Antes de Começar
Quando o teatro
acontece existe
o encontro, a
descoberta, a magia,
as Histórias com
gente dentro. É isto
o teatro, simples
mas carregado de
afectividade como
deve ser a vida das
pessoas.
Ainda que esta
malfadada crise
esteja a criar-nos
dificuldades e
limitações a cada
dia que passa, o
teatro aí está, pela
mão de Mestre
Almada, a lembrar
que há valores
absolutamente vitais
que os Homens não
podem esquecer.
O Mestre Almada Negreiros escreveu.
Dois bonecos ganham vida, encontram-se, conhecem-se,
brincam como as crianças, descobrem o coração e crescem.
Dois actores fazem uma viagem interior à sua meninice, emprestam o seu corpo à alma dos bonecos, dão-lhes vida.
Dois amigos aceitam o desafio de também entrar nesta aventura, por solidariedade, por amor ao Teatro.
O Vitor fez a música, criou o ambiente.
A Helena tratou da imagem, desenhou o espaço, fez a cenografia.
O espectáculo nasceu.
Uma história cheia de Poesia para todas as idades.
Espero que gostem.
Viva o Teatro, a Vida!!!...
Rui Nuno
Telemóveis, computadores, LCD, iPad e iPod, imagens virtuais,
fotografias de galáxias, filmes em 3D… tão longe do coração!
Objectos e imagens que tomam conta da nossa vida desde
que acordamos até que nos deitamos… e o coração?
A imagem tomou conta dos nossos olhos. O som invade os
nossos ouvidos. O exterior envolve-nos, aperta-nos e condiciona-nos. Onde está o coração?
Acreditar no que se vê… e o coração é invisível.
Seguir o que se ouve… e o coração bate baixinho.
Olhar para dentro…como?
Olhar e Ver o outro… com que olhos?
Helena Calvet, Janeiro 2012
Cendrev
Ficha técnica
Autor: Almada Negreiros
Encenação: Rui Nuno
Interpretação:
Jorge Baião e Maria Marrafa
Cenografia e figurinos:
Helena Calvet
Música: Vítor Ciríaco
Desenho de Luz e Direcção Técnica:
António Rebocho
Construção de Cenário:
Tomé Baixinho e Paulo Carocho
Confecção de Guarda Roupa:
Vicência Moreira
Produção: Miguel Cintra
Secretariado: Ana Dominguinhos
Fotografia: Paulo Nuno Silva
Design Gráfico:
Milideias Comunicação Visual Ldª
Margarida Aranha – Aluna da Escola Profissional
da Região Alentejo – EPRAL. Envolvimento
no âmbito da formação em
contexto real de trabalho
(Estágio Curricular).
Agradecimentos:
Agradecimento especial
a Helena Calvet e Vítor
Ciríaco pela sua generosa participação.
É Neste País – Associação Cultural
Foi com grande prazer que aceitei o convite do Rui Nuno para compor a música deste espectáculo. Por ser a primeira vez
que realizei este tipo de trabalho, e também por não ter podido assistir aos ensaios, uma vez que estou a residir nos Açores, foi para mim um enorme desafio. Este trabalho consistia
em fazer com que a música estabelecesse a ligação entre a acção e a personagem. Sendo a peça dirigida especialmente ao
público infantil, recorri a uma forma musical quase descritiva,
com ritmos e melodias simples.
Espero que gostem…
Vitor Ciríaco
Hoje no século XXI leio “Antes de Começar” e questiono-me:
Onde estão as “rainhas” dos nossos tempos, e os seus “bonecos”?
Será que a liberdade e os direitos adquiridos, durante estas
quatro décadas, permitiu-lhes encontrar um reino para reinar,
ou simplesmente submergiram neste oceano de desenvolvimento tecnológico, correndo assim o risco de perderem a capacidade de brincar, sonhar, imaginar e interagir.
Maria Marrafa
Tu és criança e eu sou actor.
Antes de começar…devo dizer-te!
Já fui coelho, feiticeiro, palhaço, menino, mendigo… e até
guarda-nocturno dos sonhos.
Hoje sou boneco!
Sonhei em pequeno, ser grande.
Sonho em grande, quando sou pequeno.
Divirto-me divertindo-te.
Haverá melhor partilha?
Tu és actor e eu sou criança.
Jorge Baião
DESALMADAMENTE
Num período de despropósitos juvenis, anos 50, período profusamente pessoano, alcancei o Almada para saber coisas
do outro, o Pessoa, como era ou fazia, como dizia e quando.
Mas o que se chama simplicidade, levou Almada a vida inteira
a aprendê-la, irrevocável atenção, escreve e queima, começa,
oh vigília!, sempre, sempre, até à morte.
(Texto publicado no mais recente número da revista “A Phala”, dedicado a Almada Negreiros)
Herberto Helder
ALMADA, PORTUGUÊS COM MESTRE
Certo fim de tarde, Bento de Jesus Caraça dispõe-se ao ritual de
um dedo de conversa à porta da Brasileira do Chiado. Os amigos vêem-no chegar radioso, iluminado – coisa rara num homem com tantas horas de aulas no Quelhas das Económicas.
Inquirem da euforia. E Bento Caraça: “Sabem, venho do atelier
do Almada. Estive lá a tarde inteira. Nunca ouvi tanta asneira
na minha vida, mas nunca passei uma tarde tão encantadora”.
Si non è vero, è bene trovato.
Nem dá para imaginar o teor das “asneiras” de um esotérico
(manipulador de mitos, símbolos, alegorias) face a um matemático – para mais, e presumivelmente, pouco dado a pitagóricas especulações. Porém todavia – matéria de encantamento
– exprimiu Caraça o melhor que se pode exprimir da poesia ou,
por extensão natural, de toda a arte: se não serve para encantar
(lúdica ou convulsivamente), então o que é que anda cá a fazer?
Vítor Silva Tavares
José Sobral de Almada Negreiros
Uma das figuras marcantes da geração modernista de “Orpheu”.
“O meu teatro é o dos sentimentos, da verdade, da vida, como
no teatro”, Almada Negreiros
Filho do tenente de cavalaria António Lobo de Almada Negreiros, administrador do concelho de S. Tomé e de Elvira Sobral,
foi educado no Colégio de Campolide, dos Jesuítas, e mais
tarde, devido à extinção do Colégio em 1910, e por pouco
tempo, no Liceu de Coimbra.
Cronologia
1893 Nasce a 7 de Abril em S. Tomé
1895Nasce o irmão António Sobral de Almada Negreiros.
1896 A mãe morre.
1900É internado num colégio de jesuítas em Lisboa. O pai
vai viver para Paris.
1913Faz a primeira exposição individual, de desenhos. Escreve “Rondel do Alentejo”, que será publicado em
1922 na “Contemporânea” 2.
1914Publica “Silêncios” no “Portugal Artístico” 2.
1915Publica “Frisos” em “Orpheu” 1. Escreve para o “Orpheu” 3 “A Cena do Ódio”, que será publicada parcialmente em 1923, como separata da “Contemporânea”
7, e integralmente na terceira série das “Líricas Portuguesas”, organizada por Jorge de Sena em 1958.
1916Publica em folhetos o “Manifesto Anti-Dantas e por Extenso”, o manifesto “Exposição Amadeo de Souza-Cardoso, Liga Naval de Lisboa” e o poema “Litoral”.
1917Publica os livros “K4 O Quadrado Azul” e “A Engomadeira”. Realiza a Conferência Futurista no
Teatro República. Publica, no número único do “Por-
tugal Futurista”, o “Ultimatum Futurista às Gerações
Portuguesas do Século XX”, o poema “Mima-Fataxa-Sinfonia Cosmopolita e Apologia do Triângulo Feminino”, e “Saltimbancos (Contrastes Simultâneos)”.
1918Faz a coreografia dos bailados “A Princesa dos Sapatos de Ferro” (em que também dança) e “O Jardim da Pierrette”, cujo programa publica em folheto.
1919 Vai para Paris, onde permanece ano e meio.
1920Regressa a Lisboa. Faz uma exposição individual. Escreve e ilustra o jornal manuscrito “parva” onde inclui
os poemas “Mon Oreiller” e “Histoire du Portugal par
Coeur et au Hasard écrite par Moi pour Mes 4 Cousines”.
1921Entra como actor no filme “O Condenado”. Colabora
com artigos, contos e desenhos sobretudo no “Diário de Lisboa”. Realiza e publica a conferência “A Invenção do Dia Claro”.
1922
Inicia a colaboração na revista “Contemporânea”
com as palavras e os desenhos de “Histoire du Portugal par Coeur”, datado de Paris, 1919. No n.º 3 publica um excerto de “O Menino d’Olhos de Gigante”.
1924 Publica “Pierrot e Arlequim”.
1926Realiza e publica a conferência “Modernismo”. Publica “A Questão dos Painéis”.
1927Inicia uma estada de cinco anos em Madrid.
1928-9Escreve “El Uno. Tragedia de la Unidad”, conjunto das
duas peças de teatro “Deseja-se Mulher” e “S.O.S.”.
1932Regressa a Lisboa. Realiza e publica a conferência
“Direcção Única”.
1934Realiza e publica a conferência “Cuidado com a Pintura”. Casa com a pintora Sarah Affonso. Nasce o filho José Afonso de Almada Negreiros.
1935Lança uma revista, “Sudoeste”, de que escreve integralmente os dois primeiros números dos três que
saem, incluindo o n.º 3 o poema “As Quatro Manhãs”.
1936Realiza a conferência “Elogio da Ingenuidade ou as
Desventuras da Esperteza Saloia”, depois publicada
em Janeiro de 1939 na “Revista de Portugal” 6.
1938Publica “Nome de Guerra”, romance escrito em 1925.
Realiza e publica a conferência sobre Walt Disney
“Desenhos Animados, Realidade Imaginada”. Termina os vitrais da igreja de nossa Senhora de Fátima.
1940 Nasce a filha Ana Paula de Almada Negreiros.
1943Escreve os ensaios “Ver”.
1944Realiza a conferência “Descobri a Personalidade de
Homero”.
1945Termina os frescos da Gare Marítima de Alcântara.
1948Publica “Mito-Alegoria-Símbolo – Monólogo Autodidacta na Oficina de Pintura”.
1949Termina os frescos da Gare Marítima da Rocha do
Conde de Óbidos. Representa-se pela primeira vez
“Antes de Começar” no Teatro Estúdio do Salitre.
1950Publica “A Chave Diz: Faltam Duas Tábuas e Meia de
Pintura no Todo da Obra de Nuno Gonçalves”.
1952Publica o poema “Presença”, datado de 1921-1951,
na revista “Bicórnio”.
1954Pinta o retrato de Fernando Pessoa à mesa do café
com o “Orpheu”.
1956Publica “Antes de Começar”.
1959Publica a peça “Deseja-se Mulher”, escrita em 1928.
Concebe cartões de tapeçarias para o Hotel Ritz.
1960Publica “Assim Fala Geometria – Almada Negreiros
Reconstruiu a Obra-Prima da Pintura Primitiva Portuguesa na Capela do Fundador do Mosteiro da Batalha”, numa série de entrevistas ao “Diário de Notícias”.
1961Conclui as decorações da Cidade Universitária de Lisboa.
1962Realiza a conferência “Poesia e Criação”, publicada
no “Diário de Notícias” em 8 de Novembro.
1965Publica “Orpheu 1915-1965”.
1969Conclui o painel “Começar” na Fundação Calouste Gulbenkian. Conclui os frescos da Faculdade de
Ciências da Universidade de Coimbra.
1970 Morre em Lisboa, a 15 de Junho.
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Folha de Sala