O TEMPO E A HISTÓRIA
O registro do tempo
Que dia é hoje? Em que ano você nasceu? Em que horário você acorda? Quais são os meses de suas férias escolares? Todos nós organizamos nossa vida com base na ideia de tempo. Desde bem novinhos, aprendemos a lidar com as medidas do tempo, como as horas, os
dias, os meses e os anos.
Os povos indígenas criaram modos de registrar a passagem do tempo e os fatos importantes de sua história. Um dos povos que vivem
no Parque Indígena do Xingu associa os meses do ano com fatos da natureza e com suas atividades no dia-a-dia.
O tempo e a sua importância para a história é o que vamos estudar neste texto.
O tempo cronológico
O tempo tem três dimensões: passado, presente e futuro. O passado é o tempo do que já aconteceu, do que passou. O futuro é o tempo do que irá acontecer, portanto é tempo que não existe ainda. O presente é o momento que estamos vivendo, e nele há vestígios do
passado e possibilidades para o futuro.
Os calendários
Todos nós fazemos planos para o futuro e lembramos das experiências do passado. Os calendários são instrumentos de medição de
tempo que organizam a relação entre passado, presente e futuro. Eles foram criados pelas sociedades humanas para contar o tempo e
registrar os acontecimentos mais importantes de sua história. Cada povo tem sua maneira de perceber o tempo e isso faz parte de sua
cultura.
Embora cada sociedade tenha a sua própria maneira de contar o tempo, em geral os calendários partem de um evento fundamental,
ou seja, de um fato marcante para aquela sociedade a partir do qual se inicia um novo tempo.
A contagem do tempo na nossa sociedade, por exemplo, baseia-se no calendário cristão, que tem como evento fundamental o nascimento de Jesus Cristo. Seguindo o calendário cristão, quando queremos situar um acontecimento, usamos as siglas a.C. (antes de Cristo), para tudo o que ocorreu antes do nascimento de Jesus, e d.C. (depois de Cristo), para tudo o que ocorreu depois do nascimento de
Jesus.
O evento fundamental do calendário muçulmano é a fuga do profeta Maomé de Meca para Medina, duas cidades que ficam na Península Arábica. O tempo para os muçulmanos é contado a partir desse fato, que é chamado de Hégira. No calendário cristão, esse episódio ocorreu em 622 d.C. (depois de Cristo).
No calendário judaico, o evento fundamental é a gênese, que marca a criação do mundo de acordo com a narrativa bíblica. No calendário cristão, essa data corresponde ao ano 3761 a.C. (antes de Cristo).
Você poderia perguntar: qual desses calendários é o certo? Todos eles são corretos, pois a maneira de registrar a passagem do tempo é
uma convenção, ou seja, uma criação das sociedades.
O calendário cristão — ou calendário gregoriano -— é o mais conhecido por uma razão bastante simples: na época em que ele foi criado, a Igreja católica tinha muito poder. Por isso, o calendário cristão foi adotado na Europa e, de lá, espalhou-se pelo mundo todo.
As medidas do tempo
Muitas vezes, para explicar quando aconteceu um determinado fato, precisamos recorrer a medidas de períodos de tempo, como século, por exemplo. Observe, nos quadros, as medidas de tempo mais utilizadas.
Se o ano tem menos de três algarismos, a data pertence ao século I. Assim, os anos 1 ao 99 pertencem ao século I.
Se o ano termina em 00, basta eliminar esses dois zeros e o número que sobra corresponde ao século da data.
Exemplos: ano 100 — século I; ano 1500 — século XV; ano 1900 — século XIX.
Se o ano tem três ou mais algarismos e não termina em 00, deve-se eliminar os dois últimos algarismos e somar 1 ao restante do número. Veja alguns exemplos:
ano 324 — 3 + 1 = 4 — século IV
ano 1879 —18 + 1 = 19 — século XIX
ano 2006 —20 +1 = 21 — século XXI
Instrumentos usados para medir o tempo
Acredita-se que os antigos egípcios foram os primeiros a inventar instrumentos para medir o tempo. Antes deles, os povos não conheciam o relógio nem dividiam os dias em horas. Conheça os instrumentos mais comuns para medir o tempo.
O relógio de sol, o mais antigo instrumento de medição de tempo, foi inventado há pelo menos 3500 anos. Nele, as horas são indicadas
pela sombra que o gnômon faz na superfície do relógio. Essa sombra se move conforme a Terra gira em torno do Sol, mostrando a
passagem do tempo.
O relógio de água, também chamado de clepsidra, é formado por dois recipientes, colocados em níveis diferentes: um na parte superior, contendo a água, e o outro na parte inferior, com a marcação das horas na parte interna. Por meio de uma abertura no recipiente de
cima, o líquido escorre, gradualmente, para o de baixo. A clepsidra mais antiga foi encontrada no Egito.
O relógio de areia, também conhecido como ampulheta, é um instrumento constituído de dois recipientes em forma de cone que estão interligados por uma pequena passagem. O relógio de areia marca o tempo pela passagem da areia do recipiente de cima para o de
baixo.
O relógio de bolso foi inventado no século XV e era considerado um objeto raríssimo e caro. Em 1904, o brasileiro Santos Dumont,
criador do avião, inventou o relógio de pulso, mais prático do que o de bolso, comum na época.
O relógio digital foi criado recentemente, na década de 1970. Para funcionar, o relógio digital utiliza a energia elétrica, geralmente de
uma bateria. O relógio digital é pequeno, preciso e relativamente barato, por isso tornou-se popular. Hoje está integrado a outros
equipamentos eletrônicos, como aparelho de som, forno de micro-ondas, telefone celular etc.
O tempo histórico
As sociedades não se transformam da mesma maneira nem no mesmo ritmo. As mudanças, por exemplo, que a informática provocou
no cotidiano dos moradores das grandes e médias cidades do nosso país não ocorreram em todos os grupos humanos do Brasil.
Enquanto os moradores de cidades como Belo Horizonte, São Paulo ou Rio de Janeiro convivem diariamente com o barulho e com a
poluição dos automóveis, com grandes construções, com a presença de computadores nas empresas e residências e com os diversos
meios de comunicação, outras sociedades estão isoladas, praticam a caça e a pesca e vivem sem televisão, automóveis e eletricidade.
Nos grandes centros urbanos, para citar outro exemplo, é comum os trabalhadores almoçarem nas empresas ou nos arredores de seu
trabalho. O tempo curto disponível para as refeições e a lentidão do trânsito dificultam o almoço em casa, com a família. Nas pequenas
cidades, a facilidade de locomoção e as distâncias menores permitem que muitos trabalhadores almocem em casa, junto de seus familiares.
Você sabe o que isso demonstra? Que existem diferentes modos de vida presentes em uma mesma época. Dessa forma, embora todas
as sociedades estejam no mesmo tempo cronológico — século XXI —, elas têm tempos históricos diferentes.
Diferentes modos de vida
Mesmo na nossa família é possível perceber a convivência de diferentes ritmos de tempo, que se relacionam a diversos modos de vida e
idades. Enquanto as crianças reclamam que o “tempo não passa” e o presente de aniversário demora a chegar, os adultos reclamam da
rapidez com que os anos vão embora, levando com eles a juventude e os sonhos dessa idade.
No bairro onde moramos, também podemos encontrar essas diferenças. Em geral, os moradores dos edifícios vivem em espaços mais
apertados, têm menos áreas verdes e não precisam se preocupar com o horário do coletor de lixo ou do entregador de gás. Já os moradores das casas têm um modo de vida mais próximo ao de épocas passadas. Muitos podem plantar flores e frutas no quintal, sentar
diante da casa e bater um papo com os vizinhos no final da tarde.
Há muitas outras situações que demonstram que, em um mesmo espaço e em uma mesma época, podem existir tempos históricos
diferentes. Você consegue apontar uma delas?
A divisão tradicional da história
A história é tradicionalmente dividida em quatro períodos: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Cada
período tem como marcos inicial e final um fato histórico considerado importante. Então, você poderia perguntar: importante para
quem? Para os estudiosos europeus que criaram essa divisão, com base em fatos importantes para a sua própria sociedade. Trata-se,
portanto, de uma convenção.
O ponto de partida da história corresponde à invenção da escrita, que ocorreu por volta de 4000 a.C. Toda a trajetória anterior dos
seres humanos, desde o aparecimento do Homo habilis, há cerca de 2 milhões de anos, é chamada de Pré-história.
No entanto, essa convenção é muito criticada, pois exclui da história os grupos humanos que não dominavam a escrita, considerandoos pré-históricos. Todos os seres humanos são agentes da história. Assim, tanto os que não possuem escrita nos dias de hoje quanto os
que viveram antes da invenção da escrita são sujeitos históricos.
Lembre-se
O tempo cronológico está relacionado com a sequência das datas em que os fatos ocorrem. O tempo histórico está relacionado com o modo
de vida das sociedades.
Existem diferentes calendários, pois as sociedades têm sua própria maneira de perceber e contar o tempo.
A distinção entre história e Pré-história e a divisão da história em quatro períodos são convenções, isto é, foram definidas em determinada
época, de acordo com o ponto de vista de estudiosos europeus.
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