Planejamento Participativo em uma Escola Municipalizada
Gláucia dos Santos de Souza
Orientadora: Ana Cristina Guimarães
Rio de Janeiro
2004
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Pós - Graduação "Lato Sensu"
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Planejamento Participativo em uma Escola Municipalizada
Monografia de final de curso apresentada
na Universidade Cândido Mendes (UCAM
- Centro), como requisito parcial para
obtenção do grau de Pós-Graduação em
Administração Escolar.
Por: Gláucia dos Santos de Souza
Agradecimentos
•Agradeço à Deus em primeiro lugar;
•A minha mãe, por me apoiar em mais esse
projeto;
•A todos os professores do curso PósGraduação em Administração Escolar que
contribuíram para o meu crescimento
intelectual;
•Aos
companheiros
Cândido
Mendes,
da
pela
Universidade
luta
e
por
acreditarem na formação especializada de
profissionais de Educação.
Epígrafe
O
Planejamento
Participativo
é
compreendido como processo de ação
participativa
grupal
com
"pessoas
politicamente interagindo em função das
necessidades
interesses
e
objetivos
comuns". A perspectiva, em vivenciá-lo, é a
de proporcionar maior envolvimento na
ação
educativa
considerada
como
responsabilidade de todos os membros da
Comunidade Escolar.
(DALMÁS, Ângelo. Planejamento Participativo na Escola. Prefácio de Vianna, 7ª.
ed - Vozes, 1986, p.18)
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo apresentar o planejamento como a etapa
mais importante do projeto pedagógico, porque é nela que as metas são articuladas às
estratégias e ambas são ajustadas às possibilidades reais.
O planejamento escolar é um processo de racionalização, organização e
coordenação da atividade do professor, que articula o que acontece dentro da escola
com o contexto em que ela se insere.Trata-se de um processo de reflexão crítica a
respeito das ações e opções ao alcance do professor. Por isso a idéia de planejar
precisa estar sempre presente e fazer parte de todas as atividades-senão prevalecerão
rumos estabelecidos em contextos estranhos à escola e / ou ao professor.
Sumário
METODOLOGIA ................................................................................................. 06
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 07
CAPÍTULO I - PREPARANDO O PROCESSO DE PLANEJAMENTO
PARTICIPATIVO ............................................................................................... 08
CAPÍTULO II - PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO EM UMA ESCOLA
................................................................................................................................. 12
CAPÍTULO III - ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DO
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO NA E.E. CEL. MOREIRA DA SILVA
(MUNICIPALIZADA) ......................................................................................... 22
CONCLUSÃO ....................................................................................................... 30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 32
ANEXO .................................................................................................................. 33
FOLHA DE AVALIAÇÃO .................................................................................. 35
Metodologia
Mudanças rápidas de cenário em escala mundial inseridas em ambientes de alta
turbulência e tecnologias de comunicação avançado em velocidades crescentes,
poderiam supor necessidades de menos "interface pessoal"quando lida - se com
planejamento estratégico de longo prazo envolvendo grupos com alto grau de
diversidade. O que verifica - se, na clientela da E.E. Cel. Moreira da Silva
(Municipalizada), no entanto, é um interesse cada vez maior na criação e
desenvolvimento de ambientes de diálogo estruturado entre os mais diversos
segmentos sócio e econômicos em interação, ou seja, necessita - se de mais e não
menos interface pessoal.
Enquanto metodologia participativa baseada no aprendizado de sistemas
inteiros, A criação de uma visão de futuro compartilhada permite abordar a
complexidade existente entre sistemas abertos, procurando encontrar as bases em
comum presentes na diversidade e orientadas fundamentalmente para o futuro.
Criar um ambiente participativo desde a fase de planejamento, garantindo
legitimidade dos atores que criarão seu próprio futuro, é bastante distinto do processo
tradicional de apontar "de cima para baixo" os que aparentemente possuem maiores
atributos de planejamento.
Neste sentido, o planejamento, desenvolvido na E.E.Cel. Moreira da Silva
(Municipalizada) enquanto instrumento democrático de participação efetiva,
contribuem para o rompimento com a dicotomia entre os que "pensam"e os que
"fazem"ainda tão presente nas nossas estruturas organizacionais. Sabe - se ainda,
que as pessoas tendem a se relacionar de forma mais comprometida com planos que
elas mesmo ajudaram a construir.
06
Introdução
O planejamento participativo, compreendido como processo de ação
participativa grupal, com pessoas interagindo em função de necessidades, interesses
e objetivos comuns, é , no momento, a metodologia mais eficaz no que tange ao
envolvimento e engajamento das pessoas de uma comunidade escolar. Com uma
reflexão sobre participação e uma proposta de planejamento participativo; a E.E.Cel.
Moreira da Silva (Municipalizada) - localizada em Mangaratiba - RJ proporciou
processos de elaboração e vivência do mesmo, fez as devidas avaliações e apresentou
exemplos, contribuindo, assim, para o enriquecimento, aprofundamento e vivência
do planejamento participativo na educação formal.
O estudo se justifica pela intenção de proporcionar uma compreensão ampla
de planejamento, numa perspectiva utópica, levando-se em conta o entendimento
explicitado no opção de pessoa educação e sociedade.
Com base nas perspectivas,mantém-se coerência para a concepção de
planejamento. Salientando-se aspectos que parece importante serem considerados
para o entendimento de metodologias e processos e processos de planejamento que
se direcionam na perspectiva utópica.
Desta forma o:
Capítulo I busca determinados fins, relacionando alguns meios necessários
para atingir o planejamento.
O capítulo II aborda o planejamento como um instrumento que possibilita
ações mais complexas, produtivas e eficazes.
O capítulo III revela uma conduta comprometida, contínua e consciente
quanto ao Planejamento Participativo na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada).
07
Capítulo I
Preparando o Processo de Planejamento Participativo
O processo de planejamento participativo, na E.E.Cel. Moreira da Silva
(Municipalizada) questiona as dinâmicas tradicionais de planejamento, nos mais
variados campos de sua prática.Provoca inversão de relações do planejamento
tradicional. No processo tecnocrático são verticalistas, enquanto que, no
participativo, horizontalistas.
Com o aparecimento da visão humanista da pessoa, surge e cresce nova
proposta de planejamento, condizente com esse valor. As relações horizontalistas são
valorizadas e assumidas.
Decidir-se pelo processo participativo é assumir a pessoa como valor
essencial e agente do processo. Contrasta com a visão tecnocrática e o
posicionamento utilitarista vivenciado pela sociedade atual, segundo a qual a pessoa
é objetivo e valor de produção. Opor-se a isto,assumindo a nova proposta, é expor-se
a ser rejeitado na ação educativa.
Por não adequar-se ao esquema social do mundo capitalista, o planejamento
participativo, em uma instituição escolar, com freqüência, é relegado, bem como os
que o coordenam. Os envolvidos sofrem restrições e críticas, sendo até afastados de
seus cargos e ou transferidos de escola.
O reduzido número dos que assumem o planejamento participativo como
processo, na escola, encontram-se espalhados pelo Brasil como pequenas ilhas em
meio a um infindável oceano.
A inviabilidade de encontros e seminários nacionais, para o aprofundamento e
partilha, considerando os custos e as distâncias,não permite instalar um processo de
reflexão ampla e provocador de propostas desafiadoras, que atentem para o
aprofundamento e o estabelecimento de metas unificadas em âmbito nacional.
A reflexão, feita sobre as dificuldades que se encontram no processo de
planejamento participativo, estabelece a base para se proporem algumas perspectivas
de solução.
Apresentam-se algumas alternativas de superação das dificuldades apontadas.
08
É fundamental que sejam assumidas, criativamente, como desafio, pelos
participantes do processo participativo.
De acordo com VIANNA (1986) três são as tarefas possibilitadoras:
•
sensibilizar não apenas para os problemas dos participantes, mas também
para a continuidade de um trabalho participativo, como vistas à solução dos
problemas;
•
provocar posicionamentos críticos sobre a realidade em que os membros
estão inseridos;
•
suscitar motivação com vistas a transformar a realidade de maneira
consciente e crítica na perspectiva dos objetivos assumidos.
Cabe à equipe, de maneira audaz e decidida, incentivar e desafiar o grupo para o
compromisso e a criatividade, colocando-o em contato com o diferente, com o
imprevisível, para construir História, para mudar os rumos da História.
Superação do medo do novo: ao se iniciar um processo de planejamento
participativo vão se delineando, aos poucos, dois grupos distintos, entre os
participantes. O primeiro e o maior, o dos motivados, que se envolvem e assumem o
processo. O segundo, um grupo menor, formado por aqueles que a incerteza e o
desconhecimento do futuro não desafia, mas deprime e leva a permanecer como
estão: "Será que vai dar certo";"Para que radicalizar tanto?";"Até agora sempre deu
certo, para mudar?";"Vamos modificar alguma coisa e todos estaremos contentes". E
assim por diante.
O passado dá segurança. Prefere-se a tranqüilidade aos riscos, a escravidão do
passado á liberdade de criar. Há sempre a conotação de infantilidade nesta atitude.
As crianças só aceitam ir com conhecidos, afastando-se dos desconhecidos.
O novo é imprevisível. O futuro, uma incógnita. No entanto, eles nos aproxima
do desejado. Trata-se de imitar os jovens em sua criatividade, na busca e no enfrentar
os desafios.
O passado sustenta e mantém a passividade. O futuro provoca e desafia. Por que
teme-lo? Ser criativo é o grande desafio.
Compete-lhe criatividade manter viva a chama dos ideais, dos valores e das
opções.
09
O enfoque participativo é entendido como um processo estruturado e
sistematizado de mudanças nas relações e práticas de trabalho, proporcionando:
•Maior motivação e integração dos participantes;
•Maior possibilidade do estabelecimento do consenso sobre os aspectos
fundamentais da experiência e/ou temas em análise;
•Maior conscientização acerca de sua participação e de suas atribuições para a
definição ou redirecionamento das atividades;
•Obtenção de informações sobre a percepção dos participantes em relação ao
Plano, Projeto e/ou ao que está sendo definido;
•Articulação entre o planejamento estratégico e o operacional podendo, então,
de forma adequada ser definido, inclusive, modelo de gestão;
•Maior possibilidade da montagem de um sistema de monitoria bem
articulado com o planejado.
A condução fundamenta-se na comunicação, participação, consenso e tomada
de decisão. Para tanto, usa-se técnicas de moderação e visualização.
Pretende-se, apresentar uma síntese dos procedimentos metodológicos que
foram desenvolvidos, na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) para alcançar os
objetivos da pesquisa. O processo de ação-reflexão-ação é posto em prática através
do método ver-julgar-agir, para verificar o quanto a prática se próxima do ideal
desejado.
Segundo Dalmás (1999)o planejamento relaciona-se com a vida diária do
homem. Vive-se planejando. De uma forma ou de outra, de uma maneira empírica ou
científica, o homem planeja. Algum grau de planejamento é, e tem sido, conatural a
toda atividade humana. Sempre que se buscam determinados fins, relacionam-se
alguns meios necessários para atingi-los. Isto, de certa forma, é planejamento.
No dia-a-dia enfrentam-se situações que exigem planejamento, porém nem
sempre formalizado. No momento em que a realidade se torna mais complexa,
obriga-se a
uma maior sistematização de pensamento e de ação para poder
compreendê-la e transformá-la.
Pelo pensamento (reflexão), o homem desenvolve níveis cada vez mais
aprimorados de discernimento, compreensão e julgamento da realidade,
o que lhe
10
favorece uma conduta comprometida com novas situações da vida
Pelo planejamento, o homem organiza e disciplina a ação, tornando-a mais
responsável, partindo sempre para ações mais complexas, produtivas e eficazes,
tendo presente que
"... a crítica permanente em que implica o
planejamento, transforma-o num instrumento que
possibilita a superação das rotinas, dando à ação
humana
uma
reorganização
contínua
e
consciente"(ELAP. 1977).
Assim, é fundamental ter presente e bem definido o horizonte que se pretende
atingir e planejar a escola. Considerar o tipo de escola que deve ser para acontecer o
homem, a sociedade e a educação que pretende-se. Considerar as relações dentro da
escola, os conteúdos a serem trabalhados, as metodologias, a avaliação (...) Tudo é
parte de um TODO e tudo partindo do todo deve convergir para ELE.
O centro de todo o processo educativo é o aluno, participante e sujeito de sua
educação. O educando não é o objetivo de educação mas o sujeito de seu
desenvolvimento. Ele é "o principal artífice do seu êxito ou do seu fracasso"
Ao ter presente estes conteúdos, parte-se para a elaboração do planejamento,
centrado na pessoa participante, livre e responsável.
Sabe-se que o planejamento participativo é uma nova maneira grupal de
decidir e de agir, ante o difícil momento em que se encontra a educação brasileira.
Mesmo assim, renova-se a crença de que o planejamento participativo, assumido
como processo transformador, é o caminho mais viável para uma renovação das
estruturas e das relações, em uma instituição de educação formal.
11
Capítulo II
Planejamento Participativo em uma Escola
A participação consiste na vivência coletiva e não na vivência de cada
indivíduo. A reflexão comunidade da prática participativa constitui o momento
culminante e desencadeador do processo educativo. Para Gutiérrez (1993, p.29) "a
educação é uma ação transformadora e consciente que supõe dois momentos
inseparáveis: o da reflexão e o da ação". Com isto, pode-se entender que, quando a
comunidade reflete sobre casos concretos da problemática organizativa e produtiva
de seu dia-a-dia, ela achará, gestionariamente, as melhores e mais adequadas
soluções para estes problemas. Esta participação conduz à gestão, pelos próprios
interessados, tanto do processo produtivo como no processo organizacional.
Na aprendizagem da participação, o aprendiz fica sabendo como detectar
tentativas de manipulação bem como a "distinguir a verdadeira participação da
simples consulta ao povo"(Bordenave, 1994, p. 73).
A comunidade deve mudar sua postura de "recebimento de favores"para
aquela de reivindicação de direitos e tentar achar soluções próprias
para
os
problemas que afligem os seus membros.
Ao se fazer o diagnóstico participativo sobre uma comunidade, o que se
busca é a geração de informações e conhecimentos necessários para a identificação
dos problemas e necessidades enfrentadas pelo grupo comunitário. Num momento
inicial, "o diagnóstico participativo é um processo contínuo que gera um
conhecimento
que
se
enriquece
na
medida
em
que
a
realidade
se
transforma"(Gutiérrez, 1993, p. 31). Em um segundo momento, o diagnóstico
participativo objetivará as propriedades, bem como identificará os recursos (humanos
e financeiros) para sua consecução, formulando quais os objetivos das ações. O
terceiro passo, é quando envolve-se os beneficiários no processo de pesquisa,
proporcionando a objetivação de necessidades
sentidas,
bem
como de
necessidades reais não sentidas. O próximo passo é determinar como cada um dos
problemas serão abordados.
Para agir sobre uma realidade é preciso conhece-la e, para que isto ocorra é
12
preciso levar em consideração ao mesmo tempo que deve ser dado ao grupo estudado
a oportunidade de conhecer suas percepções, seus valores suas crenças, bem como
seus temores e aspirações para o futuro. Desta maneira, a própria comunidade,
organizadamente, poderá levantar os dados necessários para conhecer sua realidade.
Quando
envolve-se
os
beneficiários
no
processo
de
pesquisa,
estamos
proporcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de necessidades
reais não sentidas.
O planejamento ideal é aquele que envolve as pessoas como sujeitos a partir
de sua elaboração, e com presenças constante na execução e avaliação, não apenas
como indivíduos, mas sujeitos de um processo que os envolve como grupo, visando o
desenvolvimento individual e comunitário.
Segundo VIANNA (1986) insiste na perspectiva do homem como ser social
que partilha vivências e que busca realização pessoal na participação comunitária.
Propõe:
Uma nova forma de ação, cuja força reside na
participação de muitas pessoas, politicamente agindo
em função de necessidades interesses e objetivos
comuns. Um planejamento flexível, adaptado a cada
situação específica que envolva decisões
comunitárias e que se constitua em processos
político vinculado à decisão da maioria. Um
planejamento que tenha por
objetivo final a
formação do brasileiro, individual e socialmente
considerado, a partir do engajamento da maioria
para mudanças estruturais. (p.18)
A mesma autora (1986, p. 23) entende que o planejamento participativo se
constitui
numa atividade de trabalho, que se caracteriza
pela integração de todos os setores da atividade
humana social, num processo global, para a solução
dos problemas comuns.
O diálogo-comunicação é elemento essencial no processo de intercâmbio de
vivências, experiências, interações, diálogos entre os participantes.
Visa-se um planejamento centrado na pessoa, livre e crítica, sujeito de seu
desenvolvimento, mas com decisões comunitárias; um processo grupal e
participativo que considere as pessoas, com seus valores, sentimentos e situações de
ordem sócio-econômico-político-cultural.
Este modelo de planejamento, adotado pela E.E.Cel. Moreira da Silva
(Municipalizada) obriga a um posicionamento crítico e de participação dos
13
envolvidos, uma consciência crítica da realidade, determinando uma ação coerente e
eficaz, a fim de promover as mudanças e as transformações desejadas, com vistas a
uma aproximação do ideal projetado. É assumir a práxis, que no entender de FREIRE
"é a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo" (1875, p. 40).
Sendo um processo de intervenção na realidade, será eficaz na medida em
que for comunitário e criativo, aproveitando o conhecimento e o discernimento do
grupo, bem como, as soluções que o mesmo apresenta.
É o planejamento do grupo-comunidade, vivenciando o processo de açãoreflexão-ação, através do método ver-julgar-agir.
Sendo instrumento para o trabalho comunitário por meio de discussões e
exercícios que auxiliam a ampla compreensão de uma realidade, analisa-se um
problema central e as propostas para soluciona-lo, resultando na elaboração de um
plano de ação para combatê-lo. A participação conjunta dos moradores, comitês,
instituições governamentais e não governamentais cria elos que promovem
compromissos sociais. "A ética de compromissos é a alavanca da mudança" (Brasil
1998, p. 109). Para Cury (1998, p. 65) "os três grandes eixos de um projeto social
são: seu planejamento, implementação e avaliação". Não distribuídos de forma
linear, eles se interelacionam e ocupam diferentes espaços e tempos na construção
desse projeto, assumindo, cada um a seu tempo, o lugar de destaque.
O ato de planejar permite a avaliação da situação como um todo, dando a
possibilidade de prever as dificuldades e os modos para superá-las. O planejamento
aumenta a compreensão do trabalho a ser realizado, permite ver sua complexidade e
suas dependências. Também como um facilitador da comunicação grupal, pois
mostra o papel de cada dos atores envolvidos no processo o que cada um pensa e
qual será o modo de ação, gerando, assim, compromissos e responsabilidades
mútuas.
Segundo Demo (1996, p. 45), são três os componentes básicos do
Planejamento Participativo;
1) formação da consciência crítica e auto-crítica na comunidade, através da qual
se elabora o conhecimento adequado dos problemas que afetam o grupo. A
comunidade formula, com seu saber e em consórcio com o saber técnico um
14
posicionamento crítico diante da realidade.
2) Dentro de um contexto planejado e em comum identifica e prioriza os
problemas, formula estratégias concretas de seu enfrentamento encontra
caminhos alternativos e propostas de negociação;
3) A organização do grupo é a estratégia para os dois passos anteriores.
Sendo a escola
(Municipalizada)
um segmento da sociedade. A E.E.Cel. Moreira da Silva
comprometeu-se na
manutenção
relacionados do mundo atual. Em outras palavras,
dos
esquemas
comprometeu-se com a
continuidade das relações de dominação e de exploração vigentes, alimentando,
constantemente, a opressão e a injustiça.
A transformação desta sociedade apontada como o primeiro enfoque sobre tal da
educação libertadora. A vivência de uma metodologia participativa na qual as
relações solidárias de convivência pontificam, provoca, mesmo que lentamente, a
concretização de uma nova ordem social, iniciando pela parcela menor, que é a
escola. É preciso proporcionar à pessoa a possibilidade de poder vivenciar uma nova
dimensão da vida social, na qual não participe só na execução, mas também
discussão dos rumos da instituição escolar. Em outras palavras, presença ativa e
criativa na elaboração, execução e avaliação, isto é, na decisão e no fazer do
planejamento.
O planejamento participativo na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) não
poderia reduzir-se a integrar escola-família-comunidade, mas também visar a
realização das pessoas e a transformação da comunidade, na qual a escola está
inserida.
A tradição educativa se firmou numa estrutura eminentemente verticalista.
Redimensionar a administração escolar, para uma dimensão horizontal, é uma das
dificuldades e, ao mesmo tempo, pressuposto para o planejamento participativo. O
encontro de pessoas, por meio do diálogo e do debate, em que discutem , decidem e
assumem as realidades comuns, provoca crescimento pessoal e comunitário,
tornando possível uma educação escolar mais humana e mais participativa.
Trata-se de uma nova maneira de decidir e de agir, a fim de tentar uma saída para
a difícil situação em que se encontra a educação formal.
15
A comunidade escolar que se une em torno de uma "idéia-força, nuclear, ampla,
complexa e abrangente"(Marques, 1987, p.188), através de uma ação dialógica,
integradora e participativa de Homem, encara o participante como sujeito da história,
respeitando-se sua dignidade e sua liberdade.
Na vivência de um planejamento participativo, em uma escola, Vianna (1986, p.
31) aponta para dois riscos, a que este tipo de planejamento está sujeito, e para os
quais deve-se estar atento:
• o primeiro refere-se à assessoria especializada, que poderá, antes, durante e
após o processo, agir em função da vivência pessoal, manipulando os interesses da
maioria comunitária "determinando o que fazer, como, quando e por que decidir e
agir";
• o segundo acontece quando a coordenação utiliza a informação e a
comunicação para manipular, politicamente, a comunidade educativa, convencendo-a
a aceitar seus projetos pseudo-sociais, e consultando-a apenas em aspectos
secundários, criando a ilusão de participação, através da não reflexão dos problemas
comunitários. Mantém-se, assim, uma adesão acrítica à programação.
Apesar dos ricos, tem-se a convicção de que a escola é um lugar possível de
educação consciente, crítica, criativa e participativa, desde que seus integrantes
acreditem em um processo político de educação, e que possam produzir mudanças
nas relações interpessoais e sociais.
Segundo Vianna (1986, p. 38) confirma sua viabilidade, desde que os educadores
estejam imbuídos de algumas qualidades básicas, afirmando
... ser o planejamento participativo um desafio para
os verdadeiros educadores exigindo daqueles que
pretendem
realiza-lo muita disponibilidade,
coragem, persistência, tenacidade, garra, espírito de
luta. Não é trabalho impossível, mas plenamente
viável, apesar de todos os empecilhos colocados
pelo sistema e por educadores descompromissados
com a tarefa que abraçaram como profissão: educar
as novas gerações de brasileiros consciente e livres.
O planejamento participativo,assumido como processo de crescimento
pessoal e de transformação social, talvez seja o único caminho viável para se
conseguir a renovação profunda das relações na educação formal.
16
Segundo FERREIRA (1984, p. 25) menciona três metodologias
de
planejamento, apontadas também por GANDIN (1988, p. 131) e SANDRINI
(1988,p. 9), que anunciam linhas diferentes de ação que uma instituição pode
assumir:
a) o primeiro modo é planejar PARA a comunidade: neste modo de planejar,
o poder é exercido de maneira autocrática, dominadora e até ditatorial. A
participação na preparação e elaboração é nula. No que se refere à execução, é
imposta e de modo idêntico quanto aos resultados. A gestão, neste modelo, é uma
administração ou direção exercida por alguém e não por todos. É assumida por um
pequeno grupo,uma parte, nunca o todo;
b) um segundo modo de planejar é COM a comunidade: neste momento o
poder está a serviço. A participação da comunidade, na preparação e elaboração do
plano, é controlada. A execução do plano acontece a partir do consenso e do
resultado de uma negociação.
Neste modelo de planejamento existe a co-gestão. Há um pouco de
participação da comunidade através das pessoas mais ou menos representativas. Este
modelo de planejamento mostra, claramente, que, quem tem o poder nas mãos, cede
alguma coisa, não o essencial, para significar que existe participação da comunidade
no planejamento. Na realidade, a participação é insignificante e pequena. Às vezes,
ilusória. O poder continua nas mãos de poucos, que o controlam constantemente;
c) um terceiro modelo é o planejamento da comunidade: aqui o poder é
exercido como um serviço.
A gestão é da comunidade, e será chamada autogestão. A participação da
comunidade na z`preparação, na elaboração do planejamento, em sua execução e em
seu resultado é co-responsável e de comunhão. Este modelo é o ideal de
planejamento de participação e de gestão. Só assim poderá acontecer
participação
comunitária para a transformação social em favor da justiça, da fraternidade e da
libertação total.
A preocupação, no planejamento participativo, se fixa no processo. O que
importa é o crescimento das pessoas, a conscientização, seu desenvolvimento e
realização pessoal.
17
Nesta perspectiva, cresce o valor da participação que se concretiza na
metadologia de trabalho.
A ação grupal, na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) reflete
constantemente uma metodologia participativa, em que todos têm condições de se
envolver ativamente no trabalho, com reflexos nos resultados alcançados pelo grupo.
Assume-se o trabalho em comum e é realizado, cada um colaborando com a
iniciativa e o esforço pessoal. É o grupo que está envolvido no todo do processo. Não
há os que escrevem outros que executam e ainda outros que avaliam.
Segundo GANDIN (1991, p. 51) reafirma o posicionamento de se vivenciar
uma metodologia "que gere uma dinâmica em que a participação seja o procedimento
normal das pessoas".
Para que a participação aconteça, o mesmo autor (ibidem)orienta para se
"organizar sempre o processo de modo que estejam presentes e interligados
três momentos:
-- o individual;
-- o de subgrupo;
-- o de plenário".
Retorne-se FERREIRA (ibidem), para enunciar metodologias de participação
no planejamento, já abordadas no subitem "Metodologia de Planejamento":
a) planejar PARA a comunidade. Existe uma participação imposta na execução,
sendo nula na preparação e na elaboração. A participação é de alguns que
determinam para os demais;
b) planejamento COM a comunidade. É uma participação controlada. É uma
espécie de co-gestão;
c) planejamento DA comunidade. Autogestão. A comunidade participa da
preparação, elaboração, execução e avaliação do planejamento.
Assim, o planejamento participativo busca romper a dominação, para assumir um
posicionamento de tomada de decisões, para situações, perante as quais todos sejam
sujeitos.
Na perspectiva da participação não se decide
para os
outros, mas para
si
18
(o grupo): "O que nós faremos?"As decisões são tomadas por todos: pelo grupo e
para o grupo. É a autogestão concretizando-se.
A escola não tem uma proposta libertadora explicitada. Este fato provoca
posicionamento, com freqüência, individualista dos membros da Comunidade
Educativa, dificultando a formação da unidade em torno de um mesmo fim. Pó não
haver clareza sobre a proposta da instituição, e o que é esperado deles, os membros
assumem posicionamentos pessoais, especialmente no trabalho em sala de aula.
O envolvimento dos professores por uma educação libertadora acontece em
poucos momentos: reflexão diária no início do período, na qual todos são convidados
a participar, questionamentos específicos durante as reuniões pedagógicas mensais,
textos com reflexões. Há boa aproximação professor-aluno, sobretudo através do
diálogo e de alguns debates em sala de aula. No entanto, em geral, desenvolve-se
uma ação educativa pautada por uma visão tecnocrática e tradicional. Prova disso são
as aulas constantemente expositivas, com poucos debates e análises de textos, e um
forte senso de memorização do conteúdo. O crescimento, na teoria pregada, é
moroso.
A direção procura assumir posicionamentos democráticos, delegando funções
e decisões. Faz-se presente nas atividades e cobra responsabilidades. A
descentralização está acontecendo. O horizontalismo está crescendo. O reflexo é
percebido nas relações mútuas. Aumentam os encontros informais e os momentos de
diálogo. O respeito mútuo se evidencia entre os membros da Comunidade Educativa.
Existe um relativo controle sobre os Serviços de Orientação e sobre os
professores. Há um regulamento específico para o controle disciplinar dos alunos que
sofrem pressões, por exclusão de sala de aula, envio aos coordenadores disciplinares,
avisos à família, matrícula condicionada e suspensões.
A preocupação com a formação para a cidadania é bastante fraca. Os pais têm
sua associação e escolhem seus representantes de turma. Os professores têm sua
agremiação. Foi reativo Grêmio Estudantil e es realiza a escolha das lideranças de
aula. A atuação de todos é quase imperceptível. É pouca a preocupação e o
envolvimento com o próprio grupo. E quando acontece, se dá nas promoções de
lazer. A consciência social é fraca, pois não há maior envolvimento com os
19
movimentos da comunidade local. As necessidades e preocupações da mesma são
quase desconhecidas. A escola cede, algumas vezes, seu espaço físico.
A maioria dos pais está praticamente ausente do processo educativo dos
filhos. Orientam-se, muitas vezes, por valores ultrapassados ou na base do "levar
vantagem", do consumismo, do TER. Pagam o colégio e com isto se dispensam de
comprometer-se com a educação deles. Delegam a responsabilidade à escola. Fazemse presentes apenas em momentos comemorativos e datas festivas: Dia das Mães, dos
Pais, Festa Junina ... É baixa a presença em reuniões e palestras.
O currículo escolar está pouco voltado para as necessidades da clientela, pois
esta é quase desconsiderada na definição do mesmo, visto que é definido antes do
início do período escolar.
A metodologia participativa está desabrochando. No início do ano letivo, os
professores, a partir dos objetivos regimentais, elaboraram um diagnóstico da
instituição. Mesmo limitado, proporcionou a eles o estabelecimento dos objetivos da
comunidade escolar. Foi uma tentativa de elaboração conjunta do plano. Alguns
professores empregaram a mesma técnica com alunos, para elaborarem os planos de
sala de aula. Freqüentes são os trabalhos de grupo e debates em algumas disciplinas.
Variadas são as técnicas de participação vivenciadas. Outros, no entanto, que
estiveram ausentes das reuniões, vivem descompromissados, suas aulas são
expositivas, com pouco envolvimento dos alunos.
Esta contradição metodológica se reflete no desenvolvimento do senso
crítico, pois há um grupo que não assume seu desempenho: pouco diálogo,
autoritários, acomodados, tratam de maneira alienante os conteúdos, sendo meros
repetidores do livro didático, que direciona e aliena.
A causa disto talvez seja a insegurança no que se refere ao próprio conteúdo,
metodologia específica e despreparo técnico-científico na disciplina, medo de mudar,
falsa segurança, provinda dos anos de trabalho e da não atualização.
Há esforços de crescimento e de formação pessoal por parte dos professores.
Um bom grupo está cursando faculdade a nível de graduação ou de pós-graduação. É
freqüente a presença de docentes em encontros e seminários. A maioria se faz
presente nas reuniões mensais que a escola realiza.
20
Um bom grupo de professores demonstra crescimento na consciência crítica,
numa postura político-pedagógico, face à busca pessoal e incentivo propiciado pela
direção, por reflexões no início das reuniões, manhãs de formação, questionamentos
nas reuniões, manhãs de formação, questionamento nas reuniões, palestras, debates.
O método ver-julgar-agir é bastante praticado por eles. Em contrapartida, há outro
grupo de docentes despreocupados com sua atualização, contentes com seu saber,
descompromissados com os alunos, repetidores de um conteúdos ultrapassado,
cobradores de memorização, e até fazendo piadinhas dos que manifestam
preocupação com o social ou questionam a situação atual.
Há bom nível de preocupação no que se refere à avaliação da aprendizagem.
A maioria dos professores está atrelada a um sistema arcaico de avaliação. Para eles,
avaliar é cobrar memorização nas provas e testes, dar nota, tirar nota por indisciplina,
aprovar e reprovar o aluno. Desconhecem outro método de avaliar. Há confusão
entre sistema de promoção e processo de avaliação.
Pode-se concluir que, na perspectiva da Qualidade de Educação, há pouca
unidade de ação na perspectiva libertadora. E o senso crítico em geral é fraco e os
valores da justiça, da verdade, da liberdade e da fraternidade estão recebendo pouca
consideração quanto à sua prática.
Necessidades:
a) Maior envolvimento da família no processo educativo;
b) Explicitação do Referencial Teórico;
c) Envolvimento crescente do aluno no processo educativo;
d) Fortalecimento de uma formação crítica para a cidadania;
e) Conhecimento e vivência da Educação Libertadora;
f) Crescimento na prática da metodologia participativa.
21
Capítulo III
Análise e Apresentação dos Resultados do Planejamento
Participativo na E.E. Cel. Moreira da Silva (Municipalizada)
O presente capítulo apresenta e analisa os resultados da pesquisa realizada na
E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada), situada à rua Nilo Peçanha, nº 162,
Centro - Mangaratiba/RJ.
Se o objeto é assumir um processo, pelo qual se visa organizar a ação, em
vista de um ideal que se busca, há necessidade de que os que se envolverem estejam
suficientemente incentivados, a fim de que se sintam motivados para a participação.
Na tarefa de despertar para a participação e o planejamento, é imprescindível
que tenha consciência de que, como participantes do processo, são sujeitos e, por isso
mesmo, em condições de comprometer-se e assumir.
Antes de iniciar o processo, insiste-se em proporcionar ao grupo, um
conhecimento e aprofundamento específicos do campo que se trabalhará.
O planejamento participativo é um processo, cuja teoria e conteúdo se
aprende ao vivenciá-lo.
O processo participativo na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) visou
envolver todas as pessoas da instituição escolar na busca comum e na
responsabilidade pelo todo da instituição.
A decisão de partir para a vivência do processo participativo na E.E.Cel.
Moreira da Silva (Municipalizada) exigiu a opção para assumir sua prática.
A construção de um planejamento participativo, em uma instituição de
educação formal, tem, no seu primeiro momento ou em sua introdução, alguns
requisitos necessários para que sede o inicio da caminhada. São aspectos a serem
considerados na elaboração .
a) fixação de diretrizes gerais, constituindo o conjunto das definições
conceituais, dos objetivos fundamentais e de conteúdos sobre os aspectos
teóricos que envolvem a realidade planejada. Estas diretrizes representam o
IDEAL que se imagina para uma realidade específica. É a UTOPIA que
desafia para o melhor. A utopia provoca um contínuo processo de planejar e
22
replanejar a fim de aproximar a realidade existente do ideal definido. Isto requer
uma opção clara de homem, de educação e de sociedade.
b) Diagnóstico: para este segundo passo do planejamento, o conhecimento da
realidade é imprescindível, pois a elaboração depende de identificação da
realidade e das condições existentes.
c) Programação : no diagnóstico identificam-se as principais necessidades. Feito
isto, define-se a programação para resolver os problemas, atender
necessidades e reforçar avanços, a fim de transformar a situação existente.
Ao ter presente estes conteúdos, a E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada)
partiu para a elaboração do planejamento, centrado na pessoa participante, livre e
responsável.
Sabe-se que o planejamento participativo visa uma nova maneira grupal de
decidir e de agir, ante o difícil momento em que se encontra a educação brasileira.
Mesmo assim, renova-se a crença de que o planejamento participativo, assumido
como processo transformador, seja o caminho mais viável para uma renovação das
estruturas e das relações, em uma instituição de educação formal.
A escola preocupa-se em formar o aluno para uma sociedade competitiva
buscando o melhor atendimento. A escola permanece com as portas abertas para que
a comunidade participe ativamente de seus projetos políticos-pedagógico.
Assim, a direção e a coordenação da E.E. Cel. Moreira da Silva
(Municipalizada), localizada em Mangaratiba- Rio de Janeiro, à rua Nilo Peçanha nº
162, visa oferecer qualidade de ensino para os seus 749 alunos, apresentando
educadores com posse de um conjunto de conhecimentos, técnicas, habilidades e
acima de tudo competência. Seu horizonte visa a construção da cidadania que inclui
a noção, em seu planejamento crítico e construção partilhada. Conscientes desta
exigência, os participantes levantaram possíveis dificuldades e apontaram algumas
alternativas de solução eficaz no que se refere ao acompanhamento do processo de
planejamento participativo. Com isto, pretendeu-se evitar "receitas". E mesmo
porque para uma dificuldade existem várias soluções possíveis. E também porque
uma solução pode ser válida para várias dificuldades, de acordo com a realidade. E,
assim aconteceu.
23
A Diretora Adjunta da E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada), senhora
Valéria Walchan opina sobre a importância do Planejamento Participativo:
Onde a escola busca a integração e a
interdisciplinaridade, adequando e flexionando
conteúdos, programações e posturas para o bem
comum da Escola.
Para que tudo aconteça ele não pode ser
"definido"ou fechado, é uma linha contínua onde
sempre em grupo, para haver uma avaliação e, ou
reavaliação para traduzir de uma maneira organizada
e democrática a linha de trabalho da Escola.
O ser humano, criado à "imagem e semelhança de Deus", donde provém sua
dignidade e liberdade, vive o amor na relação fraterna com as demais pessoas.
Na perspectiva cristã , o homem é chamado, com seus irmãos, a plenificar-se
em Deus, visando sua realização como ser humano e transcendente.
Orientando seu destino, sujeito de seu próprio desenvolvimento, o ser
humano faz história na unidade corpo-espírito e projeto sua plena realização.
Sua consciência de ser superior ajuda-o a perceber seu passado, situar seu
presente e organizar seu futuro. Neste situar-se, ele questiona, busca respostassoluções, propõe e realiza transformações num constante criar e recriar.
Consciente de si, do outro e do mundo, a pessoa tem condições de
posicionar-se criativamente ante a realidade, assumi-la e transformá-la, na
perspectiva democrática e participativa.
O homem é um ser livre. E a
liberdade implica sempre naquela capacidade que
temos, em príncipio, de dispor de nós mesmos a fim
de irmos construindo uma comunhão e uma
participação que hão de se plasmar definitivas, em
três planos inseparável: a relação do homem com o
mundo como senhor, com as pessoas como irmão e
com Deus como filho (CELAM, 1979, nº 322).
Vive, o homem, sua liberdade, posicionando-se ante os valores que lhe são
constantemente propostos, em condições de aceitar ou negar, pois "como sujeito
construtor da história, livre e solidário, é capaz de amar, mas também de resistir e
recusar"(AEC-Br, 1990, p. 12).
Ser de comunhão, necessita do outro para relacionar-se. O convívio grupal e a
integração comunitária são essenciais. A pessoa politizada, consciente da realidade
social, participa e se compromete na construção de uma nova ordem social.
A liberdade é uma conquista, que implica em responsabilidade. Para FREIRE
(1972) o homem busca libertação das situações que visam dominá-lo e domesticá-lo.
Insere-se criticamente na realidade e exerce nela uma reflexão e uma ação
transformadora.
24
Assumindo seu papel de agente comprometido com a história, a pessoa se engaja
numa ação transformadora eficaz, embasada nos valores transcendentais (AEC-Br,
1990, p. 12), com "atitudes de amor pública, de vontade permanente de participação,
de abertura ao outro, do poder de serviço e de encamação na realidade do povo".
A sociedade se fundamenta no homem, sujeito do desenvolvimento pessoal e
social.
Opta-se por uma sociedade que "respeite e defenda os direitos individuais e
sociais da pessoa e favoreça o exercício da cidadania" (AEC-Br, 1990, p.11) e
estimule as relações democráticas e participativas, assegurando a liberdade de
associação e organização.
A construção de "uma sociedade livre, justa e solidária" (Constituição Brasileira
de 1988, Art, 3, I) se baseia na dignidade da pessoa e no exercício de sua organização
e participação nas estruturas sociais. Assim sendo, a pessoa é desafiada a
comprometer-se, a dar sua contribuição, para construir uma sociedade na qual os
valores da justiça, da fraternidade e da participação sejam respeitados e assumidos.
Uma sociedade provocadora de um processo sócio-cultural consciente, livre, criativo,
responsável e participativo, voltado para a realidade e orientado para a valorização
do homem.
Nesta perspectiva, considera-se a posição salientada no Marco Referencial das
Comunidades Educativas Lassalistas (MR-CELs, 1987, nº 4.4.8): "Na construção de
uma sociedade livre, justa e participativa, imposta serem respeitados os direitos
básicos do pluralismo e da liberdade".
Idealiza-se uma sociedade na qual os valores da justiça, da fraternidade, da
participação, da verdade, sejam respeitados e assumidos. Projeta-se uma sociedade
provocadora de "um processo cultural consciente, livre, criativo, responsável,
coerente e participativo"(MR-CELs, 1987, nº 4.4.4) e que esteja "voltada à nova
realidade, orientada para a valorização do homem e que contribua para o
engrandecimento dos valores regionais e nacionais"(idem 4.4.3).
Enfatiza-se a afirmação do MR-CELs:
A sociedade deve unir esforços para denunciar e
combater toda forma de manipulação, alienação,
degradação moral e consumismo permissivista,
veiculados sobretudo pelos Meios de Comunicação
Social (ibidem, 4.3.6).
25
Os bens econômicos constituem elementos valiosos para a realização da
pessoa. Visa-se, pois, uma sociedade equânime na distribuição dos mesmos e no
plano de atendimento às necessidades básicas da população. Ao mesmo tempo,
Toda pessoa tem o direito e o dever de contribuir
para o BEM COMUM através do seu trabalho, o
qual deverá ser visto como meio de realização da
pessoa e da sociedade (ibidem, 4.2.6).
O anseio de todos é por uma sociedade democrática. Nesta, a organização e a
participação, aliadas à consciência dos direitos e dos deveres, constituem elementos
indispensáveis para o exercício da cidadania. Este só é possível numa sociedade
democrática, na qual a organização e a participação são elementos essenciais. São
manifestações
desta
vivência
democrática
a
autogestão
administrativa,
o
planejamento participativo, os processos eletivos, os movimentos sindicais.
A vivência política, alicerçada no BEM COMUM, promove a humanização e
a construção de uma nova sociedade e, ao mesmo tempo, assume a defesa dos
direitos da pessoa, sempre que forem desrespeitados, e favorece o crescimento dos
indivíduos com vistas à sua plena realização.
A educação escolar desempenha importante papel no atual momento histórico
brasileiro, tanto em seu aspecto transformador, quanto no criativo, na busca e na
promoção de uma nova proposta educacional.
Ao assumir o homem como sujeito da história, a ação educativa corresponde
é a que considera a pessoa como sujeito de seu processo de desenvolvimento pessoal
e social, despertando-lhe a consciência do crescimento em todas as dimensões. A
educação é um meio para que o homem, livre e responsavelmente, assuma a
plenificação de sua humanidade.
A educação favorece e visa uma intensa vivência solidária, pela compreensão
e respeito aos direitos pessoais, à organização da comunidade e ao pleno exercício da
cidadania .
As relações interpessoais, pautadas nos valores do amor e da justiça, orientam
a aplicação da metodologia e da avaliação, bem como a seleção das vivências
experiênciadas no processo educativo. Neste processo, segundo AEC-Br, 1990, p.
15), ocupará espaço especial
26
o diálogo permanente que desmascara a oposição ou
o confronto entre os que sabem, entre os que
ensinam e os que só aprendem, entre os que detêm o
poder
e
os
que
apenas
executam
tarefas
determinadas e prestam contas.
Dá-se, assim, o envolvimento ativo do educando em seu processo de
aprendizagem, através da participação crítica e criativa na elaboração e a realização
do currículo escolar.
A educação (MR-CELs, 1987, p. 28)
Capacita a pessoa à autodeterminação responsável e
criativa. Ajuda na busca, sem detrimento do bem
comum, do desenvolvimento de suas potencialidades
e da realização de sua própria identidade.
A escola, lugar de envolvimento e de compromisso, pautará sua ação por uma
educação que favoreça a participação de todos na busca comunitária do bem comum,
na perspectiva sócio-política e, ao mesmo tempo, a assunção da "autodeterminação
responsável", no plano individual.
Além disso, a educação formal favorece o desenvolvimento do senso crítico e
criativo pelo processo de ação-reflexão-ação, vivenciando o método ver-julgar-agir,
comprometendo-se a ser, viver e de conviver, e na vivência de valores tais como os
da verdade, da justiça da partilha, da solidariedade e da igualdade.
A educação (CELAM, 1979) nº 1027 visa "personalizar e humanizar o
homem". Por isso enfatiza a fraternidade, o diálogo, a verdade, a partilha, a
solidariedade, o respeito mútuo e a justiça, como valores inerentes ao ser humano, a
fim de que se liberte e comprometa a pessoa consigo mesma, com outro sendo agente
de mudanças na instituição e na sociedade.
A educação tem por finalidade ser ajuda no crescimento das pessoas para
vivenciarem seu projeto de vida.
Reafirma-se o posicionamento e opção de Homem, de Sociedade e de
Educação, assumidos no Marco Doutrinal, com os quais há compromisso na
perspectiva da Educação Libertadora. Ela converte o educando em sujeito do
crescimento pessoal, tendo como conteúdo a sociedade em que vive, com vistas a
dar-lhe condições de libertar-se de toda a escravidão que o oprime e de realizar-se
como pessoa.
27
Assume-se a educação que considera a realidade sócio-econômico-política da
pessoa, bem como suas crenças e seus valores, suas possibilidades e seus limites.
Tem como característica especial o posicionamento dialético, frente aos conflitos e
contradições pessoais e sociais.
A escola opta por uma educação formal, na qual o homem se realiza como
ente histórico, que se faz na história, na busca de sua identidade na relação consigo,
com o outro, com o mundo e com o transcendente.
Opta-se por um processo educativo que promove, constantemente, nos
educadores e educandos, os valores da justiça, fraternidade, solidariedade, bem
comum, liberdade responsável, participação criativa, respeito e serviço mútuo.
Assume-se comunitariamente o processo educativo libertador que:
•
converte o educando em sujeito de seu próprio desenvolvimento;
•
favorece a transformação grupal, através do respeito mútuo e do diálogo, da
participação e do engajamento; da lealdade e da fraternidade; da igualdade e
da liberdade;
•
promove o senso crítico sobre a realidade social, os objetivos, os conteúdos, a
metodologia e as relações das pessoas entre si;
•
fortalece a educação do BEM COMUM, da cidadania;
•
escolhe conteúdos socialmente eficazes;
•
revê, sistematicamente, seu currículo: objetivos, conteúdos, metodologias e
avaliação de toda a ação educadora;
•
adota a metodologia participativa, crítica e criativa, em que todos se sintam
comprometidos com o planejamento, execução e avaliação de suas
atividades;
•
prioriza a postura profissional consciente e responsável;
•
envolve a todos, segundo suas funções e tarefas;
•
provoca o assumir dos pais como "primeiros e principais responsáveis pela
educação dos filhos";
•
adota, na sistemática de seu trabalho, o processo de ação-reflexão através do
método ver-julgar-agir.
28
Opta-se por uma escola democrática, caracterizada pela socialização do poder,
divisão de responsabilidades, diálogo permanente entre os membros da Comunidade
Educativa, presença espontânea nas programações escolares, prática dos direitos e
deveres.
Opta-se por uma avaliação diagnóstica da aprendizagem, inspirada na relação de
fraternidade nas experiências vivenciadas. O corpo docente e discente, estimulados a
realizarem freqüentes auto-avaliações, têm participação e envolvimento no
planejamento e na provocação de um processo interior de amadurecimento.
Assume-se a Educação de Qualidade, que se manifesta na renovação dos
objetivos, dos programas e da metodologia, com vistas a uma educação humana e
cristã mais eficaz, na construção coletiva do saber e do agir, na priorização da
conscientização, na formação sistemática dos educadores, na integração dos
segmentos e elementos, na vivência dos valores evangélico-libertadores: verdade,
liberdade, fraternidade e justiça.
29
Conclusão
Ao se iniciar, na escola, um trabalho participativo, não se pode desconhecer a
realidade em que a mesma está inserida, especialmente em se tratando do processo
de participação. Normalmente, durante a elaboração, a vibração e o envolvimento
entusiasmam. Mas à medida em que se vivência, surgem dificuldades, conflitos,
restrições e oposição.
O processo cria sempre maior consciência e envolvimento pessoal. Esta
mudança provoca transformação a nível pessoal e relacional.
Os meios de comunicação social e, de modo especialíssimo, a televisão,
dificultam a reflexão, pois apresentam tudo pronto, direcionando, inclusive, o
posicionamento pessoal dos telespectadores, mantendo-os num baixo nível de
consciência crítica. Quanto mais alienados forem os assistentes, melhor. Aí estão
programas e mais programas com este objetivo.
As famílias, de modo geral, vivem em uma estrutura social verticalista,
mantida pelos pais que não estão acostumados a participarem e a dividirem seu
poder. Dependendo das escolas, os pais pertencem à classe média ou desta para cima.
Estão habitualmente às estruturas não participativas da sociedade capitalista.
O medo do novo ("como está sempre deu certo, para que mudar?"), o
saudosismo ("no meu tempo..."), leva as famílias a se desinteressarem por mudanças
provocadas por um processo eminentemente criativo e transformador, pois o
envolvimento na vivência do processo participativo provoca mudanças pessoal e
engajamento comunitário com vistas à transformação social.
Desta forma, no desenvolvimento do processo de vivência do planejamento
participativo, uma dificuldade a ser enfrentada é a oposição de um bom número de
famílias, por contrastar com a exigência educativa assumida pela escola.
Na abordagem feita sobre algumas dificuldades que podem surgir no
acompanhamento do processo participativo em uma escola, referentes à metodologia,
à avaliação, ao corpo docente, à questão do poder e das pressões que a escola sofre
acredita-se haver despertado a consciência sobre as mesmas e delas ter brotado um
desafio para a superação.
30
No processo participativo de planejamento da E.E.Cel. Moreira da Silva
(Municipalizada) o resultado final resultou num texto, mais ou menos rico e denso,
mas que foi fruto do trabalho e da reflexão do grupo. A metodologia participativa
estaria se desabrochando.
31
Referências Bibliográficas
•
AEC-Br, (Associação de Educação Católica do Brasil). "Compromisso
Social do Educador".
•
BORDENAVE, Juan E. Diaz - Educar para uma sociedade participativa.
•
CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano). A Evangelização no
presente e no futuro da América Latina. Conclusões de Puebla. São Paulo
•
DALMÁS, Angelo - Planejamento Participativo na escola.
•
DEMO, Pedro - Avaliação qualitativa - Participação é conquista.
•
ELAP, (Equipe Latino-Americana de Planejamento) - Seminário de
Planejamento.
•
FERREIRA, Francisco Witaker - Planejamento Participativo: possível ou
necessário.
•
GANDIN, Danilo - Planejamento com prática educativa.
•
GUTIÉRREZ, Francisco - Educação como práxis política.
•
MR-CELs (Marco Referencial das Comunidades Educativas Lassalistas).
Integração. Porto Alegre: 1987.
•
VIANNA, Ilca Oliveira de Almeida - Planejamento participativo na escola.
32
ANEXO
33
Anexo 1
Estas fotos representam o Planejamento Participativo na E.E.Cel. Moreira da
Silva (Municipalizada), nos dias 02, 03, 04, 05 e 06 de fevereiro do corrente ano.
Envolvendo os professores do 1º e 2º segmento.
34
Gláucia dos Santos de Souza
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO EM UMA ESCOLA MUNICIPALIZADA
Monografia de final de curso apresentada
na Universidade Cândido Mendes (UCAM
- Centro), como requisito parcial para
obtenção do grau de Pós- Graduação em
Administração Escolar.
Aprovada em _______ de ______________ de 2004.
EXAMINADORA
Profª. Ana Cristina Guimarães - Orientadora
Universidade Cândido Mendes
35
Download

Planejamento Participativo em uma Escola Municipalizada Gláucia