Évora, F.; Marques, F.; Fonseca, M.J.; Barros, M.; Henriques, I.
Serviço de Ginecologia da Maternidade Bissaya-Barreto – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Directora do Serviço: Dr.ª Fernanda Águas
Introdução
• O papiloma intraductal pertence ao espectro das doenças benignas da mama,
sendo caracterizado pela origem na parede dos ductos e crescimento no interior do
lúmen1.
• Ocorre predominantemente em mulheres na faixa etária dos 30 aos 50 anos2, com
uma incidência de cerca de 3%3.
• É a causa mais comum de corrimento mamilar patológico, sendo responsável por
40-70% dos casos2.
• Os papilomas intraductais dividem-se em centrais e periféricos, sendo os
primeiros geralmente únicos e localizados na região sub-aréolar enquanto os
últimos são caracteristicamente múltiplos e possuem maior risco de malignização1.
• Histologicamente correspondem a uma lesão pediculada com um eixo
fibrovascular revestida por células epiteliais e mioepiteliais1.
Ecografia mamária
Caso clínico
• MPDS, 43 anos, G0P0. Foi encaminhada para a Consulta de Patologia da Mama a
16-7-2014 por corrimento mamilar sanguinolento da mama esquerda com 2
meses de evolução. O exame físico revelou um mamilo esquerdo com corrimento
hemático por dois poros, sinais inflamatórios intensos com dor à palpação
impossibilitando a realização de galactografia. Trazia ecografia mamária realizada
em 13-6-2013: “...à esquerda...na região retro-mamilar área ovalada,
hipoecogénica, com 1 cm em relação com ducto ectasiado de conteúdo
heterogéneo ou papiloma intraductal”.
• Fez RM da mama em 24-7-2014: “...mamilo esquerdo proeminente, com 16 mm,
globoso, com captação precoce e intensa do gadolíneo e efeito de lavagem, não se
excluindo a hipótese de papiloma na extremidade terminal do ducto, ao nível
mamilar. Ectasia ductal retro-aréolar”. Foi feita proposta cirúrgica.
• A 13-08-2013 recorre de urgência à consulta por apresentar exteriorização de
formação tumoral papilomatosa, através do mamilo. Apresentava algumas áreas
de necrose, quer a nível da formação tumoral, quer a nível do mamilo. No dia
seguinte foi submetida a exérese de galactóforos principais pela técnica de Urban
com reconstrução do mamilo. Não foi tecnicamente possível fazer uma
terapêutica mais conservadora devido ao volume da lesão e ao processo
inflamatório envolvente.
• O estudo anátomo-patológico confirmou o diagnóstico de papiloma intraductal e
ectasia ductal. Pós-operatório sem intercorrências. Ao fim de 4 meses apresentava
ainda um empastamento fibroso na região retro-aréolar e o mamilo ingurgitado e
doloroso ao toque. Aos 8 meses apresentava mamilo bem conformado e sem
sinais inflamatórios.
Conclusão
• O papiloma intraductal é relativamente frequente. Este caso destaca-se pela
exteriorização de papiloma volumoso através do mamilo.
• O diagnóstico diferencial e o tratamento dos papilomas pode ser complexo. Os
exames imagiológicos desempenham um papel importante na identificação e
localização da lesão, no entanto tratando-se de um tumor, o diagnóstico definitivo
será sempre histológico4. Neste campo é preferível a realização da biópsia
excisional em detrimento da percutânea, pois existe dificuldade em distinguir o
papiloma do carcinoma papilar nesta última5.
• A conduta terapêutica difere consoante se trate de papiloma central ou
periférico2. Enquanto no primeiro a terapêutica pode ser conservadora,
principalmente nas mulheres mais jovens para preservar a capacidade de
amamentar, no segundo a exérese das lesões tem que ser mais alargada, devido ao
risco de malignização. Nas lesões mais extensas/multifocais pode estar indicada a
realização de mastectomia total com reconstrução imediata1.
RM mamária com contraste (ponderação em T1 e T2)
Pré-operatório
HE 200X
Imunohistoquímica 200X
Histologia: lesão constituída por papilas com
Histologia: marcação
eixo fibrovascular revestidas por 2 tipos de células
(epitelial e mioepitelial)
das células mioepiteliais
pelo P63
HE 100X
Pós-operatório imediato
Após 8 meses
Bibliografia: 1Carlos Freire de Oliveira; Manual de ginecologia: volume II; Permanyer Portugal. 2011. 2Sarakbil W, et al.; Breast papillomas: current management with a focus on a new diagnostic and
therapeutic modality; Int Semin Surg Oncol. 2006 Jan 17;3:1. 3Sahu KS, et al.; Breast intraductal papilloma; Jurnalul de chirurgie 2012; 8(2): 189-192. 4Tarallo V, et al.; Intraductal papilloma of the
breast: A case report; J Ultrasound. 2012 Jun; 15(2): 99–101. 5Shouhed D, et al.; Intraductal papillary lesions of the breast: clinical and pathological correlation. Am Surg. 2012 Oct;78(10):1161-5.
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