre a natureza dos espelhos, aos quais
questiona sua fidelidade:
"Ah, o tempo é o mágico de todas as traições … E os próprios
olhos, de cada um de nós, padecem viciação de origem, defeitos com que
cresceram e a que se afizeram, mais e mais… Os olhos, por enquanto, são a
porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim". (2001,p. 15)
A literatura, prosa e poesia, podem trazer as imagens que precisamos
para nos aproximar dos fatos do envelhecer. Precisamos da arte para que possamos
nos aproximar de fatos dolorosos e universais como o envelhecer e as representações
da morte.
A ação do tempo sobre o corpo somático de um animal qualquer produz
transformações que se pode acompanhar: o antílope pode ter reduzida a sua
velocidade, pelo tônus muscular; o leão pode perder parte do poder de
ataque, pela queda de algumas presas; e o cão pode ter diminuído o senso
de direção e a habilidade de perseguir a caça em virtude da redução olfativa.
Mas são apenas rebaixamentos funcionais. No ser humano, porém, essas
mudanças podem ser acompanhadas de sofrimento absolutamente
específicos derivados de sua capacidade de refletir sobre sua própria
condição e de atribuir a ela um juízo valorativo. (GOLDFARB, 2009,P.123)
O envelhecimento biológico é inegável como mostra a ação do tempo sobre o
corpo. Pode-se afirmar, então, que apesar de alguns discursos que negam o fato, o
corpo envelhecido marcado pela passagem do tempo, poderia marcar uma ferida
narcísica ou um dos mal-estares da nossa cultura.
O envelhecer pressupõe alterações físicas e psicológicas no indivíduo. Essas
alterações são gerais, sendo verificada em idade precoce ou mais avançada e em
maior ou menor grau, de acordo com as características genéticas de cada indivíduo
e, principalmente, com o modo de vida de cada um. A alimentação adequada, a prática
de exercício físico, a exposição moderada ao sol, a estimulação mental, o controle do
stress, o apoio psicológico, a atitude positiva perante a vida e o envelhecimento são
alguns dos fatores que podem retardar ou minimizar os efeitos da passagem do
tempo.
27
A velhice é associada a modificações no corpo, sendo que as principais e mais
visíveis são os cabelos brancos, as rugas, o andar mais lento, a postura encurvada, a
redução da capacidade auditiva e visual. Essas mudanças físicas aparentes mostram
que há mudança no fisiológico como os pelos, os ossos, a pele, o cristalino...Tudo
isso é visível e faz com que se associe a velhice com a “feiura”. O ideal estético da
contemporaneidade é o corpo jovem. O velho é feio.
Outras mudanças internas ocorrem causando sintomas desagradáveis.
Goldman (1986) afirma:
Todas as células mostram degeneração das organelas intracelulares. A
regularidade da estrutura tecidual é perdida. [...] A frequência cardíaca e o
volume de ejeção máximos e, consequentemente, o rendimento cardíaco
diminuem progressivamente. [...] Hérnia distal, gastrite atrófica, involução
apendicular e diverticulose crônica são comuns.[...] A perda e desorganização
das células musculares produzem uma redução progressiva na força
muscular. [...]A acuidade visual diminui com a idade. A audição diminui,
particularmente para as tonalidades altas, após os 60 anos de idade,
especialmente em homens. Observa-se uma redução nos sentidos do
paladar, olfato e tato. (1986, p. 35)
Essas observações médicas foram retiradas de um Tratado de medicina
interna. O que chama a atenção são as usadas para estas descrições: a velhice é
degeneração, perda, diminuição progressiva, desorganização, redução, involução.
Isso deixa à mostra que a velhice é uma doença. Mas não é. O corpo velho é apenas
um corpo frágil.
Porém, diante das modificações aparentes, a pessoa terá de assumir ser velha.
Certamente alguns tentarão adiar esse momento, outros irão aumentar os sintomas
apresentados pelo envelhecimento do corpo. Estes sentimentos opostos recairão
sobre as atitudes a serem tomadas diante da doença e da saúde e que consequência
terão os cuidados com o corpo.
2.3 – A morte e o morrer para o velho
Nem sabes se és culpado de não ter culpa,
Não morres satisfeito
Morres desinformado.
Carlos Drummond de Andrade
28
A morte, por ter muitos significados pessoais, pode ser entendida como um
evento biológico, um rito de passagem, algo inevitável, uma ocorrência natural, uma
punição, a extinção, o cumprimento dos desígnios de Deus, um absurdo, uma
separação. Em suma, este acontecimento torna-se algo presente e que é próprio da
realidade humana durante sua historicidade.
Cabe salientar que a aceitação não deve ser confundida como uma fase feliz.
Os sentimentos são quase destituídos. É como se a dor tivesse cessado, a luta
tivesse acabado, e tivesse chegado o momento do descanso final antes da grande
viagem. Sendo a morte uma parte integrante da vida, o viver plenamente dá a
entender que se deva aceitar e conviver com ela, muito embora a pessoa idosa crie
regras de segurança, negando, assim, essa realidade. Os mecanismos de defesa
apresentados pela pessoa idosa possibilitam que se ignore a morte e se dificulte a
percepção da finitude do ser no mundo. O idoso por sua vez, admite a morte como
um fato, porém apresenta grande dificuldade em assumi-la como um modo de ser
da natureza humana. Adotar uma postura de autodefesa diante da morte garante ao
ser o simples ato de pensar e agir, dissimulando seu verdadeiro significado.
A própria vida social encarrega-se de mostrar ao velho a proximidade da morte,
afirma Barreto
Cada vez menos frequentemente ele encontra, em seu ambiente, pessoas de
sua idade ou mais idosas do que ele. Raramente tem pais ainda vivos. Sogro,
sogra, tios, tias, todos já se foram. Já morreram alguns irmãos, primos,
colegas, vizinhos, conhecidos. Partiram os que estavam antes dele na fila –
assim lhe parece: “a minha vez está chegando”. (1992,p. 34)
Embora a morte chegue para todos, as ideias sobre ela variam bastante. A morte
tem sido negada, procurada, temida, combatida e sentida pelas famílias, pelas
comunidades e pelos próprios idosos de maneira muito diferentes. Desta forma, os
amigos e a família devem ajudar as pessoas idosas durante todas as passagens da
vida. Isso também deve estar relacionado quando o assunto é a morte ou outras
mudanças, e a sensibilidade às questões relativas à morte são sempre necessárias
para o processo de elaboração do luto.
29
2.4 – A elaboração do luto
A morte, na nossa sociedade, é algo posto em segundo plano. Algo que não
deve ser discutido como se, desta maneira, pudesse ser evitada. É tratada como tabu
que
deve
ser
escondida,
institucionalizada,
medicalizada,
sem
grandes
demonstrações de dor pelos enlutados, sem ter seus ritos efetivados.
O processo de elaboração do luto pode ser entendido, como um conjunto de
reações a uma perda significativa. O luto é o processo de adequação a essa perda.
Em Luto e melancolia, Freud nos ensina que
"o luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de
alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a
liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante" ( p.249).
Para Cocentino e Viana (2011), a consciência da perda que é real está
presente no luto, havendo, ainda, um esvaziamento do mundo exterior uma vez que
as energias do ego são absorvidas durante todo o processo de luto:
O luto ocorre sob a influência do teste de realidade, pois a segunda função exige
categoricamente da pessoa desolada que ela própria deva separar-se do objeto,
visto que ele não mais existe. Ao luto é confiada a tarefa de efetuar essa retirada
do objeto em todas aquelas situações nas quais ele foi o recipiente de elevado
grau de catexia. Que essa função deva ser dolorosa ajusta-se ao que acabamos
de dizer, em vista da catexia de anseio, elevada e não passível de satisfação,
que está concentrada no objeto pela pessoa desolada durante a reprodução das
situações nas quais ela deve desfazer os laços que a ligam a ele (FREUD,1987
, p.167).
Em O futuro de uma ilusão, Freud sustenta que a natureza se impõe ao homem
a despeito do esforço civilizatório dispensado pelos humanos visando à esquiva e à
fuga da fraqueza e do desamparo. A morte, argumenta Freud, constitui uma questão
obscura para o homem e que não pode ser remediada e vencida. Ela, provavelmente,
permanecerá um enigma irremediável para sempre. O fenômeno da morte demonstra,
portanto, a grande e imponente força da natureza sobre os homens e expõe os limites
da condição humana:
30
Há os elementos, que parecem escarnecer de qualquer controle humano; a
terra, que treme, se escancara e sepulta toda a vida humana e suas obras; a
água, que inunda e afoga tudo num torvelinho; as tempestades, que arrastam
tudo o que lhes antepõe, as doenças, que só recentemente identificamos
como sendo ataques oriundos de outros organismos, e, finalmente, o penoso
enigma da morte, contra o qual remédio algum foi encontrado e
provavelmente nunca será. É com essas forças, que a natureza se ergue
contra nós, majestosa, cruel e inexorável; uma vez mais nos traz à mente
nossa fraqueza e desamparo, de que pensávamos ter fugido através do
trabalho de civilização (FREUD, 1987, p. 25).
Existe uma necessidade urgente de se passar adiante as roupas do morto, como
se esse ato fizesse parte das coisas que sempre são feitas depois de uma morte. Esse
ato faz parte do ritual, é uma espécie de dever a ser cumprido. Ou então, uma tentativa
de manter vivos os mortos, para mantê-los conosco. Existe uma hora que é preciso
abandonar os mortos, deixá-los ir, mantê-los mortos. Deixar que se tornem uma
fotografia em cima da mesa, um nome nas contas do inventário.
No luto, há uma desorganização emocional. O luto é entendido como um
aglomerado de reações psíquicas conscientes e inconscientes. Domingos (2003) diz
que há uma perda significativa, o luto é uma experiência complexa que transcende o
âmbito individual. Entende-se então que o luto só é resolvido quando a pessoa
perdida, ao invés de esquecida, é internalizada e tomada parte da pessoa que sofreu
a perda e se adequar à realidade.
Sendo assim, diz-se que a pessoa idosa, quando em luto, permanece sentindo
a solidão por muito tempo e que os mecanismos para conviver com esta é aceitá-la
como algo comum na vida das pessoas, e que não é culpa do indivíduo em luto, mas,
uma vivência de extrema importância.
O fato de cada indivíduo passar por perdas de maneiras diferentes intensifica o
respeito que se tem pela singularidade do ser humano. Trabalhar com perdas é um
processo que pode ou não ter um fim. O luto não precisa necessariamente acabar,
mas, deve ser tratado como um processo que precisa ser vivido como parte importante
do desenvolvimento humano.
Outro ponto que deve ser analisado é a questão simbólica da morte, como é o
caso da vestimenta preta, que por sua vez, tem dois sentidos: primeiro, o caráter
sombrio da morte, que se desenvolve com a iconografia macabra, mas principalmente
31
a ritualização mais antiga do luto; segundo a qual a roupa preta expressa o luto e
dispensa a gesticulação mais pessoal e mais dramática, diz Ariès (1989).
A dor da morte está relacionada com a tristeza de um rompimento. Ariès (1990)
coloca que a dor da saudade pode permanecer no coração do sobrevivente. O mesmo
autor distingue três categorias de enlutados: aquele que consegue esconder
completamente a sua dor; o que a esconde dos outros, guardando-a para si mesmo;
e o que a deixa aparecer livremente.
No primeiro caso, o sujeito que está em luto se obriga a agir como se nada
tivesse acontecido, continuando a sua vida normal sem qualquer interrupção. No
segundo caso, quase nada transparece externamente, porém o luto existe apenas em
âmbito particular. Sem dúvida, esta é a atitude mais aprovada pelo senso comum, que
admite ser necessário tolerar algum desabafo, contanto que permaneça secreto. No
último caso, o enlutado inflexível fica excluído, como um louco.
Os sobreviventes aceitam com dificuldades a morte do outro. O luto é a dor cuja
manifestação é legitima e necessária. Ariès (1997) fala da dor diante da morte de
alguém próximo ser a expressão mais violenta dos sentimentos mais espontâneos,
que precisam ser trabalhadas na perspectiva de aceitação desta, e não com a
intencionalidade de superação da perda.
O envelhecimento e a subjetividade da pessoa idosa devem ser vistos dentro de
um contexto biopsicossocial, e para que o idoso seja o protagonista de um
envelhecimento saudável não se pode analisá-lo sem que seja levado em conta as
manifestações das questões que acontecem neste período da vida. O envelhecimento
é inevitável, mas a velhice não é previsível.
32
CAPÍTULO 3 – A PSICANÁLISE E O ENVELHECIMENTO
Para Simone de Beauvoir (1990), “a velhice é como um fenômeno biológico com
reflexos profundos na psique do homem, perceptíveis pelas atitudes típicas da idade,
não mais jovem nem adultas, da idade avançada” (p.15). A autora possui um
entendimento sobre o envelhecimento como se este fosse algo carregado de
subjetividade. A velhice é melhor percebida pelos outros do que pelo próprio sujeito.
É um novo estado de equilíbrio biológico e o indivíduo que envelhece pode não
perceber o que está acontecendo.
A velhice é um processo intrínseco ao ser humano e apenas uma parte da
população conseguirá alcançar esta fase, surgindo então, um grupo com
características próprios que ficam isolados da sociedade. São estas características
que tendem a separar pessoas por sua aparência física, estado de saúde, sexo, etc.
A "velhice" seria a última fase da existência humana, sendo que o
"envelhecimento" está atrelado às mudanças físicas, psicológicas e sociais.
Logo, "amadurecer" e "maturidade" significam a sucessão de alterações
ocorridas no organismo e a obtenção de papéis sociais (NERI&FREIRE, 2000
p.13).
É sabido que Sigmund Freud não recomendava tratamento psicanalítico para
maiores de cinquenta anos. Para ele, naquela idade as regressões aos aspectos
traumáticos infantis eram muito difíceis ou mesmo impossíveis; o tempo longo que se
exigiria de tal tratamento não justificaria o esforço, até porque naquela época vivia–se
bem menos tempo.
Para Freud, haveria pouca maleabilidade psíquica e
provavelmente, a compreensão dos problemas apresentados durante os tratamentos,
Teriam mais dificuldade de serem assimilados pelo paciente idoso. Enfim, ele deixou
para Karl Abraham - psicanalista alemão, um dos seus primeiros discípulos, com quem
manteve correspondência, a tarefa de se ocupar dos mais velhos, como será visto a
seguir.
33
O surgimento da Psicanálise na nossa cultura, sem dúvida alguma,
introduziu uma nova forma de apreender o ser humano. Atualmente já é possível
construir uma articulação entre psicanálise e envelhecimento, e essa articulação tem
sido extremamente rica.
.
3.1 – Idade e Psicanálise
“ Ninguém pode estar na flor da idade, mas cada um pode estar na flor da sua própria
idade.”
Mario Quintana
No início da Psicanálise, a velhice não foi tratada com grande profundidade. O
próprio Freud, pai da Psicanálise, não se dedicou à questão. A princípio deve-se ter
em conta que a velhice, nessa época, não era algo comum. Nesse período, 50 anos
de idade já era considerado “idoso”.
A ideia que Freud apresentava a respeito desse período da vida é que,
basicamente, como ocorreria durante a vida adulta, o sujeito reeditaria de modo
desigual e combinado os modelos de fases de desenvolvimentos infantis, num
movimento incessante de atualizações frente às novas vivências e às alterações do
corpo. De específico haveria apenas a decadência física e a consciência de que o fim
se aproxima. Freud não postulou nenhuma teoria específica sobre o envelhecimento
e dificilmente encontra-se os termos “velhice” e “envelhecimento” em seus textos. A
visão que Freud tinha da velhice era muito negativa, e estava associada a decrepitude
progressiva do indivíduo.
Ao observar o período em que a Psicanálise surgiu, se verá que o número de
idosos em toda a Europa era menor que nos dias atuais. Portanto, mesmo se
houvesse vontade por parte dos psicanalistas da época, eles teriam dificuldades em
encontrar idosos que estivessem propensos a se analisarem. A histeria, a neurose
obsessiva, as perversões e outras dificuldades eram percebidas apenas nos jovens.
Freud, em seus casos clínicos, mostram a realidade daquele período.
34
Esta rejeição pelos mais velhos no início da Psicanálise, não é exclusividade de
Freud. É relevante citar que apesar das considerações de Freud acerca da velhice,
foi justamente nos anos mais maduros de sua vida que ele produziu de maneira mais
intensa. Sabe-se também que, Lou Andreas Salomé tornou-se psicanalista aos
cinquenta anos e produziu uma série de trabalhos sobre a sexualidade feminina já
com bem mais idade. À época que os precursores da psicanálise elaboraram seus
primeiros conceitos, era bem reduzido o número de pessoas que chegavam à velhice
porque as doenças existentes e as guerras, levavam a morte pessoas ainda jovens.
Hoje em dia uma pessoa de cinquenta anos está produzindo efetivamente. Os
parâmetros sociais sobre idade mudaram assim como a Psicanálise. Outros teóricos
da psicanálise como Melanie Klein e Donald Winnicott, por exemplo, também não se
dedicaram a desenvolver estudos direcionados à velhice.
A justificativa dada por Freud para que não fosse realizado tratamento
psicanalítico com os idosos seria de que o seu método terapêutico não era possível
de ser colocado em prática nessas pessoas pois o envelhecimento seria um período
de resistência e de posterior capitulação aos limites que se impõem à satisfação da
libido objetal (FREUD, 1904).
O envelhecimento provocaria um abandono progressivo do investimento no
objeto, segundo Freud. Consequentemente ocorreria uma regressão ao narcisismo
primário que levaria a libido às fases genitais - fase anal, principalmente- e o retorno
ao investimento do Eu.
O “desprendimento da velhice”, acho que é assim que se chama, deve estar
ligado a um desvio decisivo das duas pulsões postuladas por mim. A mudança
que ocorre talvez seja muito notável. Tudo é tão interessante quanto era antes,
os ingredientes tampouco muito diferentes. Mas falta uma espécie de
ressonância. (SIGMUND FREUD, apud MUCIDA, 2004, p.21)
Sandor Ferenczi (apud Dorli Kamkhagi) também teorizou de forma parecida. Em
sua opinião, as neuroses no envelhecimento seriam derivadas de uma dificuldade em
alterar a distribuição da libido. O homem ao envelhecer teria a tendência de retirar as
emanações da libido dos objetos de seu amor, direcionando o seu interesse libidinal
ao próprio ego. De modo geral, a consolidação das defesas impediria o acesso ao
material inconsciente, dificultando um resultado terapêutico satisfatório.
35
Karl Abrahan (apud
Dorli Kamkhagi), tratou da importância do tratamento
psicanalítico na “idade avançada”. Para ele, o prognóstico dependeria mais da idade
de quando se instalou a neurose do que da idade real do paciente. Ainda, segundo o
autor, o analista deveria possuir uma atitude mais ativa no tratamento de pessoas
idosas. Os tratamentos realizados por Karl Abraham fazem parte da história e deve
ser valorizado pelo fato de causar uma interrupção ao preconceito instituído desde o
início, por Freud, de que idosos não são analisáveis.
O que haveria de tão difícil nos velhos que os excluía deste novo tratamento?
Em seu trabalho "Sobre a psicoterapia", Freud reconheceu que a idade do paciente é
importante para o processo de análise.
A idade dos pacientes desempenha um papel na escolha para tratamento
psicanalítico, posto que, nas pessoas próximas ou acima dos cinquenta anos,
costuma faltar, de um lado, a plasticidade dos processos anímicos de que
depende a terapia - as pessoas idosas já não são educáveis - , e, por outro
lado, o material a ser elaborado prolongaria indefinidamente a duração do
tratamento. O limite etário inferior só pode ser determinado individualmente;
as pessoas jovens que ainda não chegaram à puberdade são, muitas vezes,
esplendidamente influenciáveis. (FREUD, 1905, p.274)
Freud, em seu trabalho “Sobre Psicoterapia” (1987) não considerava proveitoso
que pessoas com mais de cinquenta anos se submetessem a Psicanálise, devido à
pouca elasticidade mental, verificada nesse período da existência, o que diminuía a
capacidade de o indivíduo tirar o devido proveito de uma análise. Apesar de ter
reconhecido que essas formulações não deveriam ser consideradas um diagnóstico
definitivo, ele lançou certo pessimismo em relação à psicanálise de idosos. Mas a
idade não o impediu de elaborar na velhice textos ricos e criativos. Isso demonstra
que a mente humana possui uma grande plasticidade quando saudável.
3.2- O corpo velho
“Estou aprisionado num velho corpo”
Bertrand Russel
Os sinais da velhice sinalizam a finitude. Pode-se assegurar que numa
sociedade que escolhe a juventude como modelo, trabalhar com o fim da vida
36
transforma-se em um interdito. Desse modo, tendo a juventude como um modelo a
ser seguido ou até mesmo um padrão estendido a todas as etapas da vida, seria
possível banir a velhice da sociedade?
Heráclito, filósofo grego, nascido em 540 a.c. , afirmou: nunca nos banhamos
duas vezes no mesmo rio; portanto, a velhice poderia ser vista como uma etapa em
que novas experiências de agir, pensar e sentir se apresentam. No entanto, é no
mundo psíquico que se mantem guardadas todas as perdas que o envelhecimento
causa.
A população idosa tem aumentado significativamente a partir dos anos 1960.
Observa-se que depois dessa década, ela começou a crescer em ritmo mais
acelerado que as populações adultas e jovens. O desenvolvimento da medicina e da
tecnologia proporcionaram condições favoráveis para que, cada vez mais a
expectativa de vida das pessoas fosse aumentada, e isso está associado, também, à
redução dos membros da família nuclear dos tempos modernos, promovendo uma
verdadeira transição demográfica. O idoso já não é mais tão cuidado, nem valorizado
pelos familiares. Em muitas famílias, o antigo lugar e a função de detentor da
experiência de vida e sabedoria, deixou de existir.
Estudos sobre as condições de vida dessa faixa etária vêm sendo realizados.
Dentre eles, o de autoria de Capitanini (2000), afirma que, na sociedade atual, o idoso
tem um tipo de vida que conduz a sentimentos de solidão, apatia e insatisfação.
Principalmente nas cidades grandes, onde ocorre de forma mais evidente o
isolamento emocional e social, em decorrência do pouco contato entre os vizinhos e
com a comunidade em geral, ao lado das relações interpessoais limitadas ou até
mesmo ausentes.
Causa preocupação o aumento, não só no Brasil como em todo o mundo, da
faixa etária acima dos 65 anos pelas necessidades próprias dessa idade já que
apresentam características e demandas próprias.
Ocorrem, sem dúvida, modificações físicas e intelectuais próprias do
envelhecimento, as quais promovem mudanças significativas na personalidade e
geram sentimentos constantes de insegurança, medo e tensão, que se revelam por
meio de comportamentos rígidos, conservadores e até não adaptados.
37
A velhice é difícil de ser definida, pois é um processo que envolve a maneira
como o idoso se vê e se percebe e a maneira como é visto e percebido pelos outros.
Essa inter-relação de olhares e visões é que vai constituir para cada um o conceito de
velhice. Dessa maneira, a velhice se apresenta de maneira múltipla e diversificada.
Não existe "a velhice", mas velhices. Muitas vezes, a conotação sociocultural sobre
envelhecimento contém preconceitos, à medida que é representada como um
momento de decrepitude física, feiura e inutilidade (GOLFARB, 1997).
Este momento particular de estranhamento da própria imagem, ocorre na maioria
dos casos, entre os 50 e 60 anos antes da velhice se estabelecer; anuncia a velhice
não apenas em relação à estética mas também o envelhecimento relacionado com as
funções corporais e com o significado social dado a esta fase da vida. A impressão
que se tem é de que a transformação acontece repentinamente. Percebe-se também
que muitas vezes, essa transformação é desencadeada por uma doença, uma perda,
até mesmo por um fato externo, algo que venha do social e que coloca o sujeito em
um novo tempo como por exemplo, o outro ao nomeá-lo de “velho”.
Além das transformações na aparência surgem também as limitações próprias
de um corpo desgastado pelos anos também indicam, de forma aterrorizante, a
chegada da velhice mais avançada, principalmente no que se refere à perda de
autonomia e independência. E é exatamente sobre as perdas das funções corporais
e de suas forças que estão colocadas as maiores ansiedades. Novamente o corpo é
visto com estranheza pois o desejo continua mas o corpo não responde a esse desejo.
Portanto, na velhice mais avançada, o mais preocupante não é a proximidade da
morte nem o aspecto estético da deterioração física, mas a decadência orgânica, a
falta de força, a perda da memória, a doença que termina na dependência.
O modo como se dá o confronto desses valores contribui para que esse
momento da vida se torne, ou não, mais sofrido e difícil. E o idoso, a depender de sua
complexidade psíquica, corre o risco de se identificar com essas representações e
com os vários estereótipos existentes, o que dificulta que ele possa ser ele mesmo.
Conforme salienta Philip Roth em seu livro Homem comum, através da fala do
personagem principal: "A velhice não é uma batalha; a velhice é um massacre" ( 2007,
p.114).
38
Para a Psicanálise, a questão do envelhecimento estaria no narcisismo. O
processo de decadência física – a perda da beleza, do vigor e muitas vezes da saúde
– e a proximidade da morte, provocariam um retraimento na relação do sujeito com
o mundo externo. Para Goldfarb (1998), seria importante e necessário um ideal de
Ego estruturado para a pessoa resistir à ferida narcísica provocada pelas perdas que
a velhice impõe.
As dores psíquicas dos idosos não ficam na superficialidade da aparência
física. Toda a rede familiar foi revolucionada. As duas últimas gerações, como
observou Elizabeth Roudinesco (2003) fizeram uma total desordem nas famílias. O
velho está na primeira, de uma terceira geração de descendentes. Cada vez mais os
idosos estão isolados e sós. Muitos se deprimem, se angustiam e até se suicidam.
Um estudo revelou que o suicídio em alguns países é a maior causa de morte em
idosos.
A imagem do corpo é própria de cada sujeito estando ligada a sua história e
apresentando-se como síntese das experiências relacionais do sujeito. É
eminentemente inconsciente; pois estrutura-se através da relação entre sujeitos e é
nela que se inscrevem as experiências relacionais, que não são da mera ordem da
necessidade, mas fundamentalmente do desejo (GOLFARB, 1998).
Na contemporaneidade, muitos psicanalistas estudam os fenômenos nos quais
estamos envolvidos em consequência da globalização, da pós-modernidade e as
consequências destas transformações na formação de novas patologias clínicas.
Hoje, as drogas, a anorexia, a bulimia, depressão, pânico, povoam os consultórios em
maior medida do que os quadros histéricos. Os idosos, também, nos falam de outros
sintomas.
As perdas relativas à imagem corporal, numa sociedade em que o corpo
perfeito é valorizado, pode causar um sofrimento maior do que no tempo em que as
gordurinhas nas mulheres eram aceitas e até desejadas.
3.3 - Velho é sempre o Outro
39
"Ah, o tempo é o mágico de todas as traições
… E os próprios olhos, de cada um de nós,
padecem viciação de origem, defeitos com que
cresceram e a que se afizeram, mais e mais…
Os olhos, por enquanto, são a porta do
engano; duvide deles, dos seus, não de mim".
Acima, Guimarães Rosa (2001, p.15) faz uma reflexão sobre a natureza dos
espelhos e questiona sua lealdade.
A literatura, a prosa e o verso podem trazer as imagens que precisamos para
nos aproximar, de uma maneira sutil, dos fatos relacionados ao envelhecer.
Necessitamos da arte para que possamos nos acercar desses fatos dolorosos que
abrangem a todos, como o é envelhecer e a consequente proximidade da morte.
Segundo Beauvoir (1990, p. 35), "é uma surpresa, um assombro, perceber- se
velho. O espelho mostra o que os outros percebem, mas a pessoa reluta em aceitar a
mudança em si própria. Dessa forma, velho é sempre o outro …". O susto que o velho
leva ao se ver velho está relacionado a desarmonia entre o que o espelho lhe mostra,
ou seja, um corpo envelhecido, com rugas e cabelos brancos, e a vivência subjetiva,
que está de acordo com sua história pessoal e muitas vezes concordantes com aquilo
que os olhos veem.
O velho é sempre o outro com quem não há identificação. A imagem da velhice
parece sempre estar no outro e, embora saibamos que “aquela” é a imagem, ela causa
uma impressão inquietante, onde pode ser visto um estranho e isso causa pavor. Mas
por que causa pavor? Porque a imagem do espelho não condiz com a imagem da
memória; a imagem do espelho confirma a velhice, enquanto “a imagem da memória
quer ser uma imagem idealizada que remeta à familiaridade do Eu especular”
(GOLFARB, 1998).
Goldfarb (1998) coloca a velhice, a decadência e a finitude como aspectos que
são percebidos pelos outros e não pelo próprio sujeito que envelhece. É o olhar do
outro que aponta o envelhecimento. Assim, o velho será sempre outro, e trata-se de
40
representar o que é através da visão que os outros têm dele. Quando um idoso se
olha no espelho, o que este lhe devolve é uma imagem ligada a uma deterioração,
com a qual ele não se identifica. Não há jubilo nem alegria, há apenas estranheza, e
ele pensa: “esse não sou eu”. Uma discrepância entre imagem inconsciente do corpo
e a imagem que o espelho lhe devolve (GOLFARB, 1998).
Quando um sujeito que envelhece diz: “esse não sou eu”, certamente está
dizendo que o rosto no qual ele poderia se reconhecer não é aquele. Este “não se
reconhecer” não significa um desconhecimento do sujeito como sendo um sujeito.
Aquele que envelhece sabe muito bem que aquela imagem é a sua, mas experimenta
perante a imagem envelhecida um espanto, um susto, como se a imagem fosse de
outro. Não ocorre um reconhecimento da imagem, não do sujeito. Aquele rosto não é
seu. A imagem refletida no espelho é de outro velho, não é o seu próprio rosto.
O rosto que é procurado diante do espelho ou em fotografias corresponde àquele
dos períodos em que ocorreu uma grande satisfação narcísica, períodos em que de
um ou outro modo remeteriam à ilusão de completude do Eu Ideal, de sê-lo todo.
Quando o “ideal” fracassa, revela-se desde o simples descontentamento com a
própria imagem até o pior dos horrores. Podemos então pensar que, enquanto a
criança se rejubila ante o espelho antecipando sua unidade corporal, o sujeito que
envelhece se deprime, antecipando a decrepitude da velhice e a finitude da vida.
Goldfarb, em seu livro Corpo, tempo e envelhecimento(1998), afirma que a
antecipação do envelhecimento revelado pelo espelho instala uma tensão entre o Eu
Ideal e o Eu que deve ser regulada pelo Ideal do Eu, que, como instancia
representante do social e seus discursos, pode não estar outorgando ao sujeito que
envelhece um lugar de reconhecimento, o Ideal do Eu não tem como sustentar sua
função reguladora. O autor continua dizendo que, junto com a queda do Eu Ideal,
desabarão outras imagens narcísicas de onipotência, perfeição e sabedoria, que
darão sua carga de castração, desmembramento e aniquilação. A tensão agressiva,
voltada contra si próprio, e sem uma função reguladora adequada, pode precipitar o
sujeito nas patologias da velhice, sendo que estas irão desde a simples depressão até
a demência, dependendo sempre da singularidade de cada estrutura.
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificamos que houve um crescimento populacional mundial e
que,
paralelamente a este crescimento, aumentou a longevidade dos homens graças a
Ciência que evoluiu, à alimentação que melhorou, às vacinas que aumentaram seu
poder de eficácia contra os mais diversos tipos de doenças. O perfil demográfico
mudou, com um número bastante elevado de idosos em suas populações.
O Brasil é um país que, até pouco tempo atrás era considerado um país de
jovens. Porém, está envelhecendo muito rápido com modificações visíveis em suas
dinâmicas populacionais Por ter sido um país de jovens, se deu pouca atenção à
população em processo de envelhecimento.
Tratar do tema envelhecimento e tudo o que o envolve como saúde, doença,
tempo e morte, faz com que seja necessário analisar aspectos sociais, culturais,
políticos, econômicos e psíquicos relacionados a méritos, marcas e princípios
impregnados de simbologias, que marcam a história das sociedades humanas e suas
representações sociais. Envelhecer faz parte do processo humano, o que é inevitável
e natural. Os valores socioculturais definem o olhar e o tipo de relação que a
sociedade firmará com esta fração da população.
O envelhecimento apresenta características únicas, pois esse processo em cada
indivíduo apresenta, nesta fase, formas dinâmicas e constantes com transformações
fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que terão como consequência a progressiva
perda da capacidade de adaptação ao meio em que vive, apresentando inúmeras
fragilidades com maior incidência de processos patológicos e que, muitas vezes,
levam o idoso à morte. E este é um fenômeno global, como mostram os indicadores
demográficos. Então, frente às mudanças neste perfil demográfico brasileiro que
mostra o aumento da expectativa de vida dos indivíduos, novos papéis sociais estão
42
sendo outorgados a esta faixa etária e levando, consequentemente a novos debates
sobre o conceito de idoso.
Através da história, os esquemas simbólicos do imaginário e das representações
sociais, levaram à construção de mitos e crenças que enaltecem ou estigmatizam a
população de idosos. Tais representações podem gerar um quadro negativo desta
faixa etária, estabelecendo uma distribuição de papéis e de posições sociais,
excluindo e impondo crenças comuns, e determinando aquele que detêm espaço
dominante nesta sociedade contemporânea.
Velho e idoso são disposições sociais usadas para posicionar o indivíduo nas
várias instituições determinadas em benefício de uma ordem social e de um poder
consolidado.
Fazer psicanálise com idosos na contemporaneidade é quase impossível como
fazê-lo com pessoas mais jovens, pela necessidade de resultados rápidos, à urgência.
Para a psicanálise, a velhice não deve ser pensada apenas como resultado do desgaste
corpóreo, porém, devem ser considerados os aspectos psicológicos que circunscrevem a
questão desta etapa da vida. Entende-se que existem vários mitos que dificultam a passagem
desta etapa da vida. E entre estes mitos, citamos a velhice como sinônimo de morte.
Uma intervenção psicanalítica na velhice levaria a uma percepção por meio da
escuta, da palavra dita, a implicação do olhar-se no espelho e aproximar-se do próprio
reflexo, o desfazer das resistências causadas pelos mitos e também elaborar um
inventário de lutos e ganhos nessa passagem que desempenha a impossibilidade de
simbolizar, mas que retrata as relações sustentadas entre a velhice e a juventude.
Na cultura contemporânea, a velhice pode ser vista como uma bússola que
direciona para a morte, que guia para o ato de morrer. Discutir o que representa a
morte e como ela é vista, não é fácil, talvez por isso se nota tantos embotamentos
para esta etapa da vida, a velhice. Deve ser considerado também que a elaboração
inconsciente da velhice é necessária e tal elaboração ajudaria a lidar melhor com a
velhice.
Muito deve ser feito ainda, no que diz respeito à psicanálise com idosos. Alguns
psicanalistas já tomaram para si esta tarefa e com certeza, a bibliografia sobre o tema
aumentará nos próximos anos. Na formação de novos psicanalistas poderia estar
43
contida também, uma discussão sobre o envelhecimento, de uma teoria que possa
responder a este desafio, que por ser um fenômeno mundial contemporâneo, não
oferece nenhuma distância crítica e muitas vezes, os problemas se tornam mais
nebulosos se vistos de tão perto. A dificuldade, no entanto, está posta. Caberá à
psicanálise atual e aos interessados, aproximarem-se dela para tentarem contribuir
com sugestões. Acreditamos que a criatividade é uma parte importante no trabalho
com a psicanálise, sem com isto fazer dela uma sombra do que sempre foi e alterar
os seus preceitos.
44
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